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avaliação triangulação

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Avaliação por Triangulação de Métodos. Abordagem de Programas Sociais
Article · January 2006
Source: OAI
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3 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Interpersonal violence and transgenerational stress effects View project
centro latino americano de estudos e violencia jorge careli View project
Maria Cecília de Souza Minayo
Fundação Oswaldo Cruz
376 PUBLICATIONS   8,840 CITATIONS   
SEE PROFILE
Simone Gonçalves de Assis
Ministério da Saúde do Brasil
162 PUBLICATIONS   2,308 CITATIONS   
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Maria Cecília de Souza Minayo on 24 April 2016.
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https://www.researchgate.net/publication/33024173_Avaliacao_por_Triangulacao_de_Metodos_Abordagem_de_Programas_Sociais?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf
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https://www.researchgate.net/institution/Ministerio_da_Saude_do_Brasil?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Simone_Assis2?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Maria_Minayo?enrichId=rgreq-84ec9ce917f7cc8c3452e0e11693c69d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMDI0MTczO0FTOjM1NDUyMDc3NDI2Njg4MEAxNDYxNTM1NzQ3MTgz&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO POR TRIANGULAÇÃO DE MÉTODOS 
 
Abordagem de Programas Sociais 
 
 
 
 
 
 
 
Créditos institucionais 
Editora Fiocruz.... 
 
AVALIAÇÃO POR TRIANGULAÇÃO DE MÉTODOS 
 
Abordagem de Programas Sociais 
 
 
Maria Cecília de Souza Minayo 
Simone Gonçalves de Assis 
Edinilsa Ramos de Souza 
(organizadoras) 
 
Todos os direitos... 
 
Créditos publicação 
ISBN 
 
Ficha catalográfica 
João e Carlota: Em que página colocar? 
Pesquisa Avaliação do Processo de Implantação e dos Resultados do 
Programa Cuidar 
 
Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli - CLAVES 
Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP 
Instituto Fernandes Figueira – IFF 
Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz 
 
Av. Brasil, 4036, sala 700 
Manguinhos – RJ. CEP: 21040-361 
Tel/fax: 21-22904893 
www.claves.fiocruz.br 
claves@claves.fiocruz.br 
 
Ver com Simone em que edição vai entrar esta 
parte 
Equipe de pesquisadores 
Simone Gonçalves de Assis (coordenação) 
Edinilsa Ramos de Souza (coordenação) 
Maria Cecília de Souza Minayo (coordenação) 
Suely Ferreira Deslandes 
Kathie Njaine 
Romeu Gomes 
Patricia Constantino 
Cosme Marcelo Furtado Passos da Silva 
Juaci Vitória Malaquias 
Nilton César dos Santos 
João Paulo Costa da Veiga 
Helena Amaral da Fontoura 
Maria Regina Bortollini 
Maria de Fátima Junqueira 
 
Assistentes de pesquisa 
Liana Furtado Ximenes 
Renata Pires Pesce 
Vani Marizete Belmonte 
Isabela Gomes da Fonseca 
Cláudio Felipe Ribeiro da Silva 
Karina Ferreira Borges 
 
Consultoria técnico-científica 
Evandro da Silva Freire Coutinho 
Luiz Antonio Bastos Camacho 
 
Apoio Técnico 
Marcelo da Cunha Pereira 
Marcelo Silva da Motta 
Cristina Maria Peres do Nascimento 
 
Apoio à Documentação e Normatização da Bibliografia 
Fátima Cristina Lopes dos Santos 
Hynajara Boueris da Silva 
Alessandra de Jesus Machado Cruz 
 
Consultores Locais 
 Haydée Monteiro dos Santos Agostini (Campinas) 
Antônia Anízia Gonçalves Moreira (Iguatu) 
Juvenal Pereira Lima (Iguatu) 
Célia Maria Amino Mauler (Juiz de Fora) 
 
Instituto Souza Cruz 
Site: www.institutosouzacruz.org.br 
 
 
Diretoria 
Nicandro Durante - Presidente 
Constantino Mendonça - Diretor 
Gerson Cardoso - Diretor 
 
Conselho Fiscal 
Dante Letti - Presidente 
Paulo Eduardo Santos - Conselheiro 
Antônio Duarte Castro - Conselheiro 
 
Diretora - Executiva 
Leticia Lemos Sampaio 
 
Consultores 
Luiz André Soares – Gestão de Projetos Sociais 
Adriana Martins Reis – Comunicação para o Desenvolvimento Social 
Marcos Marques de Oliveira – Comunicação para o Desenvolvimento Social 
 
Assistente Administrativa 
Simone Rodrigues Amorim 
 
Concepção do Programa Cuidar e 
Coordenação do Programa-piloto 
Antônio Carlos Gomes da Costa e 
Modus Faciendi Treinamento & Desenvolvimento 
 
 
 
 
 
 
 
Autores 
 
Cláudio Felipe Ribeiro da Silva 
• Estatístico, mestrando em ______________, inserção institucional 
 
Edinilsa Ramos de Souza (organizadora) 
• Psicóloga, Doutora em Ciências. Pesquisadora Titular do Centro Latino-
Americano de Estudos sobre a Violência Jorge Careli/Escola Nacional 
de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz (Claves/Ensp/Fiocruz) 
 
João Paulo Veiga da Costa 
• Graduação, maior pós, inserção institucional 
 
Juaci Vitória Malaquias 
• Graduação, maior pós, inserção institucional 
 
Kathie Njaine 
• Graduação, maior pós, inserção institucional 
 
Maria Cecília de Souza Minayo (organizadora) 
• Graduação, maior pós, inserção institucional 
 
Nilton César dos Santos 
• Graduação, maior pós, inserção institucional 
 
Patrícia Constantino 
• Graduação, maior pós, inserção institucional 
 
Romeu Gomes 
• Graduação, maior pós, inserção institucional 
 
Simone Gonçalves de Assis (organizadora) 
• Graduação, maior pós, inserção institucional 
 
Suely Ferreira Deslandes 
• Graduação,maior pós, inserção institucional 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
Apresentação 
 
Introdução 
Maria Cecília de Souza Minayo 
 
1. Mudança: conceito-chave para intervenções sociais e para avaliação de 
programas 
Maria Cecília de Souza Minayo 
 
2. Métodos, técnicas e relações em triangulação 
Maria Cecília de Souza Minayo, Edinilsa Ramos de Souza, Patrícia Constantino, Nilton 
César dos Santos 
 
3. Definição de objetivos e construção de indicadores visando à trinagulação 
Simone Gonçalves de Assis, Suely Ferreira Deslandes, Maria Cecília de Souza Minayo, 
Nilton César dos Santos 
 
4. Construção de instrumentos qualitativos e quantitativos 
Edinilsa Ramos de Souza, Maria Cecília de Souza Minayo, Suely Ferreira Deslandes, João 
Paulo Veiga da Costa 
 
5. Trabalho de campo: construção de informações qualitativas e 
quantitativas 
Suely Ferreira Deslandes 
 
6. Organização, processamento, análise e interpretação de dados: o desafio 
da triangulação 
Romeu Gomes, Edinilsa Ramos de Souza, Maria Cecília de Souza Minayo, Juaci Vitória 
Malaquias, Cláudio Felipe Ribeiro da Silva 
 
7. Apresentação e divulgação de resultados 
Simone Gonçalves de Assis, Kathie Njaine, Maria Cecília de Souza Minayo, Nilton César 
dos Santos 
 
 
 
 1
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
Em Avaliação por Triangulação de Métodos: abordagem de programas 
sociais, a equipe do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde 
Jorge Careli da Escola Nacional de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde 
Pública da Fiocruz (Claves/Ensp/Fiocruz) tenta fazer uma síntese de seu 
saber fazer, colocando à disposição da comunidade científica da área 
social e da saúde, o compartilhamento de seu conhecimento 
interdisciplinar em metodologia de pesquisa. Este livro sintetiza a 
experiência de 15 anos de trabalho em cooperação e em grupo, 
investigando temas relacionados ao impacto da violência sobre a saúde e 
às políticas sociais voltadas para a promoção da vida. 
O investimento técnico-científico desses anos se desdobra em atividades de 
ensino, de orientações de monografias, dissertações e teses e abrange 
análises da morbimortalidade por acidentes e violências referentes a 
grupos específicos, (crianças, adolescentes, idosos, trabalhadores), temas 
peculiares (auto-estima, resiliência, suicídio, homicídios, acidentes de 
trânsito, qualidade de informações) assessorias a órgãos públicos e a ong e 
avaliação de intervenções. 
 
A literatura nacional e internacional evidencia que a triangulação é uma 
estratégia de investigação voltada para a combinação de métodos e 
técnicas. Já consagrado, o termo remonta a Norman Denzin em seu 
clássico livro The Research Act, publicado em 1970. Nesta obra, o autor 
convence os investigadores que praticam a pesquisa qualitativa de que a 
compreensão da realidade social se faz por aproximação e de que é preciso 
exercitar a disposição de olhá-la por vários ângulos. O núcleo reflexivo de 
Denzin, porém, é o da própria abordagem qualitativa em sua vertente do 
interacionismo simbólico. 
Em 1979, T. Jick escreveu na revista Administrative Science Quarterly, um 
artigo que se tornou referência na área da gestão, pois levou o tema para 
as ciências aplicadas: Mixing Quantitative and Qualitative Methods: 
triangulation and action. Em 1992, Juan Samaja, em artigo na revista 
Educación Medico-Social com o título La combinación de métodos: pasos 
para una comprensión dialéctica del trabajo interdisciplinario, também 
teorizou sobre o assunto, tratando-o do ponto de vista do diálogo entre 
áreas do conhecimento. Minayo & Cruz Neto, pesquisadores do próprio 
Claves, em 1999 elaboraram um artigo publicado pela Edamex, no México, 
no livro Salud, cambio social y política, perspectivas desde América Latina 
intitulado Triangulación de métodos en la evaluación de programas y 
servicios de salud, tratando da abordagem e noticiando a experiência do 
grupo de pesquisa. 
 
 2
Tendo em vista que, além dos trabalhos citados, com certeza há outros de 
maior e menor relevância sobre o assunto, qual seria a contribuição desta 
obra, no âmbito da literatura nacional e internacional? Essa pergunta 
enseja uma apresentação mais minuciosa dos bastidores da criação do 
livro que ora entregamos ao público. 
 
Nos últimos quatro anos, elaboramos uma ampla reflexão teórica e uma 
aprofundada habilidade prática de investigação avaliativa, a propósito de 
uma intervenção pedagógico-social denominada Cuidar, realizada em 
escolas de níveis fundamental e médio em várias regiões do país. 
Aceitamos o desafio de fazer parte de um grupo de instituições que 
resolveu apostar em estratégias de educação para valores em escolas, das 
quais o Cuidar é um exemplo. 
Nesse grupo, nossa função específica foi a de avaliar a implantação e a 
implementação dessa intervenção traçada e disponibilizada pela Modus 
Faciendi, uma instituição criada e presidida pelo renomado educador 
Antônio Carlos Gomes da Costa. O patrocínio da abordagem pedagógica e 
da avaliação e a gestão empresarial da proposta ficaram a cargo do 
Instituto Souza Cruz. A realização do projeto coube a secretarias de 
educação de vários municípios do país, abrangendo escolas públicas e 
privadas, num total que hoje já atinge 5 estados, 226 escolas, 4.165 
educadores e 86.334 estudantes. 
 
Pela variedade de atores e pela sua diversidade de posições no processo, 
certamente cada um dos citados acima se beneficiou de forma peculiar no 
diálogo interinstitucional desenvolvido durante os quatro anos do 
programa Cuidar. Cabendo-nos a responsabilidade da avaliação, nossa 
curiosidade estava voltada para duas direções: (1) observar como uma 
intervenção no campo da educação para valores poderia promover a 
cidadania e, portanto, atuar no lado positivo da promoção da vida: o 
antídoto da violência; (2) aprofundar teórica e praticamente a estratégia 
avaliação por triangulação de métodos, que já vínhamos praticando. 
Realizando, passo a passo, o monitoramento do processo, pudemos ter 
resposta para nossas indagações, ressaltando as conquistas e os 
problemas de ordem conceitual, técnica e organizativa que iam ocorrendo 
durante a intervenção sócio-pedagógica. E, por meio de uma ação reflexiva 
voltada para decisões, chegamos a estabelecer parâmetros para a ação 
presente e futura, por meio de conclusões consensualizadas, embora 
sempre provisórias. 
 
Portanto, este livro fala da “cozinha” da avaliação, ou seja, do como 
fizemos cada passo do trabalho metodológico e o que nele correspondeu à 
aprendizagem teórica, à criação de aproximações e à elaboração de 
instrumentos. Ele traz ao leitor o resultado de uma atividade em que se 
buscou, dialeticamente, juntar teoria e prática, pesquisadores de várias 
áreas, instituições diversas e síntese de resultados. É nisso que o livro 
 3
inova, pois não aporta apenas um conjunto de técnicas; não é somente a 
descrição de um processo de elaboração; não é simplesmente uma 
teorização. Traz a dinâmica de construção, em sintonia e em interação, 
desse conjunto de atividades necessárias, por meio de uma disposição 
dialógica que constitui a condição sine qua non de qualquer trabalho 
científico em cooperação interdisciplinar. Ao apresentar as etapas da 
investigação avaliativa por triangulação, oferece ao leitor a teoria, o 
método, as técnicas e a exemplificação de cada passo. 
 
Por isso, consideramos este trabalho como uma inovação no campo a que 
se destina e uma inflexão teórico-metodológica sem precedentes, na 
medida em que fundamenta um modus faciendi de coletivo de pesquisa 
que, ao mesmo tempo, preserva a “especialização individualizada” de cada 
um de seus integrantes. 
 
Nossos leitores poderão julgar o acerto desse passo que já recebeu o 
aplauso de vários pares, das instituições com quem estabelecemos 
cooperação e do Ministério da Cultura que, junto com o Instituto Souza 
Cruz, se propôs a financiar a iniciativa de sua publicação. A esse 
ministério, por meio de sua Secretaria do Livro e Leitura e ao Instituto 
Souza Cruz, napessoa da Dra. Letícia Sampaio, expressamos nossos 
sinceros agradecimentos. Compartilhamos os méritos do trabalho com os 
estudantes, professores, gestores das escolas e dos municípios onde 
ocorreu a avaliação e ainda está em pleno vigor o Cuidar, com a Modus 
Faciendi, e sobretudo com o Instituto Souza Cruz. Esperamos que um dos 
frutos teóricos e práticos desse Programa seja o acerto de divulgar sua 
estratégia de monitoramento, a avaliação por triangulação de métodos, 
como uma contribuição positiva para o avanço das análises de políticas 
sociais no Brasil. 
 
 
Faltam referências bibliográficas Ver com Simone 
 
As organizadoras 
Maria Cecília de Souza Minayo 
Simone Gonçalves de Assis 
Edinilsa Ramos de Souza 
 
 
Avaliação por Triangulação de Métodos: abordagem de programas sociais é 
um livro que faz a síntese entre teoria e prática no tema anunciado em seu 
título. Escrito pela equipe do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência 
e Saúde Jorge Careli da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação 
Oswaldo Cruz (Claves/Ensp/Fiocruz) a partir de sua experiência de 
pesquisa, trata da articulação de abordagens quantitativas e qualitativas 
para a análise, acompanhamento e monitoramento de programas e 
projetos de intervenção social, a partir das disciplinas que compõem o 
campo da saúde e das áreas das ciências humanas e sociais. 
Vários temas vêm sendo objeto de investigação interdisciplinar e 
metodológica desse grupo composto por epidemiologistas, estatísticos, 
sociólogos, antropólogos, psicólogos e comunicadores sociais. 
 
A abordagem teórica fundamental da obra faz parte do que, no mundo 
acadêmico, se convencionou chamar pesquisa avaliativa, ou seja, a 
atividade que junta investigação e avaliação e se distingue pela 
contextualização, pela teorização e pela complexificação tanto dos 
instrumentos como dos métodos e das análises de resultados. Sua 
especificidade tem dois contrapontos: o da área de investigação 
propriamente dita, de onde provem e à qual acrescenta a peculiaridade do 
conceito de avaliação, atualmente um campo específico de conhecimento 
com marcos teóricos e metodológicos consagrados e sofisticados. O outro é 
o da avaliação tradicional que se constitui apenas como uma técnica 
operativa, cujo viés instrumental dispensa a contextualização e a 
teorização. 
 
A grande novidade deste livro é que nele os pesquisadores, ao mesmo 
tempo, teorizam, trabalham as técnicas e ensinam o “pulo do gato”, ou 
seja, como operacionalizar. Mostrando o movimento que vai da teoria à 
prática e vice-versa em cada um dos passos da abordagem, os autores 
apresentam um livro inédito na literatura nacional e internacional. 
 
É importante dizer que o termo triangulação de métodos é antigo e 
primeiro se registra na obra de Norman Denzin em The Act of Research, 
cuja primeira edição foi de 1970, quando o movimento de revalorização da 
pesquisa qualitativa renascia na sociedade científica americana. Essa 
expressão criada por Denzin diz respeito, sobretudo, a uma disposição 
necessária do investigador a exercitar várias abordagens e olhares para se 
aproximar da realidade social. Depois dele, vários autores e sob diversos 
propósitos têm falado dessa estratégia como é o caso de Juan Samaja 
quando referencia estudos de saúde e reprodução social. E Minayo e Cruz 
Neto, em comunicação sobre trabalhos de pesquisa, já haviam até 
esquematizado as etapas de realização dessa estratégia. 
 
No entanto, é a primeira vez que o leitor terá oportunidade de compartilhar 
a experiência de articulação interdisciplinar da equipe do Claves, que vem 
utilizando a estratégia de triangulação de métodos. Esta estratégia inclui 
abordagens específicas (de acordo com o tema em pauta) para avaliação há 
15 anos. Dentre as obras realizadas pelo grupo utilizando a triangulação 
de métodos citam-se um livro sobre a juventude carioca denominado Fala 
Galera, e a recente obra chamada Missão Investigar, que aborda o perfil e 
as condições de trabalho, saúde e qualidade de vida dos policiais civis do 
Rio de Janeiro, além de vários trabalhos de avaliação realizados a pedido 
do Ministério da Saúde, da Justiça e de outras instituições da sociedade 
civil. 
 
Este livro, contendo uma estratégia de trabalho tão importante, promete 
contribuir, indiscutivelmente, para as atividades de pesquisa e de 
avaliação tanto do campo de saúde como, de forma mais ampla, das 
atividades e programas sociais. 
 
Nome do autor 
Maior crédito e inserção institucional 
Quarta capa 
 
Esta obra concentra um “saber” e um “saber fazer” de um dos grupos de 
pesquisa do Centro Latino Americano de Estudos sobre Violência e Saúde 
Jorge Careli, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo 
Cruz (Claves/Ensp/Fiocruz). Há 15 anos, estes pesquisadores vêm 
desenvolvendo investigações sobre temas relacionados ao impacto da 
violência sobre a saúde e sobre a aplicação de programas sociais atinentes 
à cidadania. 
A especificidade dessa experiência é a prática interdisciplinar e a 
articulação de abordagens metodológicas quantitativas e qualitativas, 
como estratégias de compreensão e interpretação da realidade. O livro 
enriquece a área de conhecimento denominada pesquisa avaliativa, na 
qual inova, teorizando sobre a triangulação de métodos e mostrando como 
essa estratégia se realiza na prática. Por isto, promete ser de indiscutível 
utilidade nas mãos de investigadores sociais, estudiosos das áreas de 
saúde, da educação, das políticas sociais, e com certeza, do campo de 
avaliação. 
 
Nome e crédito 
Prefácio 
 
 
Avaliação de Programas Sociais por Triangulação de Métodos: abordagem de programas 
sociais, trabalho coletivo coordenado por três experientes e reconhecidas pesquisadoras da 
Fundação Oswaldo Cruz – Maria Cecília de Souza Minayo, Simone Gonçalves de Assis e 
Edinilsa Ramos de Souza – constitui uma indiscutível contribuição ao campo teórico e 
prático das políticas públicas. A qualidade e seriedade do tratamento analítico do livro 
acrescenta mais um mérito à incansável dedicação do Centro Latino-Americano de Estudos 
de Violência e Saúde Jorge Careli da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação 
Oswaldo Cruz (Claves/Ensp/Fiocruz) que, nos últimos 16 anos, vem tratando a questão 
social brasileira e avaliando as intervenções públicas voltadas para a superação da violência 
e a promoção de direitos humanos. 
Em nossos dias, felizmente, não se pode falar de qualquer programa de investimento social, 
tanto em âmbito de governo como da iniciativa privada, que não precise contar com 
instrumentos adequados de avaliação. Não os instrumentos tradicionais, por vezes 
perversos, alimentados por tristes ciclos “reinvencionistas” que, freqüentemente usados ao 
final de qualquer gestão, procuram apenas apagar esforços que beneficiam a população – 
realizados por governos anteriores – e anunciam novas tentativas, partindo quase sempre do 
zero, e, quando muito, recomeçam com a inexperiência do novo executor. 
O nível de desenvolvimento crítico e acadêmico do país exige critérios científicos, 
condizentes com os avanços relativos às concepções e propostas de políticas públicas e ao 
campo de conhecimento sobre avaliação, onde a bibliografia publicada e os trabalhos 
empíricos e teóricos realizados evidenciam pujança, dinamismo e constante 
aperfeiçoamento. A maioria dos estudos nacionais e internacionais é unânime em indicar 
que a aplicação de políticas públicas precisa (a) desde a sua concepção, destinar verbas para 
avaliação; (b) acompanhar todo o processo de desenvolvimento de intervenções, mesmo 
antes de ser iniciado, monitorando a implantação, a implementação e os resultados 
paulatinos, indicando, durante todo o transcurso, os pontos cruciais que levam ao êxito ou 
que atravancam ou prejudicam o andamento da proposta; (c) possibilitar clareza de critérios 
que permita dar continuidade a planos e ações, a favor da população, independentemente 
das posições doutrináriasou das idiossincrasias dos gestores que estiverem no poder. 
É claro, também, como está referido no livro, que as investigações avaliativas – termo 
preferido pelos autores para explicitar o caráter científico de sua proposta – partem do 
entendimento de que as políticas públicas se realizam em processo contínuo de decisões e, 
por isso mesmo, modificam-se permanentemente. Elas nascem de necessidades sentidas e 
diagnosticadas pelos poderes públicos e das demandas sociais, mas são transformadas em 
negociações, pressões e decisões pelo poder de ambas as partes. Nessas circunstâncias, a 
avaliação constitui um tercius, na medida em que os avaliadores não são nem quem 
formula e nem quem demanda. 
No processo, tanto os formuladores e os beneficiários como os gestores e os técnicos serão 
chamados a se auto-avaliarem. Essa exigência, porém, constitui apenas um dos elementos 
da avaliação que, no seu conjunto, atua de forma independente para dar ao sistema mais 
racionalidade, eficácia e sentido. Desse ponto de vista, como dizem os autores deste livro, a 
avaliação deveria ser considerada como parte constitutiva da política pública, uma vez que 
tem o papel complexo de apresentar a necessidade de correção de rumos pari passu ao 
desenvolvimento das ações e, ao mesmo tempo, evidenciar a necessidade de 
aprofundamento e continuidade de determinadas intervenções para que seus resultados 
sejam duradouros e crescentes. 
De quem faz avaliação de programas sociais, portanto, não se exige apenas entender de 
técnicas. Pois, como bom jardineiro, este analista precisa estar a par do tempo de maturação 
e de florescimento dos vários processos sociais, cujos intervenientes são muito mais 
complexos do que a mecânica de intervenção em vários outros campos. 
Gostaria de comentar, ainda, a proposta estratégica apresentada nesta obra: a avaliação por 
triangulação de métodos. Primeiro, esta proposta se diferencia diametralmente das que 
tratam a execução da política social como uma seqüência linear, estanque e sucessiva de 
intervenções que deveria ser avaliada pela estrutura tradicional de formulação, implantação, 
implementação e resultados previstos antecipadamente. Ela dá lugar à compreensão da 
gestão de políticas sociais como um processo contínuo de tomada de decisões, portanto, 
prevendo correção de rumos, permanentemente. Em segundo lugar, ela trabalha com 
contextualização das propostas, evitando o mecanicismo tecnicista que estabelece as 
mesmas perguntas para realidades diferentes. Em terceiro lugar e, principalmente, ela ao 
mesmo tempo supera e valoriza o que há de mérito da proposta tradicional pela inclusão, 
primeiramente analítica e depois em forma de síntese, de todos os ingredientes envolvidos 
numa intervenção social: história, contexto, cultura, estruturas, relações, pluralidade de 
atores, acessibilidade a recursos, resultados contínuos e ganhos quantitativos e qualitativos. 
Por fim, gostaria de ressaltar mais um mérito deste livro. Ele se constitui na teorização de 
uma experiência interdisciplinar de longo prazo do Claves. Por realizar a dialética entre 
teoria e prática, os autores puderam trazer aos leitores exemplos concretos do que eles 
fazem e consideram como avaliação por triangulação de métodos, termo que vem sendo 
usado por muitos estudiosos, mas que nunca foi devidamente conceituado, descrito e 
analisado como nesta obra. Aqui se apresenta o exemplo de avaliação de um programa de 
educação para valores, denominado Programa Cuidar. Essa ilustração que acompanha a 
apresentação de todos os passos metodológicos descritos e teorizados pelos autores permite, 
a quem se interessar, utilizar as mesmas estratégias, adaptando a proposta aos objetos 
específicos a serem analisados. 
Por todos esses motivos, congratulo-me com as organizadoras, parabenizo a todos os 
autores, desejo vida longa a este próspero grupo de pesquisa e convido os leitores, mais 
uma vez, que prestem atenção a este trabalho que inova e traz uma perspectiva promissora 
para a gestão das políticas públicas no país e para o campo teórico e prático da avaliação de 
programas sociais. 
 
Ricardo Henriques, economista do 
MEC. 
Ver créditos com Simone 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
Apresentação 
 
Introdução 
Maria Cecília de Souza Minayo 
 
1. Mudança: conceito-chave para intervenções sociais e para avaliação de 
programas 
Maria Cecília de Souza Minayo 
 
2. Métodos, técnicas e relações em triangulação 
Maria Cecília de Souza Minayo, Edinilsa Ramos de Souza, Patrícia Constantino, Nilton 
César dos Santos 
 
3. Definição de objetivos e construção de indicadores visando à triangulação 
Simone Gonçalves de Assis, Suely Ferreira Deslandes, Maria Cecília de Souza Minayo, 
Nilton César dos Santos 
 
4. Construção de instrumentos qualitativos e quantitativos 
Edinilsa Ramos de Souza, Maria Cecília de Souza Minayo, Suely Ferreira Deslandes, João 
Paulo Veiga da Costa 
 
5. Trabalho de campo: construção de informações qualitativas e 
quantitativas 
Suely Ferreira Deslandes 
 
6. Organização, processamento, análise e interpretação de dados: o desafio 
da triangulação 
Romeu Gomes, Edinilsa Ramos de Souza, Maria Cecília de Souza Minayo, Juaci Vitória 
Malaquias, Cláudio Felipe Ribeiro da Silva 
 
7. Apresentação e divulgação de resultados 
Simone Gonçalves de Assis, Kathie Njaine, Maria Cecília de Souza Minayo, Nilton César 
dos Santos 
 
 38
CCaappííttuulloo 11 
 
MMuuddaannççaa:: ccoonncceeiittoo--cchhaavvee ppaarraa iinntteerrvveennççõõeess ssoocciiaaiiss ee ppaarraa aavvaalliiaaççããoo 
ddee pprrooggrraammaass 
 
 
Maria Cecília de Souza Minayo 
 
 
Uma boa análise crítica de programas sociais precisa problematizar o conceito de 
mudança, pois todas as intervenções, em última análise, visam a modificar o curso 
de determinadas visões, ações ou problemas. Mudança é, pois, um conceito-
chave, tanto para promotores de políticas públicas quanto para avaliadores de 
projetos. Esses últimos são chamados sempre a medir e compreender o impacto 
das ações sobre instituições e atores tendo em vista os objetivos dos serviços 
prestados e apontar pontos cruciais para o sucesso e as condições de 
possibilidades de determinada intervenção. 
Visando a contribuir para a problematização desse tema tão crucial, propõe-se 
discorrer, sucintamente, sobre ele, entendendo-o como pano de fundo e imagem-
objetivo1 da gestão de políticas sociais. Isto implica uma análise do conceito, 
levando-se em conta todos os atores envolvidos e suas dimensões coletivas, 
institucionais e individuais. O foco da reflexão iluminará quatro subtemas: 
mudança social; mudança educacional; mudança de valores e avaliação de 
mudanças. O sentido desta última expressão, dado o objetivo deste trabalho, 
perpassará a análise de todos os outros termos. 
A vida, a sociedade, a natureza, tudo o que vive se transforma e a mudança é 
intrínseca à dinâmica existencial. No entanto, mesmo que todos saibam disso pela 
experiência, mudar constitui um processo difícil que supõe nascimento de novos 
brotos, flores e frutos e, também, perdas. Como diz Saint-Exupéry (1953: 884) em 
 
1 Imagem-objetivo é um modelo e, como tal, uma simplificação seletiva e idealista da realidade. A 
característica fundamental da imagem-objetivo é sua racionalidade interna. Ela não é um somatório 
de objetivos e sim uma construção em que foram resolvidos os problemas de coerência entre 
distintos objetivos e a possibilidade idealizada, pressupondo uma ordenação e harmonização entre 
eles (Cohen & Franco, 1993). 
 39
A Cidadela: “Toda palavra nova parecerá amarga, porque nunca ninguém passou 
por metamorfose alegre”. 
O estudo da mudança social foi e continua sendo fortemente influenciado pelos 
pressupostos evolucionistas. Mas os métodos e o sentido dessa evolução sempre 
foram tratados de forma controversa. O marxismo, por exemplo, sempre pensou 
mudança comorevolução: mudança de estrutura. O positivismo-funcionalista a 
concebeu em seu marco teórico, como constante correção de rumo e retorno às 
normas e consensos de determinada sociedade. Ambos, no entanto, têm base na 
crença dos iluministas de que a evolução social garantiria paz, prosperidade e 
universalização da racionalidade no mundo. As duas grandes guerras mundiais e 
os horrores do nazismo e do estalinismo, entre outros fenômenos marcantes no 
século XX, solaparam os pensamentos evolucionistas, dos quais as idéias de 
progresso e de desenvolvimento são caudatárias. 
Depois da derrubada do muro de Berlim, sem as polarizações políticas entre 
comunismo e capitalismo, o conceito de mudança sai de seu nicho predileto ao 
interior das grandes narrativas teóricas, para ser pensado por outros paradigmas, 
entre eles, o das teorias da complexidade. Sabe-se, por experiência histórica, que 
as sociedades não caminham linearmente para um fim teleológico e que 
progresso e retrocesso convivem simultaneamente em um movimento 
concomitante de ordem, desordem e auto-organização. A idéia de mudança, 
portanto, ficou mais próxima e pode ser apropriada tanto para falar de 
macroprocessos como de ambientes microssociais em que, em escalas 
diferenciadas, atores, fatores e condições promoverem transformações em 
diferentes níveis da realidade. 
 
1.1.O conceito de mudança social 
 
Quando busca compreender a dinâmica dos processos de intervenção, 
freqüentemente um analista social se fundamenta em duas correntes que 
repercutem, também, na formulação de teorias sociais. 
A primeira considera que todas as perturbações notórias na sociedade, ou em 
instituições como uma escola, um hospital e uma universidade se explicam 
 40
primordialmente pela intervenção de causas exteriores passíveis de serem 
controladas. Esta visão se assenta na ilusão de que seria possível existir uma 
sociedade equilibrada e fechada, onde não houvesse conflitos nem contradições. 
O equilíbrio social constituiria o indicador de uma sociedade saudável e a 
influência externa, quase sempre, deveria ser considerada negativa. Por dedução, 
quem se guia por essa mentalidade crê que é possível controlar os problemas, 
isolar as contradições e, assim, voltar sempre no ponto de equilíbrio. Tais 
pressuposições se apóiam na corrente sociológica positivista-funcionalista, tão 
presente ainda na academia e nas teorias aplicadas. 
Ao pensamento funcionalista se opõe outra concepção. Os formuladores e 
seguidores deste pensamento consideram que a sociedade e as instituições vivem 
em permanentes conflitos internos e é a própria existência destes problemas que 
provoca mudanças. A capacidade de transformação, portanto, estaria dentro da 
sociedade em geral e das instituições em particular, uma vez que as contradições 
ocorrem em todos os tipos de interações humanas. Seria importante, em 
conseqüência, intervir nelas, explorando suas potencialidades internas de 
provocar mudanças. O marxismo é a corrente teórica inspiradora de tal posição 
que explora a dialética dos conflitos como fonte perene de transformações. 
Apesar de essas duas correntes de pensamento serem as mais hegemônicas, 
atualmente há vários avanços conceituais trazidos pela contribuição de estudos 
científicos de ocorrência de mudanças. Por exemplo, há muitas análises em que 
se mostra o impacto das forças políticas na história, assim como outras em que se 
evidencia o papel de movimentos sociais como o feminismo e o ambientalismo em 
transformações fundamentais que ocorreram no século XX e continuam 
influenciando o início do novo milênio. 
Outros estudos se dedicam a evidenciar o papel específico das intervenções 
sociais no âmbito das organizações das sociedades estabelecidas. Trata-se de 
abordagens que abrangem análises de impacto, tanto de decisões macrossociais 
de investimento em políticas públicas, enquanto estratégias de governo, como 
microssociais de desempenho institucional. É nesse último caso que este trabalho 
se insere. 
 41
Segundo autores que estudam transformações em organizações sociais, como 
Crozier & Friedberg (1977), se é verdade que toda mudança supõe ruptura e crise, 
a crise por si só não é o acontecimento-chave que a provoca, como em um passe 
de mágica. Os autores dizem isso, fazendo uma crítica, a partir da observação 
sobre a prática, das premissas teóricas marxistas. Enumeram exemplos de crises 
que deslancharam mecanismos de regressão, ao menos temporários, dentro das 
instituições e citam uma minoria de situações em que os conflitos, as contradições 
e as crises, em si, foram fatores determinantes na criação de mecanismos de 
inovação. 
Igualmente, autores como Morin (1984) consideram que não é possível o retorno à 
situação de equilíbrio inicial de um acontecimento qualquer, pois o dinamismo 
social sempre modifica as situações avaliadas pelos formuladores e gestores 
como sendo as ideais. Morin (1984) ressalta que todo organismo oscila entre 
organização, a mudança e reorganização. Este movimento vital abriga incertezas, 
acasos e ambivalências. Mas toda transformação traz ruptura, ensina o autor. 
Assim, à medida que múltiplos problemas vão ocorrendo com intensidades 
diferenciadas, impulso transformador se deve a uma dinâmica permanente de 
desorganização e de reorganização da realidade. 
Quanto mais uma organização se torna apta às mudanças complexas, mais 
aumenta sua capacidade vital de interagir com o sistema ambiental, social e o 
contexto histórico, pois o movimento permanente executado para responder aos 
desafios das circunstâncias constrói soluções para os problemas que provocam 
conflitos e contradições. Esse processo dinâmico de adaptação, porém, ocorre por 
perdas e ganhos, ordem e desordem, organização e desorganização, numa 
espécie de jogo em que o acaso e a incerteza têm lugar de destaque na 
consecução de uma etapa mais complexa de auto-organização. 
A dinâmica global das transformações sociais acontece, simultaneamente, por via 
de forças externas e internas, umas atingindo e influenciando as outras. A 
dinâmica interna de uma instituição, como a escola, a família ou qualquer outra 
organização, acha-se permanentemente modificada pela reação do sistema ao 
 42
qual se filia e pelos processos e influxos do exterior. Seu dinamismo vem, ao 
mesmo tempo, das tradições e das constantes adaptações ao meio. 
Ao analisar um processo social de intervenção interna, como é o caso do estudo 
atual, há que se considerar todas as forças de mudança, sem referência direta a 
um ator ou a uma ação, mas sob o ângulo da energia social que liberam ou podem 
liberar no futuro. Qualquer mudança social e institucional é um fenômeno 
simultaneamente histórico, coletivo e estrutural e relacional. No entanto, as 
transformações que venham a ocorrer passam pelas subjetividades por 
interferirem na vida cultural, afetando as mentalidades e criando novas 
possibilidades de organização de todos estes mesmos aspectos (estrutural, 
relacional e subjetivo). 
Entende-se, então, que as mudanças sociais diferem da dinâmica do ciclo vital de 
uma pessoa ou de um grupo que tem a iniciativa de provocá-la, por maiores que 
sejam seu protagonismo individual ou de equipe e sua ferrenha dedicação a uma 
causa. Isto porque, de um lado, o ciclo de vida de um sujeito combina as 
determinações das circunstâncias externas com a historicidade, o protagonismo 
individual e a estabilidade de suas posições e papéis específicos. De outro, são 
múltiplos os processos que promovem efeitos diretos e indiretos, influxos internos 
e externos sobre as ações humanas e as instituições e muitos deles não podem 
ser medidos. 
Essa constatação vem de teorias sociológicas como a de Sheldon & Moore 
(1968), assim como de vários autores que trabalham com avaliação, citados 
anteriormente. Moore (1967) e Rocher (1970) caracterizam vários tipos de 
mudanças: 
 as que são produzidasrapidamente e muitas vezes em cadeias 
seqüenciais; 
 as que procedem de uma vontade deliberada ou resultam indiretamente de 
inovações igualmente voluntárias, como é o caso da aplicação do Programa 
Cuidar; 
 as que se desenvolvem por influxo de tecnologias materiais e estratégias 
sociais, o que é também o caso do Programa; 
 43
 as que são cumulativas e afetam, por meio de efeitos de redemoinho, 
muitos indivíduos e aspectos funcionais da sociedade. 
 
Freqüentemente um tipo de mudança se relaciona com outro, em sintonia e em 
sinergia, porém, nunca nos mesmos compasso e ritmo. Quando Moore (1967), 
Sheldon & Moore (1968), Dahrendorf (1972) e Nisbet (1969), entre outros 
cientistas que estudam mudanças sociais, abordam o assunto, seus campos de 
referência são as transformações que ocorrem, ao mesmo tempo, nas 
organizações sociais e nas mentalidades a partir de inovações tecnológicas e 
câmbios demográficos, políticos, institucionais e econômicos. Embora articulem 
esse conjunto de fatores, os cientistas aproximam-se pouco do campo das 
políticas sociais. Outros, como Crozier & Friedberg (1977), estão mais voltados 
para as mudanças que ocorrem a partir de intervenções específicas e internas nas 
organizações e instituições, mesmo quando são exigidas por influxos externos. 
Os autores que acreditam ser possível introduzir mudanças a partir dos processos 
de intervenção social fundamentam-se nos princípios da sociologia compreensiva 
(Weber, 1969) que tem, como núcleo central de sua argumentação, a ação social 
dos indivíduos em interação protagonizando a história, construindo e destruindo 
instituições. Weber ressalta também a eficácia dos fatores culturais, das idéias e 
dos valores morais e religiosos nos movimentos de transformação, mostrando, no 
seu livro seminal, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1969), que é 
preciso compreender in loco, de forma específica, como tais processos ocorrem. 
É nesse sentido que muitos pesquisadores e avaliadores vêm investindo na 
construção de indicadores capazes de medir quantitativamente e compreender 
qualitativamente o sentido, a orientação e as tendências das transformações 
sociais promovidas por políticas sociais. Esta crença não é dogmática. Ela parte 
dos muitos estudos em que se prova a hipótese da efetividade das intervenções 
sociais e em que se busca discernir quais são as que potencializam mudanças 
mais profícuas e perenes. Para citar de passagem alguns testes dessa hipótese, 
basta um olhar sobre o comportamento dos índices de desenvolvimento humano 
(IDH) no Brasil contemporâneo. 
 44
Avaliados a partir dos anos 70 até o presente, os estudos mostram uma melhoria 
progressiva dos indicadores. Para essa melhoria, o crescimento econômico foi 
fundamental e decisivo apenas na década de 70. A partir daí, com a estagnação 
do Produto Interno Bruto (PIB), as políticas de saúde e de educação foram as 
principais responsáveis pela tendência de evolução positiva dos indicadores, 
situação que perdura até o momento presente. Nesta avaliação, portanto, existe 
uma hipótese de eficácia na educação para valores materializada em propostas 
como a do Programa Cuidar, que visa a ampliar espaços de cidadania e de 
protagonismo social. 
 
As seguintes premissas são pressupostos desta reflexão: 
 Qualquer mudança social provoca diferença em relação ao estado anterior da 
ação e dos atores. 
 Qualquer mudança social ocorre por meio de uma dinâmica que inclui diálogo, 
cooperação e consensos estabelecidos entre atores e, concomitantemente, 
antagonismos, contradições e conflitos entre eles. 
 Em qualquer mudança social existe diferença de grau entre tensão e conflito 
aberto. Essa diferença se manifesta na linguagem e na ação coletiva. 
 Para responder à pergunta: “o que muda?”, diz Rivière (1982), é preciso 
discernir entre os níveis que se quer observar: 
o Nas burocracias administrativas, há mudanças provocadas por trocas de 
poder institucional; 
o Nas empresas, muitas transformações são provocadas por grupos de 
interesses; 
o Nas diferentes instituições, pela experimentação de novas técnicas e 
propostas relativas a sua práxis e às relações com o meio. 
o Nas pessoas, as mudanças acontecem quando tocam, interiormente, 
sua subjetividade, mobilizando habilidades, relacionamentos, posturas e 
valores. 
o Em geral, as mudanças institucionais se dão em ritmo de inovação e 
adaptação, diz Rivière (1982). Mas é possível garantir seu ritmo, 
 45
projetando tendências em um certo intervalo de tempo, por meio de 
aplicação de programas determinados. 
Assim, a partir de séries recorrentes sobre fatores e combinações de causas e 
efeitos os agentes sociais podem, processualmente, projetar um sistema de ações 
singulares com metas determinadas. Quanto à modificação de um sistema em si, 
é muito difícil estabelecer regularidades e tendências. Isto porque as interferências 
de múltiplas variáveis tornam, amiúde, bastante complexas quando não errôneas, 
as previsões sobre a dinâmica global. 
Essa dificuldade se deve a diversos fatores, dentre os quais o fato de que alguns 
elementos resistem com mais força a mudanças e a evolução do que se modifica 
segue ritmos diferentes, mesmo no interior de um mesmo campo de ação. 
Um verdadeiro desafio para os empreendedores de projetos sociais e para os 
avaliadores é identificar os tipos de intervenção que provocam maior impacto e 
geram movimentos de transformação mais consistentes e duradouros. É 
necessário buscar com insistência os indicadores que valorizem uma maior 
mobilidade psíquica, sensibilizem mais intensamente o público-alvo para 
experiências novas e mexam com a inércia conservadora das instituições e das 
pessoas. 
É preciso ressaltar também que toda proposta de intervenção tem seus limites: o 
da recusa clara, o da resistência camuflada ou o da re-interpretação. Para sua 
efetividade, os programas e projetos devem pressupor estratégias de ação que 
incluam o “modo de ser” cotidiano da instituição, dos seus agentes sociais, de 
suas potencialidades e vontade de mudança e de seus mecanismos mais comuns 
e sutis de conservadorismo. 
É preciso, ainda, ter em conta que as dinâmicas transformadoras não apresentam 
suas lógicas de forma tão clara. Por isto não é fácil descrevê-las. Como já se 
mencionou no decorrer desta reflexão, há muitos efeitos diretos e indiretos que 
ocorrem por conta da intervenção, paralelas a elas ou apesar delas. Todas as 
propostas passam, no mínimo, por três filtros: quem as concebe e redige; quem as 
veicula e implementa; e quem as acolhe. Cada um desses filtros formados por 
atores sociais promove uma re-interpretação, a seu modo e de acordo com seus 
 46
interesses, do que foi concebido no momento inicial. Assim, um projeto, lançado 
por alguém, nunca será o “projeto escrito no papel”, e sim o projeto corporificado 
na práxis. 
 
1.2.Conceito de mudança no âmbito da intervenção educacional e social 
 
Poderias dizer-me, por favor, que caminho hei de tomar 
para sair daqui? 
Isso depende do sítio onde queres chegar, disse o 
gato. 
Não interessa muito para onde vou, retorquiu Alice. 
Nesse caso, pouco importa o caminho que tomes, 
interpôs o Gato. 
Desde que chegue a algum lado, acrescentou Alice à 
guisa de explicação. (Lewis Carroll) [modelito 
epígrafe] 
 
Qualquer avaliação do sistema escolar ou de intervenções em seu universo 
precisa ser contextualizada no ambiente mais amplo das transformações do 
mundo contemporâneo. Como lembra Boaventura Santos, em Pela Mão de Alice 
(2000), a reflexão sobre paradigmas epistemológicos só pode ser feita a partir da 
reflexão sobre paradigmas societais. É impossível desconhecer que existe, em 
curso, uma mudança social profunda, movimento que alguns nomeiam como pós-
modernidade (Harvey, 1998; Kumar, 1992). Este termo é usado na falta de um 
vocábulo mais preciso e tem merecido muitas críticas de seus fundamentos,dentre elas a de Latour (1994). Tal expressão será usada aqui para designar este 
momento histórico de transição e a crise de valores proveniente da decadência do 
pensamento iluminista e dos aparatos e estruturas do período de predomínio da 
industrialização. 
Essa crise atinge alguns pilares ideológicos básicos nos quais a Modernidade, 
durante mais de dois séculos, se apoiou: a idéia de que a humanidade faz um 
movimento crescente de perfeição rumo ao futuro, a identificação do movimento 
histórico como o triunfo da razão; o uso de uma pedagogia social fundamentada 
na crença da missão cultural da elite como guia; a concepção do mundo como 
 47
uma realidade objetiva, acessível e controlável através do conhecimento e do 
método científico (Harvey, 1998). 
A escola como instituição-chave do sistema educacional tem sido um dos 
baluartes da Modernidade. Neste sistema, o Iluminismo elevou o status de 
professor ao de guia da pólis educada. Institucionalizou, em sua função, uma 
imagem de saber e poder que tem origens na legislação dos sistemas 
educacionais do século XIX (Terrén, 1999), cabendo-lhe, em nome do Estado, a 
formação do povo. 
O discurso sobre o papel da escola na formação das “massas” legitimou a união 
operativa do conhecimento científico acumulado com a ação do Estado, 
delegando ao poder dos governos, a administração dos interesses públicos. A 
transição para a pós-modernidade que afeta a escola coloca em curso um 
movimento de desconstrução deste discurso e do que se poderia chamar 
metaforicamente “três castelos” antes fortemente estruturados: o sentido da 
cultura, da socioeconomia e das organizações, complexificando temas como 
público, privado, governamental e não-governamental, local e global, nacional e 
transnacional. 
Terrén (1999) refere-se, especificamente, à crise de alguns parâmetros políticos 
do sistema educacional tal como foi concebido no marco do industrialismo e do 
Estado Moderno: 
• sua orientação para a universalização da escolaridade da classe 
trabalhadora e das massas em geral como forma disciplinadora; 
• sua articulação com a sociedade, em que as instituições de ensino 
cumprem um papel de substituir o dogma da predestinação social pela idéia 
de igualdade de oportunidades; 
• seu fundamento apenas no mérito dos títulos conquistados. 
Porém, todos os estudiosos das mudanças culturais contemporâneas demonstram 
que não foram os valores da educação que entraram em crise e sim sua práxis 
tradicional. É importante ressaltar esta diferença, pois a educação formal, mais do 
que nunca, passou a ser parâmetro de referência fundamental na atualidade, uma 
 48
vez que a escolaridade tornou-se requisito de empregabilidade para o indivíduo e 
indicador potente de desenvolvimento humano da sociedade. 
O declínio do prestígio e a confusão quanto à missão do processo educativo, por 
parte de muitas instituições estruturantes da modernidade como a escola, seguem 
pari passu o processo de transição macrossocial responsável por mudanças 
globais de ordem tecnológica, econômica e política e afetam sua concepção de 
mundo, sua forma de organização, seus relacionamentos, o valor de sua 
experiência acumulada e a subjetividade dos sujeitos que as compõem. 
Muitos elementos da crise que assola a escola tradicional têm origem na entrada 
de novas instituições na arena da mobilização psíquica da sociedade, como é o 
caso inédito e relevante dos meios de comunicação e de informação. Estas 
verdadeiras estradas do desenvolvimento do século XXI deslocaram o papel 
tradicional da escola, desde o final do século XX. A mídia surge, então, com seu 
acelerado potencial e fascínio, disputando a hegemonia da socialização das 
“massas”, o que passa a exigir uma re-definição e uma re-configuração dos 
sistemas clássicos de educação e formação. 
Em tais circunstâncias, o professor, cada vez mais, perde sua função de dar 
conteúdo e informar apenas. E, se não compreende a enormidade da mudança, 
entra em crise e se desespera; principalmente quando se aferra a seu papel 
tradicional, pois acaba perdendo em eficiência e eficácia para os outros meios. De 
nada lhe valeria, por exemplo, competir com as possibilidades quase 
incomensuráveis da internet e dos órgãos de comunicação que transbordam o 
ambiente escolar. 
É importante assinalar algumas características do ambiente externo que influencia 
a crise do sistema escolar, embora seja preciso ter cautela, pois é no interior deste 
mesmo sistema que estão sendo gestadas muitas mudanças. O movimento de 
globalização, que significa uma intensificação da internacionalização capitalista 
facilitada pela revolução da microeletrônica e do complexo informacional-
comunicacional, tem raízes econômicas e vai se impondo por meio de mudanças 
nas esferas políticas e culturais. As principais características, em que pesem 
diferenças de concepção e interpretação, são: a internacionalização intensiva dos 
 49
mercados; o declínio das unidades nacionais como unidades de produção e de 
regulação; a irrupção dos processos de especialização flexíveis e de 
descentralização e a busca por particularização e por valorização dos espaços e 
dos fenômenos microssociais. Os caminhos criados sob a hegemonia do Estado a 
partir do século XIX e XX, ao se desenvolverem historicamente, criaram, sob 
muitos aspectos, o próprio esgotamento como instrumentos políticos de 
transformação. 
Remetendo à simbologia do diálogo de Alice com o gato Cheshire, os novos 
caminhos e os novos lugares parecem estar incontornavelmente para serem 
reinventados. 
Por isso, em termos gerais, o modelo pedagógico que melhor reflete o momento 
atual é o construtivismo (Vasconcellos & Valsiner, 1995), que se fundamenta em 
uma idéia muito afim à crítica pós-moderna a respeito da existência dos valores e 
esquemas universais. Os construtivistas acreditam que a objetividade é uma 
ilusão de que exista observação sem observador. Ao contrário, essa filosofia que 
se traduz em métodos e práticas, valoriza o particular, o variável, o contingente, o 
flexível, o interesse local, o engajamento dos indivíduos e suas potencialidades 
pessoais (Terrén, 1999). 
Um dos fortes dispositivos que precisa ser incorporado na compreensão das 
mudanças sociais é a nova concepção do tempo e da temporalidade. A pós-
modernidade requer um tempo qualitativo, flexível, que escape a preditibilidade e 
cuja implementação organizativa exija um sistema de confiança das organizações 
em seus membros e em quem pretende atingir com sua ação. As entidades 
regidas de forma burocrática tendem a não favorecer esta dinâmica. 
O horizonte da flexibilidade é a incerteza, a diferenciação, a consideração da 
diversidade e do pluralismo, mas também do engajamento e da responsabilidade 
pessoal. Estas características não se adaptam à rigidez das instituições 
estruturadas dentro dos princípios organizativos burocráticos. Principalmente 
porque a mentalidade pós-moderna questiona a imagem do sujeito cognoscente 
fora dos contextos e a visão representacional do mundo como realidade objetiva. 
 50
Opõe-se também à idéia de que exista uma única maneira de otimizar as 
atividades e a relação com o mundo, de conhecê-lo e de organizá-lo. 
Em síntese, embora suas características estejam em processo de definição, a 
concepção pós-moderna das instituições de intervenção social ressalta os 
objetivos no curto prazo, a flexibilização das estruturas, a abertura de canais de 
informação, a comunicação pluridirecional e a valorização da individualidade e da 
criatividade dos sujeitos. Tal mentalidade tem como premissa a crença de que as 
atitudes e habilidades dotam a organização e as pessoas de uma cultura 
comparativamente mais elevada do que a das determinações, das ordens e das 
normas rígidas. Por isto, a insistência e a ênfase no compromisso com o trabalho, 
na qualidade e na excelência, muito mais do que na obediênciaproveniente de 
uma visão hierárquica, cujo imperativo é a ordem e a planificação centralizada. 
O ideal pós-moderno tem uma proposta de mudança para os diferentes níveis 
sociais. Substitui o conceito de estado propulsor do desenvolvimento pelo de 
estado planejador e avaliador das ações sociais delegadas à sociedade. No 
campo da educação e da intervenção social, substitui a idéia de meritocracia 
cumulativa e estática pela de empreendedorismo e de autonomia individual. Tal 
enfoque significa uma outra ótica em relação às idéias da modernidade fundada 
no industrialismo, quando a oferta educacional e das políticas sociais tendia a ser 
um monopólio do Estado e as instituições e a população-alvo dos programas 
sociais, clientela cativa da burocracia estatal. 
Tomando como exemplo as escolas, a tendência é substituir a organização forte e 
simples pela organização leve, flexível e complexa. A mobilização de recursos 
humanos e técnicos de formação especializada, diversificada e perenemente 
atualizada, seria sua chave do sucesso (Tourraine, 1995). Os ideólogos da pós-
modernidade pretendem instituir uma nova cultura profissional de qualidade e 
excelência, à moda dos modelos pós-fordistas de reorganização industrial, 
substituindo as indefinições e contradições que rodeiam os desenhos curriculares, 
as resistências dos professores e a falta de compromisso com a direção da 
mudança. 
 51
A idéia central que domina as novas propostas de intervenção é a metanoia, ou 
seja, a da mudança da mente, levando a uma forma diferente de organização: 
cada escola é chamada a se transformar em uma organização única e 
especificamente adequada, criando sua identidade a partir de seus recursos e de 
uma projeção criativa dos seus próprios horizontes. Observa Terrén (1999) que a 
pós-modernidade translada a ênfase da organização da cultura para a cultura da 
organização. 
Do ponto de vista institucional, a proposta pós-moderna é criar uma administração 
com rosto humano que se expressaria nas iniciativas institucionais e materiais: 
cursos de formação, preparação de materiais curriculares, preparação de quadros 
para a direção. Todas as iniciativas institucionais devem, dentro de tal visão, ser 
orientadas para ressaltar a responsabilidade individual de cada ator envolvido no 
sistema escolar. E o sistema escolar teria compromisso com as necessidades e 
potencialidades dos atores que ele envolve. 
O aparente cenário fragmentado resultante seria justificado pelos diferentes 
estágios em que cada uma das instituições se encontra. A idéia intrínseca à 
proposta não é a do tratamento igual ou massivo para todas, mas a da distinção 
que coloca luz na falta de capacidade de inovação de algumas e nas chamadas 
instituições orgânicas em que predomina o clima de abertura, de crítica e de 
reorientação permanente de métodos e objetivos, auferidos por meio de 
avaliações que enfatizem qualidade e excelência. 
Referindo-se à necessidade de mudanças profundas no sistema escolar, tendo em 
vista seu papel socializador dos dispositivos culturais, diz Osborne (1994: 148), 
um dos ideólogos da educação e da intervenção social no ambiente pós-moderno: 
“unicamente a competição pode motivar a que todas as escolas melhorem. Pois 
unicamente a competição pelos usuários cria conseqüências reais e pressões 
reais a favor da mudança, quando as escolas fracassam”. Em conseqüência, a 
“necessária revolução deve começar com a administração docente”, diz Terrén 
(1999: 14). 
Portanto, dentro da lógica da ideologia que preconiza a mudança em curso, nada 
deveria impedir o exercício da responsabilidade individual. A primazia caberia ao 
 52
princípio da liberdade sobre o da igualdade. O que, do lado positivo, supõe 
aceitação das diferenças; e do lado negativo, a naturalização da desigualdade, 
como algo dado e eficaz do ponto de vista do rendimento cultural e 
socioeconômico. 
No âmbito das mudanças culturais, merece destaque à idéia de profissionalismo 
como uma espécie de guarda-chuva da nova imagem do trabalho social, cujo 
contexto discursivo é o de revitalização renovada da fé no poder auto-regulador e 
criador do mercado liberado. 
Assim, no caso da escola, por exemplo, o novo modelo de professor (centro de 
todo o processo) é o de um profissional motivado, realizado e criativo, cuja 
competência depende, em grande medida, dele próprio, de seu labor intelectual. 
Mas a organização deve propiciar-lhe satisfação no trabalho, sentido de eficácia, 
compromisso, independência, perspectiva de carreira e oportunidade de formação 
permanente. 
O novo ethos do trabalhador social, basicamente, propõe uma gestão da 
organização voltada para sua produtividade, buscando tirar o máximo de proveito 
de suas potencialidades e riquezas internas. Isto se opõe à idéia de um projeto 
cultural desenhado por intelectuais e especialistas da burocracia do estado. A 
reiterada exigência de qualidade e de excelência é, no fundo, uma desesperada 
demanda de motivação e um intento de reconstruir a organização pela 
subjetividade de seus membros. 
Os parágrafos anteriores se referem a uma tendência que os atores dos sistemas 
de intervenção social, com maior ou menor dramaticidade, estão sentindo: as 
inseguranças e incertezas percebidas e nomeadas balizam as dificuldades do 
momento de transição pelo qual estão passando. Como diz o ditado popular, vive-
se um momento em que há que “trocar os pneus com o carro andando”, pois os 
legítimos operadores das transformações, como os educadores, os agentes 
sociais e os pais são pessoas formadas em outra mentalidade. 
Contradições existem, não há dúvidas: de um lado, os ideólogos falam em 
flexibilizações, responsabilizações, leveza organizacional e, ao mesmo tempo, na 
prática, as instituições são reféns de estruturas de gestão em que predomina o 
 53
modelo burocrático-centralizador e autoritário. Vale ressaltar, como marca cultural 
entranhada, a forte tendência brasileira ao gatopardismo, ou seja, a mania de 
deixar tudo como está parecendo que se está revolucionando. De outro lado, há 
muito esforço de transformação empurrando a máquina emperrada do 
conservadorismo, em busca de ênfase na cultura participativa, na flexibilidade na 
gestão, no clima fluido de discussão, de cooperação e de co-responsabilidade de 
cada um dos atores institucionais. Isto significa que está em curso um novo 
modelo que, no mínimo, poderia ser denominado “pós-burocrático”. O que está 
acontecendo tem defeitos e falhas? Sem dúvida, mas está vindo a reboque de 
outras transformações e ao mesmo tempo empurrando-as, como na bela metáfora 
usada por Atlan em Entre o cristal e a fumaça (1992), sua obra sobre a 
organização dos seres vivos. 
 
 1.3.Mudança de valores 
Na sua acepção de princípios morais, os valores constituem um foco de discussão 
em três níveis principais das teorias sociais. No primeiro, apresentam-se como 
objeto de análise, como é caso das discussões sobre troca de valores 
materialistas por pós-materialistas entre as populações do capitalismo central. No 
segundo, constituem conceito central para algumas perspectivas teóricas. Já no 
terceiro nível, são tratados em reflexões metodológicas sobre problemas sociais e 
compromissos normativos de várias espécies. 
As teorias que tratam das mudanças sociais do ponto de vista dialético 
consideram que os seres humanos fazem sua própria história, mas a fazem em 
condições previamente dadas. A referência central para o que se apresenta aqui é 
o conceito de valores trabalhado por Agnes Heller (2000), uma das últimas 
filósofas remanescentes do marxismo clássico. A autora leva em conta, na 
questão da mudança social, o papel da subjetividade. 
Agnes Heller pondera que, à primeira vista, parece certo acreditar que os seres 
humanos aspiram a certos fins, mas estes estão determinados pelas 
circunstâncias que modificam seus esforços e aspirações, produzindo resultadosque divergem das metas inicialmente colocadas. No entanto, essa distinção é um 
 54
equívoco, segundo a autora, pois as “circunstâncias” são, na verdade, parte da 
proposta em ação: elas não são externas, não são objetos mortos. São, na 
verdade, o contexto e o campo de ação da vida dos sujeitos, a estrutura social e 
formas de pensamento nas quais eles se movem. Quando as pessoas tem 
determinadas metas, diz Heller, o campo de determinação causal não é apenas o 
da orientação rumo a seu escopo, mas o conjunto das demais objetivações que, a 
partir da ação, desencadeiam novas séries causais. 
Recuperando a expressão de Marx, segundo quem “a história é a substância da 
sociedade”, Heller lembra que a sociedade não tem substância alguma, a não ser 
os seres humanos em relações: são eles os realizadores que se objetivam em 
instituições e estrutura sociais. A essência humana é histórica e a substância 
humana é sua própria história: “o decurso da história é o processo de construção 
dos valores ou da degenerescência desse ou daquele valor”, diz Heller (2000: 4). 
E o que se entende por valor? Valor é tudo aquilo que faz parte do ser humano 
genérico e contribui, direta ou indiretamente, para a explicação deste ser genérico. 
Mas os homens e as mulheres jamais escolhem valores, assim como jamais 
escolhem o bem ou a felicidade. Escolhem, sim, idéias concretas, finalidades 
concretas, alternativas concretas. Seus atos concretos de escolhas estão, 
naturalmente, relacionados com sua atitude valorativa geral, assim como seus 
juízos estão relacionados à sua imagem de mundo (Heller, 2000). 
Heller diz que os componentes essenciais dos seres humanos em relação são: 
trabalho enquanto objetivação; sociabilidade, universalidade, consciência e 
liberdade. Considera-se valor aquilo que, em qualquer das esferas de produção, 
de relação de propriedade, da estrutura política, da vida cotidiana, da moral, da 
ciência e da arte e em relação com a situação de cada momento, contribua para o 
enriquecimento dessas esferas essenciais da existência. Desvalor seria tudo o 
que direta ou indiretamente rebaixe ou inverta o nível alcançado do 
desenvolvimento de um determinado componente essencial. “O valor é, portanto, 
uma categoria ontológico-social e algo objetivo: mas sua objetividade é social. Por 
outro lado, ele é independente da avaliação dos indivíduos, pois seu lócus de 
expressão são as relações e as situações sociais” (Heller, 2000; 7). 
 55
Desta forma, não há atividade moral autônoma: a moral é uma relação entre 
atividades humanas. Ao exercê-las, as pessoas fazem uma articulação entre a 
peculiaridade do valor vivenciado por elas e a universalidade humana. Basta 
pensar nos valores mais antigos e persistentes como honradez, justiça e coragem 
para se ter certeza de que eles foram sempre, como normas, usos ou idéias, 
meios da elevação da particularidade ao mais genericamente humano. 
Os valores morais têm um caráter extremamente complexo. Por exemplo, a 
liberdade é uma categoria central da ética moderna. No entanto, nem sempre foi 
assim: houve um tempo em que o valor central foi a felicidade. A liberdade atingiu 
este status quando tornou-se importante na própria realidade histórica, 
significando um crescimento da consciência social sobre o valor do indivíduo 
responsável por si e capaz de dispor de si mesmo e de sua vida. 
Esse crescimento tornou-se real e objetivo, embora, para muitos continue como 
valor abstrato ou mera potencialidade. Heller diz também “que a história é história 
de valores de esferas heterogêneas” (2000: 7), pois uma esfera pode explicitar a 
essência em um sentido, ao passo que outra a impede ou influencie sua 
desvalorização. Ela exemplifica sua reflexão, evidenciando que o desenvolvimento 
da sociedade atual orienta-se, ao mesmo tempo, para a construção de 
personalidades mais autoconscientes e, contraditoriamente, cria pessoas mais 
solitárias, sem base comunitária, e submissas à manipulação de grandes 
mecanismos sociais. Estas contradições evidenciam desvalorizações objetivas 
que ocorrem no curso do mesmo processo histórico. 
Mas, diz Heller, não se pode resumir a explicitação de valores ao campo moral, 
pois alguém poderia objetar que atualmente as pessoas não são nem melhores e 
nem mais felizes que no passado. “Por isso não podemos reduzir o conceito de 
valor ao de valor moral, nem esse aos conceitos de bondade e de felicidade; e 
nem podemos identificar o desenvolvimento dos valores com a totalidade dos 
valores que efetivamente funcionam numa época determinada” (Heller, 2000: 8). 
Uma das idéias mais fortes do pensamento de Heller é a que reafirma ser 
impossível a anulação de um valor, uma vez que ele tenha se tornado real na 
sociedade, em qualquer das esferas de construção humana. Isso quer dizer que, 
 56
quando a humanidade consegue dar um passo importante na sua sociabilidade, 
na sua objetivação, rumo à liberdade ou à universalização de direitos, ela poderá 
até retroceder, mas vai anular suas conquistas. Se um valor alcançado passa a 
ser fraco, ele perde altura, mas continua a existir pelo menos como possibilidade. 
Portanto, a realização de valores é uma conquista absoluta e a perda de valores 
construídos será sempre relativa. 
A formação de valores no espaço social e institucional não pode ser tratada 
somente como uma estratégia pedagógica de imposição, nem tampouco pode ser 
trabalhada de modo esfacelado e separado dos demais conteúdos, relações e 
ações (Bertussi, 1998). O processo de intervenção social deve integrar o conjunto 
de experiências vividas pelos indivíduos em todos os âmbitos de sua experiência 
existencial. Por isso, atuar em projetos sociais significa potencializar mudanças 
nas esferas essenciais em direção dos valores universais de desenvolvimento 
humano. 
 
1.4.Conclusões 
Qualquer intervenção ou avaliação social precisa ser entendida dentro do seu 
nível de especificidade quanto às mudanças a que se propõe, mas também deve 
levar em conta os contextos ampliados de organização do sistema social, cultural 
e do universo de valores, de determinado momento histórico. No momento 
presente, há que se considerar: 
• os aspectos macrossociais, que se referem à crise do paradigma da 
modernidade e do Iluminismo, dando lugar a uma nova concepção de 
mundo, de sociedade, de sociabilidade e, conseqüentemente, de educação 
e de ação social; 
• a dinâmica microssocial específica da missão de cada instituição que tem, 
ao mesmo tempo, sua finalidade específica e sua cumplicidade com todo o 
sistema social vigente; 
• o nível axiológico das propostas, voltado para orientar o desenvolvimento 
de uma cidadania contemporânea e atuante, fortalecendo os elementos 
 57
essenciais do humanismo: trabalho, liberdade, sociabilidade, universalidade 
de direitos e consciência da responsabilidade individual e social. 
A reflexão aqui iniciada tenta ressaltar as possibilidades de intervenção social 
como uma práxis que une a crença na eficácia das idéias e sua efetivação nas 
relações sociais de produção e de reprodução no cotidiano e a conjuga com as 
transformações em nível da consciência individual e com as mudanças dos 
processos coletivos. 
 
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 58
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 61
CCaappííttuulloo 22 
 
MMééttooddooss,, ttééccnniiccaass ee rreellaaççõõeess eemm ttrriiaanngguullaaççããoo 
 
 
Maria Cecília de Souza Minayo 
Edinilsa Ramos de Souza 
Patrícia Constantino 
Nilton César dos Santos 
 
 
Como já se viu na introdução, a triangulação não é um método em si. É uma 
estratégia de pesquisa que se apóia em métodos científicos testados e 
consagrados, servindo e adequando-se a determinadas realidades, com 
fundamentos interdisciplinares. Esta abordagem teórica deve ser escolhida 
quando contribuir para aumentar o conhecimento do assunto e atender aos 
objetivos que se deseja alcançar. 
Busca-se, aqui, enfatizar dois pontos: as abordagens disciplinares quantitativas e 
qualitativas, em si; e as possibilidades interdisciplinares de estas abordagens se 
combinarem, produzindo a triangulação. 
 
2.1.ABORDAGENS QUANTITATIVAS 
 
Como estratégia de pesquisa, o método quantitativo visa a obter evidências de 
associações entre variáveis independentes (intervenção, exposição) e 
dependentes (resposta ou de desfecho). 
Excetuando-se os estudos exploratórios, freqüentemente o quantitativo está 
relacionado a uma abordagem dedutiva, que consiste em, a partir de uma teoria 
conhecida ou de uma lei geral, observar casos particulares procurando confirmar a 
hipótese investigada ou gerar outras. Busca verificar resultados por meio de 
objetivos previamente definidos. Para predizer e controlar eventos, 
comportamentos e outros desfechos, o pesquisador deve quantificar as causas e 
os efeitos, e isolá-los do seu contexto, a fim de tornar o processo, dentro da visão 
positivista, o mais objetivo possível. 
 62
Historicamente, tem havido uma maior utilização dessa abordagem, tendo em 
vista que a maior parte dos estudos avaliativos preocupa-se em mensurar o 
impacto ou efeito da intervenção. Podem ser assim resumidas as características 
do paradigma em questão: 
• atua dentro da filosofia positivista; 
• usa métodos estatísticos; 
• trabalha com mensuração controlada; 
• tem uma perspectiva externa aos dados; 
• está orientado para a verificação e confirmação das hipóteses e para 
resultados; 
• enfatiza dados confiáveis e replicáveis; 
• considera a perspectiva de uma realidade estável. 
A hipótese central do positivismo sociológico, base filosófica da abordagem 
quantitativa, é de que a sociedade humana é regulada por leis naturais que 
atingem o funcionamento da vida social, econômica, política e cultural de seus 
membros. Suas teses básicas são: realidade se constitui essencialmente naquilo 
que os sentidos humanos podem perceber; as ciências sociais e as ciências 
naturais compartilham do mesmo fundamento lógico e metodológico, distinguindo-
se apenas no objeto de estudo; e existe uma distinção fundamental entre fato e 
representações, e a ciência deve-se ocupar dos fatos (Hughes, 1985; Minayo & 
Sanches, 1993). 
Mullen & Iverson (1982) referem a importância da abordagem quantitativa para 
apresentar resultados que podem ser contados e expressos em números, taxas, 
proporções. Segundo os autores, este tipo de abordagem é importante também 
para conhecer a cobertura, a concentração e a eficiência de programas, ações e 
intervenções, para avaliar objetivos bastante específicos, bem como as avaliar as 
diferenças de grau de um objeto que exige uma lógica de mais ou de menos. Além 
disto, a abordagem quantitativa estabelece relações significativas entre variáveis. 
 
2.1.1- Desenhos quantitativos experimentais e quase-experimentais 
para investigação avaliativa 
 63
 
As pesquisas avaliativas por triangulação de métodos devem adotar modelos de 
abordagem fundamentados e testados cientificamente. Os de maior poder 
analítico, dentro da perspectiva quantitativa são os de desenho experimental e 
quase-experimentais, visando a medir o efeito das intervenções. Embora na 
avaliação do Cuidar tenha sido usado o modelo quase-experimental, a seguir 
analisam-se também as características do experimental. 
O modelo experimental corresponde ao desenho ideal na perspectiva da 
comparabilidade de grupos formados pela intervenção nas investigações de cunho 
quantitativo. No contexto da avaliação de programas, devem-se analisar os 
desenhos experimentais da mesma forma que em uma pesquisa de ciências 
naturais, o que implica total externalidade dos observadores em relação aos 
observados e limitação no tamanho da amostra. 
A idéia de experimento está associada às condições típicas de laboratório, mas, 
no caso de avaliação social, o modelo é reinterpretado pelas ciências sociais. 
Neste tipo de adaptação, o modo de determinar o grau de sucesso e evitar vieses 
é pedir que os agentes da intervenção façam dois grupos diferenciados, desde o 
início dos trabalhos, que vão ser acompanhados pelos avaliadores. Com um, 
serão realizadas as intervenções sociais. O outro será usado como grupo controle. 
Durante todas as etapas, a avaliação será programada para observar e descrever 
o que ocorre em ambos, em relação à variável dependente (resposta) (Campbell & 
Stanley, 1966). 
Silva (2004) lista o que considera vantagens do estudo experimental com 
segmentos populacionais, concordando com Campbell & Stanley (1966) e muitos 
outros estudiosos que: 
• o processo de randomização (distribuição aleatória dos sujeitos nos grupos 
experimental e controle) evita que os vários grupos sejam afetados por viés 
de seleção; 
• a randomização assegura que os grupos sejam similares quanto à 
distribuição dos fatores de confusão conhecidos e desconhecidos; 
 64
• se o estudo for duplamente cego1, os erros de medição tendem a ser 
reduzidos se a qualidade global do estudo é assegurada; 
• permite estudar várias conseqüências em relação a uma dada intervenção. 
Os estudos em que o pesquisador não consegue garantir tais condições 
são chamados não-experimentais. 
Os estudos experimentais, segundo seus teóricos, permitem melhor controle, pois 
a randomização minimiza a interferência de fatores de confusão, conhecidos ou 
desconhecidos dos investigadores. De modo geral, têm-se utilizado os 
delineamentos experimentais para análise de impacto, pois considera-se que, nas 
avaliações mais bem-sucedidas, se havia adotado este modelo, nas duas últimas 
décadas (Rossi & Wright, 1984). 
Segundo Cano (2002), em ciências sociais há três condições para se considerar 
uma pesquisa como um experimento. A primeira

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