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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/33024173 Avaliação por Triangulação de Métodos. Abordagem de Programas Sociais Article · January 2006 Source: OAI CITATIONS 311 READS 6,554 3 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Interpersonal violence and transgenerational stress effects View project centro latino americano de estudos e violencia jorge careli View project Maria Cecília de Souza Minayo Fundação Oswaldo Cruz 376 PUBLICATIONS 8,840 CITATIONS SEE PROFILE Simone Gonçalves de Assis Ministério da Saúde do Brasil 162 PUBLICATIONS 2,308 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Maria Cecília de Souza Minayo on 24 April 2016. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/33024173_Avaliacao_por_Triangulacao_de_Metodos_Abordagem_de_Programas_Sociais?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/33024173_Avaliacao_por_Triangulacao_de_Metodos_Abordagem_de_Programas_Sociais?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Interpersonal-violence-and-transgenerational-stress-effects?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/centro-latino-americano-de-estudos-e-violencia-jorge-careli?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria_Minayo?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria_Minayo?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Fundacao_Oswaldo_Cruz?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria_Minayo?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Simone_Assis2?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Simone_Assis2?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Ministerio_da_Saude_do_Brasil?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Simone_Assis2?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria_Minayo?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf AVALIAÇÃO POR TRIANGULAÇÃO DE MÉTODOS Abordagem de Programas Sociais Créditos institucionais Editora Fiocruz.... AVALIAÇÃO POR TRIANGULAÇÃO DE MÉTODOS Abordagem de Programas Sociais Maria Cecília de Souza Minayo Simone Gonçalves de Assis Edinilsa Ramos de Souza (organizadoras) Todos os direitos... Créditos publicação ISBN Ficha catalográfica João e Carlota: Em que página colocar? Pesquisa Avaliação do Processo de Implantação e dos Resultados do Programa Cuidar Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli - CLAVES Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP Instituto Fernandes Figueira – IFF Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Av. Brasil, 4036, sala 700 Manguinhos – RJ. CEP: 21040-361 Tel/fax: 21-22904893 www.claves.fiocruz.br claves@claves.fiocruz.br Ver com Simone em que edição vai entrar esta parte Equipe de pesquisadores Simone Gonçalves de Assis (coordenação) Edinilsa Ramos de Souza (coordenação) Maria Cecília de Souza Minayo (coordenação) Suely Ferreira Deslandes Kathie Njaine Romeu Gomes Patricia Constantino Cosme Marcelo Furtado Passos da Silva Juaci Vitória Malaquias Nilton César dos Santos João Paulo Costa da Veiga Helena Amaral da Fontoura Maria Regina Bortollini Maria de Fátima Junqueira Assistentes de pesquisa Liana Furtado Ximenes Renata Pires Pesce Vani Marizete Belmonte Isabela Gomes da Fonseca Cláudio Felipe Ribeiro da Silva Karina Ferreira Borges Consultoria técnico-científica Evandro da Silva Freire Coutinho Luiz Antonio Bastos Camacho Apoio Técnico Marcelo da Cunha Pereira Marcelo Silva da Motta Cristina Maria Peres do Nascimento Apoio à Documentação e Normatização da Bibliografia Fátima Cristina Lopes dos Santos Hynajara Boueris da Silva Alessandra de Jesus Machado Cruz Consultores Locais Haydée Monteiro dos Santos Agostini (Campinas) Antônia Anízia Gonçalves Moreira (Iguatu) Juvenal Pereira Lima (Iguatu) Célia Maria Amino Mauler (Juiz de Fora) Instituto Souza Cruz Site: www.institutosouzacruz.org.br Diretoria Nicandro Durante - Presidente Constantino Mendonça - Diretor Gerson Cardoso - Diretor Conselho Fiscal Dante Letti - Presidente Paulo Eduardo Santos - Conselheiro Antônio Duarte Castro - Conselheiro Diretora - Executiva Leticia Lemos Sampaio Consultores Luiz André Soares – Gestão de Projetos Sociais Adriana Martins Reis – Comunicação para o Desenvolvimento Social Marcos Marques de Oliveira – Comunicação para o Desenvolvimento Social Assistente Administrativa Simone Rodrigues Amorim Concepção do Programa Cuidar e Coordenação do Programa-piloto Antônio Carlos Gomes da Costa e Modus Faciendi Treinamento & Desenvolvimento Autores Cláudio Felipe Ribeiro da Silva • Estatístico, mestrando em ______________, inserção institucional Edinilsa Ramos de Souza (organizadora) • Psicóloga, Doutora em Ciências. Pesquisadora Titular do Centro Latino- Americano de Estudos sobre a Violência Jorge Careli/Escola Nacional de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz (Claves/Ensp/Fiocruz) João Paulo Veiga da Costa • Graduação, maior pós, inserção institucional Juaci Vitória Malaquias • Graduação, maior pós, inserção institucional Kathie Njaine • Graduação, maior pós, inserção institucional Maria Cecília de Souza Minayo (organizadora) • Graduação, maior pós, inserção institucional Nilton César dos Santos • Graduação, maior pós, inserção institucional Patrícia Constantino • Graduação, maior pós, inserção institucional Romeu Gomes • Graduação, maior pós, inserção institucional Simone Gonçalves de Assis (organizadora) • Graduação, maior pós, inserção institucional Suely Ferreira Deslandes • Graduação,maior pós, inserção institucional SUMÁRIO Apresentação Introdução Maria Cecília de Souza Minayo 1. Mudança: conceito-chave para intervenções sociais e para avaliação de programas Maria Cecília de Souza Minayo 2. Métodos, técnicas e relações em triangulação Maria Cecília de Souza Minayo, Edinilsa Ramos de Souza, Patrícia Constantino, Nilton César dos Santos 3. Definição de objetivos e construção de indicadores visando à trinagulação Simone Gonçalves de Assis, Suely Ferreira Deslandes, Maria Cecília de Souza Minayo, Nilton César dos Santos 4. Construção de instrumentos qualitativos e quantitativos Edinilsa Ramos de Souza, Maria Cecília de Souza Minayo, Suely Ferreira Deslandes, João Paulo Veiga da Costa 5. Trabalho de campo: construção de informações qualitativas e quantitativas Suely Ferreira Deslandes 6. Organização, processamento, análise e interpretação de dados: o desafio da triangulação Romeu Gomes, Edinilsa Ramos de Souza, Maria Cecília de Souza Minayo, Juaci Vitória Malaquias, Cláudio Felipe Ribeiro da Silva 7. Apresentação e divulgação de resultados Simone Gonçalves de Assis, Kathie Njaine, Maria Cecília de Souza Minayo, Nilton César dos Santos 1 APRESENTAÇÃO Em Avaliação por Triangulação de Métodos: abordagem de programas sociais, a equipe do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli da Escola Nacional de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (Claves/Ensp/Fiocruz) tenta fazer uma síntese de seu saber fazer, colocando à disposição da comunidade científica da área social e da saúde, o compartilhamento de seu conhecimento interdisciplinar em metodologia de pesquisa. Este livro sintetiza a experiência de 15 anos de trabalho em cooperação e em grupo, investigando temas relacionados ao impacto da violência sobre a saúde e às políticas sociais voltadas para a promoção da vida. O investimento técnico-científico desses anos se desdobra em atividades de ensino, de orientações de monografias, dissertações e teses e abrange análises da morbimortalidade por acidentes e violências referentes a grupos específicos, (crianças, adolescentes, idosos, trabalhadores), temas peculiares (auto-estima, resiliência, suicídio, homicídios, acidentes de trânsito, qualidade de informações) assessorias a órgãos públicos e a ong e avaliação de intervenções. A literatura nacional e internacional evidencia que a triangulação é uma estratégia de investigação voltada para a combinação de métodos e técnicas. Já consagrado, o termo remonta a Norman Denzin em seu clássico livro The Research Act, publicado em 1970. Nesta obra, o autor convence os investigadores que praticam a pesquisa qualitativa de que a compreensão da realidade social se faz por aproximação e de que é preciso exercitar a disposição de olhá-la por vários ângulos. O núcleo reflexivo de Denzin, porém, é o da própria abordagem qualitativa em sua vertente do interacionismo simbólico. Em 1979, T. Jick escreveu na revista Administrative Science Quarterly, um artigo que se tornou referência na área da gestão, pois levou o tema para as ciências aplicadas: Mixing Quantitative and Qualitative Methods: triangulation and action. Em 1992, Juan Samaja, em artigo na revista Educación Medico-Social com o título La combinación de métodos: pasos para una comprensión dialéctica del trabajo interdisciplinario, também teorizou sobre o assunto, tratando-o do ponto de vista do diálogo entre áreas do conhecimento. Minayo & Cruz Neto, pesquisadores do próprio Claves, em 1999 elaboraram um artigo publicado pela Edamex, no México, no livro Salud, cambio social y política, perspectivas desde América Latina intitulado Triangulación de métodos en la evaluación de programas y servicios de salud, tratando da abordagem e noticiando a experiência do grupo de pesquisa. 2 Tendo em vista que, além dos trabalhos citados, com certeza há outros de maior e menor relevância sobre o assunto, qual seria a contribuição desta obra, no âmbito da literatura nacional e internacional? Essa pergunta enseja uma apresentação mais minuciosa dos bastidores da criação do livro que ora entregamos ao público. Nos últimos quatro anos, elaboramos uma ampla reflexão teórica e uma aprofundada habilidade prática de investigação avaliativa, a propósito de uma intervenção pedagógico-social denominada Cuidar, realizada em escolas de níveis fundamental e médio em várias regiões do país. Aceitamos o desafio de fazer parte de um grupo de instituições que resolveu apostar em estratégias de educação para valores em escolas, das quais o Cuidar é um exemplo. Nesse grupo, nossa função específica foi a de avaliar a implantação e a implementação dessa intervenção traçada e disponibilizada pela Modus Faciendi, uma instituição criada e presidida pelo renomado educador Antônio Carlos Gomes da Costa. O patrocínio da abordagem pedagógica e da avaliação e a gestão empresarial da proposta ficaram a cargo do Instituto Souza Cruz. A realização do projeto coube a secretarias de educação de vários municípios do país, abrangendo escolas públicas e privadas, num total que hoje já atinge 5 estados, 226 escolas, 4.165 educadores e 86.334 estudantes. Pela variedade de atores e pela sua diversidade de posições no processo, certamente cada um dos citados acima se beneficiou de forma peculiar no diálogo interinstitucional desenvolvido durante os quatro anos do programa Cuidar. Cabendo-nos a responsabilidade da avaliação, nossa curiosidade estava voltada para duas direções: (1) observar como uma intervenção no campo da educação para valores poderia promover a cidadania e, portanto, atuar no lado positivo da promoção da vida: o antídoto da violência; (2) aprofundar teórica e praticamente a estratégia avaliação por triangulação de métodos, que já vínhamos praticando. Realizando, passo a passo, o monitoramento do processo, pudemos ter resposta para nossas indagações, ressaltando as conquistas e os problemas de ordem conceitual, técnica e organizativa que iam ocorrendo durante a intervenção sócio-pedagógica. E, por meio de uma ação reflexiva voltada para decisões, chegamos a estabelecer parâmetros para a ação presente e futura, por meio de conclusões consensualizadas, embora sempre provisórias. Portanto, este livro fala da “cozinha” da avaliação, ou seja, do como fizemos cada passo do trabalho metodológico e o que nele correspondeu à aprendizagem teórica, à criação de aproximações e à elaboração de instrumentos. Ele traz ao leitor o resultado de uma atividade em que se buscou, dialeticamente, juntar teoria e prática, pesquisadores de várias áreas, instituições diversas e síntese de resultados. É nisso que o livro 3 inova, pois não aporta apenas um conjunto de técnicas; não é somente a descrição de um processo de elaboração; não é simplesmente uma teorização. Traz a dinâmica de construção, em sintonia e em interação, desse conjunto de atividades necessárias, por meio de uma disposição dialógica que constitui a condição sine qua non de qualquer trabalho científico em cooperação interdisciplinar. Ao apresentar as etapas da investigação avaliativa por triangulação, oferece ao leitor a teoria, o método, as técnicas e a exemplificação de cada passo. Por isso, consideramos este trabalho como uma inovação no campo a que se destina e uma inflexão teórico-metodológica sem precedentes, na medida em que fundamenta um modus faciendi de coletivo de pesquisa que, ao mesmo tempo, preserva a “especialização individualizada” de cada um de seus integrantes. Nossos leitores poderão julgar o acerto desse passo que já recebeu o aplauso de vários pares, das instituições com quem estabelecemos cooperação e do Ministério da Cultura que, junto com o Instituto Souza Cruz, se propôs a financiar a iniciativa de sua publicação. A esse ministério, por meio de sua Secretaria do Livro e Leitura e ao Instituto Souza Cruz, napessoa da Dra. Letícia Sampaio, expressamos nossos sinceros agradecimentos. Compartilhamos os méritos do trabalho com os estudantes, professores, gestores das escolas e dos municípios onde ocorreu a avaliação e ainda está em pleno vigor o Cuidar, com a Modus Faciendi, e sobretudo com o Instituto Souza Cruz. Esperamos que um dos frutos teóricos e práticos desse Programa seja o acerto de divulgar sua estratégia de monitoramento, a avaliação por triangulação de métodos, como uma contribuição positiva para o avanço das análises de políticas sociais no Brasil. Faltam referências bibliográficas Ver com Simone As organizadoras Maria Cecília de Souza Minayo Simone Gonçalves de Assis Edinilsa Ramos de Souza Avaliação por Triangulação de Métodos: abordagem de programas sociais é um livro que faz a síntese entre teoria e prática no tema anunciado em seu título. Escrito pela equipe do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Claves/Ensp/Fiocruz) a partir de sua experiência de pesquisa, trata da articulação de abordagens quantitativas e qualitativas para a análise, acompanhamento e monitoramento de programas e projetos de intervenção social, a partir das disciplinas que compõem o campo da saúde e das áreas das ciências humanas e sociais. Vários temas vêm sendo objeto de investigação interdisciplinar e metodológica desse grupo composto por epidemiologistas, estatísticos, sociólogos, antropólogos, psicólogos e comunicadores sociais. A abordagem teórica fundamental da obra faz parte do que, no mundo acadêmico, se convencionou chamar pesquisa avaliativa, ou seja, a atividade que junta investigação e avaliação e se distingue pela contextualização, pela teorização e pela complexificação tanto dos instrumentos como dos métodos e das análises de resultados. Sua especificidade tem dois contrapontos: o da área de investigação propriamente dita, de onde provem e à qual acrescenta a peculiaridade do conceito de avaliação, atualmente um campo específico de conhecimento com marcos teóricos e metodológicos consagrados e sofisticados. O outro é o da avaliação tradicional que se constitui apenas como uma técnica operativa, cujo viés instrumental dispensa a contextualização e a teorização. A grande novidade deste livro é que nele os pesquisadores, ao mesmo tempo, teorizam, trabalham as técnicas e ensinam o “pulo do gato”, ou seja, como operacionalizar. Mostrando o movimento que vai da teoria à prática e vice-versa em cada um dos passos da abordagem, os autores apresentam um livro inédito na literatura nacional e internacional. É importante dizer que o termo triangulação de métodos é antigo e primeiro se registra na obra de Norman Denzin em The Act of Research, cuja primeira edição foi de 1970, quando o movimento de revalorização da pesquisa qualitativa renascia na sociedade científica americana. Essa expressão criada por Denzin diz respeito, sobretudo, a uma disposição necessária do investigador a exercitar várias abordagens e olhares para se aproximar da realidade social. Depois dele, vários autores e sob diversos propósitos têm falado dessa estratégia como é o caso de Juan Samaja quando referencia estudos de saúde e reprodução social. E Minayo e Cruz Neto, em comunicação sobre trabalhos de pesquisa, já haviam até esquematizado as etapas de realização dessa estratégia. No entanto, é a primeira vez que o leitor terá oportunidade de compartilhar a experiência de articulação interdisciplinar da equipe do Claves, que vem utilizando a estratégia de triangulação de métodos. Esta estratégia inclui abordagens específicas (de acordo com o tema em pauta) para avaliação há 15 anos. Dentre as obras realizadas pelo grupo utilizando a triangulação de métodos citam-se um livro sobre a juventude carioca denominado Fala Galera, e a recente obra chamada Missão Investigar, que aborda o perfil e as condições de trabalho, saúde e qualidade de vida dos policiais civis do Rio de Janeiro, além de vários trabalhos de avaliação realizados a pedido do Ministério da Saúde, da Justiça e de outras instituições da sociedade civil. Este livro, contendo uma estratégia de trabalho tão importante, promete contribuir, indiscutivelmente, para as atividades de pesquisa e de avaliação tanto do campo de saúde como, de forma mais ampla, das atividades e programas sociais. Nome do autor Maior crédito e inserção institucional Quarta capa Esta obra concentra um “saber” e um “saber fazer” de um dos grupos de pesquisa do Centro Latino Americano de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Claves/Ensp/Fiocruz). Há 15 anos, estes pesquisadores vêm desenvolvendo investigações sobre temas relacionados ao impacto da violência sobre a saúde e sobre a aplicação de programas sociais atinentes à cidadania. A especificidade dessa experiência é a prática interdisciplinar e a articulação de abordagens metodológicas quantitativas e qualitativas, como estratégias de compreensão e interpretação da realidade. O livro enriquece a área de conhecimento denominada pesquisa avaliativa, na qual inova, teorizando sobre a triangulação de métodos e mostrando como essa estratégia se realiza na prática. Por isto, promete ser de indiscutível utilidade nas mãos de investigadores sociais, estudiosos das áreas de saúde, da educação, das políticas sociais, e com certeza, do campo de avaliação. Nome e crédito Prefácio Avaliação de Programas Sociais por Triangulação de Métodos: abordagem de programas sociais, trabalho coletivo coordenado por três experientes e reconhecidas pesquisadoras da Fundação Oswaldo Cruz – Maria Cecília de Souza Minayo, Simone Gonçalves de Assis e Edinilsa Ramos de Souza – constitui uma indiscutível contribuição ao campo teórico e prático das políticas públicas. A qualidade e seriedade do tratamento analítico do livro acrescenta mais um mérito à incansável dedicação do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Claves/Ensp/Fiocruz) que, nos últimos 16 anos, vem tratando a questão social brasileira e avaliando as intervenções públicas voltadas para a superação da violência e a promoção de direitos humanos. Em nossos dias, felizmente, não se pode falar de qualquer programa de investimento social, tanto em âmbito de governo como da iniciativa privada, que não precise contar com instrumentos adequados de avaliação. Não os instrumentos tradicionais, por vezes perversos, alimentados por tristes ciclos “reinvencionistas” que, freqüentemente usados ao final de qualquer gestão, procuram apenas apagar esforços que beneficiam a população – realizados por governos anteriores – e anunciam novas tentativas, partindo quase sempre do zero, e, quando muito, recomeçam com a inexperiência do novo executor. O nível de desenvolvimento crítico e acadêmico do país exige critérios científicos, condizentes com os avanços relativos às concepções e propostas de políticas públicas e ao campo de conhecimento sobre avaliação, onde a bibliografia publicada e os trabalhos empíricos e teóricos realizados evidenciam pujança, dinamismo e constante aperfeiçoamento. A maioria dos estudos nacionais e internacionais é unânime em indicar que a aplicação de políticas públicas precisa (a) desde a sua concepção, destinar verbas para avaliação; (b) acompanhar todo o processo de desenvolvimento de intervenções, mesmo antes de ser iniciado, monitorando a implantação, a implementação e os resultados paulatinos, indicando, durante todo o transcurso, os pontos cruciais que levam ao êxito ou que atravancam ou prejudicam o andamento da proposta; (c) possibilitar clareza de critérios que permita dar continuidade a planos e ações, a favor da população, independentemente das posições doutrináriasou das idiossincrasias dos gestores que estiverem no poder. É claro, também, como está referido no livro, que as investigações avaliativas – termo preferido pelos autores para explicitar o caráter científico de sua proposta – partem do entendimento de que as políticas públicas se realizam em processo contínuo de decisões e, por isso mesmo, modificam-se permanentemente. Elas nascem de necessidades sentidas e diagnosticadas pelos poderes públicos e das demandas sociais, mas são transformadas em negociações, pressões e decisões pelo poder de ambas as partes. Nessas circunstâncias, a avaliação constitui um tercius, na medida em que os avaliadores não são nem quem formula e nem quem demanda. No processo, tanto os formuladores e os beneficiários como os gestores e os técnicos serão chamados a se auto-avaliarem. Essa exigência, porém, constitui apenas um dos elementos da avaliação que, no seu conjunto, atua de forma independente para dar ao sistema mais racionalidade, eficácia e sentido. Desse ponto de vista, como dizem os autores deste livro, a avaliação deveria ser considerada como parte constitutiva da política pública, uma vez que tem o papel complexo de apresentar a necessidade de correção de rumos pari passu ao desenvolvimento das ações e, ao mesmo tempo, evidenciar a necessidade de aprofundamento e continuidade de determinadas intervenções para que seus resultados sejam duradouros e crescentes. De quem faz avaliação de programas sociais, portanto, não se exige apenas entender de técnicas. Pois, como bom jardineiro, este analista precisa estar a par do tempo de maturação e de florescimento dos vários processos sociais, cujos intervenientes são muito mais complexos do que a mecânica de intervenção em vários outros campos. Gostaria de comentar, ainda, a proposta estratégica apresentada nesta obra: a avaliação por triangulação de métodos. Primeiro, esta proposta se diferencia diametralmente das que tratam a execução da política social como uma seqüência linear, estanque e sucessiva de intervenções que deveria ser avaliada pela estrutura tradicional de formulação, implantação, implementação e resultados previstos antecipadamente. Ela dá lugar à compreensão da gestão de políticas sociais como um processo contínuo de tomada de decisões, portanto, prevendo correção de rumos, permanentemente. Em segundo lugar, ela trabalha com contextualização das propostas, evitando o mecanicismo tecnicista que estabelece as mesmas perguntas para realidades diferentes. Em terceiro lugar e, principalmente, ela ao mesmo tempo supera e valoriza o que há de mérito da proposta tradicional pela inclusão, primeiramente analítica e depois em forma de síntese, de todos os ingredientes envolvidos numa intervenção social: história, contexto, cultura, estruturas, relações, pluralidade de atores, acessibilidade a recursos, resultados contínuos e ganhos quantitativos e qualitativos. Por fim, gostaria de ressaltar mais um mérito deste livro. Ele se constitui na teorização de uma experiência interdisciplinar de longo prazo do Claves. Por realizar a dialética entre teoria e prática, os autores puderam trazer aos leitores exemplos concretos do que eles fazem e consideram como avaliação por triangulação de métodos, termo que vem sendo usado por muitos estudiosos, mas que nunca foi devidamente conceituado, descrito e analisado como nesta obra. Aqui se apresenta o exemplo de avaliação de um programa de educação para valores, denominado Programa Cuidar. Essa ilustração que acompanha a apresentação de todos os passos metodológicos descritos e teorizados pelos autores permite, a quem se interessar, utilizar as mesmas estratégias, adaptando a proposta aos objetos específicos a serem analisados. Por todos esses motivos, congratulo-me com as organizadoras, parabenizo a todos os autores, desejo vida longa a este próspero grupo de pesquisa e convido os leitores, mais uma vez, que prestem atenção a este trabalho que inova e traz uma perspectiva promissora para a gestão das políticas públicas no país e para o campo teórico e prático da avaliação de programas sociais. Ricardo Henriques, economista do MEC. Ver créditos com Simone SUMÁRIO Apresentação Introdução Maria Cecília de Souza Minayo 1. Mudança: conceito-chave para intervenções sociais e para avaliação de programas Maria Cecília de Souza Minayo 2. Métodos, técnicas e relações em triangulação Maria Cecília de Souza Minayo, Edinilsa Ramos de Souza, Patrícia Constantino, Nilton César dos Santos 3. Definição de objetivos e construção de indicadores visando à triangulação Simone Gonçalves de Assis, Suely Ferreira Deslandes, Maria Cecília de Souza Minayo, Nilton César dos Santos 4. Construção de instrumentos qualitativos e quantitativos Edinilsa Ramos de Souza, Maria Cecília de Souza Minayo, Suely Ferreira Deslandes, João Paulo Veiga da Costa 5. Trabalho de campo: construção de informações qualitativas e quantitativas Suely Ferreira Deslandes 6. Organização, processamento, análise e interpretação de dados: o desafio da triangulação Romeu Gomes, Edinilsa Ramos de Souza, Maria Cecília de Souza Minayo, Juaci Vitória Malaquias, Cláudio Felipe Ribeiro da Silva 7. Apresentação e divulgação de resultados Simone Gonçalves de Assis, Kathie Njaine, Maria Cecília de Souza Minayo, Nilton César dos Santos 38 CCaappííttuulloo 11 MMuuddaannççaa:: ccoonncceeiittoo--cchhaavvee ppaarraa iinntteerrvveennççõõeess ssoocciiaaiiss ee ppaarraa aavvaalliiaaççããoo ddee pprrooggrraammaass Maria Cecília de Souza Minayo Uma boa análise crítica de programas sociais precisa problematizar o conceito de mudança, pois todas as intervenções, em última análise, visam a modificar o curso de determinadas visões, ações ou problemas. Mudança é, pois, um conceito- chave, tanto para promotores de políticas públicas quanto para avaliadores de projetos. Esses últimos são chamados sempre a medir e compreender o impacto das ações sobre instituições e atores tendo em vista os objetivos dos serviços prestados e apontar pontos cruciais para o sucesso e as condições de possibilidades de determinada intervenção. Visando a contribuir para a problematização desse tema tão crucial, propõe-se discorrer, sucintamente, sobre ele, entendendo-o como pano de fundo e imagem- objetivo1 da gestão de políticas sociais. Isto implica uma análise do conceito, levando-se em conta todos os atores envolvidos e suas dimensões coletivas, institucionais e individuais. O foco da reflexão iluminará quatro subtemas: mudança social; mudança educacional; mudança de valores e avaliação de mudanças. O sentido desta última expressão, dado o objetivo deste trabalho, perpassará a análise de todos os outros termos. A vida, a sociedade, a natureza, tudo o que vive se transforma e a mudança é intrínseca à dinâmica existencial. No entanto, mesmo que todos saibam disso pela experiência, mudar constitui um processo difícil que supõe nascimento de novos brotos, flores e frutos e, também, perdas. Como diz Saint-Exupéry (1953: 884) em 1 Imagem-objetivo é um modelo e, como tal, uma simplificação seletiva e idealista da realidade. A característica fundamental da imagem-objetivo é sua racionalidade interna. Ela não é um somatório de objetivos e sim uma construção em que foram resolvidos os problemas de coerência entre distintos objetivos e a possibilidade idealizada, pressupondo uma ordenação e harmonização entre eles (Cohen & Franco, 1993). 39 A Cidadela: “Toda palavra nova parecerá amarga, porque nunca ninguém passou por metamorfose alegre”. O estudo da mudança social foi e continua sendo fortemente influenciado pelos pressupostos evolucionistas. Mas os métodos e o sentido dessa evolução sempre foram tratados de forma controversa. O marxismo, por exemplo, sempre pensou mudança comorevolução: mudança de estrutura. O positivismo-funcionalista a concebeu em seu marco teórico, como constante correção de rumo e retorno às normas e consensos de determinada sociedade. Ambos, no entanto, têm base na crença dos iluministas de que a evolução social garantiria paz, prosperidade e universalização da racionalidade no mundo. As duas grandes guerras mundiais e os horrores do nazismo e do estalinismo, entre outros fenômenos marcantes no século XX, solaparam os pensamentos evolucionistas, dos quais as idéias de progresso e de desenvolvimento são caudatárias. Depois da derrubada do muro de Berlim, sem as polarizações políticas entre comunismo e capitalismo, o conceito de mudança sai de seu nicho predileto ao interior das grandes narrativas teóricas, para ser pensado por outros paradigmas, entre eles, o das teorias da complexidade. Sabe-se, por experiência histórica, que as sociedades não caminham linearmente para um fim teleológico e que progresso e retrocesso convivem simultaneamente em um movimento concomitante de ordem, desordem e auto-organização. A idéia de mudança, portanto, ficou mais próxima e pode ser apropriada tanto para falar de macroprocessos como de ambientes microssociais em que, em escalas diferenciadas, atores, fatores e condições promoverem transformações em diferentes níveis da realidade. 1.1.O conceito de mudança social Quando busca compreender a dinâmica dos processos de intervenção, freqüentemente um analista social se fundamenta em duas correntes que repercutem, também, na formulação de teorias sociais. A primeira considera que todas as perturbações notórias na sociedade, ou em instituições como uma escola, um hospital e uma universidade se explicam 40 primordialmente pela intervenção de causas exteriores passíveis de serem controladas. Esta visão se assenta na ilusão de que seria possível existir uma sociedade equilibrada e fechada, onde não houvesse conflitos nem contradições. O equilíbrio social constituiria o indicador de uma sociedade saudável e a influência externa, quase sempre, deveria ser considerada negativa. Por dedução, quem se guia por essa mentalidade crê que é possível controlar os problemas, isolar as contradições e, assim, voltar sempre no ponto de equilíbrio. Tais pressuposições se apóiam na corrente sociológica positivista-funcionalista, tão presente ainda na academia e nas teorias aplicadas. Ao pensamento funcionalista se opõe outra concepção. Os formuladores e seguidores deste pensamento consideram que a sociedade e as instituições vivem em permanentes conflitos internos e é a própria existência destes problemas que provoca mudanças. A capacidade de transformação, portanto, estaria dentro da sociedade em geral e das instituições em particular, uma vez que as contradições ocorrem em todos os tipos de interações humanas. Seria importante, em conseqüência, intervir nelas, explorando suas potencialidades internas de provocar mudanças. O marxismo é a corrente teórica inspiradora de tal posição que explora a dialética dos conflitos como fonte perene de transformações. Apesar de essas duas correntes de pensamento serem as mais hegemônicas, atualmente há vários avanços conceituais trazidos pela contribuição de estudos científicos de ocorrência de mudanças. Por exemplo, há muitas análises em que se mostra o impacto das forças políticas na história, assim como outras em que se evidencia o papel de movimentos sociais como o feminismo e o ambientalismo em transformações fundamentais que ocorreram no século XX e continuam influenciando o início do novo milênio. Outros estudos se dedicam a evidenciar o papel específico das intervenções sociais no âmbito das organizações das sociedades estabelecidas. Trata-se de abordagens que abrangem análises de impacto, tanto de decisões macrossociais de investimento em políticas públicas, enquanto estratégias de governo, como microssociais de desempenho institucional. É nesse último caso que este trabalho se insere. 41 Segundo autores que estudam transformações em organizações sociais, como Crozier & Friedberg (1977), se é verdade que toda mudança supõe ruptura e crise, a crise por si só não é o acontecimento-chave que a provoca, como em um passe de mágica. Os autores dizem isso, fazendo uma crítica, a partir da observação sobre a prática, das premissas teóricas marxistas. Enumeram exemplos de crises que deslancharam mecanismos de regressão, ao menos temporários, dentro das instituições e citam uma minoria de situações em que os conflitos, as contradições e as crises, em si, foram fatores determinantes na criação de mecanismos de inovação. Igualmente, autores como Morin (1984) consideram que não é possível o retorno à situação de equilíbrio inicial de um acontecimento qualquer, pois o dinamismo social sempre modifica as situações avaliadas pelos formuladores e gestores como sendo as ideais. Morin (1984) ressalta que todo organismo oscila entre organização, a mudança e reorganização. Este movimento vital abriga incertezas, acasos e ambivalências. Mas toda transformação traz ruptura, ensina o autor. Assim, à medida que múltiplos problemas vão ocorrendo com intensidades diferenciadas, impulso transformador se deve a uma dinâmica permanente de desorganização e de reorganização da realidade. Quanto mais uma organização se torna apta às mudanças complexas, mais aumenta sua capacidade vital de interagir com o sistema ambiental, social e o contexto histórico, pois o movimento permanente executado para responder aos desafios das circunstâncias constrói soluções para os problemas que provocam conflitos e contradições. Esse processo dinâmico de adaptação, porém, ocorre por perdas e ganhos, ordem e desordem, organização e desorganização, numa espécie de jogo em que o acaso e a incerteza têm lugar de destaque na consecução de uma etapa mais complexa de auto-organização. A dinâmica global das transformações sociais acontece, simultaneamente, por via de forças externas e internas, umas atingindo e influenciando as outras. A dinâmica interna de uma instituição, como a escola, a família ou qualquer outra organização, acha-se permanentemente modificada pela reação do sistema ao 42 qual se filia e pelos processos e influxos do exterior. Seu dinamismo vem, ao mesmo tempo, das tradições e das constantes adaptações ao meio. Ao analisar um processo social de intervenção interna, como é o caso do estudo atual, há que se considerar todas as forças de mudança, sem referência direta a um ator ou a uma ação, mas sob o ângulo da energia social que liberam ou podem liberar no futuro. Qualquer mudança social e institucional é um fenômeno simultaneamente histórico, coletivo e estrutural e relacional. No entanto, as transformações que venham a ocorrer passam pelas subjetividades por interferirem na vida cultural, afetando as mentalidades e criando novas possibilidades de organização de todos estes mesmos aspectos (estrutural, relacional e subjetivo). Entende-se, então, que as mudanças sociais diferem da dinâmica do ciclo vital de uma pessoa ou de um grupo que tem a iniciativa de provocá-la, por maiores que sejam seu protagonismo individual ou de equipe e sua ferrenha dedicação a uma causa. Isto porque, de um lado, o ciclo de vida de um sujeito combina as determinações das circunstâncias externas com a historicidade, o protagonismo individual e a estabilidade de suas posições e papéis específicos. De outro, são múltiplos os processos que promovem efeitos diretos e indiretos, influxos internos e externos sobre as ações humanas e as instituições e muitos deles não podem ser medidos. Essa constatação vem de teorias sociológicas como a de Sheldon & Moore (1968), assim como de vários autores que trabalham com avaliação, citados anteriormente. Moore (1967) e Rocher (1970) caracterizam vários tipos de mudanças: as que são produzidasrapidamente e muitas vezes em cadeias seqüenciais; as que procedem de uma vontade deliberada ou resultam indiretamente de inovações igualmente voluntárias, como é o caso da aplicação do Programa Cuidar; as que se desenvolvem por influxo de tecnologias materiais e estratégias sociais, o que é também o caso do Programa; 43 as que são cumulativas e afetam, por meio de efeitos de redemoinho, muitos indivíduos e aspectos funcionais da sociedade. Freqüentemente um tipo de mudança se relaciona com outro, em sintonia e em sinergia, porém, nunca nos mesmos compasso e ritmo. Quando Moore (1967), Sheldon & Moore (1968), Dahrendorf (1972) e Nisbet (1969), entre outros cientistas que estudam mudanças sociais, abordam o assunto, seus campos de referência são as transformações que ocorrem, ao mesmo tempo, nas organizações sociais e nas mentalidades a partir de inovações tecnológicas e câmbios demográficos, políticos, institucionais e econômicos. Embora articulem esse conjunto de fatores, os cientistas aproximam-se pouco do campo das políticas sociais. Outros, como Crozier & Friedberg (1977), estão mais voltados para as mudanças que ocorrem a partir de intervenções específicas e internas nas organizações e instituições, mesmo quando são exigidas por influxos externos. Os autores que acreditam ser possível introduzir mudanças a partir dos processos de intervenção social fundamentam-se nos princípios da sociologia compreensiva (Weber, 1969) que tem, como núcleo central de sua argumentação, a ação social dos indivíduos em interação protagonizando a história, construindo e destruindo instituições. Weber ressalta também a eficácia dos fatores culturais, das idéias e dos valores morais e religiosos nos movimentos de transformação, mostrando, no seu livro seminal, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1969), que é preciso compreender in loco, de forma específica, como tais processos ocorrem. É nesse sentido que muitos pesquisadores e avaliadores vêm investindo na construção de indicadores capazes de medir quantitativamente e compreender qualitativamente o sentido, a orientação e as tendências das transformações sociais promovidas por políticas sociais. Esta crença não é dogmática. Ela parte dos muitos estudos em que se prova a hipótese da efetividade das intervenções sociais e em que se busca discernir quais são as que potencializam mudanças mais profícuas e perenes. Para citar de passagem alguns testes dessa hipótese, basta um olhar sobre o comportamento dos índices de desenvolvimento humano (IDH) no Brasil contemporâneo. 44 Avaliados a partir dos anos 70 até o presente, os estudos mostram uma melhoria progressiva dos indicadores. Para essa melhoria, o crescimento econômico foi fundamental e decisivo apenas na década de 70. A partir daí, com a estagnação do Produto Interno Bruto (PIB), as políticas de saúde e de educação foram as principais responsáveis pela tendência de evolução positiva dos indicadores, situação que perdura até o momento presente. Nesta avaliação, portanto, existe uma hipótese de eficácia na educação para valores materializada em propostas como a do Programa Cuidar, que visa a ampliar espaços de cidadania e de protagonismo social. As seguintes premissas são pressupostos desta reflexão: Qualquer mudança social provoca diferença em relação ao estado anterior da ação e dos atores. Qualquer mudança social ocorre por meio de uma dinâmica que inclui diálogo, cooperação e consensos estabelecidos entre atores e, concomitantemente, antagonismos, contradições e conflitos entre eles. Em qualquer mudança social existe diferença de grau entre tensão e conflito aberto. Essa diferença se manifesta na linguagem e na ação coletiva. Para responder à pergunta: “o que muda?”, diz Rivière (1982), é preciso discernir entre os níveis que se quer observar: o Nas burocracias administrativas, há mudanças provocadas por trocas de poder institucional; o Nas empresas, muitas transformações são provocadas por grupos de interesses; o Nas diferentes instituições, pela experimentação de novas técnicas e propostas relativas a sua práxis e às relações com o meio. o Nas pessoas, as mudanças acontecem quando tocam, interiormente, sua subjetividade, mobilizando habilidades, relacionamentos, posturas e valores. o Em geral, as mudanças institucionais se dão em ritmo de inovação e adaptação, diz Rivière (1982). Mas é possível garantir seu ritmo, 45 projetando tendências em um certo intervalo de tempo, por meio de aplicação de programas determinados. Assim, a partir de séries recorrentes sobre fatores e combinações de causas e efeitos os agentes sociais podem, processualmente, projetar um sistema de ações singulares com metas determinadas. Quanto à modificação de um sistema em si, é muito difícil estabelecer regularidades e tendências. Isto porque as interferências de múltiplas variáveis tornam, amiúde, bastante complexas quando não errôneas, as previsões sobre a dinâmica global. Essa dificuldade se deve a diversos fatores, dentre os quais o fato de que alguns elementos resistem com mais força a mudanças e a evolução do que se modifica segue ritmos diferentes, mesmo no interior de um mesmo campo de ação. Um verdadeiro desafio para os empreendedores de projetos sociais e para os avaliadores é identificar os tipos de intervenção que provocam maior impacto e geram movimentos de transformação mais consistentes e duradouros. É necessário buscar com insistência os indicadores que valorizem uma maior mobilidade psíquica, sensibilizem mais intensamente o público-alvo para experiências novas e mexam com a inércia conservadora das instituições e das pessoas. É preciso ressaltar também que toda proposta de intervenção tem seus limites: o da recusa clara, o da resistência camuflada ou o da re-interpretação. Para sua efetividade, os programas e projetos devem pressupor estratégias de ação que incluam o “modo de ser” cotidiano da instituição, dos seus agentes sociais, de suas potencialidades e vontade de mudança e de seus mecanismos mais comuns e sutis de conservadorismo. É preciso, ainda, ter em conta que as dinâmicas transformadoras não apresentam suas lógicas de forma tão clara. Por isto não é fácil descrevê-las. Como já se mencionou no decorrer desta reflexão, há muitos efeitos diretos e indiretos que ocorrem por conta da intervenção, paralelas a elas ou apesar delas. Todas as propostas passam, no mínimo, por três filtros: quem as concebe e redige; quem as veicula e implementa; e quem as acolhe. Cada um desses filtros formados por atores sociais promove uma re-interpretação, a seu modo e de acordo com seus 46 interesses, do que foi concebido no momento inicial. Assim, um projeto, lançado por alguém, nunca será o “projeto escrito no papel”, e sim o projeto corporificado na práxis. 1.2.Conceito de mudança no âmbito da intervenção educacional e social Poderias dizer-me, por favor, que caminho hei de tomar para sair daqui? Isso depende do sítio onde queres chegar, disse o gato. Não interessa muito para onde vou, retorquiu Alice. Nesse caso, pouco importa o caminho que tomes, interpôs o Gato. Desde que chegue a algum lado, acrescentou Alice à guisa de explicação. (Lewis Carroll) [modelito epígrafe] Qualquer avaliação do sistema escolar ou de intervenções em seu universo precisa ser contextualizada no ambiente mais amplo das transformações do mundo contemporâneo. Como lembra Boaventura Santos, em Pela Mão de Alice (2000), a reflexão sobre paradigmas epistemológicos só pode ser feita a partir da reflexão sobre paradigmas societais. É impossível desconhecer que existe, em curso, uma mudança social profunda, movimento que alguns nomeiam como pós- modernidade (Harvey, 1998; Kumar, 1992). Este termo é usado na falta de um vocábulo mais preciso e tem merecido muitas críticas de seus fundamentos,dentre elas a de Latour (1994). Tal expressão será usada aqui para designar este momento histórico de transição e a crise de valores proveniente da decadência do pensamento iluminista e dos aparatos e estruturas do período de predomínio da industrialização. Essa crise atinge alguns pilares ideológicos básicos nos quais a Modernidade, durante mais de dois séculos, se apoiou: a idéia de que a humanidade faz um movimento crescente de perfeição rumo ao futuro, a identificação do movimento histórico como o triunfo da razão; o uso de uma pedagogia social fundamentada na crença da missão cultural da elite como guia; a concepção do mundo como 47 uma realidade objetiva, acessível e controlável através do conhecimento e do método científico (Harvey, 1998). A escola como instituição-chave do sistema educacional tem sido um dos baluartes da Modernidade. Neste sistema, o Iluminismo elevou o status de professor ao de guia da pólis educada. Institucionalizou, em sua função, uma imagem de saber e poder que tem origens na legislação dos sistemas educacionais do século XIX (Terrén, 1999), cabendo-lhe, em nome do Estado, a formação do povo. O discurso sobre o papel da escola na formação das “massas” legitimou a união operativa do conhecimento científico acumulado com a ação do Estado, delegando ao poder dos governos, a administração dos interesses públicos. A transição para a pós-modernidade que afeta a escola coloca em curso um movimento de desconstrução deste discurso e do que se poderia chamar metaforicamente “três castelos” antes fortemente estruturados: o sentido da cultura, da socioeconomia e das organizações, complexificando temas como público, privado, governamental e não-governamental, local e global, nacional e transnacional. Terrén (1999) refere-se, especificamente, à crise de alguns parâmetros políticos do sistema educacional tal como foi concebido no marco do industrialismo e do Estado Moderno: • sua orientação para a universalização da escolaridade da classe trabalhadora e das massas em geral como forma disciplinadora; • sua articulação com a sociedade, em que as instituições de ensino cumprem um papel de substituir o dogma da predestinação social pela idéia de igualdade de oportunidades; • seu fundamento apenas no mérito dos títulos conquistados. Porém, todos os estudiosos das mudanças culturais contemporâneas demonstram que não foram os valores da educação que entraram em crise e sim sua práxis tradicional. É importante ressaltar esta diferença, pois a educação formal, mais do que nunca, passou a ser parâmetro de referência fundamental na atualidade, uma 48 vez que a escolaridade tornou-se requisito de empregabilidade para o indivíduo e indicador potente de desenvolvimento humano da sociedade. O declínio do prestígio e a confusão quanto à missão do processo educativo, por parte de muitas instituições estruturantes da modernidade como a escola, seguem pari passu o processo de transição macrossocial responsável por mudanças globais de ordem tecnológica, econômica e política e afetam sua concepção de mundo, sua forma de organização, seus relacionamentos, o valor de sua experiência acumulada e a subjetividade dos sujeitos que as compõem. Muitos elementos da crise que assola a escola tradicional têm origem na entrada de novas instituições na arena da mobilização psíquica da sociedade, como é o caso inédito e relevante dos meios de comunicação e de informação. Estas verdadeiras estradas do desenvolvimento do século XXI deslocaram o papel tradicional da escola, desde o final do século XX. A mídia surge, então, com seu acelerado potencial e fascínio, disputando a hegemonia da socialização das “massas”, o que passa a exigir uma re-definição e uma re-configuração dos sistemas clássicos de educação e formação. Em tais circunstâncias, o professor, cada vez mais, perde sua função de dar conteúdo e informar apenas. E, se não compreende a enormidade da mudança, entra em crise e se desespera; principalmente quando se aferra a seu papel tradicional, pois acaba perdendo em eficiência e eficácia para os outros meios. De nada lhe valeria, por exemplo, competir com as possibilidades quase incomensuráveis da internet e dos órgãos de comunicação que transbordam o ambiente escolar. É importante assinalar algumas características do ambiente externo que influencia a crise do sistema escolar, embora seja preciso ter cautela, pois é no interior deste mesmo sistema que estão sendo gestadas muitas mudanças. O movimento de globalização, que significa uma intensificação da internacionalização capitalista facilitada pela revolução da microeletrônica e do complexo informacional- comunicacional, tem raízes econômicas e vai se impondo por meio de mudanças nas esferas políticas e culturais. As principais características, em que pesem diferenças de concepção e interpretação, são: a internacionalização intensiva dos 49 mercados; o declínio das unidades nacionais como unidades de produção e de regulação; a irrupção dos processos de especialização flexíveis e de descentralização e a busca por particularização e por valorização dos espaços e dos fenômenos microssociais. Os caminhos criados sob a hegemonia do Estado a partir do século XIX e XX, ao se desenvolverem historicamente, criaram, sob muitos aspectos, o próprio esgotamento como instrumentos políticos de transformação. Remetendo à simbologia do diálogo de Alice com o gato Cheshire, os novos caminhos e os novos lugares parecem estar incontornavelmente para serem reinventados. Por isso, em termos gerais, o modelo pedagógico que melhor reflete o momento atual é o construtivismo (Vasconcellos & Valsiner, 1995), que se fundamenta em uma idéia muito afim à crítica pós-moderna a respeito da existência dos valores e esquemas universais. Os construtivistas acreditam que a objetividade é uma ilusão de que exista observação sem observador. Ao contrário, essa filosofia que se traduz em métodos e práticas, valoriza o particular, o variável, o contingente, o flexível, o interesse local, o engajamento dos indivíduos e suas potencialidades pessoais (Terrén, 1999). Um dos fortes dispositivos que precisa ser incorporado na compreensão das mudanças sociais é a nova concepção do tempo e da temporalidade. A pós- modernidade requer um tempo qualitativo, flexível, que escape a preditibilidade e cuja implementação organizativa exija um sistema de confiança das organizações em seus membros e em quem pretende atingir com sua ação. As entidades regidas de forma burocrática tendem a não favorecer esta dinâmica. O horizonte da flexibilidade é a incerteza, a diferenciação, a consideração da diversidade e do pluralismo, mas também do engajamento e da responsabilidade pessoal. Estas características não se adaptam à rigidez das instituições estruturadas dentro dos princípios organizativos burocráticos. Principalmente porque a mentalidade pós-moderna questiona a imagem do sujeito cognoscente fora dos contextos e a visão representacional do mundo como realidade objetiva. 50 Opõe-se também à idéia de que exista uma única maneira de otimizar as atividades e a relação com o mundo, de conhecê-lo e de organizá-lo. Em síntese, embora suas características estejam em processo de definição, a concepção pós-moderna das instituições de intervenção social ressalta os objetivos no curto prazo, a flexibilização das estruturas, a abertura de canais de informação, a comunicação pluridirecional e a valorização da individualidade e da criatividade dos sujeitos. Tal mentalidade tem como premissa a crença de que as atitudes e habilidades dotam a organização e as pessoas de uma cultura comparativamente mais elevada do que a das determinações, das ordens e das normas rígidas. Por isto, a insistência e a ênfase no compromisso com o trabalho, na qualidade e na excelência, muito mais do que na obediênciaproveniente de uma visão hierárquica, cujo imperativo é a ordem e a planificação centralizada. O ideal pós-moderno tem uma proposta de mudança para os diferentes níveis sociais. Substitui o conceito de estado propulsor do desenvolvimento pelo de estado planejador e avaliador das ações sociais delegadas à sociedade. No campo da educação e da intervenção social, substitui a idéia de meritocracia cumulativa e estática pela de empreendedorismo e de autonomia individual. Tal enfoque significa uma outra ótica em relação às idéias da modernidade fundada no industrialismo, quando a oferta educacional e das políticas sociais tendia a ser um monopólio do Estado e as instituições e a população-alvo dos programas sociais, clientela cativa da burocracia estatal. Tomando como exemplo as escolas, a tendência é substituir a organização forte e simples pela organização leve, flexível e complexa. A mobilização de recursos humanos e técnicos de formação especializada, diversificada e perenemente atualizada, seria sua chave do sucesso (Tourraine, 1995). Os ideólogos da pós- modernidade pretendem instituir uma nova cultura profissional de qualidade e excelência, à moda dos modelos pós-fordistas de reorganização industrial, substituindo as indefinições e contradições que rodeiam os desenhos curriculares, as resistências dos professores e a falta de compromisso com a direção da mudança. 51 A idéia central que domina as novas propostas de intervenção é a metanoia, ou seja, a da mudança da mente, levando a uma forma diferente de organização: cada escola é chamada a se transformar em uma organização única e especificamente adequada, criando sua identidade a partir de seus recursos e de uma projeção criativa dos seus próprios horizontes. Observa Terrén (1999) que a pós-modernidade translada a ênfase da organização da cultura para a cultura da organização. Do ponto de vista institucional, a proposta pós-moderna é criar uma administração com rosto humano que se expressaria nas iniciativas institucionais e materiais: cursos de formação, preparação de materiais curriculares, preparação de quadros para a direção. Todas as iniciativas institucionais devem, dentro de tal visão, ser orientadas para ressaltar a responsabilidade individual de cada ator envolvido no sistema escolar. E o sistema escolar teria compromisso com as necessidades e potencialidades dos atores que ele envolve. O aparente cenário fragmentado resultante seria justificado pelos diferentes estágios em que cada uma das instituições se encontra. A idéia intrínseca à proposta não é a do tratamento igual ou massivo para todas, mas a da distinção que coloca luz na falta de capacidade de inovação de algumas e nas chamadas instituições orgânicas em que predomina o clima de abertura, de crítica e de reorientação permanente de métodos e objetivos, auferidos por meio de avaliações que enfatizem qualidade e excelência. Referindo-se à necessidade de mudanças profundas no sistema escolar, tendo em vista seu papel socializador dos dispositivos culturais, diz Osborne (1994: 148), um dos ideólogos da educação e da intervenção social no ambiente pós-moderno: “unicamente a competição pode motivar a que todas as escolas melhorem. Pois unicamente a competição pelos usuários cria conseqüências reais e pressões reais a favor da mudança, quando as escolas fracassam”. Em conseqüência, a “necessária revolução deve começar com a administração docente”, diz Terrén (1999: 14). Portanto, dentro da lógica da ideologia que preconiza a mudança em curso, nada deveria impedir o exercício da responsabilidade individual. A primazia caberia ao 52 princípio da liberdade sobre o da igualdade. O que, do lado positivo, supõe aceitação das diferenças; e do lado negativo, a naturalização da desigualdade, como algo dado e eficaz do ponto de vista do rendimento cultural e socioeconômico. No âmbito das mudanças culturais, merece destaque à idéia de profissionalismo como uma espécie de guarda-chuva da nova imagem do trabalho social, cujo contexto discursivo é o de revitalização renovada da fé no poder auto-regulador e criador do mercado liberado. Assim, no caso da escola, por exemplo, o novo modelo de professor (centro de todo o processo) é o de um profissional motivado, realizado e criativo, cuja competência depende, em grande medida, dele próprio, de seu labor intelectual. Mas a organização deve propiciar-lhe satisfação no trabalho, sentido de eficácia, compromisso, independência, perspectiva de carreira e oportunidade de formação permanente. O novo ethos do trabalhador social, basicamente, propõe uma gestão da organização voltada para sua produtividade, buscando tirar o máximo de proveito de suas potencialidades e riquezas internas. Isto se opõe à idéia de um projeto cultural desenhado por intelectuais e especialistas da burocracia do estado. A reiterada exigência de qualidade e de excelência é, no fundo, uma desesperada demanda de motivação e um intento de reconstruir a organização pela subjetividade de seus membros. Os parágrafos anteriores se referem a uma tendência que os atores dos sistemas de intervenção social, com maior ou menor dramaticidade, estão sentindo: as inseguranças e incertezas percebidas e nomeadas balizam as dificuldades do momento de transição pelo qual estão passando. Como diz o ditado popular, vive- se um momento em que há que “trocar os pneus com o carro andando”, pois os legítimos operadores das transformações, como os educadores, os agentes sociais e os pais são pessoas formadas em outra mentalidade. Contradições existem, não há dúvidas: de um lado, os ideólogos falam em flexibilizações, responsabilizações, leveza organizacional e, ao mesmo tempo, na prática, as instituições são reféns de estruturas de gestão em que predomina o 53 modelo burocrático-centralizador e autoritário. Vale ressaltar, como marca cultural entranhada, a forte tendência brasileira ao gatopardismo, ou seja, a mania de deixar tudo como está parecendo que se está revolucionando. De outro lado, há muito esforço de transformação empurrando a máquina emperrada do conservadorismo, em busca de ênfase na cultura participativa, na flexibilidade na gestão, no clima fluido de discussão, de cooperação e de co-responsabilidade de cada um dos atores institucionais. Isto significa que está em curso um novo modelo que, no mínimo, poderia ser denominado “pós-burocrático”. O que está acontecendo tem defeitos e falhas? Sem dúvida, mas está vindo a reboque de outras transformações e ao mesmo tempo empurrando-as, como na bela metáfora usada por Atlan em Entre o cristal e a fumaça (1992), sua obra sobre a organização dos seres vivos. 1.3.Mudança de valores Na sua acepção de princípios morais, os valores constituem um foco de discussão em três níveis principais das teorias sociais. No primeiro, apresentam-se como objeto de análise, como é caso das discussões sobre troca de valores materialistas por pós-materialistas entre as populações do capitalismo central. No segundo, constituem conceito central para algumas perspectivas teóricas. Já no terceiro nível, são tratados em reflexões metodológicas sobre problemas sociais e compromissos normativos de várias espécies. As teorias que tratam das mudanças sociais do ponto de vista dialético consideram que os seres humanos fazem sua própria história, mas a fazem em condições previamente dadas. A referência central para o que se apresenta aqui é o conceito de valores trabalhado por Agnes Heller (2000), uma das últimas filósofas remanescentes do marxismo clássico. A autora leva em conta, na questão da mudança social, o papel da subjetividade. Agnes Heller pondera que, à primeira vista, parece certo acreditar que os seres humanos aspiram a certos fins, mas estes estão determinados pelas circunstâncias que modificam seus esforços e aspirações, produzindo resultadosque divergem das metas inicialmente colocadas. No entanto, essa distinção é um 54 equívoco, segundo a autora, pois as “circunstâncias” são, na verdade, parte da proposta em ação: elas não são externas, não são objetos mortos. São, na verdade, o contexto e o campo de ação da vida dos sujeitos, a estrutura social e formas de pensamento nas quais eles se movem. Quando as pessoas tem determinadas metas, diz Heller, o campo de determinação causal não é apenas o da orientação rumo a seu escopo, mas o conjunto das demais objetivações que, a partir da ação, desencadeiam novas séries causais. Recuperando a expressão de Marx, segundo quem “a história é a substância da sociedade”, Heller lembra que a sociedade não tem substância alguma, a não ser os seres humanos em relações: são eles os realizadores que se objetivam em instituições e estrutura sociais. A essência humana é histórica e a substância humana é sua própria história: “o decurso da história é o processo de construção dos valores ou da degenerescência desse ou daquele valor”, diz Heller (2000: 4). E o que se entende por valor? Valor é tudo aquilo que faz parte do ser humano genérico e contribui, direta ou indiretamente, para a explicação deste ser genérico. Mas os homens e as mulheres jamais escolhem valores, assim como jamais escolhem o bem ou a felicidade. Escolhem, sim, idéias concretas, finalidades concretas, alternativas concretas. Seus atos concretos de escolhas estão, naturalmente, relacionados com sua atitude valorativa geral, assim como seus juízos estão relacionados à sua imagem de mundo (Heller, 2000). Heller diz que os componentes essenciais dos seres humanos em relação são: trabalho enquanto objetivação; sociabilidade, universalidade, consciência e liberdade. Considera-se valor aquilo que, em qualquer das esferas de produção, de relação de propriedade, da estrutura política, da vida cotidiana, da moral, da ciência e da arte e em relação com a situação de cada momento, contribua para o enriquecimento dessas esferas essenciais da existência. Desvalor seria tudo o que direta ou indiretamente rebaixe ou inverta o nível alcançado do desenvolvimento de um determinado componente essencial. “O valor é, portanto, uma categoria ontológico-social e algo objetivo: mas sua objetividade é social. Por outro lado, ele é independente da avaliação dos indivíduos, pois seu lócus de expressão são as relações e as situações sociais” (Heller, 2000; 7). 55 Desta forma, não há atividade moral autônoma: a moral é uma relação entre atividades humanas. Ao exercê-las, as pessoas fazem uma articulação entre a peculiaridade do valor vivenciado por elas e a universalidade humana. Basta pensar nos valores mais antigos e persistentes como honradez, justiça e coragem para se ter certeza de que eles foram sempre, como normas, usos ou idéias, meios da elevação da particularidade ao mais genericamente humano. Os valores morais têm um caráter extremamente complexo. Por exemplo, a liberdade é uma categoria central da ética moderna. No entanto, nem sempre foi assim: houve um tempo em que o valor central foi a felicidade. A liberdade atingiu este status quando tornou-se importante na própria realidade histórica, significando um crescimento da consciência social sobre o valor do indivíduo responsável por si e capaz de dispor de si mesmo e de sua vida. Esse crescimento tornou-se real e objetivo, embora, para muitos continue como valor abstrato ou mera potencialidade. Heller diz também “que a história é história de valores de esferas heterogêneas” (2000: 7), pois uma esfera pode explicitar a essência em um sentido, ao passo que outra a impede ou influencie sua desvalorização. Ela exemplifica sua reflexão, evidenciando que o desenvolvimento da sociedade atual orienta-se, ao mesmo tempo, para a construção de personalidades mais autoconscientes e, contraditoriamente, cria pessoas mais solitárias, sem base comunitária, e submissas à manipulação de grandes mecanismos sociais. Estas contradições evidenciam desvalorizações objetivas que ocorrem no curso do mesmo processo histórico. Mas, diz Heller, não se pode resumir a explicitação de valores ao campo moral, pois alguém poderia objetar que atualmente as pessoas não são nem melhores e nem mais felizes que no passado. “Por isso não podemos reduzir o conceito de valor ao de valor moral, nem esse aos conceitos de bondade e de felicidade; e nem podemos identificar o desenvolvimento dos valores com a totalidade dos valores que efetivamente funcionam numa época determinada” (Heller, 2000: 8). Uma das idéias mais fortes do pensamento de Heller é a que reafirma ser impossível a anulação de um valor, uma vez que ele tenha se tornado real na sociedade, em qualquer das esferas de construção humana. Isso quer dizer que, 56 quando a humanidade consegue dar um passo importante na sua sociabilidade, na sua objetivação, rumo à liberdade ou à universalização de direitos, ela poderá até retroceder, mas vai anular suas conquistas. Se um valor alcançado passa a ser fraco, ele perde altura, mas continua a existir pelo menos como possibilidade. Portanto, a realização de valores é uma conquista absoluta e a perda de valores construídos será sempre relativa. A formação de valores no espaço social e institucional não pode ser tratada somente como uma estratégia pedagógica de imposição, nem tampouco pode ser trabalhada de modo esfacelado e separado dos demais conteúdos, relações e ações (Bertussi, 1998). O processo de intervenção social deve integrar o conjunto de experiências vividas pelos indivíduos em todos os âmbitos de sua experiência existencial. Por isso, atuar em projetos sociais significa potencializar mudanças nas esferas essenciais em direção dos valores universais de desenvolvimento humano. 1.4.Conclusões Qualquer intervenção ou avaliação social precisa ser entendida dentro do seu nível de especificidade quanto às mudanças a que se propõe, mas também deve levar em conta os contextos ampliados de organização do sistema social, cultural e do universo de valores, de determinado momento histórico. No momento presente, há que se considerar: • os aspectos macrossociais, que se referem à crise do paradigma da modernidade e do Iluminismo, dando lugar a uma nova concepção de mundo, de sociedade, de sociabilidade e, conseqüentemente, de educação e de ação social; • a dinâmica microssocial específica da missão de cada instituição que tem, ao mesmo tempo, sua finalidade específica e sua cumplicidade com todo o sistema social vigente; • o nível axiológico das propostas, voltado para orientar o desenvolvimento de uma cidadania contemporânea e atuante, fortalecendo os elementos 57 essenciais do humanismo: trabalho, liberdade, sociabilidade, universalidade de direitos e consciência da responsabilidade individual e social. A reflexão aqui iniciada tenta ressaltar as possibilidades de intervenção social como uma práxis que une a crença na eficácia das idéias e sua efetivação nas relações sociais de produção e de reprodução no cotidiano e a conjuga com as transformações em nível da consciência individual e com as mudanças dos processos coletivos. Referências Bibliográficas ATLAN, H. Entre o Cristal e a Fumaça: ensaio sobre a organização do ser vivo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992. BERTUSSI, G. T. Los valores y la moral en la escuela. Educación y Sociedad, 19 (62): 35-63, 1998. COHEN, E & FRANCO, R. Avaliação de Projetos Sociais. Petrópolis: Vozes, 1993. CROZIER, M. & FRIEDBERG, E. L’Acteur et le Système. Paris: Éditions du Seuil, 1977. DAHRENDORF, R. Classes et Conflict de Classes dans la Société Industrielle. Paris: Editions Mouton, 1972. HARVEY, F. A Condição Pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1998. HELLER, A. O Cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. KUMAR, K. 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Esta abordagem teórica deve ser escolhida quando contribuir para aumentar o conhecimento do assunto e atender aos objetivos que se deseja alcançar. Busca-se, aqui, enfatizar dois pontos: as abordagens disciplinares quantitativas e qualitativas, em si; e as possibilidades interdisciplinares de estas abordagens se combinarem, produzindo a triangulação. 2.1.ABORDAGENS QUANTITATIVAS Como estratégia de pesquisa, o método quantitativo visa a obter evidências de associações entre variáveis independentes (intervenção, exposição) e dependentes (resposta ou de desfecho). Excetuando-se os estudos exploratórios, freqüentemente o quantitativo está relacionado a uma abordagem dedutiva, que consiste em, a partir de uma teoria conhecida ou de uma lei geral, observar casos particulares procurando confirmar a hipótese investigada ou gerar outras. Busca verificar resultados por meio de objetivos previamente definidos. Para predizer e controlar eventos, comportamentos e outros desfechos, o pesquisador deve quantificar as causas e os efeitos, e isolá-los do seu contexto, a fim de tornar o processo, dentro da visão positivista, o mais objetivo possível. 62 Historicamente, tem havido uma maior utilização dessa abordagem, tendo em vista que a maior parte dos estudos avaliativos preocupa-se em mensurar o impacto ou efeito da intervenção. Podem ser assim resumidas as características do paradigma em questão: • atua dentro da filosofia positivista; • usa métodos estatísticos; • trabalha com mensuração controlada; • tem uma perspectiva externa aos dados; • está orientado para a verificação e confirmação das hipóteses e para resultados; • enfatiza dados confiáveis e replicáveis; • considera a perspectiva de uma realidade estável. A hipótese central do positivismo sociológico, base filosófica da abordagem quantitativa, é de que a sociedade humana é regulada por leis naturais que atingem o funcionamento da vida social, econômica, política e cultural de seus membros. Suas teses básicas são: realidade se constitui essencialmente naquilo que os sentidos humanos podem perceber; as ciências sociais e as ciências naturais compartilham do mesmo fundamento lógico e metodológico, distinguindo- se apenas no objeto de estudo; e existe uma distinção fundamental entre fato e representações, e a ciência deve-se ocupar dos fatos (Hughes, 1985; Minayo & Sanches, 1993). Mullen & Iverson (1982) referem a importância da abordagem quantitativa para apresentar resultados que podem ser contados e expressos em números, taxas, proporções. Segundo os autores, este tipo de abordagem é importante também para conhecer a cobertura, a concentração e a eficiência de programas, ações e intervenções, para avaliar objetivos bastante específicos, bem como as avaliar as diferenças de grau de um objeto que exige uma lógica de mais ou de menos. Além disto, a abordagem quantitativa estabelece relações significativas entre variáveis. 2.1.1- Desenhos quantitativos experimentais e quase-experimentais para investigação avaliativa 63 As pesquisas avaliativas por triangulação de métodos devem adotar modelos de abordagem fundamentados e testados cientificamente. Os de maior poder analítico, dentro da perspectiva quantitativa são os de desenho experimental e quase-experimentais, visando a medir o efeito das intervenções. Embora na avaliação do Cuidar tenha sido usado o modelo quase-experimental, a seguir analisam-se também as características do experimental. O modelo experimental corresponde ao desenho ideal na perspectiva da comparabilidade de grupos formados pela intervenção nas investigações de cunho quantitativo. No contexto da avaliação de programas, devem-se analisar os desenhos experimentais da mesma forma que em uma pesquisa de ciências naturais, o que implica total externalidade dos observadores em relação aos observados e limitação no tamanho da amostra. A idéia de experimento está associada às condições típicas de laboratório, mas, no caso de avaliação social, o modelo é reinterpretado pelas ciências sociais. Neste tipo de adaptação, o modo de determinar o grau de sucesso e evitar vieses é pedir que os agentes da intervenção façam dois grupos diferenciados, desde o início dos trabalhos, que vão ser acompanhados pelos avaliadores. Com um, serão realizadas as intervenções sociais. O outro será usado como grupo controle. Durante todas as etapas, a avaliação será programada para observar e descrever o que ocorre em ambos, em relação à variável dependente (resposta) (Campbell & Stanley, 1966). Silva (2004) lista o que considera vantagens do estudo experimental com segmentos populacionais, concordando com Campbell & Stanley (1966) e muitos outros estudiosos que: • o processo de randomização (distribuição aleatória dos sujeitos nos grupos experimental e controle) evita que os vários grupos sejam afetados por viés de seleção; • a randomização assegura que os grupos sejam similares quanto à distribuição dos fatores de confusão conhecidos e desconhecidos; 64 • se o estudo for duplamente cego1, os erros de medição tendem a ser reduzidos se a qualidade global do estudo é assegurada; • permite estudar várias conseqüências em relação a uma dada intervenção. Os estudos em que o pesquisador não consegue garantir tais condições são chamados não-experimentais. Os estudos experimentais, segundo seus teóricos, permitem melhor controle, pois a randomização minimiza a interferência de fatores de confusão, conhecidos ou desconhecidos dos investigadores. De modo geral, têm-se utilizado os delineamentos experimentais para análise de impacto, pois considera-se que, nas avaliações mais bem-sucedidas, se havia adotado este modelo, nas duas últimas décadas (Rossi & Wright, 1984). Segundo Cano (2002), em ciências sociais há três condições para se considerar uma pesquisa como um experimento. A primeira
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