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ARQUITETURA

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Unidade I: 
 
Unidade: O Neoclássico e a 
Sociedade Industrial 
 
 
 
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Unidade: O Neoclássico e a Sociedade Industrial 
 Apresentação 
 
Como já foi dito, o classicismo em arquitetura e urbanismo se refere aos 
padrões e soluções estéticas desenvolvidas pelos antigos gregos e romanos, e 
que dominaram o cenário construtivo por pelo menos cinco séculos. O primeiro 
momento em que a linguagem clássica foi redescoberta e aplicada aos projetos 
contemporâneos foi na Renascença italiana. Durante o barroco, esta linguagem 
não desapareceu por completo – foi repaginada e experimentada em novas 
formatações, rompendo com todas as rígidas regras dos tratados 
renascentistas e criando espaços movimentados, dramáticos, que exprimiam 
toda a emoção à flor da pele da Igreja na Contra-Reforma, e todo o luxo e 
ostentação dos detentores do poder. 
Como reação aos excessos decorativos e à ostentação do Barroco e do 
Rococó, surge a partir do século XVIII um movimento na arquitetura e nas artes 
em geral de retomada do classicismo, chamado neoclassicismo. Este prefixo 
neo- exprime a ideia de “novo”, mas neste caso indica uma nova apreciação 
dos princípios clássicos em um período mais tardio. No entanto, o 
neoclassicismo do século XVIII é diferente do classicismo renascentista por 
uma série de motivos. Segundo Glancey, 
 
“O poder e a erudição na Europa Ocidental foram representados no 
século XVIII e na primeira metade do século XIX pela arquitetura 
neoclássica, a arquitetura grega e romana atualizada com novas 
finalidades e tecnologia. A invenção do projeto do Renascimento 
inicial e do Alto Renascimento deu lugar a uma arquitetura mais 
arqueologicamente correta à medida que a cultura do mundo antigo 
era progressivamente revelada, documentada e disseminada” 
 (GLANCEY, 2007, p. 119). 
 
 
 
 
 
 
 
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O neoclassicismo vai aplicar a linguagem clássica em usos diversos e 
abrangentes: monumentos, igrejas, estações de trem, escolas, fachadas de 
fábricas, casas de campo, prefeituras, “e até mesmo, em North Yorkshire, para 
um chiqueiro” (GLANCEY, idem). Não será apenas a arquitetura antiga que 
será revista, mas também as contribuições dos arquitetos renascentistas 
passam a ser referências para arquitetos ingleses, franceses e até mesmo 
americanos. Na Inglaterra, por exemplo, há um movimento de inspiração na 
obra arquitetônica de Palladio, que ganha até nome: palladianismo. Surgido 
inicialmente na França e na Inglaterra, o neoclassicismo vai se tornar a 
linguagem preponderante ao longo de todo o século XVIII e XIX, inclusive 
além-mar, se tornando a representação arquitetônica oficial de países como os 
Estados Unidos. 
No Brasil, o neoclassicismo persiste com força até as primeiras décadas 
do século XX, como podemos ver na obra do nosso principal arquiteto 
neoclássico aqui em São Paulo, Ramos de Azevedo. Dentre suas obras 
neoclássicas podemos destacar o Teatro Municipal e a Faculdade de Direito do 
Largo de São Francisco. O neoclassicismo também teve novo ressurgimento 
nas últimas décadas, sobretudo dando caráter historicista a uma série de 
edifícios considerados “de alto padrão”. 
Contexto 
A arquitetura neoclássica é fruto de um contexto bastante particular: o 
Iluminismo. Este termo denota um período bastante prolífico da história 
intelectual, marcando significativos avanços nas ciências em geral, na filosofia, 
sociologia, política e religião. De forma marcada, os intelectuais deste período 
defendiam o exercícios da razão para discutir e analisar os fatos. Um dos mais 
destacados filósofos alemães do período, Immanuel Kant (1724-1804) definiu 
o termo Iluminismo da seguinte forma: 
"O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma 
tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são 
aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão 
independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria 
tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do 
entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso 
do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere 
aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o 
lema do Iluminismo" 
(KANT apud Wikipédia, verbete Iluminismo). 
 
 
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As teorias e avanços científicos propiciados pelo Iluminismo catalisaram 
uma série de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que 
transformaram a sociedade e deixaram um marco na História. As discussões 
políticas levaram à revolta contra a monarquia absolutista, o Ancien Régime, e 
à Revolução Francesa. No âmago deste acontecimento, as discussões sobre 
uma nova sociedade francesa geraram textos importantes para nossa 
sociedade, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
produzido em 1789. É o início da noção de Direitos Humanos – e o bordão 
Igualdade, Fraternidadee Liberdade acabou tornando-se um ideal universal. 
 
“A independência norte-americana (1775-1783), a Revolução 
Francesa de 1789, as revoluções espanholas a partir de 1812 e a 
emancipação ibero-americana (1810-1824)
1
 são todas partes de um 
mesmo fenômeno geral: de uma mesma revolução social que 
acarreta o fim dos antigos regimes e põe em manifesto uma 
aceleração social que será incrementada ao longo do século XIX” 
(PEREIRA, op.cit., p. 181). 
 
Historicamente, o início da Revolução Francesa em 1789 separa a Idade 
do Humanismo da Idade Contemporânea (PEREIRA, idem). A própria ideia de 
Nação começa a se consolidar neste período. A Europa, antes fragmentada em 
várias pequenas regiões (principados, condados, ducados), começa a formar 
os nações mais próximos ao que conhecemos hoje. Unidos em torno deste 
ideal, as diversas nações buscam consolidar uma identidade coletiva e 
construir seus símbolos – como bandeiras, hinos e até a detecção e 
conservação de seus monumentos históricos, autênticas relíquias nacionais. 
Em termos de avanços nas diversas áreas do conhecimento, o impacto 
da atitude humanista foi gigantesco. Uma série de ciências surgiram ou se 
consolidaram neste contexto: avanços na física mecânica, na química, as 
primeiras teorias evolucionistas da biologia datam desta época. Para além da 
teoria, os avanços científicos levaram a uma série de inventos e avanços 
tecnológicos que possibilitaram o acontecimento mais estrondoso da Era 
Moderna: a Revolução Industrial. Surgem as primeiras máquinas que 
substituem o trabalho do homem, alavancam a produção e levam a sociedade 
a se reformular totalmente no novo cenário do capitalismo. O impacto, positivo 
 
1 Podemos incluir neste cenário a própria Independência do Brasil, em 1822. 
 
 
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e negativo, da Revolução Industrial foi sem precedentes, e afetou a economia, 
a política, a organização social, e geografia humana, as relações de trabalho, e 
também a própria arquitetura – principalmente o espaço urbano. Para operar as 
novas máquinase os novos conhecimentos técnicos que surgiam à medida 
que a indústria crescia, surgem novos profissionais e atividades econômicas, 
como os engenheiros. A primeira escola dedicada à formação deste novo 
profissional é aÉcole des Ponts et Chaussés (Escola de Pontes e Estradas), 
fundada em 1747 na França. É este o profissional que domina a técnica da 
ferrovia, da construção de estruturas novas como estações de trens e fábricas, 
usando novos materiais construtivos como o ferro e o concreto armado. 
Já no lado mais humanístico, neste período também ocorrem avanços 
em áreas como a história da arte, a arqueologia e as ciências sociais. É deste 
período a publicação das enciclopédias, ou compêndios onde estudiosos 
desenvolviam diversos tópicos. A primeira, a Encyclopèdie ou Dictionnaire 
Raisonné de Sciences, des Arts e des Métiers data do século XVII e foi 
publicada até 1772. Uma vasta obra: eram 33 volumes, compreendendo 71.818 
artigos, de autoria de importantes iluministas como Voltaire, Montesquieu e 
Rousseau.Há uma concepção racionalista e cartesiana2 do conhecimento, que 
inclusive possibilitou que algumas destas áreas do conhecimento se 
organizassem e se embasassem em metodologia científica. A principal 
contribuição neste sentido veio do historiador de arte prussiano Johann Joachin 
Winckelmann (1717-1768), o qual, com sua obra “Geshichte der Kunst des 
Altertums”(História da Arte Antiga), publicada em 1764, inaugurou uma 
metodologia objetiva para o estudo da História da Arte. Também é considerado 
“Pai da Arqueologia” por suas considerações metodológicas acerca da 
exploração de sítios históricos, em 1755, surgidas de sua experiência na 
escavação das cidades romanas de Pompeia e Herculano. Estas duas cidades 
romanas haviam sido completamente soterradas pela erupção do vulcão 
Vesúvio em 79 d.C., só sendo descobertas e excavadas em meados do século 
XVIII. O que os arqueólogos descobriram foram cidades do Império Romano 
praticamente intactas, o que possibilitou avanços no estudo da civilização 
romana, principalmente sua arquitetura e urbanismo. 
 
2 Refere-se ao método investigativo proposto pelo filósofo, físico e matemático francês René Descartes 
(1596-1650), que deu as bases da ciência moderna. Descartes é considerado um dos mais importantes e 
influentes intelectuais da História. 
 
 
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A arquitetura neoclássica 
O neoclassicismo se pauta principalmente em um processo de ruptura 
com o próprio classicismo. “Na arquitetura, este espírito científico leva a uma 
interrupção na tradição clássica, uma revisão conceitual da arquitetura do 
barroco e uma busca da natureza própria da arquitetura” (PEREIRA, op.cit., p. 
182). Esta busca pela “essência” da natureza e a noção de que o classicismo – 
por ter suas raízes na antiguidade, portanto na natureza, era “naturalmente 
correta” (SUMMERSON, 2006, p. 90) – levou os intelectuais a desenvolverem 
uma série de estudos e levantamentos da arquitetura clássica grega e romana. 
Alem deste fato, é interessante levantar outro dado: segundo Pevsner, 
os franceses e ingleses, até o século XVII, ainda construíam suas obras no 
estilo gótico, tradicionalmente associado com sua identidade. A maior parte dos 
arquitetos destas regiões desconhecia os feitos e avanços plásticos e 
projetuais dos italianos ao longo do Renascimento. A linguagem clássica da 
arquitetura renascentista apenas passou a ser absorvida pela sociedade em 
geral muito mais tarde, mais precisamente, dentro do contexto do Iluminismo. A 
busca por um estilo construtivo que expressasse os ideias iluministas levou à 
natural associação à arquitetura clássica, até por uma natural associação com 
a grandeza do Império Romano, muito cultuado à época como modelo de 
sociedade ideal (SUMMERSON, 2006; PEVSNER, 2002). 
Duas questões em particular levaram à consolidação do neoclassicismo 
como linguagem amplamente adotada no século XVIII: as viagens de estudo, o 
“Grande Tour”; e a descoberta de sítios históricos novos. Com relação às 
viagens que acabaram por originar a ideia contemporânea de “turismo”, 
Glancey nos explica: 
“Ao longo de todo o século XVIII, um pequeno exército de arquitetos, 
artistas e seus clientes excursionaram pelas ruínas e monumentos da 
Grécia e de Roma, o que ficou conhecido como o Grande Tour. Eram 
turistas e, a partir de meados do século XVIII, os aruqitetos 
começaram a agir mais e mais como turistas que estudavam os 
edifícios famosos ao longo da história e queriam recriá-los ao voltar. 
Enquanto apenas mostramos fotos e vídeos de templos gregos e 
romanos, os arquitetos europeus e americanos do século XVIII e 
início do século XIX efetivamente os construíram” 
(GLANCEY, op.cit., p. 120). 
 
 
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Em essência, os arquitetos viajavam e analisavam minuciosamente a 
arquitetura grega e romana. Havia na época, inclusive, um debate intelectual: 
qual das duas civilizações era “melhor” ou tivessem dado as maiores 
contribuições à arquitetura clássica? Por um lado, alguns intelectuais 
defendiam a supremacia da arte e arquitetura gregas, como é o caso de 
Winckelmann, que citamos anteriormente. Profundo conhecedor da arte grega, 
Winckelmann era um defensor das ideias de Belo e Harmonia dos gregos, e 
exaltou a maestria de sua arte em sua obra História da Arte Antiga. Ele foi o 
primeiro estudioso a estabelecer distinções entre arte Grega, Greco-Romana e 
Romana, e a comprovar uma antecedência dos gregos em relação aos 
romanos. Além dele, foram significativos os estudos de Le Roy, “Ruínas das 
mais belas antiguidades da Grécia”(1758), que trazia desenhos técnicos e 
mensurados exaltando as glórias da arquitetura grega; e de James Stuart e 
Nicholas Revett, “Antiguidades de Atenas”( 1762). 
Por outro lado, muitos eram os entusiastas de Roma antiga, afirmando 
sua supremacia arquitetônica. O mais exaltado era Giovanni Battista Piranesi 
(1720-1778), famoso gravurista e arquiteto italiano. Sua obra “Della 
Magnificenza ed Architettura de’ Romani”(A magnificência da arquitetura 
romana), publicada em 1761, era uma celebração da arquitetura italiana, 
trazendo desenhos requintados e extremamente detalhados das ruínas 
romanas, assim como de obras renascentistas. Seu estilo foi muito copiado 
pelos seus contemporâneos, e seus desenhos orientaram muito a prática de 
conservação dos monumentos históricos do período, por retratarem com 
fidelidade seu estado de conservação à época. Além disso, eram um detalhado 
documento da arquitetura italiana, fornecendo modelos da arquitetura clássica 
italiana aos arquitetos mais distantes. 
 
 
Fig. 1: Representação das ruínas do 
Arco de Tito no século XVIII, por 
Piranesi. Este arco foi reconstruído 
posteriormente. 
 
Fonte: 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/co
mmons/1/15/Piranesi-Titusbogen.png 
 
 
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Fig. 2: Gravura representando a Praça 
de São Pedro, obra barroca de Bernini, 
com a Basílica de São Pedro ao fundo. 
Aqui, Piranesi retrata a arquitetura 
renascentista e barroca italiana. 
Fonte: 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/com
mons/5/54/Piranesi_Piazza_San_Pietro.g
if 
 
A celebração da arquiteturaromana foi coroada com a descoberta da 
cidade de Pompeia em 1748. Quase tudo o que conhecemos sobre as 
diferentes construções romanas, seus programas, suas formas, espaços e 
aparência, e que estudamos na Unidade 2 desta disciplina, surgiram desta 
descoberta. 
A partir deste profundo conhecimento histórico do classicismo, há um 
processo de ruptura: 
 
 “Situando-se o classicismo em sua perspectiva histórica, diminui-se 
sua universalidade e se descobre o caráter precário da convenção 
que há três séculos dominava a arquitetura. A consideração das 
regras clássicas como modelos variáveis implica uma revisão e 
rupturacom o classicismo. Porém, e paradoxalmente, essa perda de 
valor absoluto dá lugar ao fenômeno do neoclassicismo” 
 (PEREIRA, op.cit., p. 182). 
 
Ao contrário do processo de retomada do classicismo romano pelos 
arquitetos do Renascimento, no Neoclassicismo do século XVIII, o estudo das 
formas do passado não leva à inventividade e criatividade projetual, mas a 
indagações críticas e à aplicação bastante didática das formas do passado. Os 
tratados de Vitrúvio e dos renascentistas foram analisados e estudados 
minuciosamente, e seus preceitos aplicados diligentemente em novas 
construções – porém sempre atualizados em função dos novos programas e 
materiais construtivos. “Muitos arquitetos ainda estavam convencidos (...) de 
que as regras estabelecidas nos livros de Palladio garantiam o modelo „certo‟ 
para construções elegantes” (GOMBRICH, 2008, p. 476). 
 
 
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“Foi na França que, em meados do século XVII, começaram a ser 
feitas perguntas a respeito da verdadeira natureza das ordens e do 
modo pelo qual deveriam ser empregadas em edifícios modernos. A 
„natural correção‟ das ordens não estava em discussão; pelo 
contrário, a principal preocupação dos críticos franceses era 
assegurar sua pureza e integridade. A nova preocupação surgiu em 
uma série de livros” 
(SUMMERSON, op.cit., pp. 90-91). 
 
Longe de negá-la, estas obras procuravam explicar o motivo da 
soberania da linguagem clássica. Os estudiosos passaram a estudar as ordens 
clássicas e reproduzi-las em novas gravuras; propondo critérios para seus usos 
e investigando diferenças entre cada uma das ordens, como o tratado de 
Claude Perrault. Mais tarde, a obra do Abade Laugier, Essai sur l’architecture 
(Ensaio sobre a arquitetura), publicado em 1753, procura estabelecer uma 
natural progressão da “cabana primitiva” até as formas da arquitetura clássica – 
ou seja, o tradicional sistema de colunas que apoiam uma cobertura. Para ele, 
as ordens gregas eram uma evolução do uso de troncos de madeira para 
construírem as colunas e as vigas da cabana primitiva. Esta teoria 
revolucionária mudou a base a do pensamento arquitetônico ao longo dos 
séculos XVIII e XIX(SUMMERSON, 2006). 
Embora na aparência nada pareça mudar, pois os conceitos e formas 
clássicas continuam sendo utilizados, a ruptura é profunda: a linguagem 
arquitetônica passa a ser esvaziada de seu sentido essencial. Até então, 
cada período e civilização particular encontravam uma linguagem própria – que 
era aplicada universalmente, pois expressava sua relação intrínseca com 
aquela época e aquele lugar. Agora, não. A linguagem clássica é retomada em 
período completamente diverso, em vários lugares completamente diferentes, 
sendo utilizada como se fosse apenas um estilo arquitetônico. “A linguagem 
deixa de ser um valor absoluto e passa a ser um mero instrumento de 
comunicação” (PEREIRA, op.cit., p. 182). Ou, nas palavras de Gombrich, as 
pessoas passaram a “escolher o estilo de suas casas do mesmo modo como 
se escolhe o padrão de um papel de parede” (GOMBRICH, op.cit., p. 477). 
 
 
 
 
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Neste contexto, surge o fenômeno do Palladianismo: a reapreciação da 
obra do arquiteto italiano Andrea Palladio por um grupo de jovens arquitetos 
liderados por Lorde Burlington (1694-1753). Por considerarem a arquitetura 
palladiana como exemplo de perfeição, estes jovens arquitetos baseavam-se 
principalmente no Tratado de Palladio, os Quattro Libri, que teve nova edição 
publicada na Inglaterra. Inspirado por este texto, o arquiteto Colin Campbell 
(1676-1729) escreve seu Vitruvius Britannicus, publicado em 1715, que 
pretendia ser um guia para a “correta” arquitetura britânica aos moldes de 
Vitrúvio. Tanto Campbell quanto Lorde Burlington projetaram casas de campo 
prestando homenagem à famosa Villa Capra de Palladio, em cópias quase 
idênticas, como podemos observar nas imagens a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig.3: Mereworth Castle (1722-1725)Kent, Inglaterra Arq. Colin Campbell 
Fonte: 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/da/Capriccio_with_a_view_of_Mereworth_Castle,
_Kent.jpg/350px-Capriccio_with_a_view_of_Mereworth_Castle,_Kent.jpg 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 4: Chiswick House(1723-1729), Londres, Inglaterra Arq. Lorde Burlington 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d7/Chiswick_House.jpg 
 
 
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Assim como a Villa Capra de Palladio buscava uma fluidez entre o 
espaço interno e o externo, fundindo a casa na paisagem, as versões inglesas 
costumavam ser rodeadas pelo jardim tipicamente inglês. Embora possa 
parecer uma contradição a princípios – casas formais palladianas em meio a 
um informal jardim inglês – isso fazia parte de um princípios marcadamente 
antifrancês (PEVSNER, op.cit., p. 355). No paisagismo do séc. XVIII, são dois 
os estilos icônicos e antagônicos: por um lado, os rígidos e geométricos jardins 
franceses, como vimos no Laranjal do Palácio de Versalhes, na Unidade 5; por 
outro, os jardins românticos ingleses. Estes jardins eram inspirados nas 
pinturas de artistas como Claude Lorrain e Nicolas Poussin, que geralmente 
retratavam ruínas clássicas ou góticas em um cenário idílico, de suaves 
gramados em colinas ondulantes, quase sempre com a presença de uma 
pequena lagoa. Este cenário, digno de ser representado em um quadro, 
recebeu a denominação de “pitoresco”. Estes cenários “naturais” eram 
recriados artificialmente por paisagistas como William Kent (1685-1748) para 
acompanhar a arquitetura palladiana, como vemos no caso da própria 
Chiswick House, projetada por Lorde Burlington. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 5: Os jardins da Chiswick House, com uma lagoa artificial em frente a uma pequena réplica de uma 
rotunda, ou templo circular romano. Este jardim foi desenhado por William Kent. 
Fonte: 
http://www.gardenvisit.com/assets/madge/chiswick_house_garden2/original/chiswick_house_garden2_orig
inal.jpg 
 
 
 
 
 
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O arquiteto Colin Campbell também projetou sua própria casa de campo 
no estilo palladiano, o imponente Houghton Hall, em Norfolk. A variantes inglês 
das construções de Palladio são mais pesadas e dispõem de formas e 
composição mais livres que as do arquiteto italiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 6: Houghton Hall (1722-1726) Casade campo em Norfolk, 
Inglaterra Arq. Colin Campbell 
Fonte: 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a8/Houghton_Hall_20080720-
2.jpg 
 
Os simpatizantes da arquitetura grega também construíam obras dentro 
deste espírito de revivescência. Assim como os admiradores de Palladio 
construíam cópias de suas casas de campo, alguns arquitetos faziam 
referência a famosas construções gregas. Inspirados pela teoria do Abade 
Laugier de que os templos gregos eram uma evolução natural da cabana 
primitiva, a arquitetura grega foi interpretada como uma arquitetura ao mesmo 
tempo natural e racional, o modelo de perfeição a ser seguido e aplicado em 
qualquer tipo de construção. 
 
 
 
 
 
 
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“O estilo foi adotado com grande entusiasmo.Na Grã-Bretanha 
mostrou-se adequado ao projeto não apenas de imitações de 
monumentos gregos – foi feita uma tentativa de recriar o Parthenon 
como um monumento aos mortos das guerras napoleônicas no topo 
da colina Calton, em Edimburgo – mas também de igrejas, casas de 
campo, museus, galerias, universidades e até das primeiras estações 
ferroviárias” 
(GLANCEY, op.cit., p. 128). 
Um exemplo evidente desta corrente neoclássica é a Igreja de São 
Pancrácio, em Londres, construída pelos arquitetos William Inwood e seu filho 
Henry. A igreja paroquial inglesa traz, em sua extremidade oriental, um pórtico 
com cariátides parecidas com as do templo grego Erecteion, em Atenas3. Já a 
torre da igreja remete ao Templo dos Ventos, também de Atenas. 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 7: Igreja de São Pancrácio (1819-1822) Londres, Inglaterra Arquitetos William e Henry Inwood 
Elevação norte 
Fonte: 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/St_Pancras%2C_London%2C_north_elevation%2C_
R_Waller_April_2006.jpg 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 8: Fachada principal da Igreja São Pancrácio (St. Pancras) 
Fonte: 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/86/New_St_Pancras_Parish_Church.jpg/771px-
New_St_Pancras_Parish_Church.jpg 
 
3 Ver imagens do templo no texto da Unidade 2 desta disciplina. 
 
 
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A cidade de Edimburgo, capital da Escócia, chegou a ser conhecida 
como a “Atenas do Norte”, tamanha a quantidade de construções no estilo 
grego. Esta força da arquitetura grega manteve-se até o fim do século XIX, 
quando a Inglaterra já havia migrado do neoclassicismo grego para o neogótico 
e os estilos ecléticos. O monumento neoclássico desta corrente que mais se 
destaca na cidade é a Royal High School, uma escola de ensino médio oficial 
da Monarquia, projetada por Thomas Hamilton (1784-1858). À mesma maneira 
de sua fonte de inspiração, o Partenon, a escola foi implantada no alto de uma 
colina, com vista para toda a cidade – como se estivesse numa acrópole. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 9: Royal High School (1825-1829) Edimburgo, Escócia Arquiteto Thomas Hamilton 
Fonte: 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a9/Royal_Scottish_Academy%2C_Edinburgh.JP
G/800px-Royal_Scottish_Academy%2C_Edinburgh.JPG 
 
Foi na Alemanha – antiga Prússia – que a revivescência grega foi mais 
evidente. A linguagem arquitetônica dos gregos antigos foi o símbolo do 
governo de Frederico, o Grande. O símbolo máximo de seu governo é o Portão 
de Brandenburgo, um imponente monumento na entrada da cidade de Berlim. 
Construído por C. G. Langhans (1733-1808), esta imponente estrutura é 
baseada no Propileu, na Acrópole de Atenas e chegou a ter uso prático como 
alfândega. No entanto, sua imagem é comumente associada às marchas do 
exército nazista, já no século XX, e também como símbolo da divisão e 
reunificação da Alemanha. 
 
 
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Fig. 10: Portão de Brandemburgo (1789-1793) Berlim, Alemanha Arq. C. G. Langhans 
Fonte: : http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a9/Brandenburg_gate_sunset.jpg 
 
O templo de Walhalla, localizado às margens do Rio Danúbio, é uma 
cópia bastante fiel do templo grego paradigmático. Construída no topo de uma 
colina, como se fosse uma acrópole, a obra foi encomendada pelo futuro 
Ludwig II da Bavária ao arquiteto Leo von Klenze, que a construiu entre 1829 e 
1842. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 11: Walhalla (1829-1842) Próximo a Regensburg, Alemanha Arq. Leo von Klenze 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1d/Walhalla_aussen.jpg 
 
O mais importante arquiteto neoclássico alemão, no entanto, é Karl 
Friedrich Schinkel (1781-1841). Schinkel inspirou-se também na arquitetura 
da Grécia antiga, porém sem copiá-la literalmente; pelo contrário, ele se 
inspirou e atualizou a linguagem clássica. 
 
 
 
 
 
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“O que caracteriza seus edifícios não é simplesmente sua beleza 
profunda e, muitas vezes, elementar, mas seu rigor. Além de ser um 
brilhante nome do movimento, foi também, talvez, o primeiro 
funcionalista de verdade. Seus edifícios não são simplesmente 
perfeitos para as tarefas que lhe foram atribuídas, mas expressam 
claramente a própria estrutura. Mais do que isso, eles fazem uso de 
tecnologia e materiais novos, quando apropriados” 
 (GLANCEY, op.cit., p. 130). 
 
A sua obra de maior destaque é o grandioso Altes Museum, em Berlim. 
Uma obra que reflete como nenhuma outra o espírito da arquitetura do 
Iluminismo. Por um lado, é símbolo do Estado prussiano, por outro, atende às 
funções pragmáticas de museu e galeria de arte. A fachada principal da 
edificação consiste em uma imponente colunata de 18 colunas jônicas 
refinadas. Sobre o entablamento, correspondem às colunas 18 esculturas de 
águas, voltadas ora para a esquerda, ora para a direita. O acesso à entrada se 
dá por uma imponente escada. Para cada um dos lados, ficam as galerias, 
iluminadas por cima. No centro, porém surge uma rotunda de dois pavimentos, 
com colunas e uma cúpula sem decoração, considerada um dos espaços mais 
belos do mundo. Por estar encerrada em um bloco retangular, a cúpula não é 
visível na área externa do museu. 
 
“O que Schinkel criou ali, então, são os elementos básicos de toda 
arquitetura: a rotunda pode ser lida como uma esfoera colocada 
dentro de um cubo e esse cubo é ainda colocado dentro de um 
retângulo – o corpo principal do museu, tal como definido pela 
extensão da colunata – cujas proporções são tiradas da esfera e do 
cubo. O Altes Museum é, simultaneamente, um racional e romântico 
monumento ao espírito, não apenas da arquitetura grega, mas de 
toda a arquitetura” 
(GLANCEY, op.cit., p. 131). 
 
 
 
 
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Fig. 12: Altes Museum (1823-1830) Berlim, Alemanha 
Arq. Karl Friederich Schinkel 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/32/Bundesarchiv_Bild_183-1987-0302-013%2C_Berlin%2C_Altes_Museum%2C_Eingang.jpg 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 13: Planta do Altes Museum. Destaque para as formas geométricas regulares e perfeitamente 
proporcionais. 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e9/Altes_Museum_Berlin_plan.jpg 
 
 Esta regularidade matemática das formas neoclássicas também 
poderão ser vistas nas obras dos arquitetos franceses. 
 Por um lado, a arquitetura clássica é considerada ideologicamente 
adequada à nova sociedade que surgia: ora representa os ideais dos novos 
Estados democráticos, como os Estados Unidos da América; ora é ideal para 
associar o Império Napoleônico às glórias do antigo Império Romano. 
 
 
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Os Estados Unidos adotaram a linguagem neoclássica como arquitetura 
oficial, que perdura até hoje nos edifícios cívicos. A escolha por esta linguagem 
específica foi feita por Thomas Jefferson(1743-1826), um dos fundadores da 
nação americana e também terceiro presidente dos Estados Unidos. Jefferson 
desenvolveu suas ideias arquitetônicas durante um período em que viveu na 
França, atuando como embaixador em Versalhes. Influenciado pelo 
palladianismo, Jefferson também construiu uma casa em homenagem à Villa 
Capra em Monticello, no estado da Virginia, para si mesmo. O padrão do 
Capitólio para abrigar as funções governamentais, tanto em nível estadual 
quanto federal, foi criado por ele. Uma de suas concepções mais influentes foi 
o projeto para a Universidade de Virginia, em Charlottesville, a primeira 
universidade estadual americana. Dentro do espírito iluminista, a biblioteca era 
o cerne do campus, com formas que remetem ao Panteão de Roma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 14: Biblioteca da Universidade de Virginia - Rotunda 
(1817-1826). Charlottesville, EUA. Projetado por Thomas Jefferson. 
Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/archive/a/a8/20090426020054!University-of-
Virginia-Rotunda.jpg 
 
A estética neoclássica que domina a paisagem de Washington, D.C. em 
construções como a Casa Branca e o Capitólio foi extremamente influente no 
restante do mundo. “Desde que foram erigidos esses primeiros edifícios norte-
americanos, sociedades novas – tentando apresentar uma fachada respeitável 
ao mundo – tomara emprestado o estilo de Jefferson” (GLANCEY, op.cit., p. 
124). Afinal, para Jefferson, o neoclássico expressa a autoridade da natureza e 
o poder da razão, o espírito da democracia. 
 
 
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Já para Napoleão, a construção de arcos do triunfo em Paris, à moda 
daqueles construídos pelos césares romanos para celebrar suas vitórias, 
associaria inevitavelmente a glória de seu próprio império com o romano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 15: Arco do Triunfo Carousel (1806-1808), Paris. 
Construído pelos arquitetos Percier e Fontaine, imitava o Arco de Septímio Severo, em Roma. 
fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e8/Arc_de_Triomphe_du_Carrousel.jpeg/79
8px-Arc_de_Triomphe_du_Carrousel.jpeg 
 
A associação do Império Napoleônico com a arquitetura neoclássica era 
intencional. “Napoleão desenvolveu um estilo poderoso, ou o que hoje 
chamaríamos imagem corporativa, para sua corte; o arquiteto Charles Percier 
(1764-1838) foi o favorito do imperador e desempenhou um papel central no 
estilo império, pelo qual, excetuando as batalhas, o reinado de Napoleão é 
lembrado” (GLANCEY, op.cit., p. 126). A arquitetura neoclássica tornou-se o 
“estilo do império”, sendo ensinada oficialmente nas Academias de Belas Artes 
fundadas por ele. 
Alguns dos mais importantes símbolos da arquitetura neoclássica foram 
construídos na França, como suporte dos ideais revolucionários dos franceses. 
Um exemplo deste tipo de monumento é o Panthéon de Paris, construído 
entre 1755 e 1792. Inicialmente, fora projetado para ser a Igreja Sainte 
Geneviève; porém com a eclosão da Revolução Francesa, acabou sendo 
convertida em um Panteão dos heróis da Revolução. Com planta em cruz 
grega, coroada por um imenso domo assentado sobre um tambor formado por 
colunas, a construção foi um projeto revolucionário para a França da época. Os 
quatro braços também são coroados por domos mais baixos, à maneira das 
igrejas bizantinas. Apoiada quase inteiramente sobre colunas inteiras, 
 
 
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elegantes, Soufllot cria um espaço interno amplamente iluminado e translúcido. 
Soufflot almejava recriar a luminosidade, o ambiente espaçoso e as proporções 
de uma igreja gótica, porém utilizando a linguagem clássica para consegui-la 
(FRAMPTON, 2004, p. 14). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fig. 16: Panthéon (1755-1792) Paris, França Arq. Jacques-Germain Soufflot 
Fonte: 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f3/Pant%C3%A9on_%28Francia%29.jpg/547px-
Pant%C3%A9on_%28Francia%29.jpg 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 17: Interior do Panthéon, à altura do transepto. 
Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/82/Int%C3%A9rieur_du_Panth%C3%A9on.
jpg/400px-Int%C3%A9rieur_du_Panth%C3%A9on.jpg 
 
 
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Abaixo, vemos a imagem da Sede da Assembleia Nacional Francesa, o 
Palais Bourbon, também deixando evidente suas inspirações nos templos 
gregos: 
 
Fg. 18: Palais Bourbon, Sede da Assembleia Nacional Francesa (1722) 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5d/Palais_Bourbon_de_Nuit.jpg 
 
Porém, as iniciativas mais interessantes deste período na França foram 
exercícios mais utópicos, que imaginavam uma sociedade ideal baseada nos 
princípios iluministas da Revolução Francesa. Um dos arquitetos mais criativos 
deste cenário foi Etienne-Louis Boullée (1728-1799), que construiu pouco, 
mas foi autor de uma série de projetos de monumentalidade tamanha que 
jamais poderiam ser executados pela técnica da época e, talvez, mesmo a de 
hoje. Suas formas geométricas puras, sem adornos, combinadas a uma 
monumentalidade extrema, provocam ao mesmo tempo empolgação e 
ansiedade. Segundo Frampton, mais do que qualquer outro arquiteto iluminista, 
Boullée era obcecado pela luz como metáfora para o divino, e explorava os 
recursos de luz em seus projetos (FRAMPTON, op.cit., p. 14). 
Dentro destas fantasias, podemos destacar o Cenotáfio dedicado ao 
físico Isaac Newton. O projeto deste túmulo monumental tinha a forma de uma 
esfera de proporções gigantescas, com 150m de altura, sobre um cubo de 
duas camadas. “A esfera representava o universo, e o sarcófago de Newton, 
na mente de Boullée pelo menos, seria abrigado nesse espaço enorme e 
aterrador” (GLANCEY, op.cit., p 127). Esta construção ao mesmo tempo 
aterrorizante e tranquilas evocam o sentimento do sublime, tão apreciado 
 
 
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pelos românticos do período. A luz, aqui, penetrava no interior desta esfera 
imensa em pontos perfurados na parede; à noite, Boulléeimaginou uma pira 
suspensa, com fogo, simbolizando o sol (FRAMPTON, idem). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 19: Cenotáfio para Isaac Newton (1785) Projeto não executado. Arq. Etienne-Louis Boullée 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/Boull%C3%A9e_-
_C%C3%A9notaphe_%C3%A0_Newton_-_Coupe.jpg 
 
Boullée tinha planos grandiosos – projetos de uma cidade monumental, 
refletindo o poder de Napoleão, repleta de obras que estimulassem a fé 
(projetos para grandes igrejas) e o saber (projetos de museus, óperas, 
bibliotecas e universidades).Arquiteto influenciado pelas ideias do Iluminismo, 
acreditava no poder transformador social da arquitetura – a capacidade de 
transmitir aos cidadãos os princípios humanistas e encontrar as formas ideiais 
para o homem racional. Membro da Academia Real da Arquitetura, muitos dos 
projetos possíveis de serem edificados foram executados por alunos de 
Boullée. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Fig. 20: Projeto para a Bibliotec Nacional (1784) Não executado. Projeto de Boullée. 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6d/Bibliotheque_nationale_boul.jpg 
 
O arquiteto Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806) foi Arquiteto do Rei em 
1773, teve sua carreira finalizada e chegou a ser preso e quase morto durante 
a Revolução Francesa. Alguns dos edifícios europeus mais grandiosos de seu 
tempo foram construídos durante este período em que atuou para o Antigo 
Regime. Uma compilação de seus projetos foi publicada em 1804 com o título 
de L’Architecture considerée sous le rapport de l’art, des moeurs et de la 
législation (Arquitetura considerada em relação à arte, à moral e à legislação), 
e serviu de inspiração para gerações de arquitetos que o seguiram. 
Porém, é na utopia urbana de Arc-et-Senans que reside sua contribuição 
mais interessante. Trata-se de uma vila industrial projetada em torno das 
Salinas Reais, que ele havia construído em parte entre 1773-1779. 
Inicialmente semicircular (e posteriormente oval, em seus projetos), a cidade se 
orientava em torno do edifício da fábrica, construído na ordem dórica mais 
pesada possível. Na concepção de Ledoux, cada construção deveria refletir em 
suas formas e matéria o seu caráter, e expressavam suas funções através de 
formas. 
 “..os arquitetos iluministas franceses, como Etienne-Louis Boullée ou Claude-
Nicolas Ledoux, defendem e propõem diversas propostas de cidades ideais e 
formas ideais. As formas puras e os volumes puros (o cubo, a esfera, o cone 
ou o cilindro) vêm a ser bases e essência da arquitetura” 
(PEREIRA, 2010, p. 183). 
 
 
 
 
 
 
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Fig. 21: Projeto para a cidade ideal de Chaux (1804) 
Parte deste projeto foi construído entre 1773-79. Arc-et-Senans, França. Arq. Claude-Nicolas Ledoux. 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/14/Projet_pour_la_ville_de_Chaux_-_Ledoux.jpg 
 
Na França, no interior de escolas de engenharia, como a École des 
Ponts e Chaussés, e no espírito da Revolução Científica perpretada pelos 
ideias iluministas, surge a necessidade de incorporar no processo construtivo 
alguma forma de sistematização pragmática, como ocorrera com as outras 
ciências. Há a necessidade de aplicar à arquitetura uma metodologia e 
codificação científica de seus termos e componentes. Assim, inicia-se um 
processo de classificação das diferentes edificações conforme seu gênero e 
finalidade: religiosa, civil ou militar, ou arquitetura pública ou privada. Surge o 
conceito de tipo, associando um padrão formal a um programa específico – ou 
seja, uma determinada forma é correspondente a uma função. No entanto, a 
classificação dos tipos apenas evidenciou o quanto estes eram escassos e 
insuficientes para a enorme variedade de programas arquitetônicos surgidos 
em decorrência da Revolução Industrial. 
 
 
 
 
 
 
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Neste período não era raro a transferência de usos os mais diferentes de 
uma mesma construção, chegando mesmo a casos curiosos como a Igreja de 
La Madeleine (1804-1809), construída por Pierre Vignon, o Inspetor Geral das 
Construções da República, designado por Napoleão.Primeiramente foi 
concebida como templo dedicado à Grande Armada por Napoleão em 1806; 
em 1837 quase foi transfrormada na primeira estação ferroviária de Paris; e em 
1842 foi consagrada como igreja. Ou seja, qual seria sua classificação 
tipológica? Religiosa, cívica ou técnica? 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 22: Igreja de La Madeleine (1804-1809) Paris, França. Arq. Pierre Vignon 
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ea/La_Madeleine_de_Par%C3%ADs.JPG 
 
Reagindo contra a classificação por tipos, e ao mesmo tempo buscando 
atender à demanda construtiva do período que se seguiu à Revolução, Jean-
Nicolas-Louis Durand (1760-1834), professor de Arquitetura na Escola 
Politécnica de Paris, buscou encontrar uma metodologia construtiva universal. 
Sua pretensão era de elaborar uma versão arquitetônica para o Código 
Napoleônico, pelo qual estruturas apropriadas e econônicas poderiam ser 
criadas através da permutação modular. Assim, através da combinação de 
elementos pré-determinados, poderia ser realizada uma combinação de 
diversos módulos, gerando plantas e elevações variadas com custo mínimo. 
Durand defendeu seu método criticando o Panthéon de Soufllot e suas 206 
colunas e 612 metros de paredes; alegando que com seu método, ele poderia 
propor um templo circular com área comparável à do Panthéon, porém com 
apenas 112 colunas e 248 metros de parede – uma economia considerável. 
 
 
 
 
 
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Sua abordagem pragmática e utilitária entende que o objetivo maior da 
arquitetura é sua função, expressa através da conveniência e da economia. A 
economia se daria através da simplicidade, regularidade e simetria dos 
elementos compositivos de seu método. Os elementos, como escadas, 
coberturas, aberturas, eram classificados e só tinham sentido depois que 
inseridos em uma composição coerente. Desta forma, Durand faz da 
composição projetual do arquiteto uma teoria combinatória que associa entre si 
os elementos arquitetônicos em formas geométricas simples (o círculo e o 
quadrado, a esfera e o cubo). 
Estas ideias de racionalização máxima do processo projetual serão, sem 
dúvida, as raízes do que posteriormente veio a ser conhecido como Movimento 
Moderno na arquitetura, no século XX. Mas isso nós veremos numa próxima 
oportunidade! 
 
 
 
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Sites na Internet: 
 
Wikipédia – verbete Iluminismo 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo. Acesso em 22 de maio de 2010. 
 
 
 
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