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DOR ABDOMINAL CRÔNICA A dor abdominal recorrente crônica é uma das causas mais comuns de atendimento em consultório na pediatria. A etiologia pode ser FUNCIONAL ou ORGÂNICA Dor abdominal funcional: - Prevalência de até 80% os casos - “Pelo menos 3 episódios de dor, grave o suficiente para afetar as atividades, durante um período não inferior a três meses” critério de ROMA IV - “Os sintomas não podem ser atribuídos a qualquer outra doença médica” Critério de Roma IV - Mais comuns em meninas - Picos na idade de 4-6 anos e 9-11 anos As desordens gastrintestinais funcionais pediátricas são classificadas de acordo com os critérios de Roma IV Subtipos mais comuns de desordem intestinal pediátrica: - Síndrome do intestino irritável (65%) - Dor abdominal funcional (35%) - Síndrome DAF - Dispepsia funcional DOR ABDOMINAL FUNCIONAL 1) Modelo biopsicossocial São fatores que impactam o desenvolvimento e reconhecimento da dor no intestino, através de uma alteração fisiológica intestinal pelo eixo cérebro-intestino Fatores que contribuem para o desenvolvimento da dor abdominal recorrente Fatores físicos: - Doença física recente - Pós infecção - Intolerância alimentar - Constipação - Falta de exercícios - Fatores psicossociais: - Pobreza - Morte de um membro da família - Relacionamento alterado com pais - Dificuldades escolares O stress físico e emocional aumenta a concentração e sensibilidade dos receptores da dor e aumentam a produção de neurotransmissores mediadores da dor no intestino Hipersensibilidade visceral e central -> conceitos que apoiam a percepção real da dor pela criança, e não somente que o que ocorre é imaginação da criança. Hipóteses relatam a possibilidade do rebaixamento do limiar de dor, tornando-se mais sensíveis. Crianças mais emotivas são mais propensas: internalizam problemas e são mais propensas a ter desordens emocionais, tal como a ansiedade. Dor abdominal e problemas de saúde mental nos pais também são fatores de risco para o desenvolvimento disso nos filhos. 2) Diagnóstico Antes de tudo, devemos avaliar os sinais e sintomas de doença orgânica antes de considerar a dor funcional. A anamnese deve incluir: - Avaliação dos sintomas físicos - Características da dor - Fatores de alívio - Agravantes - Prazos História médica detalhada - Cirurgia abdominal anterior? - Doenças recentes grastroenterites-like História familiar e social - Focar nos relacionamentos - Desempenho escolar; metas sociais O quadro a seguir aponta os principais sinais que devem ser sinais para a suspeita de doença orgânica: Na presença de algum desse, deve ser feita uma avaliação aprofundada e criteriosa. Embora seja primariamente um transtorno do TGI, as crianças podem queixar de sintomas gerais. · O modo que os pais lidam com a dor da criança pode favorecer ou piorar o quadro da criança. 3) Gestão da dor abdominal É necessário saber conversar com os pais e informa-los sobre como essa dor se origina: uma dor gerada SEM estímulos nocivos; falar que não há doença orgânica na criança; A conexão cérebro-intestino deve ser elucidada para os pais, e deve-se conversar com a criança. Estabelecer a natureza funcional dos sintomas, e elucidar que NÃO há doença orgânica, e as dores são manifestações de uma hipersensibilidade visceral e que são modificáveis -> bases para a recuperação da criança. Resumo do manejo da dor abdominal funcional DOR ABDOMINAL CRÔNICA ORGÂNICA Geralmente, a dor abdominal orgânica é acompanhada de alguns sinais de alarme para causa orgânica: - Idade de início antes dos 4 anos de idade - Perda de peso ou desaceleração do crescimento linear - Vômitos persistentes - Febres recorrentes - Dor no quadrante superior ou inferior direito - Dor que desperta a criança do sono; diarreia noturna - Recusa alimentar em função da dor - Sangramento gastrintestinal - Artrite - Doença perirretal - Puberdade retardada - História familiar para doença péptica ou doença inflamatória intestinal. A avaliação nutricional da criança é um dos pilares da ponderação e investigação dessa criança; distúrbios gastrintestinais podem alterar a curva de crescimento dessa criança. Não é fácil distinguir a dor funcional ou orgânica apelas pela apresentação clínica; a dor funcional também pode ser intensa. O horário da dor também não discrimina a dor funciona ou orgânica · A única exceção é a dor noturna que acorda a criança; essa sim aponta ser uma dor abdominal de causa orgânica. 1) Investigação Os exames diagnósticos devem ser dirigidos para as hipóteses diagnósticas prováveis. A dor abdominal orgânica pode ser secundária a dezenas de entidades Exemplos: - Esofagite de refluxo - Doença péptica - Intolerância à lactose - Doença inflamatória intestinal - Calculose renal ou biliar - Pancreatite crônica - Obstruções do trato urinário - Pielonefrite recorrente - Anemia falciforme - Defeitos musculofasciais da parede abdominal. A constipação intestinal é a principal causa de dor abdominal crônica recorrente nas crianças e adolescentes. Dor abdominal crônica secundária à constipação funcional. A constipação intestinal não deve ser classificada como dor funcional, sendo discutível como dor de causa orgânica. 2) Causas comuns ESOFAGITE DE REFLUXO Dano à mucosa esofágica pelo refluxo gastresofágico Geralmente há dor na parte superior do abdome Pode ocorrer à ingestão de alimentos e é associada a regurgitações ou vômitos Pode gerar: anemia pela deficiência de ferro e alteração do crescimento, devido a alimentação insuficiente GASTRITE, DUODENITE E ÚLCERA PÉPTICA Dano da mucosa do estomago ou duodeno Dor epigástrica ou no abdome superior É comum a relação entre alimentação e dor Pode despertar o paciente do sono e ser acompanhada de náusea e vômito AINES podem ser fatores predisponentes, assim como infecção pela H.pylori INTOLERÂNCIA À LACTOSE Síndrome clínica em que não há absorção da lactase, pela ausência da lactase A lactose permanece na luz intestinal -> efeito osmótico; degradação por bactérias e produção de gases. Gera distensão abdominal, dor abdominal, flatulências, diarreia, náuseas e vômitos Tratamento: retirada de lactose da dieta. DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL Apresentação clínica variada; depende do local acometido. Formas clínicas colite indeterminada, retocolite ulcerativa e doença de Crohn Sintomas: dor abdominal; sangramento gastrintestinal; perda ponderal; manifestações extraintestinais podem existir DOENÇA CELÍACA Doença autoimune induzida pelo glúten Manifestação clássica: diarreia, déficit de crescimento e distensão abdominal. É cada vez mais frequente a presença de pacientes sem sintomas ou poucos sintomas. PARASITOSES INTESTINAIS A giardíase e a estrongiloidiase são as mais frequentes 3) Diagnóstico da dor abdominal orgânica Em casos suspeitos onde há sinais de alarme, é necessária a solicitação de exames complementares, norteados pela suspeita clínica. Exames como: hemograma, VHS, EAS, urocultura, EPF, USG de abdome -> exames que podem ser úteis Dependendo das alterações, podem ser necessários outros exames complementares EDA, teste de absorção de lactase e colonoscopia e exames mais específicos dos tratos urinários 4) Tratamento De acordo com a etiologia CONSTIPAÇÃO INTESTINAL Distúrbio comum na pediatria. Caracterizada por evacuações pouco frequentes, fezes duras e/ou grandes, defecação dolorosa e escape fecal. Geralmente é acompanhada de dor abdominal. Os critérios de Roma IV devem ser preenchidos para o diagnóstico de constipação intestinal funcional: EPIDEMIOLOGIA Achado muito frequente em crianças Responsável por 3% das consultas em pediatria geral, e 25% dos ambulatórios de gastrenterologia pediátrica Sem diferença de maior incidência entre gêneros; Na adolescência é mais predominante em meninas; Em 17-40% das crianças se inicia no primeiro ano de vida, com grande associação à introdução da alimentação alimentar complementar. Em 95% das crianças com constipação não há causa orgânica identificadaCausas orgânicas: - Distúrbio metabólico - Anomalia anorretal - Doenças neuromusculares - Doença de Hirschsprung -> megacólon congênito – ausência de inervação em segmentos do cólon PSEUDOCONSTIPAÇÃO DO LACTENTE: - Ocorre em até 5% dos lactentes com idade inferior de 6 meses em aleitamento natural predominante - É a ocorrência da eliminação de fezes macias, porém com intervalos longos (até 7-10 dias), sem a presença de desconforto abdominal - É uma condição fisiológica e NORMAL. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da constipação funcional ainda não é totalmente compreendida; ela é multifatorial - Fatores genéticos e constitucional - Dieta pobre em fibras - Baixa ingesta de água - Fatores psicossociais - Distúrbios comportamentais O comportamento de retenção é um fator etiológico importante, especialmente em crianças pequenas; isso ocorre geralmente após uma experiência negativa com a evacuação, como a dor; O comportamento de retenção em crianças mais velhas geralmente ocorre pelo estilo de vida movimentado, sem tempo para uma evacuação adequada. A retenção voluntaria devido ao medo de evacuar leva a um ciclo vicioso de impactação fecal, e isso leva a algumas consequências: - Incontinência fecal - Perda da sensação de distensão retal (um dos principais estímulos para a evacuação) - Perda da urgência normal de defecar QUADRO CLÍNICO Critérios de Roma IV Defecação dolorosa e, às vezes, infrequente Incontinência fecal Dor abdominal Medo de evacuar Escape fecal ou Soilling -> perda involuntária de fezes moles que passam pela obstrução de massa fecal DIAGNÓSTICO História clínica + exame físico completo; na maioria dos casos, exames complementares não são necessários. Muitas vezes o início dos sintomas começa com eventos da vida, tais como divórcio dos pais, nascimento de irmão, mudança de escola – procurar por eventos na história da criança que possam precipitar isso. 1) História clínica Frequência Início e duração Escala de Bristol das fezes Numero de episódios e tempo de incontinência fecal Movimentos intestinais dolorosos Sangramentos a passagem das fezes Interrogar sobre sintomas abdominais História alimentar Investigar possíveis sinais se alarme que alertam para uma doença orgânica, e não funcional: - Eliminação de mecônio atrasada - História de sangue nas fezes, sem fissuras - Distensão abdominal grave - Failure to thrive -> criança que não ganha peso ou estatura - Fezes grossas em lactentes com alimentação exclusiva de leite Complicações: dor abdominal crônica recorrente; incontinência fecal; sangramento retal; enurese; ITU; retenção urinária 2) Exame físico Fezes palpáveis em região de fossa ilíaca esquerda, na região sigmoide Ampola retal com fezes impactadas TRATAMENTO Pode ser farmacológico e não farmacológico. a) Tratamento não farmacológico Mudanças no estilo de vida: - Melhora na qualidade da alimentação; recomendar alimentos ricos em fibras; aumentar a ingesta de água e líquidos; incentivar a atividade física normal; - Treinamento de toalete Apoio psicológico: perder o trauma (se existir) de evacuar. b) Farmacológico Desimpactação - Clister glicerinado 10-30 mL/Kg via retal - Polietilenoglicol – dose dobrada ou triplicada Manutenção - Polietilenoglicol sem eletrólitos (PEG 4000) 0,2-0,8 g/Kg Esses fármacos agem com efeito osmótico, atraindo água para a luz intestinal, dissolvendo as fezes. Além do polietilenoglicol, outros fármacos podem ser utilizados.
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