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FICHAMENTO DO LIVRO “DOS DELITOS E DAS PENAS” Milena Vitória de Sousa Gomes REFERÊNCIA BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Ed.Ridendo Castigat Mores, 2001. I. INTRODUÇÃO Segundo Beccaria, as vantagens da sociedade devem ser repartidas entre todos de formas iguais, e para evitar abusos e atrocidades a solução são boas leis. Entretanto, o que se observa ao longo da história é que as leis na maioria das vezes foram apenas frutos de uma pequena minoria, e não, uma obra sensata com o objetivo de dirigir ações para o bem estar da maioria. Diante disso, a obra busca indicar os princípios mais gerais, e as faltas e erros mais comuns, visto que, existem diversas variedades de crimes, com inúmeras circunstâncias de tempo e lugar que seria impossível descrever cada um deles. Assim, o autor se contenta em contribuir de alguma forma para salvar da morte algumas pessoas, vítimas da tirania ou da ignorância. II. ORIGEM DAS PENAS E DIREITO DE PUNIR É apenas no coração do homem que estão os princípios fundamentais do direito punir. E os indivíduos cansados de viver no meio de temores, sacrificaram uma parte de sua liberdade para usufruir do resto com mais segurança, e a soma de todas essas porções de liberdades, sacrificadas pelo bem geral, formou-se a soberania da nação. E o administrador do depósito e dos cuidados dessas liberdades foi proclamado o soberano do povo. Entretanto, não é suficiente apenas o depósito é necessário que sejam criadas formas de protegê-lo, e esses meios foram as penas estabelecidas contra os infratores das leis. No entanto, as penas que ultrapassam a esse depósito da salvação pública são injustas por sua natureza. III. CONSEQUÊNCIAS DESSES PRINCÍPIOS Segundo Beccaria, “[...] a primeira consequência desses princípios é que só as leis podem fixar as penas de cada delito [...]” (p.10). Diante disso, pode-se observar uma relação com as fontes do direito penal, visto que, a fonte imediata é a lei. Apenas ela pode proibir ou impor condutas sob ameaça de sanção. Ademais, o trecho que fala sobre o magistrado não poder infligir uma pena que não esteja estatuída pela lei, relaciona-se com o Princípio da Legalidade presente no ordenamento jurídico brasileiro, fixado na Constituição em seu Art. 5°, XXXIX, o qual preconiza que “não há crime, nem pena, sem lei anterior que os defina”. Bem como, a segunda consequência para Beccaria, é que o soberano só poderá fazer leis gerais, e não julgar se alguém as violou. Relacionando com o sistema brasileiro, o ordenamento possui o princípio da separação dos poderes previsto no art. 2° da Constituição, pelo qual constitui como harmônicos e independentes entre si os poderes Legislativos, Executivos e Judiciário. Nesse sentido, cada poder possui sua função e sua esfera de atuação sem adentrar ou interferir de forma arbitrária nos outros poderes. E no caso de delito, existem duas partes: o soberano que afirma o contrato social ter sido violado, e o acusado que nega. Nesse caso, no sistema brasileiro os “acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (Art. 5º, LV, CF/88), como também que exista entre eles um terceiro que decida sobre a contestação, isto é, o magistrado. Assim, de acordo com a Constituição Brasileira “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (Art. 5º, LIII, CF/88). IV. DA INTERPRETAÇÃO DAS LEIS Diante dos princípios estabelecidos, Beccaria destaca que os juízes não podem ter o direito de interpretar as leis, pois não são legisladores. Como também, que o espírito de uma lei não pode ser resultado da boa ou má lógica de um juiz, visto que, cada homem tem sua maneira própria de ver as coisas à sua volta. E deixar a vida de um cidadão à mercê de um falso raciocínio, ou do mau humor do juiz, é inviável. No ordenamento brasileiro, existe o princípio da determinação taxativa – determina que a norma penal incriminadora deve ser clara, certa e precisa para evitar dúvidas ou ambiguidades, bem como evitar interpretações arbitrárias. V. DA OBSCURIDADE DAS LEIS Segundo Beccaria, o texto das leis deve estar nas mãos do povo, para que os homens meditando nos crimes e na certeza das penas, diminuirão a prática de cometer delitos. Como também, precisam ser escritas em uma língua comum ao povo, para evitar que os indivíduos fiquem sempre à mercê de um pequeno número de homens depositários e intérpretes das leis. Diante disso, ele destaca o importante papel da imprensa para tornar públicas as leis para todos os indivíduos e não apenas para alguns particulares. E que a diminuição dos crimes cometidos na Europa, era mérito do papel desenvolvido pela imprensa. VI. DA PRISÃO Neste capítulo, Beccaria destaca que os magistrados encarregados de fazer leis, ferem o direito da sociedade, isto é, a segurança pessoal. Logo, o direito de prender discricionariamente os cidadãos, de tirar a liberdade do seu inimigo sob pretextos funestos e deixar livres os que eles protegem, é um erro. O sistema brasileiro, possui o princípio constitucional da igualdade fixado no caput do art. ° da Constituição – garantindo que todos os indivíduos são iguais perante a lei. Assim, previne que os indivíduos sejam bem tratados ou mal tratados apenas de acordo com a vontade e os interesses dos magistrados, pois todos possuem o direito de serem tratados de forma igual, independente das predileções dos aplicadores da Lei. Para Beccaria, as penas poderão ser mais brandas, à medida que as prisões não forem uma horrível mansão de desespero e de fome. Não devendo, também, deixar nenhuma nota de infâmia sobre o acusado que teve juridicamente sua inocência reconhecida. Entretanto, lançam de forma indistinta na mesma masmorra, o inocente suspeito e o criminoso convicto, apenas para reforçar a ideia de força e poder, e não o desejo de justiça. VII. DOS INDÍCIOS DO DELITO E DA FORMA DOS JULGAMENTOS Vale destacar, o papel dos indícios do delito que segundo Beccaria, se eles não se sustentam por si só, o número de provas nada acrescenta nem diminui a probabilidade do fato, merecendo pouca consideração, logo, destruindo uma única prova, derruba todas as outras. Assim, no ordenamento jurídico brasileiro, existe o princípio da culpabilidade – pelo qual define que nenhum resultado pode ser atribuído a quem não o tenha produzido por dolo ou culpa, atribui- se esse princípio à vontade do agente de querer o resultado ilícito. Diante disso, o autor destaca que as provas devem ser independentes e quanto mais numerosas forem, mais será provável o delito, visto que, a falsidade de uma prova não influência sobre a certeza das outras. As provas podem ser divididas em: perfeitas e imperfeitas. As primeiras demonstram de forma positiva que é impossível o acusado ser inocente, sendo a única prova perfeita suficiente para autorizar a condenação. E as imperfeitas, não excluem a possibilidade da inocência do acusado, e para condenar mediante elas, é necessário um número muito grande para valerem uma prova perfeita. VIII. DAS TESTEMUNHAS Para Beccaria, é importante determinar em toda boa legislação de maneira exata o grau de confiança que deve ser concedido às testemunhas e a natureza das provas necessárias para constatar o delito, medindo o grau de confiança pelo interesse que o indivíduo possui de dizer ou não dizer a verdade. Como também, a confiança das testemunhas podem ser medidas de acordo com as proporções de ódio ou da amizade que ela possui com o acusado. Devendo também, observar os crimes mais atrozes com mais prudência, por exemplo, as acusações de magia e as ações gratuitamente cruéis, visto que, as possibilidades de existirem calúnias e precipitação sobre esses casos é bem maior. IX. DAS ACUSAÇÕES SECRETAS Para Beccaria,as acusações secretas tornam os homens falsos e pérfidos. Visto que, o suspeito de ser um delator, é considerado entre os outros concidadãos como um inimigo. E o fato de tentarem escondê-los da sociedade, faz com que eles sejam dissimulados a si mesmos. Desse modo, o autor condena as acusações secretas, pelos males que acarretam. X. DOS INTERROGATÓRIOS SUGESTIVOS Para os jurisconsultos da época, só se deve interrogar sobre a maneira pela qual o crime foi cometido e sobre as circunstâncias, não podendo, contudo, permitir questões diretas que exijam do acusado uma resposta imediata. Sendo proibida pelas leis da época os interrogatórios sugestivos. Devendo o juiz ir somente ao fato de forma indireta, e nunca em linha reta. Evitando sugerir ao acusado uma resposta que o salve ou que ele próprio se acuse. Assim, o silêncio de um criminoso perante o juiz, é para a sociedade um escândalo e para a justiça uma ofensa. XI. DOS JURAMENTOS Segundo Beccaria, com o passar do tempo os juramentos tornam-se apenas uma simples formalidade sem consequências. Logo, os juramentos são inúteis, visto que, não é o juramento que irá fazer o acusado dizer a verdade, isto é, contribuir de boa-fé para sua própria destruição. Desse modo, conclui-se que todas as leis opostas aos sentimentos naturais do homem são inúteis e vãs. XII. DA QUESTÃO OU TORTURA A aplicação da tortura pela maioria dos governos para arrancar dele a confissão do crime, esclarecer contradições, descobrir os cumplices de outros crimes, é uma barbárie, segundo as ideias defendidas por Beccaria em sua obra. Assim, no ordenamento jurídico brasileiro, garante que ninguém será submetido a tortura ou tratamento desumano. (Cap. I, Art. 5º, III, CF/88) Ademais, Beccaria destaca que nenhum homem poderá ser considerado culpado antes da sentença do juiz. O sistema brasileiro possui o Princípio da presunção de Inocência garantida pelo art. 5°, inciso LVII da Constituição, pelo qual o indivíduo não será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. O autor também destaca que um crime cometido, que não há remédio, só pode ser punido pela sociedade para impedir que os outros homens cometam outros semelhantes. No Brasil, podemos ver semelhança nas funções da pena, pelo qual a prevenção geral – tem como objetivo intimidar e evitar que os cidadãos ao verem a sanção sendo aplicada cometam novos delitos, buscando contribuir para que os indivíduos respeitem as disposições legais, desestimulando a prática criminosa. Sobre as torturas, o autor destaca que muitas vezes é um meio seguro de condenar um inocente fraco e de salvar um criminoso robusto. E o resultado de terrível barbárie é completamente injusto, pois varia de homem para homem dependendo da sua força e grau de sensibilidade, de maneira que o mais fraco mesmo inocente, desistirá e se entregará primeiro para que sejam cessados seus tormentos. Possuindo o inocente posição pior que o culpado, pois está submetido a posições que possuem tudo contra si, logo, se confessa o crime, é punido por algo que não cometeu e sendo absolvido, só será depois de sofrer tormentos que não merecia. Contrário da posição ocupada pelo culpado, que possui para si um conjunto favorável. XIII. DA DURAÇÃO DO PROCESSO E DA PRESCRIÇÃO Para o autor, quando o delito é constatado e as provas são certas, é justo conceder o tempo e os meios de justificar-se. No Direito processual brasileiro, existe o princípio do contraditório e da ampla defesa, o qual garante que ambas as partes tenham o direito de serem ouvidas, bem como, pela ampla defesa, o direito de se justificarem. Bem como, devido exclusivamente às leis fixar o espaço de tempo que deve existir para a investigação das provas do delito, e para o acusado defender-se. Ademais, para Beccaria distingue-se os delitos em duas espécies, sendo as primeiras os crimes mais atrozes e na segunda os crimes mais hediondos do que o homicídio. O sistema brasileiro também constitui penas mais severas para crimes hediondos e possui também distinção entre crimes. Segundo o autor, para crimes maiores e mais raros, deve-se diminuir a duração da instrução e do processo, pois a inocência do acusado é mais provável do que o crime. E em relação aos delitos menores e mais comuns, deve-se prolongar o tempo dos processos, porque a inocência do acusado é menos provável. XIV. DOS CRIMES COMEÇADOS; DOS CÚMPLICES; DA IMPUNIDADE Neste capítulo, o autor destaca que as leis não podem punir a intenção, e que a ação do início de um crime que prova a sua vontade de cometê-lo, merece um castigo menor do que o que seria aplicado se o crime tivesse sido cometido. No ordenamento jurídico brasileiro também não se punem os atos preparatórios, isto é, não se pune a intenção, vontade do agente, etc. É preciso que essa vontade interna se exteriorize no mundo real. Como também, os crimes que foram cometidos antes da consumação do crime, possuem a maior possibilidade de redução da pena, enquanto que aqueles cometidos mais próximos à consumação possuem essa possibilidade reduzida. Ademais, ele destaca que é importante tais atitudes para prevenir até mesmo as primeiras tentativas de crimes, o direito penal brasileiro simpatiza com esse pensamento, visto que, pune o crime tentado no seu art. 14 inciso II do Código penal. Para Beccaria, se as leis punissem de forma mais severa os executantes do crime do que os simples cúmplices, seria mais difícil encontrar entre eles um que quisesse executá-lo, porque o risco seria maior em virtude da diferença das penas. No sistema brasileiro, existe o princípio da pessoalidade – pelo qual nenhuma pena passará da pessoa do condenado, ou seja, a pena é pessoal e intransferível, sendo cumprida apenas pelo agente do crime. Alguns tribunais da época, ofereciam impunidade ao cúmplice de um grande crime que traz os seus companheiros, para Beccaria tal atitude era perigosa, pois introduz os crimes de covardia e a esperança de impunidade entre os indivíduos. No Brasil, existe a delação premiada – pela qual o agente terá redução da pena ao delatar seus comparsas, podendo chegar até mesmo à isenção total da pena. E o Código Penal no seu art. 159, parágrafo 4° garante que se o crime for cometido em concurso, e o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida. XV. DA MODERAÇÃO DAS PENAS Neste capítulo Beccaria, conclui que diante das verdades expostas evidenciam que o fim das penas não pode ser atormentar um ser sensível, muito menos fazer que um crime não cometido seja cometido. Ademais, ele destaca que os castigos têm o fim de impedir o culpado de ser nocivo futuramente à sociedade e desviar os outros cidadãos do crime. O sistema brasileiro assemelha-se a essas ideias, nas funções sociais da pena, que possui caráter preventivo especial – punir o agente que cometeu o delito, e o preventivo geral – é prevenir através da punição dos infratores, que os indivíduos não cometam novos crimes. Segundo o autor, quanto mais atrozes forem os castigos, tanto mais audaciosos serão os culpados para evitá-los. Acumulará os crimes, para subtrair-se a pena merecida pelo primeiro. Assim, no sistema brasileiro existe o princípio da Subsidiariedade – pelo qual a norma mais ampla, ou mais grave, prevalece a menos ampla. E o Princípio da Consumação – que durante o iter criminis de um delito existem outros delitos que se caracterizam como meios de preparação, o resultado final mais grave absolverá os demais. Para Beccaria, para que o castigo produza frutos é necessário que o mal causado por ela seja maior que o bem retirado pelo culpado no crime. XVI. DA PENA DE MORTE A pena de morte, segundo Beccaria não se apoia em nenhum direito. Logo, para a maioria dos que assistem a execução de um criminoso,o suplício do acusado é apenas um espetáculo, enquanto que para a minoria é um objeto de piedade e indignação. Assim, o legislador deve pôr limites ao rigor das penas, quando o suplício não se torna mais do que um espetáculo e parece ordenado mais para ocupar a força do que para punir o crime. No ordenamento brasileiro, existe o princípio da Intervenção Mínima, o qual limita o poder discricionário do Estado, e delimita o direito penal como último recurso para ser utilizado para a resolução de conflitos sociais. Assim, para o autor a alma resiste mais a violência das dores extremas, porém, passageiras, do que ao tempo e a continuidade do desgosto. E ele compara a pena de morte e a escravidão perpetua, na primeira todas as forças são reunidas em um só momento, enquanto que na escravidão ficam espalhados durante todo o curso da sua vida. Desse modo, para ele a vantagem da pena da escravidão para a sociedade é que amedronta mais aquele que testemunha do que aquele que sofre. XVII. DO BANIMENTO E DAS CONFISCAÇÕES Neste capítulo, Beccaria destaca que aquele que perturba a tranquilidade pública, e não obedece às leis, deve ser excluído da sociedade, isto é, banido. No Direito penal brasileiro, relacionando-se a esse ideal defendido pelo autor, existe a Teoria Subjetiva do Direito penal – pelo qual, confere ao Estado a exclusividade de colocar em prática as punições elencadas para as condutas criminosas, ou seja, apenas o Estado é o titular do direito de punir (art. 1°, CF/88) Para ele, a perda dos bens é uma pena maior que a do banimento. No Brasil, o confisco é disciplinado pelo art.91 do Código Penal como forma de expropriação em favor do Estado dos instrumentos e produtos dos crimes. Segundo Beccaria, as confiscações podem fazer o homem de bem um criminoso, visto que, o levam ao crime, reduzindo-o à indigência e ao desespero. Ademais, a família inteira do acusado será coberta por horrores da miséria pelo crime do seu chefe, no sistema brasileiro através do princípio da pessoalidade do crime, evitar tais risco a sociedade, logo a punição não deve passar da pessoa do agente, logo, a família não pode sofrer punições pelo crime cometido por seu chefe. XVIII. DA INFÂMIA Neste capítulo, o autor descreve que a infâmia é sinal de improbação pública, que priva o culpado da consideração, da confiança que a sociedade tinha nele. Como também que os efeitos da infâmia não dependem apenas das leis, visto que, a vergonha que a lei inflige se baseia na moral ou na opinião pública. Para ele a verdadeira política não é outra coisa, senão a arte de dirigir para o mesmo fim os sentimentos imutáveis do homem. XIX. DA PUBLICIDADE E DA PRESTEZA DAS PENAS Para Beccaria, quanto mais pronta for a pena e mais de perto seguir o delito, mais útil e justa ela será. Ademais, a perda da liberdade já sendo uma pena, só deve preceder a condenação na medida que a necessidade o exige. Assim, o cidadão detido só deve ficar na prisão o tempo necessário para a instrução do processo, e os detidos mais antigos têm o direito de serem julgados em primeiro lugar. Bem como, o acusado só deve ser preso na medida que for necessário para impedir de fugir ou de ocultar as provas do crime. No Brasil, existe como instrumento processual a prisão preventiva regulada pelo art. 313 do Código Penal que poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime, e também para assegurar o cumprimento de medida protetiva de urgência. Segundo o autor, a maior parte dos que assistem ao suplício de um acusado de crime monstruoso não experimentam nenhum sentimento de terror, pois jamais imaginam poder merecer tal grave castigo. Ao contrário da punição pública dos pequenos delitos comuns, que lhe causam uma impressão salutar a qual os afastará de grandes crimes. XX. QUE O CASTIGO DEVE SER INEVITÁVEL – DAS GRAÇAS Para o autor, o que previne os crimes com mais segurança não é o rigor do suplício, mas a certeza do castigo. Diante disso, ele destaca que ao se abster de punir um delito pouco importante, quando o ofendido perdoa. É um ato de benevolência, porém, um ato contrário ao bem público, logo, um particular pode não exigir a reparação do mal que foi lhe feito, porém, o perdão concedido não pode destruir a necessidade do exemplo, visto que, é útil e eficaz para a prevenção de novos crimes. Pois, ao deixar que um crime perdoado não tenha o castigo como consequência necessária, nutre entre os cidadãos a esperança da impunidade. XXI. DOS ASILOS Neste capítulo Beccaria defende novamente que o melhor meio para impedir o crime é o castigo certo e inevitável, e que os asilos, representam um abrigo contra a ação das leis, como convidam ainda mais ao crime do que as penas que tentam evitá-lo. Para ele, um crime só deve ser punido no país onde foi cometido, para que o exemplo da pena produza frutos para aquela sociedade. XXII. DO USO DE PÔR A CABEÇA A PRÊMIO Segundo o autor, o governo que põe a cabeça de um criminoso a prêmio, revela fraqueza, pois quem tem força para defender-se não compra socorro de outrem. Para uma nação a boa fé e confiança recíproca são cruciais, entretanto, quando atitudes como essas são permitidas, o legislador entra em contradição, e semeia desconfiança em todos os todos corações. Assim, as nações apenas serão felizes quando a moral estiver ligada à política. Entretanto, as leis que recompensam a traição acendem entre os cidadãos uma guerra oculta, e com isso, estão sempre em oposição entre a união da política e da moral. XXIII. QUE AS PENAS DEVEM SER PROPORCIONADAS AOS DELITOS. O interesse de todos, segundo Beccaria, é não apenas que se cometam poucos crimes, mas que os delitos mais graves sejam cada vez mais raros. Diante disso, deve-se haver uma proporção entre os delitos e as penas, isto é, os meios para impedir os crimes devem ser mais fortes à medida que o delito é mais contrário ao bem público, logo, não deve ser aplicado castigos menores para os maiores crimes, para evitar que os indivíduos optem por sempre praticarem o crime maior. XXIV. DA MEDIDA DOS DELITOS A medida dos delitos é o dano causado à sociedade. Com isso, a grandeza do crime não depende da intenção do agente, pois varia de pessoa para pessoa dependendo das impressões e disposições impostas a ela, logo, se fosse punível a intenção seria necessária uma nova lei para cada crime, e não apenas um Código particular para cada cidadão. Bem como, muitas vezes com a melhor das intenções, um indivíduo causa grandes males à sociedade, enquanto que, outro indivíduo faz grandes serviços com a vontade de prejudicar. Ademais, diversos outros jurisconsultos utilizam-se de outros meios para definir a gravidade do crime, como a dignidade da pessoa ofendida, a ofensa à Divindade, etc. Porém, são ineficazes e desproporcionais, devendo o meio para medir a gravidade do delito, o grau do dano que é causado à sociedade. XXV. DIVISÃO DOS DELITOS Para Beccaria, existem crimes que estão diretamente ligados à destruição da sociedade, outros que atingem o cidadão em sua vida, e outros que são atos contrários ao que a lei prescreve ou proíbe, tendo em vista o bem público. Ademais, ele destaca que as ideias mudam com o tempo, e que diversas coisas deixam de sobreviver dependendo dos lugares ou dos climas. Em relação ao sistema brasileiro, vale destacar, por exemplo, que essa mudança de ideias ocorre também no âmbito jurídico, pelo qual por muito tempo o adultério era considerado um crime, entretanto, com o passar dos tempos, esse entendimento mudou – não existindo punição para esse crime. XXVI. DOS CRIMES DE LESA-MAJESTADE Os crimes de lesa-majestade foram postos na classe dos grandes crimes, pois ofendem à sociedade. Ademais, eledestaca que todos os delitos são nocivos à sociedade, entretanto, nem todos tendem imediatamente a destruí-la. Assim, é preciso julgar as ações morais por seus efeitos positivos e levando em consideração o tempo e o lugar. XXVII. DOS ATENTADOS CONTRA A SEGURANÇA DOS PARTICULARES E, PRINCIPALMENTE, DAS VIOLÊNCIAS. Os crimes de atentados contra a segurança dos particulares vêm depois dos crimes que a atingem a sociedade ou o soberano. Logo, sendo essa segurança o objetivo último de todas as sociedades humanas, devem os crimes cometidos contra ela serem punidos com as penas mais graves. Entre eles, estão os crimes contra a vida, contra a honra e outros contra os bens. Ademais, ele destaca a importância das penas para pessoas de alta linhagem serem iguais aos dos últimos dos cidadãos, logo, a igualdade civil é anterior a todas as distinções de honras e riquezas. Assim, a igualdade perante as leis impede os inconvenientes das distinções e tornam as leis mais respeitáveis, destruindo toda a esperança de impunidade entre os cidadãos. XXVIII. DAS INJÚRIAS As injúrias pessoais, contrárias à honra, segundo Beccaria devem ser punidas pela infâmia. No sistema brasileiro existem os crimes contra a honra, são eles: a calúnia – dizer de forma mentirosa que alguém cometeu um crime (art. 138 CP), difamação – é tirar a boa fama ou crédito de alguém, atribuindo a outrem um fato específico negativo (art.139 CP) e injúria – é atribuir palavras ou qualidades ofensivas a alguém, expondo defeitos, por exemplo, que desqualificam a pessoa atingindo sua moral e honra (art.140 CP) XXIX. DOS DUELOS Os duelos são vistos por diversas sociedades como uma espécie de honra, e o cidadão que recusa um duelo se torna desprezível para os outros cidadãos, com uma vida solitária e desprezível. Assim, para Beccaria a melhor forma de impedir um duelo, é punir o agressor – aquele que iniciou o conflito, e declarar inocente aquele que sem procurar a espada se viu constrangido a defender a própria honra. XXX. DO ROUBO Para Beccaria, um roubo cometido sem violência deveria ser punido apenas com uma pena pecuniária, sendo justo que quem rouba o bem de outrem seja despojado do seu. Entretanto, se o crime de roubo é apenas um delito cometido por uma classe de homens infortunados, as penas pecuniárias apenas multiplicaram os roubos, aumentando o número de indigentes – arrancando o pão de uma família inocente, para dá-lo a um rico talvez criminoso. Assim, o roubo acompanhado de violência é justo juntar à servidão as penas corporais, pois não se deve aplicar a mesma pena de roubo com astúcia para o roubo com violência, pois são delitos absolutamente diferentes. No sistema brasileiro, existe o crime de latrocínio, sendo uma forma qualificada do crime de roubo quando a violência empregada resulta em morte, ou seja, um crime mais grave garantido pelo art. 157 parágrafo 3° do Código Penal, possuindo uma pena maior do que o roubo propriamente dito. XXXI. DO CONTRABANDO Para Beccaria, o contrabando é um delito que ofende o soberano e a nação, mas a pena não deveria ser infamante, pois é um dos delitos que os homens não consideram nocivos aos seus interesses, não excitando a indignação pública. Segundo ele, o contrabando é um delito gerado pelas próprias leis, bem como, ressalta que a tentação de o exercer é cada vez mais forte, à medida que há mais facilidade em cometer esse delito. Assim, não deve ficar impune, logo os impostos são partes essenciais e difíceis em uma boa legislação merecendo uma punição proporcional ao delito cometido. No ordenamento brasileiro, o contrabando e o descaminho são classificados como delitos, no art. art. 334, CPP/41, porém são considerados tipos penais distintos, o contrabando é classificado como a importação ou exportação de mercadoria proibida, e o descaminho é iludir no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria. XXXII. DAS FALÊNCIAS Segundo Beccaria, o legislador que quer proteger a segurança do comércio, deve dar recurso aos credores sobre a pessoa dos seus devedores, quando estes abrem falência. Entretanto, deve- se observar com muita prudência o indivíduo que realmente está falido, e aquele que finge de forma fraudulenta. Devendo o falido de boa-fé ser tratado com menos rigor. No Direito Empresarial brasileiro existe a Lei de Falência que regula como quais empresas podem decretar falência e quais são os trâmites legais. XXXIII. DOS DELITOS QUE PERTURBAM A TRANQUILIDADE PÚBLICA A terceira espécies de delitos classificados por Beccaria são os delitos que perturbam particularmente o repouso e a tranquilidade pública: as querelas, os tumultos de pessoas, e os discursos fanáticos. No ordenamento brasileiro, art. 42 do LCP regulamentam a perturbação do trabalho ou sossego alheio, passível de prisão simples, de 15 dias a 3 meses ou multa. XXXIV. DA OCIOSIDADE Segundo Beccaria, as pessoas ociosas e inúteis não dão à sociedade nem trabalho nem riquezas, atitudes que são contrárias ao fim político do estado social. São pessoas que não possuem motivos para aumentar as comodidades da vida, e que são indiferentes à prosperidade do Estado, apenas se inflamam com paixão por opiniões que lhes agradam, mas que podem ser perigosas. XXXV. DO SUICÍDIO O suicido é um delito que não pode ser submetido a nenhuma pena propriamente dita, pois essa pena só poderia recair sobre um corpo insensível ou sobre inocentes. Logo, se a pena é aplicada à família inocente, ela é tirânica e odiosa. No sistema brasileiro, também adota essa teria, não sendo punível o delito de suicídio, como também, não há punição para a família inocente, logo, o crime é pessoal – Princípio da Pessoalidade, somente nos casos em que houver participação de outrem, induzindo ou incentivando a prática delituosa é que haverá punição. XXXVI. DE CERTOS DELITOS DIFÍCEIS DE CONSTATAR Segundo o autor os crimes que são difíceis de provar, porém, são bastantes frequentes são: o adultério, a pederastia, e o infanticídio. Para ele, o adultério é produzido pelo abuso de uma necessidade anterior à sociedade, no entanto os outros delitos são efeitos das paixões do momento do que pelas necessidades da natureza. Assim, o crime de adultério é mais fácil preveni-lo do que reprimi-lo quando já cometido. No sistema Brasileiro, o crime de adultério já foi fixado no Código Penal, entretanto, foi revogado em 2005 pela Lei 11.106. A pederastia é punida pelas leis da época com enorme severidade e torturas atrozes. E o infanticídio que segundo Beccaria resultado de uma cruel alternativa, impulsionada por fraqueza, ou que não resistiu aos esforços da violência. No Brasil, o crime de infanticídio é fixado pelo art. 123 do Código penal, tendo como pena – detenção, de 2 a 6 anos. XXXVII. DE UMA ESPÉCIE PARTICULAR DE DELITO Neste capítulo, Beccaria ressalta que não escreveu sobre os espantosos espetáculos que foram cometidos em razão do fanatismo, levando inúmeras pessoas às fogueiras cobrindo os lugares públicos de turbilhões de fumaça negra e cinzas humanas. Destacando que apenas falará sobre os crimes que pertencem ao homem natural e que violam o contrato social, silenciando sobre essas outras espécies de delitos. XXXVIII. DE ALGUMAS FONTES GERAIS DE ERROS E DE INJUSTIÇAS NA LEGISLAÇÃO. Segundo Beccaria, as falsas ideias que os legisladores fizeram da utilidade são umas das principais fontes fecundas de erros e injustiças. Podendo considerar contrárias ao fim da utilidade das leis, as que proíbem o porte de armas, pois apenas desarmam o cidadão pacifico. Desse modo, tais leis apenas multiplicam os assassínios, pois entregam o cidadão sem defesa aos criminosos, assim, essas leis são apenas ruído das impressões tumultuosas que não servem para prevenir os delitos, massão feitas simplesmente pelo vil sentimento de medo. Ademais, ele destaca que a diferença entre o estado de sociedade e o estado de natureza, é que o homem selvagem só faz mal a outrem quando ver nisso alguma vantagem para si, enquanto que, o homem social é às vezes levado, por leis viciosas, e prejudicam outrem sem proveito algum. XXXIX. DO ESPÍRITO DE FAMÍLIA Outra fonte de injustiças na legislação, segundo Beccaria, é o espírito da família. Visto que, para ele o espírito de família é limitado pelos mais insignificantes pormenores, enquanto que o espírito público, é ligado aos princípios gerais e vê os fatos com visão segura conseguindo tirar as consequências úteis dos fatos para o bem da maioria dos indivíduos. Ademais, a moral particular inspira submissão e medo, enquanto que a moral pública anima a coragem e o espírito de liberdade. Assim, o homem guiado pela primeira limita seu bem-estar ao círculo estreito de indivíduos, enquanto que, a moral pública estende a felicidade sobre todas as classes da humanidade. XL. DO ESPÍRITO DO FISCO Neste capítulo, Beccaria destaca que houve um tempo que todas as penas eram pecuniárias, sendo os julgamentos apenas um processo entre o fisco que percebia o preço do crime, e o culpado que devia pagá-lo, fazendo-se disso um negócio civil, como se tratasse apenas uma querela particular e não do bem público. Nesse sistema, quem se confessasse culpado pela própria confissão, era devedor do fisco, e a arte do juiz era obter essa confissão da maneira mais favorável aos interesses do fisco. Excluindo cuidadosamente da instrução de um processo as investigações e as provas, que esclarecendo os fatos poderiam favorecer o acusado e prejudicar as pretensões do fisco. Um sistema repleto de iniquidades terríveis que assolaram quase toda a Europa no século XVIII, pois o cidadão era considerado culpado, antes de provar que era inocente. XLI. DOS MEIOS DE PREVENIR CRIMES Para Beccaria, o ideal é prevenir os crimes do que os punir, sendo uma boa legislação aquela que proporciona aos homens o maior bem-estar possível e preserva-os de todos os sofrimentos que se lhes possam causar. Assim, o meio mais eficaz de prevenir crimes é fazer leis simples e claras, protegendo de forma igual cada membro da sociedade. Como também, afastando do santuário das leis a sombra da corrupção, interessando aos magistrados apenas conservar a pureza do depósito que a nação lhes confia, pois quando o soberano dá muito aparato e autoridade à magistratura, e ao mesmo tempo fecha todo acesso aos lamentos do fraco, que se julga oprimido, os súditos passam a temer mais aos magistrados do que as leis, aumentando o poder dos juízes. Outro meio de prevenir os crimes é recompensando a virtude, e aperfeiçoando a educação. Diante disso, ele conclui que o método incerto da autoridade imperiosa deve ser abandonado, pois apenas produz uma obediência hipócrita e passageira. XLII. CONCLUSÃO Por fim, Beccaria conclui que as penas para não ser apenas um ato de violência contra o cidadão, deve ser essencialmente pública, pronta, necessária, proporcionada ao delito e determinada pela lei.
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