Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXAME CLÍNICO: ANAMNESE - A naturalidade e o local da residência relacionam-se com as doenças endêmicas. - Dentre os antecedentes pessoais, destacam-se a relação entre infecções estreptocócicas, principalmente da bucofaringe, e lesões orovalvares de etiologia reumática. - A influência de fatores genéticos pode ser avaliada pela análise dos antecedentes familiares, sendo indiscutível sua importância na hipertensão arterial essencial e na cardiopatia isquêmica. - Dentre os hábitos de vida, destacam-se o tabagismo, o alcoolismo e o sedentarismo, relacionados com o aparecimento de aterosclerose e hipertensão arterial. - As condições socioeconômicas e culturais, as quais quase sempre estão associadas, também influem nas doenças do coração. Assim, a doença reumática é mais frequente em pessoas de renda mais baixa, seja em consequência das más condições alimentares e habitacionais ou por falta de tratamento precoce e adequado das infecções estreptocócicas. EXAME CLÍNICO: SINAIS E SINTOMAS Dor precordial - Dor precordial não é sinônimo de dor cardíaca, pois pode ter origem no coração e em outros órgãos ou estruturas como pleura, esôfago, aorta, mediastino, estômago e na própria parede torácica. - A dor relacionada com o coração e com a aorta compreende a de origem isquêmica, a pericárdica e a aórtica. -Na avaliação semiológica da dor precordial, todas as características são importantes: localização, irradiação, caráter, intensidade, duração, frequência, fatores desencadeantes ou agravantes, fatores atenuantes e sintomas concomitantes, os quais podem preceder, acompanhar ou suceder a dor. - Características semiológicas da dor cardíaca: >> Localização: a localização mais típica é a retroesternal, podendo ser sentida à esquerda ou, mais raramente, à direita da linha esternal; pode ser restrita a uma pequena área ou ocupar toda a região precordial. >> Irradiação: está relacionada com sua intensidade. Quanto mais intensa, maior a probabilidade de irradiar-se. >> Duração >> Intensidade: varia de acordo com o grau de comprometimento isquêmico, podendo ser classificada em leve, moderada e intensa. >> Fatores desencadeantes ou agravantes. >> Fatores atenuantes da dor Palpitações - Palpitações significam percepção incômoda dos batimentos cardíacos, sendo relatadas pelos pacientes como “batimentos mais fortes”, “falhas”, “arrancos”, “paradas”, “tremor no coração”, “coração deixando de bater”, “coração aos pulos”. - As palpitações são contrações cardíacas mais fortes e mais intensas, lentas ou rápidas, rítmicas ou arrítmicas, decorrentes de distúrbios do ritmo ou da frequência cardíaca. - Há três tipos principais de palpitações: as palpitações de esforço, as que traduzem alterações do ritmo cardíaco e as que acompanham os transtornos emocionais. - Causas da palpitação: >> Cardíacas: arritmias, insuficiência cardíaca, miocardite, miocardiopatias >> Não cardíacas: hipertensão arterial, hipertireoidismo, anemia, esforço físico, emoções, síndrome do pânico, medicamentos, café, tabaco, drogas ilícitas Dispneia - A dispneia é um dos sintomas mais importantes dos pacientes com cardiopatia e significa a sensação consciente e desagradável do ato de respirar. - Semiologicamente, apresentasse de duas maneiras: uma subjetiva, que é a dificuldade respiratória sentida pelo paciente, e outra objetiva, que se evidencia pela aceleração dos movimentos respiratórios (taquipneia) e pela participação ativa da musculatura acessória da respiração (músculos do pescoço na inspiração e músculos abdominais na expiração). - A dispneia em paciente com uma cardiopatia indica congestão pulmonar. - A dispneia da insuficiência ventricular esquerda apresenta características quanto ao tempo de duração, evolução, relação com esforço e posição adotada pelo paciente Cianose - Significa coloração azulada da pele e das mucosas, em razão do aumento da hemoglobina reduzida no sangue capilar; A cianose é um sinal importante de enfermidade cardíaca, principalmente na infância. Edema - O resultado do aumento do líquido intersticial, proveniente do plasma sanguíneo. Embora possa haver edema intracelular, do ponto de vista semiológico, este termo refere-se ao extracelular ou intersticial. EXAME FÍSICO GERAL: INSPEÇÃO E PALPAÇÃO - Realizam-se a inspeção e a palpação simultaneamente porque os achados semióticos tornam-se mais significativos quando analisados em conjunto. - Os seguintes parâmetros devem ser sistematicamente analisados: pesquisa de abaulamento, análise do ictus cordis ou choque da ponta, análise de batimentos ou movimentos visíveis ou palpáveis e pesquisa de frêmito cardiovascular. Abaulamento - Para facilitar o reconhecimento de abaulamento, a observação da região precordial deve ser feita em duas incidências: tangencial, com o examinador de pé do lado direito do paciente, e frontal, o examinador fica junto aos pés do paciente, que permanece deitado. - Abaulamento desta região pode indicar a ocorrência de aneurisma da aorta, cardiomegalia, derrame pericárdico e alterações da própria caixa torácica. - É importante diferenciar os abaulamentos por alterações da estrutura osteomuscular dos causados pelo crescimento do ventrículo direito. O elemento que os distingue é a ocorrência de impulsão do precórdio, que aparece nos casos de hipertrofia. Ictus cordis - O ictus cordis, ou choque da ponta, é analisado pela inspeção e palpação, investigando-se localização, extensão, mobilidade, intensidade e tipo da impulsão, ritmo e frequência - A localização do ictus cordis varia de acordo com o biotipo do paciente. - Nos mediolíneos, situa-se no cruzamento da linha hemiclavicular esquerda com o 5o espaço intercostal; nos brevilíneos, desloca-se aproximadamente 2 cm para fora e para cima, situando-se no 4o espaço intercostal; nos longilíneos, costuma estar no 6o espaço, 1 ou 2 cm para dentro da linha hemiclavicular. -O deslocamento do ictus cordis indica dilatação e/ou hipertrofia do ventrículo esquerdo, como ocorre em estenose aórtica, insuficiência aórtica, insuficiência mitral, hipertensão arterial, miocardiosclerose, miocardiopatias e algumas cardiopatias congênitas. - A hipertrofia do ventrículo direito pouco ou nada repercute sobre o ictus cordis, pois esta cavidade não participa da ponta do coração. - Avalia-se a extensão do ictus cordis procurando-se determinar quantas polpas digitais são necessárias para cobri-lo. Em condições normais, corresponde a 1 ou duas polpas digitais. Nos casos de hipertrofia ventricular, são necessárias três polpas ou mais. Quando há grande dilatação e hipertrofia, o ictus cordis pode chegar a abarcar toda a palma da mão. - A intensidade do ictus cordis é avaliada mais pela palpação do que pela inspeção. Para fazê-la corretamente, repousa-se a palma da mão sobre a região dos batimentos. - É na hipertrofia ventricular esquerda que se constatam os choques de ponta mais vigorosos. Quando a hipertrofia ventricular esquerda é consequência da insuficiência aórtica, encontra-se ictus cordis de grande intensidade. - As hipertrofias ventriculares impulsionam as polpas digitais com maior vigor que as dilatações. Contudo, cumpre lembrar que, na maioria das cardiopatias, a hipertrofia e a dilatação estão combinadas. - Fala-se em ictus cordis difuso quando sua área corresponde a três ou mais polpas digitais; e ictus cordis propulsivo, quando a mão que o palpa é levantada a cada contração, a primeira indicando dilatação e a segunda, hipertrofia. Batimentos ou movimentos - Além do ictus cordis, podem ser encontrados no precórdio e áreas vizinhas outros batimentos visíveis ou palpáveis, ou seja, retração sistólica, levantamento em massa do precórdio, choques valvares, cliques, pulsação epigástrica e pulsação supraesternal. - O levantamento em massa do precórdio, também denominado impulsão sistólica,ocorre na hipertrofia do ventrículo direito. Quando as bulhas cardíacas se tornam hiperfonéticas, podem ser sentidas pela mão como um choque de curta duração. A este fenômeno, denomina-se choque valvar. Frêmito cardiovascular - Frêmito cardiovascular é a designação aplicada à sensação tátil determinada por vibrações produzidas no coração ou nos vasos. - Características a serem investigadas no frêmito: localização, usando-se como referência as áreas de ausculta; situação no ciclo cardíaco, diferenciando-se, então, pela coincidência ou não com o ictus cordis ou o pulso carotídeo, os frêmitos sistólico, diastólico e sistodiastólico; e intensidade, avaliada em cruzes (+ a ++++). - Os frêmitos correspondem aos sopros e a sua ocorrência têm grande importância no raciocínio clínico. EXAME FÍSICO GERAL: AUSCULTA - Os focos de ausculta não correspondem às localizações anatômicas das valvas que lhes emprestam o nome. - A projeção das valvas e dos anéis orovalvares concentra-se na região correspondente à metade inferior do esterno, enquanto os focos ou áreas de ausculta localizam-se em diferentes regiões. >> O foco ou área mitral situa-se no 5o espaço intercostal esquerdo na linha hemiclavicular e corresponde ao ictus cordis ou ponta do coração. - Nos pacientes com cardiomegalia acentuada, este foco desloca-se lateralmente na direção da linha axilar anterior. - Antes de começar a ausculta do coração, é indispensável localizar o ictus cordis, pois, nesta área, melhor serão percebidos os fenômenos estetoacústicos (alterações de bulhas, estalidos, sopros, originados em uma valva mitral estenótica e/ou insuficiente). >> O foco ou área pulmonar localiza-se no 2o espaço intercostal esquerdo, junto ao esterno. É neste foco em que se têm as condições ideais para a análise dos desdobramentos da 2a bulha pulmonar. - Os fenômenos acústicos originados nas valvas pulmonares, normais ou lesadas, são audíveis apenas nesta área, pouco ou nada se irradiando para os demais focos >> O foco ou área aórtica situa-se no 2o espaço intercostal direito, justaesternal. No entanto, deve-se estar consciente de que, muitas vezes, o melhor local para perceber os fenômenos acústicos de origem aórtica é a área compreendida entre o 3o e o 4o espaço intercostal esquerdo, nas proximidades do esterno, à qual se dá a denominação de foco aórtico acessório. >> O foco ou área tricúspide corresponde à base do apêndice xifoide, ligeiramente para a esquerda. - Para fazer uma boa ausculta do coração, o examinador deve levar em conta os seguintes aspectos: estetoscópio, ambiente em que se faz ausculta, posição do paciente e do examinador, orientação do paciente, escolha do receptor adequado, aplicação correta do receptor, manobras especiais. - A posição padrão é o decúbito dorsal com a cabeça apoiada em um pequeno travesseiro, com o tórax completamente descoberto. O médico fica do lado direito, de pé ou sentado, conforme a altura da cama ou da mesa de exame. - Outra posição de rotina é com o paciente de pé ou sentado na beira do leito ou em uma cadeira, com o tórax ligeiramente inclinado para frente. O examinador põe-se de pé do lado direito do doente. Esta última posição é mais propícia para a ausculta dos fenômenos estetoacústicos originados na base do coração. - Uma terceira posição é a do paciente deitado em decúbito lateral esquerdo com a mão esquerda na cabeça (desse modo, evita-se que o braço fique acolado ao tórax, impedindo livre acesso ao precórdio). O médico continua de pé do lado direito. Esta posição é mais adequada para auscultar os fenômenos da área mitral. - Quando há hipofonese das bulhas ou quando se quer tornar mais nítidos os sons originados na base do coração, solicita-se ao paciente que assuma a posição de pé, debruçando-se sobre a mesa de exame. Assim postado, obtém-se maior aproximação do coração à parede torácica, tornando as bulhas e os outros sons mais audíveis. - Ao se auscultar o coração, os seguintes aspectos devem ser sistematicamente considerados: bulhas cardíacas, ritmo e frequência cardíaca, ritmos tríplices, alterações das bulhas cardíacas, cliques ou estalidos, sopros, ruído da pericardite constritiva, atrito pericárdico e rumor venoso. ⇨ BULHAS CARDÍACAS > Primeira bulha: o principal elemento na formação da 1a bulha cardíaca é o fechamento das valvas mitral e tricúspide, o componente mitral (M) antecedendo o tricúspide (T). - A bulha cardíaca (B1) coincide com o ictus cordis e com o pulso carotídeo. É de timbre mais grave e seu tempo de duração é um pouco maior que o da 2a bulha (“TUM”). > Segunda bulha: a 2a bulha (B2) é constituída de quatro grupos de vibrações; mas somente são audíveis as originadas pelo fechamento das valvas aórtica e pulmonar. - Ouve-se o componente aórtico em toda a região precordial, enquanto o ruído originado na pulmonar é auscultado em uma área limitada, correspondente ao foco pulmonar e à borda esternal esquerda. Por isso, no foco aórtico e na ponta do coração, a 2a bulha é sempre única pelo simples fato de se auscultar nestes focos somente o componente aórtico. - Em condições normais, o componente aórtico precede o pulmonar. - Durante a expiração, ambas as valvas se fecham sincronicamente, dando origem a um ruído único. - Na inspiração, principalmente porque a sístole do ventrículo direito se prolonga ligeiramente em função do maior afluxo sanguíneo a este lado do coração, o componente pulmonar sofre um retardo que é suficiente para perceber, nitidamente, os dois componentes. A este fato, se chama desdobramento fisiológico da 2a bulha cardíaca. - A 2a bulha vem depois do pequeno silêncio, seu timbre é mais agudo, soa de maneira mais seca, de tal modo que a designamos pela expressão TA. Quando a bulha está desdobrada, seu ruído corresponde à expressão “TLA”. > Terceira bulha A 3a bulha é um ruído protodiastólico de baixa frequência que se origina das vibrações da parede ventricular subitamente distendida pela corrente sanguínea que penetra na cavidade durante o enchimento ventricular rápido. - É mais audível na área mitral, com o paciente em decúbito lateral esquerdo; o receptor mais apropriado é o de campânula, isto porque esta bulha é um ruído de baixa frequência. Pode ser imitada pronunciando-se de modo rápido a expressão “TU” >> Quarta bulha: A 4a bulha é um ruído débil que ocorre no fim da diástole ou pré-sístole; brusca desaceleração do fluxo sanguíneo mobilizado pela contração atrial de encontro à massa sanguínea existente no interior do ventrículo, no final da diástole. > Localização dos fenômenos acusticos: - Protossístole = terço inicial da sístole - Mesossístole = terço médio da sístole - Telessístole = terço final da sístole - Protodiástole = terço inicial da diástole - Mesodiástole = terço médio da diástole - Telediástole (pré-sístole) = terço final da diástole. ⇨ SOPROS - Os sopros são produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo. - Em condições normais, o sangue flui sob a forma de corrente laminar, com velocidade um pouco mais rápida na porção central, tal como as águas de um rio sem obstáculos no seu leito. Fato fundamental é que flua sem formar turbilhões, pois, quando isso acontece, o fluxo deixa de ser laminar, e surgem vibrações que dão origem aos ruídos denominados sopros. Mecanismos formadores de sopro: >> Aumento da velocidade da corrente sanguínea: isso pode levar à formação de turbulência capaz de dar origem a sopros. Este é o mecanismo dos sopros que surgem após exercício físico, na anemia, no hipertireoidismo e na síndrome febril. >> Diminuição da viscosidade sanguínea: a viscosidade do sangue exerce efeito amortecedor sobre a turbulência dosangue. Os sopros que se auscultam nos portadores de anemia (sopros anêmicos) decorrem, em parte,da diminuição da viscosidade sanguínea que acompanha esta afecção. >> Passagem do sangue através de uma zona estreitada: nesta condição, o fluxo sanguíneo sofre radicais modificações, deixando de ser laminar para se fazer em turbilhões. O turbilhonamento produz vibrações que correspondem aos sopros. -Os defeitos valvares (estenose e insuficiência) e algumas anormalidades congênitas (comunicação interventricular, persistência do canal arterial) representam zonas de estreitamento entre duas câmaras cardíacas ou entre uma câmara e um vaso ou entre dois vasos. >> Passagem do sangue por uma zona dilatada: a explicação é a mesma descrita no item anterior. Por meio deste mecanismo, explicam-se os sopros de alguns defeitos valvares, dos aneurismas e o rumor venoso. >> Passagem do sangue por uma membrana de borda livre: quando isso acontece, originam-se vibrações que se traduzem também como sopros. Características semiológicas do sopro: - Para se avaliar semiologicamente um sopro, é necessário investigar os seguintes parâmetros: situação no ciclo cardíaco, localização, irradiação, intensidade, timbre e tom, modificações com a fase da respiração, posição do paciente e exercício físico. >> Situação no débito cardíaco: fazer a ausculta do coração, palpe concomitantemente o pulso carotídeo (e não o pulso radial) e, por meio dele, determine o que é sistólico e o que é diastólico. Quanto à situação no ciclo cardíaco, os sopros podem ser sistólicos, diastólicos e sistodiastólicos ou contínuos. -> Sopro de ejeção (sistólico): - Começa alguns centésimos de segundo após a 1a bulha. A princípio, a ejeção é lenta, passando a ser máxima na mesossístole e voltando a se reduzir na telessístole. Por esse motivo, do ponto de vista estetoacústico, o que se observa é um sopro crescendo-decrescendo - O sopro termina antes da segunda bulha (B2) porque na última fase da sístole as pressões no interior dos ventrículos praticamente se igualam às pressões na aorta e na pulmonar, não havendo quase nenhuma ejeção de sangue neste momento. Este sopro aparece na estenose aórtica e na estenose pulmonar. -> Sopro de regurgitação (sistólico): - Este tipo de sopro, audível desde o início da sístole, surge junto com a primeira bulha, recobrindo-a e mascarando-a. Ocupa todo o período sistólico (holossistólico) com intensidade mais ou menos igual e termina imediatamente antes da segunda bulha ou pode recobri-la. Esses sopros são causados pela regurgitação de sangue do ventrículo para o átrio, quando há insuficiência mitral ou tricúspide. -> Sopros diastólicos - Surgem durante a diástole e, conforme o momento em que nela se situam, são classificados em protodiastólicos, mesodiastólicos e telediastólicos ou pré-sistólicos. - O sopro diastólico das estenoses atrioventriculares (estenose mitral e estenose tricúspide) ocupa a parte média da diástole, momento em que se dá o enchimento rápido dos ventrículos. - Existe um nítido intervalo entre a 2a bulha e o início desses sopros. Outra característica importante é sua qualidade, ou seja, são sopros de baixa frequência e tom grave, o que lhes confere o caráter de “ruflar”. -> Sopros contínuos: - São ouvidos durante toda a sístole e a diástole, sem interrupção, recobrindo e mascarando a 1a e a 2a bulha. A parte sistólica desses sopros costuma ser mais intensa e mais rude. São designados sopros “em maquinaria” porque lembram o ruído de máquina a vapor em movimento. ﹡Outro grupo de sopros diastólicos é o que aparece quando as valvas sigmoides aórticas e pulmonares não se fecham completamente. Inicia-se imediatamente após a 2a bulha; São sopros de alta frequência, de intensidade decrescente, tom agudo, qualidades que, em conjunto, conferem a estes sopros caráter aspirativo. São consequência do refluxo de sangue de um dos vasos da base para um dos ventrículos. >> Localização: localiza-se um sopro na área em que é mais bem audível, e como pontos de referência empregam-se as áreas de ausculta e as demais áreas do precórdio. >> Irradiação: depois de estabelecer-se o local de maior intensidade do sopro, desloca-se o receptor do estetoscópio em várias direções para determinar sua irradiação. >> Intensiadde: sofre influência subjetiva; adoção do sistema de cruzes. ◗ + corresponde aos sopros débeis, só audíveis quando se ausculta com atenção e em ambiente silencioso ◗ + + indicam sopros de intensidade moderada ◗ + + + traduzem sopros intensos ◗ + + + + correspondem aos sopros muito intensos acompanhados de frêmito, audíveis mesmo quando se afasta o estetoscópio da parede torácica ou quando se interpõe entre esta e o receptor a mão do examinador. - Como existem outras escalas em uso, é conveniente referir-se à intensidade da seguinte maneira: +/4, + +/4, + + +/4 e + + + +/4. Agindo desse modo, fica claro que está sendo usada a escala de quatro graduações. - Quando o volume sanguíneo é pequeno, o sopro apresenta fraca intensidade. Quando é grande, o sopro torna-se mais intenso. >> Timbre e tom: essas duas características, com frequência referidas sob a designação simplificada de “qualidade ou caráter do sopro”, estão relacionadas com a velocidade do fluxo e com o tipo de defeito causador do turbilhonamento sanguíneo. Utilizam-se várias denominações, quase todas procurando caracterizar de modo comparativo a qualidade de um sopro. As mais comuns são: suave, rude, musical, aspirativo, em jato de vapor, granular, piante e ruflar. >> Relação do sopro com a posição do paciente: os sopros da base do coração, particularmente o da insuficiência aórtica, tornam-se mais nítidos quando o paciente está na posição sentada com o tórax fletido para a frente. O ruflar diastólico da estenose mitral torna-se mais intenso no decúbito lateral esquerdo. ﹡Manobra de Rivero-Carvallo: - Com o paciente em decúbito dorsal, coloca-se o receptor do estetoscópio na área tricúspide, conferindo especial atenção à intensidade do sopro. Em seguida, solicita-se ao paciente que faça uma inspiração profunda, durante a qual o examinador procura detectar qualquer modificação na intensidade do sopro. - Se não houver alteração ou se o sopro diminuir de intensidade, diz- se que a manobra de Rivero Carvallo é negativa. Neste caso, o sopro audível naquela área não passa de propagação de um sopro originado na valva mitral. - Se, ao contrário, o sopro aumenta de intensidade, é correto concluir-se que se trata de um sopro originado no aparelho valvar tricúspide. Defeitos orovalvares: >> ESTENOSE MITRAL - Como consequência de anomalia congênita (valva bicúspide), da moléstia reumática ou degeneração senil com calcificação dos folhetos valvares, o orifício mitral pode ficar estreitado. Nessas condições, durante a diástole o sangue tem dificuldade de fluir do átrio para o ventrículo esquerdo. - Presença de sopro mesodiastólico, de baixa frequência e tem o som de ruflar. É mais audível com o receptor de campânula e com o paciente em decúbito lateral esquerdo. >> INSUFIICÊNCIA MITRAL - A insuficiência mitral se instala quando os folhetos desta valva não se fecham adequadamente durante a sístole ventricular, permitindo refluxo de uma determinada quantidade de sangue para o átrio. - A primeira bulha fica mascarada (recoberta) pelo sopro. - A insuficiência mitral pode ser consequência de alteração da estrutura do aparelho valvar – insuficiência mitral orgânica, cujas etiologias principais são a moléstia reumática, o prolapso mitral e a endocardite infecciosa – ou depender de uma alteração miocárdica sem lesão das valvas (cardiomiopatias, miocardites, infarto do miocárdio). Nessa eventualidade, trata-se de insuficiência mitral funcional. - Presença de sopro sistólico de regurgitação, indicativo do refluxo de sangue; algumas vezes, suave, outras, rude. >> ESTENOSE AÓRTICA - Em pessoas jovens ou adultas, a causa mais comumdeste defeito valvar é a moléstia reumática, que pode provocar fusão dos sigmoides aórticos; pode ser também por anomalia congênita. Em pacientes idosos, a principal causa é degeneração senil dos folhetos. - Há dificuldade de esvaziamento do ventrículo esquerdo e turbilhonamento do sangue ao passar pela valva estreitada. - À ausculta, percebe-se um sopro sistólico de ejeção com máxima intensidade na área aórtica. Este sopro irradia-se para o pescoço, acompanhando a direção da corrente sanguínea, e varia de intensidade (+ a + + + +) em função da importância do estreitamento. - Mais bem audível quando o paciente está sentado. A 2a bulha no foco aórtico costuma estar diminuída. >> INSUFICIÊNCIA AÓRTICA - A incapacidade de fechamento das sigmoides aórticos pode ser consequência de moléstia reumática, endocardite infecciosa, degeneração senil e dissecção aórtica com comprometimento do aparelho valvar. - Presença de sopro diastólico, audível logo após a 2a bulha, e que ocupa a proto, a meso ou toda a diástole. >> INSUFICIÊNCIA TRICÚSPIDE - A insuficiência tricúspide é um defeito valvar quase sempre secundário à dilatação do anel orovalvar; vale dizer, é mais comum a insuficiência funcional do que a orgânica. Quando orgânica, a causa costuma ser a moléstia reumática. - O refluxo do sangue do ventrículo direito para o átrio provoca um sopro sistólico de regurgitação, localizado na área tricúspide e que se irradia em raio de roda, atingindo inclusive a área mitral. Pode ser audível na área mitral e despertar a suspeita de insuficiência mitral. - Para diferenciar a insuficiência mitral da insuficiência tricúspide, lança-se mão da manobra de Rivero-Carvallo, que é positiva na insuficiência tricúspide. - O sopro da insuficiência tricúspide varia de intensidade (+ a + + + +) e de qualidade. Suave, rude, em jato de vapor, piante ou musical são as designações mais usadas para descrevê-lo, conforme o timbre e o tom. >> ESTENOSE PULMONAR - Quanto mais grave for a estenose, tanto mais hipofonética e desdobrada será a segunda bulha, com diminuição do seu segundo componente. O desdobramento mais amplo se deve ao aumento do período ejetivo do ventrículo direito. - O refluxo de sangue para o ventrículo direito origina um sopro diastólico, audível após a 2a bulha, localizado na área pulmonar e borda esternal esquerda até a área tricúspide. Não deve ser confundido com o sopro da insuficiência aórtica, também audível nesta região.
Compartilhar