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O SUJEITO PARA A PSICANÁLISE

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O SUJEITO DA PSICANÁLISE – GRUPO 2
Na psicanálise, o que chamamos de campo psicanalítico é composto por dois conceitos, sendo estes o aparelho psíquico e o campo pulsional. É necessário pontuar que é impossível falar sobre aparelho psíquico sem falar também sobre o campo pulsional, que seria a articulação do simbólico e que está inteiramente ligada a este primeiro conceito. A articulação desses dois conceitos irá constituir então o sujeito e a subjetividade do mesmo. Para compreendermos o desenvolvimento da psicanálise devemos lembrar o período em que ela surgiu e se desenvolveu. Período esse que era caracterizado pela passagem para a modernidade, tempo onde a ciência estava começando a ganhar mais força sobre o discurso teológico e como isso a subjetividade passa a ser compreendida pela razão. Neste período surge o pensamento Cartesiano, onde ocorria um autocentramento do sujeito no Eu, subjugando assim o inconsciente e tratando este como uma espécie de conhecimento desconhecido. Este conceito cartesiano caracterizava a subjetividade como unificada e governada pela consciência, o que reduziria o conceito de inconsciente a um estado temporário. Em meio a este contexto surgem pensadores como Marx e Nietzsche que iriam romper com as noções de sujeito e valores produzidos pela modernidade até então. Esses pensadores e suas ideias contribuíram de forma a levantarem questionamentos sobre tais assuntos e abrirem espaço para novas ideias acerca disso tudo. Marx trouxe o descentramento do eu através da política e economia, tendo como ordenadoras da sociedade as forças produtivas. Já Nietzsche trouxe as noções de força e poder como centrais e ordenadoras da humanidade. Freud vem a trazer novas concepções a cerca do eu, concepções essas que vem a ser contra as noções cartesianas onde o inconsciente era tratado apenas como algo desconhecido e pouco importava para o sujeito. Freud traz o inconsciente como de extrema importância para a constituição do sujeito e para a compreensão deste e que o inconsciente possui suas próprias regras e que eles se manifestam sim na vida do sujeito, porém de forma metafórica, como por exemplo, os chistes, sonhos, atos falhos, entre outros. Através das teorias psicanalíticas e tendo como base alguns pensadores tais como Hegel e Heidegger, Lacan faz uma releitura sobre as obras de Freud resgatando o que julgava ter sido esquecido e distorcido e elabora então suas próprias teorias, tendo como base o sujeito e o inconsciente assim como Freud. Lacan vem a não clivar suas teorias na neurologia e fisiologia como Freud, mas sim trabalhar com o que veio a nos apresentar como imaginário, real e simbólico. Sendo o imaginário um registro psíquico correspondente ao ego (eu) do indivíduo. O indivíduo busca no Outro (pessoas, amor, imagem, objeto) uma sensação de completude, de unidade. No entanto, o Outro não existe para desenvolver a imagem com que o ego (eu) quer ser sustentado. O real seria o registro psíquico que não deve ser confundido com a noção corrente de realidade. O real é o impossível, aquilo que não pode ser simbolizado e que permanece impenetrável no sujeito. E o simbólico seria a relação do sujeito e o grande Outro, onde o sujeito envolve aspectos conscientes e inconscientes. Isto significa que a maneira que o inconsciente se manifesta se dá através da linguagem. Lacan também nos traz a importância do signo para a constituição do sujeito e diferencia significante de significado, sendo o significante a parcela material do signo linguístico, como por exemplo, o som da palavra por si só. Já o significado seria o conceito, o sentido e a ideia que esta palavra teria para o sujeito em questão e que segundo Lacan com base nas obras de Saussure o valor que este signo possui é relativo e dependente de uma série de outros signos do sistema linguístico. É importante ressaltarmos a diferença dos termos utilizados nas psicologias e na psicanálise uma vez que no campo das psicologias o que conceituamos como personalidade é sempre resultado da interação de fatores constitucionais, sociais e genéticos. Já a psicanálise conceitua a psique e o psiquismo, que são termos das psicologias, como campo do sujeito e que não é resultado de um efeito interativo. Para a psicanálise o que sustenta o desejo é a pulsão de morte, pois a mesma rodeia o sujeito, ou seja, o sujeito na visão psicanalítica não é um sujeito biológico, excluindo assim o extinto e a necessidade. O texto mostra que há uma desnaturalização, pois não podemos pensar que o sujeito terá uma necessidade e que irá suprir a necessidade com um objeto específico. Devemos pensar no sujeito como um sujeito de pulsões e em como a pulsão se relaciona em alguns aspectos do aparelho psíquico, contribuindo assim para a constituição do sujeito. Podemos afirmar então que para a psicanálise só existe sujeito porque existe a linguagem. Como pudemos ver, o sujeito é um ser constituinte da linguagem, refletido e estruturado a partir de sua relação com um Outro. Em primeiro momento, esse Outro – primordial para sua constituição – é o que a psicanálise intitula como “Outro materno” que, por conseguinte, possui demandas maternas, de grande importância para o processo de sexualidade infantil, parte de seu desenvolvimento. Em contrapartida, num determinado momento da relação mãe e filho, deve haver a inserção do Nome-do-pai, que se caracteriza pela função paterna de intervir nessa relação, impondo limites no desejo da mãe em relação a criança, de forma que a insira no processo de castração, que ocorre em três tempos dentro do Complexo de Édipo. O primeiro tempo é o momento em que a criança vê a mãe como seu objeto de completude, um ser onipotente e onipresente. Já no segundo, ocorre o reconhecimento da diferença sexual, e a castração imaginária, onde a criança vê o pai como rival e um possível obstáculo em relação ao seu lugar de falo, seu objeto de desejo (mãe). O terceiro é onde acontece a saída do Édipo, já que a criança começa a compreender que não existe e que não pode possuir o falo, deixando de lado, a imagem de completude da mãe. Quando mal sucedidos, esses tempos de Édipo podem ocasionar em três psicopatologias: a neurose, a psicose e a perversão. Na neurose, apesar do sujeito passar pelos três tempos, há uma barragem no momento da castração imaginária, que é instalada no sujeito, e seu campo pulsional é recalcado. Já na psicose, não acontece o processo de castração, sendo assim, o Nome-do-pai é foracluído, ou seja, não ocorre a interseção paterna na relação mãe-filho, fazendo com que ela se torne uma relação simbiótica. E por fim, a perversão, que no segundo tempo de Édipo, acontece uma renegação da castração, onde ela foi imposta, porém negada. Para que a estruturação do sujeito seja formada, é necessário que haja o processo de pulsionalização. Quando essa inscrição pulsional falha, ocorre o que o autor denomina de estado-limite, que pode desencadear em diversos fenômenos, depressão, ansiedade, perversões, etc. A pulsionalização, a partir da demanda da mãe, ocorre em dois tempos, sendo eles, a alienação e a separação. A alienação é o momento em que a mãe tem o bebê como seu objeto de desejo, e para que o sujeito se estruture e se torne um ser desejante, essa alienação precisa ser barrada. Entre esses dois tempos, ocorre o que Lacan caracteriza como efeito afânise, que é o momento no qual o sujeito sofre um desaparecimento em relação ao Outro, onde há um primeiro significante/sentido, inconscientemente sofrendo aquela perda, entrando no processo de separação. A separação é percebida no sujeito quando ele ressignifica e se apropria de seus significantes, pondo em pauta ali, o seu objeto de desejo, que, sendo variável, o torna um ser não só de desejo, mas de falta. Durante esse tempo, a falta do sujeito recobre a falta do Outro, a partir do momento em que ele percebe que o Outro também pode “perde-lo”, fazendo com que este se livre do efeito afânise, o que Lacan denomina como função de liberdade. Uma nova forma de funcionamento do laço social se estabeleceucom o nascimento da ciência moderna: a autoridade de Deus é abalada e em seu lugar se estabelece o saber, um saber que se pretende totalizador, capaz de dominar a realidade e transpor os limites humanos. Em outras palavras, a ciência moderna desbanca a autoridade religiosa, a tradição e o lugar do Mestre em sua relação com a transmissão do saber. Nesse novo laço social, o saber é norteador - mas agora de forma acéfala, pois não mais enunciado por um Mestre - e encaminha a busca, imaginariamente, de um domínio pleno da realidade. Ao discurso da ciência, nada escapa e este não comporta o efeito atrelado à função paterna de fazer corte, limite, e instituir a falta, a não-completude. Assim, temos as consequências nefastas da falência, da queda do Outro e, portanto, da lei da castração em nossa cultura. Privados da alteridade radical do Outro, os homens são arrancados do domínio da Lei, arremessados em relações de horizontalidade permeadas por um ideário de pretensa igualdade. Cada vez mais, a tecnologia, em nome da ciência, ou ainda, a ciência em nome do avanço tecnológico, trabalha no sentido da manipulação, do controle, da racionalização e, portanto, da exclusão do sujeito. Para a psicanálise, essa instauração da lei da castração constitui os sujeitos, que, marcados pela falta, tornam-se sujeitos do desejo. Em conjunto com esse novo ordenador social, o discurso da ciência, temos a instalação do eixo central da modernidade, que é a categoria do indivíduo e a regulação do espaço social em torno dessa mesma categoria e, cada vez mais, na direção liberal da anulação da falta, do limite e da diferença. O Sujeito contemporâneo é citado no texto sob influência de uma contemporaneidade que abrange diversas alterações que o mesmo sofre em sua existência, enquanto vivência, conhecimento e internalizações. Ao mesmo passo em que é possível enxergar que as mudanças são eminentes e evidentes, também se faz complicado o processo de identificação de tais fatores de mudança. A partir dessa perspectiva é pensado o conceito de clínica social, mediante raciocínio de que novas formas de adoecimento social partem dessas transformações. A partir dos conceitos expostos no texto, é possível compreender que as mudanças promovidas pelo mundo contemporâneo estão abrindo caminhos para um predomínio da individualidade – e pela busca desta – como tentativa para alcançar a subjetivação/concretização do eu, ao invés de tornar eminente a promoção de laços que fortaleçam uma cultura. Em suma, o texto propões que o sujeito é definido pelo que Freud conceitua como o sujeito do desejo, marcado e movido pela falta, distinto do ser biológico e do sujeito da consciência filosófica. Esse sujeito se constitui por sua inserção em uma ordem simbólica que o antecede, atravessado pela linguagem, tomado pelo desejo de um Outro e mediado por um terceiro. Na atualidade existe um conflito com esse sujeito descrito por Freud, pois devido ao momento social atual o conceito de sujeito de desejo acaba se transformando no sujeito em estado-limite. Um sujeito à mercê de um Outro, pouco interditado, pouco marcado por uma falta simbólica e, portanto, imaginariamente passível de completude, o que torna o sujeito suscetível à objetalização. Apatia, alienação e angústia são marcas comuns, em que a falta não se instala de maneira efetiva, pondo em questão o estatuto do sujeito do desejo. 
REFERÊNCIAS:
C. FACCI TOREZAN, Zeila; AGUIAR, Fernando. O Sujeito da Psicanálise: Particularidades na Contemporaneidade. Revista Mal-estar e Subjetividade, Fortaleza, v. XI, p. 525-554, 2011.

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