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Beatriz Maia de Araújo | UnP | Turma 24 pág. 1 DEFINIÇÃO Processo patológico e irreversível do fígado no qual há fibrose em ponte e rearranjo da arquitetura lobular. ACHADOS PERIFÉRICOS - Telangiectasias (hiperestrogenismo); - Atrofia testicular, redução da massa muscular, rarefação pilosa, queda de libido e impotência masculina (hipoandrogenismo); - Ginecomastia (hiperestrogenismo + hipoandrogenismo); - Baqueteamento digital; - Icterícia (quando a bilirrubina sérica é > 2,5mg/dL). DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS - Causados pela disfunção hepatocelular e pela hipertensão portal; - A cirrose causa vasodilatação esplâncnica por aumento da síntese de óxido nítrico (NO) e essa vasodilatação gera um estado hiperdinâmico com ↓RVP e ↑DC; - A vasodilatação esplâncnica também é responsável por uma má distribuição da volemia, reduzindo o volume circulante efetivo com tendência à hipotensão arterial. Na tentativa de manter a PA o corpo reage ativando o SRAA, SNC e aumentando o ADH, o que gera retenção de sódio e água, mas não aumenta o volume arterial efetivo pois o baço, com seus vasos dilatados, “rouba” o volume extra conseguido. Inefetiva, a retenção continua e o excesso de líquido começa a transudar para a cavidade peritoneal gerando ascite; - No tratamento com diuréticos o paciente deve perde 0,5kg/dia se apenas ascite e 1kg/dia se tiver ascite + edema de MMII. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA - Causada pela passagem de substâncias tóxicas para o cérebro (principalmente a amônia) devido à disfunção hepática como também pela hipertensão portal; - Alguns fatores podem precipitar a EH, como: Beatriz Maia de Araújo | UnP | Turma 24 pág. 2 - Na cirrose há uma maior propensão à HDA devido aos distúrbios de coagulação, presença de varizes esofagogástricas (clássicos da HP) e aumento do risco de úlcera péptica (↑histamina que gera ↑HCL); o sangramento desencadeia a HE pela geração de amônia no metabolismo da hemoglobina; - Os diuréticos podem causar HE por provocarem hipocalemia, alcalose metabólica, desidratação; - Todo paciente com ascite + encefalopatia deve ter o líquido ascítico investigado para infecção, pois esta é fator precipitante; - A dieta hiperproteica aumenta a produção de amônia pelas bactérias colônicas no metabolismo das proteínas, enquanto a constipação aumenta a proliferação dessas bactérias e o tempo de contato da amônia produzida com a mucosa intestinal (↑ absorção); - No tratamento, deve-se substituir proteínas animais por vegetais, bem como usar lactulose (reduz o pH do lúmen colônico convertendo a amônia em amônio, o qual não é absorvido pelo corpo; aumenta a flora de Lactobacillus e eleva a osmolaridade, aumentando a eliminação de água nas fezes). Alguns antibióticos podem ser usados para reduzir a flora bacteriana produtora de amônia, como neomicina 2-8g/dia VO 6/6h, metronidazol 250mg VO 8/8h e rifaximina 550mg VO 12/12h. DÉFICIT DE SÍNTESE HEPÁTICA A diminuição da funcionalidade do fígado gera algumas alterações diretamente ligadas ao seu metabolismo, as principais são: HIPOALBUMINEMIA - Gera diminuição da pressão oncótica capilar e consequente tendência do líquido a extravasar, levando ao edema (que junto ao aumento da pressão hidrostática capilar é ainda maior); - Albumina <3,0 g/dL é altamente sugestiva de cirrose, pois sabendo que a vida da molécula é cerca de 20 dias, se está baixa é sinal de um quadro mais crônico. COAGULOPATIA - Com a redução do fator VII (via extrínseca), há redução da atividade de protrombina e aumento do INR; Obs.: O TP alargado também pode ser indicar colestase. Nesse caso, há suspeita se houver icterícia, colúria e acolia fecal com fosfatase alcalina e gama-GT elevadas. ASCITE - É a causa mais comum de descompensação na cirrose, surgindo cerca de 5 a 10% em pacientes com cirrose compensada, além de representar um prognóstico ruim (a sobrevida cai para 40% em 1 ano); - Ascite e encefalopatia hepática são sinais de gravidade; -Pode ser classificada da seguinte forma: Grau I Detectável apenas no US. Grau II Distensão moderada e simétrica do abdômen. Grau III Grande distensão abdominal. - Ao exame físico abdominal será encontrado: • Macicez móvel – 0,3 a 1L • Skoda – som maciço, >1L • Piparote – deslocamento líquido, 3L - Em todos os pacientes com ascite em grau II ou III ou pacientes hospitalizados com outras complicações deve ser feita paracentese diagnóstica para excluir peritonite bacteriana espontânea (é confirmada a presença de PBE quando há contagem de neutrófilos acima de 250 cels/uL), a partir do líquido também deve ser Beatriz Riscado Beatriz Maia de Araújo | UnP | Turma 24 pág. 3 feito o cálculo do GASA e citologia para diferenciar ascites malignas de não-malignas; - A ascite é complicada quando é refratária, associada a SHR ou há infecção; - Grau I: não há dados suficientes para o tratamento; - Grau II: geralmente é resolvida com baixa ingesta de sódio (1-2g/dia) e excreção renal pelo uso de diuréticos, como espironolactona e furosemida (a perda diária deve ser em média 0,5kg/dia se não houver edema e 1kg/dia em caso de ascite + edema); - Grau III: deve ser tratada com paracentese de alívio. Se a retirada for >5L deve-se dosar 8g/L removido de albumina para evitar a disfunção circulatória pós paracentese (DCPP); A DCPP se manifesta com falência renal, hiponatremia dilucional, encefalopatia hepática e diminuição da sobrevida. - Pacientes com ascite não devem usar AINEs pelo alto risco de pior ainda mais a retenção de sódio, hiponatremia e injúria renal aguda, e devem ter cuidados também com outros medicamentos; - A ascite é considerada refratária quando o paciente precisa de doses muito altas de diuréticos, não responde corretamente (<0,8kg por mais de 4 dias e excreta menos sódio do que consome) ou reaparece em grau II ou III em até 4 semanas da mobilização inicial; - Na ascite refratária os diuréticos devem ser descontinuados (só pode ser mantida, se tolerada, quando a excreção renal de sódio é maior que 30mmol/dia; Obs.: uma das causas de ascite refratária é a encefalopatia hepática e quando há EH associada à ascite não se aumenta a dose dos diuréticos pois faz a EH piorar. MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA - Presente em 75% dos hepatopatas, causada geralmente por hemodiluição e se manifestando de leve a moderada; - A anemia “verdadeira”, com diminuição da massa de hemácias, pode ser induzida pela redução da meia-vida das hemácias de 120 para 20-30 dias, devido ao: • Hiperesplenismo; • Alterações no metabolismo eritrocitário causando instabilidade nas hemácias; • Alterações da composição lipídica das membranas do eritrócito, aumentando o teor de colesterol e de lecitina). - E pela redução da resposta eritropoiética, como consequência do: • Efeito do álcool na MO; • Anemia megaloblástica por carência de folato; • Anemia ferropriva por sangramento crônico; • Diminuição da produção de eritropoetina no fígado. HIPERESPLENISMO - A hipertensão portal gera esplenomegalia e consequentemente hiperesplenismo aumentando: • A hemólise, com uma tentativa de compensação pela MO gerando reticulocitose; • Trombocitopenia, pelo grande “sequestro” de plaquetas. Na HP grave pode haver plaquetopenia na faixa de 30.000-60.000/mm³. Pode haver neutropenia leve/moderada associada. SÍNDROME HEPATORRENAL - Insuficiência renal funcional (não há alteração histopatológica); Beatriz Maia de Araújo | UnP | Turma 24 pág. 4 - Perda progressiva secundária à vasoconstrição renal (↓ TFG) e vasodilatação extrarrenal, havendo queda da RVP e, eventualmente, hipotensão arterial; - A vasodilatação esplâncnica é importante na gênese e écausada pela translocação bacteriana intestinal. Os vasos dilatados “sequestram” o volume circulante, ativando o SRAA que leva à vasoconstrição renal; - SHR tipo 1: evolui em <2 semanas com valores de Creatinina > 2,5mg/dL ou queda no clearance para <50% do valor inicial (nível absoluto <20mL/min). Prognóstico extremamente ruim na ausência de tratamento; - SHR tipo 2: evolução mais insidiosa e prognóstico melhor. Creatinina > 1,5mg/dL e clearance <40mL/min. Os pacientes se apresentam com ascite refratária; - A SHR pode ser espontânea ou precipitada por um evento agudo, como: - O tratamento tem vários componentes: • Conservador – repouso, manutenção da euvolemia e retirada de agentes nefrotóxicos; • Paracentese; • Farmacológico – vasoconstrictor esplâncnico (terlipressina) + infusão de albumina. A resposta inicial deve ser observada em 3 dias, podendo-se manter o esquema por 14 dias ou até a resolução completa; • TIPS – alternativa quando os fármacos não funcionam. Contras: risco de encefalopatia, exclusão de pacientes com EH severa, bilirrubina >5mg/dL, Child-Pugh >11 e disfunção cardíaca/pulmonar importante. Não aumenta a sobrevida; • Transplante hepático – aumenta a sobrevida, quando há reversão da SHR com a terapia farmacológica antes o resultado é melhor. SÍNDROME HEPATOPULMONAR - Pode ocorrer em 5-10% dos pacientes com cirrose hepática, mas não é exclusiva das doenças cirróticas; - Tríade clínica: doença hepática crônica + hipoxemia + dilatações vasculares intrapulmonares (DVIP); - O paciente apresenta dispneia, cianose central e periférica, baqueteamento digital, aranhas vasculares, platipneia, ortodeoxia; - Mortalidade de 40% em 2,5 anos; Beatriz Maia de Araújo | UnP | Turma 24 pág. 5 - Ocorre um shunt arteriovenoso no qual hemácias não oxigenadas se unem às oxigenadas; - Exames complementares: • Gasometria arterial – pode apresentar hipoxemia, hipocapnia, alcalose respiratório e ortodeoxia. Gradiente alvéolo-arterial > 15-20mmHg sugere a presença de shunt. Ortodeoxia é a diminuição de pelo menos 10% da PaO2 quando passa da posição supina para sentada/em pé; • RX de tórax – geralmente normal, mas pode apresentar leve infiltrado intersticial bilateral. Serve para afastar outras causas de hipoxemia (atelectasias, derrame pleural, pneumonia, etc); • Ecocardiograma contrastado – o mais importante, revela o shunt; • Cintilografia pulmonar e TC de alta resolução – mostram indícios da DVIP e vasos dilatados, respectivamente; • Angiografia pulmonar – pode mostrar alterações difusas e aracneiformes correspondentes às DVIP ou comunicações arteriovenosas localizadas. Usada nos casos em que há dúvida no diagnóstico. - Tratamento: oxigenoterapia, transplante hepático. HIPERTENSÃO PORTA - Gerada pelo aumento da resistência vascular em nível pré, intra e pós-hepática + aumento do fluxo sanguíneo portal devido à vasodilatação esplâncnica; - Deve ser suspeitada quando o paciente tem ascite, esplenomegalia, encefalopatia ou varizes gastroesofágicas (geradas pela liberação de VEGF, angiogênico que propaga a formação dos colaterais portossistêmicos); - O diagnóstico é feito com: • US-doppler; • Endoscopia digestiva alta – a presença de varizes esofagogástricas fecha o diagnóstico; • Antio-TC e RM – em caso de dúvida no US-doppler; • Angiografia – usado no planejamento cirúrgico; • Elastografia transitória (fibroscan). VARIZES ESOFAGOGÁSTRICAS VARIZES ESOFAGIANAS - Complicação da HP, presente em 40% dos pacientes Child A e 85% nos Child C; - Evoluem para sangramento em 30-40% dos casos e são a causa mais comum de HDA em pacientes com HP; - São indicativas de altas taxas de mortalidade, com 25-30% já no primeiro sangramento; VARIZES GÁSTRICAS - Podem ser isoladas ou associadas as esofágicas (mais comum), responsáveis por até 10% dos episódios de HDA no cirrótico; - O diagnóstico é feito com endoscopia convencional + US endoscópica; - Têm menor risco de sangramento que as esofagianas e maior incidência de encefalopatia; - Conduta no sangramento: • Controle respiratório e hemodinâmico; Beatriz Maia de Araújo | UnP | Turma 24 pág. 6 • Terapia endoscópica para varizes esofágicas e ligadura elástica para as gástricas; • Cianoacrilato; • Vasoconstrictores esplâncnicos – trelipressina 250-500mcg/h ou octreotídeo 50mcg em bolo e 50mcg/h; • Antibioticoterapia profilática – norfloxacina 400mg 12/12h; • Balão de Sengstaken-Blackmore – curta permanência (até 24h), eficaz em 90% dos casos, mas a maioria dos pacientes volta a sangrar. Não é tratamento definitivo e é cada vez menos usado na prática; • TIPS – transjugular intrahepatic postosystemic shunt. Mais seguro que o BSB nas HDA refratárias ao tratamento clínico e endoscópico inicial (ligadura elástica + farmacoterapia). O TIPS é colocado por via percutânea (transjugular) criando uma conexão intra-hepática entre a veia hepática e a veia porta, o que descomprime o sistema e alivia a HP. Uma das complicações é a EH. - Profilaxia secundária: • Ligadura elástica; • Betabloqueadores não seletivos – causam vasoconstrição esplâncnica. Propranolol 20-240mg/dia em doses divididas, nadolol 20-40mg 1x/dia. - Profilaxia primária: • Acompanhamento com EDA a cada 2-3 anos se não houver varizes e anualmente se as varizes forem de pequeno calibre; • Betabloqueador ou erradicação endoscópica nas varizes F2 ou F3 ou F1 + sinais de alto risco (pontos vermelhos, Child B ou C). ESTADIAMENTO O paciente com cirrose é estadiado por duas classificações: - Child-Pugh, preditivo de sobrevida em 1 e 2 anos; Child A: 100-85% | Child B: 80-60% | Child C 45-35% - Score MELD, quando >6 indica a necessidade de transplante. Calculadora aqui. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/multimedia/clinical-calculator/clinicalcalculator_pt_v23357368_pt
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