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Maressa Duarte V O hipotireoidismo é uma síndrome clínica resultando da deficiência da produção ou ação dos hormônios, com consequente lentificação generalizado do metabolismo. Pode ser: Primário – por causa de um mau funcionamento da própria tireoide. Secundário – decorrente de causa hipofisária, por deficiência de tireotrofina ou TSH. Terciário – por deficiência hipotalâmica do hormônio liberador da tireotrofina ou TRH. Tanto a causa hipofisária e hipotalâmica são denominadas hipotireoidismo central. Em casos raros, o hipotireoidismo pode ser decorrente de uma resistência generalizada aos hormônios tireoidianos. O hipotireoidismo primário é o principal tipo, correspondendo por 95% total dos casos. Atinge principalmente mulheres entre 35 e 44 anos de idade. - Idade > 60 anos - Sexo feminino - História familiar - Bócio - Doença nodular tireoidiana - História de radioterapia para cabeça e pescoço - Doença autoimune tireoidiana e extratireoidiana - Fármacos (amiodarona...) - Baixa ingestão de iodo - Síndrome de Down e de Turner A tireoidite de Hashimoto é a causa mais comum de hipotireoidismo, consiste em uma doença autoimune por títulos elevados de anticorpos antiperoxidase (anti-TPO). A doença de Graves pode evoluir para hipotireoidismo devido à agressão glandular pelo processo autoimune. As tireoidites agudas também evoluem para hipo, mas que no caso é transitório. Pode ocorrer pela tireoidite de Riedel, resultado da substituição do tecido tireoidiano por tecido fibroso. O câncer da tireoide não costuma causar. A terapia com iodo para o tratamento de hipertireoidismo é a 2ª causa mais comum de hipotireoidismo. Ocorre dentro do 1º ano após o tratamento. O hipo pós-tireoidectomia subtotal tende a ser mais tardio, sendo observado em até 40% dos pacientes seguidos por 10 anos. As tionamidas em doses excessivas, também podem ser causas. Substâncias como iodo (em quantidade excessiva) e fármacos como medicamentos ricos em iodo (amiodarona, contrastes radiológicos) ou de carbonato de lítio. O uso de interferon-alfa e de interleucina-2 para o tratamento de tumores malignos ou da hepatite B ou C pode resultar em tireoidite indolor e hipotireoidismo. Outros fármacos que podem causar hipotireoidismo e bócio são: ácido paraminossalicílico, fenilbutazona, aminoglutetimida, talidomida e etionamida. O uso dos inibidores da tirosinoquinase (p. ex., sunitinibe, sorafenibe, imatinibe, motesanibe etc.), empregados no tratamento de diversos tipos de tumores, resulta em graus variados de hipotireoidismo. Pode ser decorrente da radioterapia externa da cabeça e do pescoço, bastante comum após a irradiação de linfomas de Hodgkine não Hodgkin, sobretudo quando a tireoide não foi protegida e quando contrastes radiológicos contendo iodo foram usados antes da radioterapia. - Astenia - Sonolência - Intolerância ao frio - Pele seca e Descamativa Os pacientes podem ser assintomáticos ou oligoassintomáticos. - Alteração lipídica com elevação do LDL-c, que pode ser isolado ou associado à hipertrigliceridemia, pela diminuição do T3- dependente da expressão do gene receptor hepático de LDL. - O HDL-c encontra-se inalterado ou um pouco baixo - Voz arrastada - Hiporreflexia profunda - Edema facial - Redução do apetite - Ganho de peso (por edema) Maressa Duarte - Lipidemia pós-prandial - Doença hepática gordurosa não alcóolica - Elevação de PCR, homocisteína e lipoproteína - Hiperprolactinemia, em que 30 a 40% dos casos está associado ao aumento do TRH, com redução do tônus dopaminérgico - Redução de IGF-Q e IGGBP3, pela redução da secreção e GH, resultante do aumento do tônus somatostinérgico - Hiperresponsividade do GH ao teste de estímulo - Aumento do volume hipofisário - Aumento do risco para glaucoma - Nistagmo - Coma mixedematoso (mais grave) - Comuns: cefaleia, tonturas, zumbido no ouvido, astenia, adinamia, fala lenta ou arrastada, hiporreflexia profunda, alterações vestibulares, déficits cognitivos, distúrbios visuais, deficiência auditiva, parestesias - Ataxia e tremores - Agitação e sintomas psicóticos (loucura mixedematosa) - Alterações cutâneas: pele seca, descamativa e áspera, que pode ficar amarelada devido ao acúmulo de caroteno. - Cabelos secos e quebradiços, queda dos cabelos - Fraqueza ungueal - Madarose, ou seja, rarefação do terço distal das sobrancelhas - Edema dos MMII ou generalizado - Processo lento na cicatrização de feridas e ulcerações Fácies Mixedematoa O hipotireoidismo cursa com bradicardia (apesar da anemia), redução do débito cardíaco, hipofonese das bulhas cardíacas, baixa voltagem do QRS e alterações inespecíficas do ST-T. Essas alterações provocam situações como: cardiomegalia, por IC congestiva ou por derrame pericárdico. Há o risco aumentado para doença arterial coronariana aterosclerótica. - Anorexia, constipação intestinal e distensão gasosa - Redução da ingestão alimentar - Retardo no esvaziamento gástrico - Alentecimento do trânsito intestinal - Retenção fecal ou íleo paralítico - Macroglossia (manifestação tardia) - Ascite - Doença hepática gordurosa não-alcoólica - Respirações lentas e rasas - Respostas ventilatórias alteradas a hipercapnia ou hipóxia - Dispneia ocorre em 50% dos casos - Derrame pleural e apneia obstrutiva - Fadiga muscular generalizada - Mialgias e cãibras - Artralgias e derrames articulares - Síndrome do túnel do carpo e pseudogota - NÃO há alterações dos níveis de cálcio e fosfato, nem da densidade mineral óssea - Redução do fluxo sanguíneo renal e da TFG, pela redução do débito cardíaco e do volume sanguíneo - Elevação dos níveis séricos de creatinina, ácido úrico e magnésio - Discreta proteinúria, que pode ocorrer pela IC ou pelo aumento da transudação capilar de proteínas - Nefropatia perdedora de sal, causando deficiência no mecanismo de reabsorção tubular, resultando em poliúria, hiponatremia, hipocalemia, hipocloremia, hipocalcemia, hipomagnesemia e hipofosfatemia. - Mulheres: irregularidades menstruais (oligomenorreia, amneorreia primária ou secundária e menorragia), anovulação e infertilidade. - Homens: redução do libido, disfunção erétil e oligospermia. - Anemia leve a moderada, normalmente é normocítica ou macrocítica. Maressa Duarte A Tireoidite de Hashimoto (TH), também chamada de tireoidite crônica autoimune ou linfocítica crônica, é a causa mais comum de hipotireoidismo. Acomete principalmente o sexo feminino e apesar de ocorrer em qualquer idade, tem maior incidência entre 40 e 60 anos. Nem todas as TH possuem bócio, hipotireoidismo e glândula atrófica. Por isso, se caracteriza por ser uma doença com fenótipos clínicos diferentes, em que a presença de anticorpos antitireoide pode ser a evidencia suficiente para o diagnóstico. A TH está associada a fatores ambientais e genéticos. 1. GENÉTICOS - Genes imunomoduladores como CTLA-4 e da PTPN22. - Gene HLA-DR9 está associada à TH com bócio - Gene GLA-DR3 está associado a TH atrófica 2. AMBIENTAIS Idade: a prevalência de autoanticorpos tireoidianos (Tab) aumenta com a idade, principalmente quando > 60 anos Sexo: feminino Iodo e medicamentos: medicamentos ricos em iodo (amiodarona) precipitam tireoide autoimune em populações suscetíveis, pois o excesso de iodo aumenta quantidade intratireoidiana de linfócitos Th17 e inibe o desenvolvimento de células T regulatórias, gerando expressão anormal da citocina TRAIL no tireócitos Selênio: como participa da síntese dos hormônios, a deficiência do mesmo está associada ao bócio e a hipoecogenicidade. Vitamina D: níveis baixos de vit D associa-se a maior prevalência de anti-TPO Citocinas: pacientes com IL-2 e IFN-alfa. Radiação: exposição à radiação Infecção: Yersinia enterocolitica, vírus Coxsackie B, retrovírus, Helicobacterpylori e Borrelia A TH caracteriza-se por um infiltrado de linfócitos, plasmócitos e macrófagos no parênquima tireoidiano, provocando graus variáveis de atrofia e fibrose. Um achado patognomônico são as células de Huthle ou células de Ashanazy. Essa patologia pode evoluir de 3 formas: 1. Células Th2 causam excessiva estimulação e produção de células B e plasmócitos -> aumento da produção de autoanticorpos -> tireoidite 2. As células Th1 ativam linfócitos e macrófagos citotóxicos -> afetam o tecido tireoidiano -> destruição de células foliculares - > tireoidite 3. Bloqueio do receptor de TSH por autoanticorpos -> queda da ação do TSH -> atrofia tireoidiana -> TH 4. Inflamação tireoidiana rica em plasmócitos IgG4 -> fibrose - > TH. Assim, os autoanticorpos envolvidos na TH são: - Antitireoperoxidase (anti-TPO) presente em 95% dos casos - Antitireoglobulina (anti-Tg) - Antirreceptor de TSH - Antitransportador de iodo Quando se suspeita de tireoidite autoimune, o 1º anticorpo pesquisado deve ser o anti-TPO, e caso venha negativo, solicita o anti-Tg. FASE INICIAL: elevação transitória (semanas a meses) dos hormônios tireoidianos, levando à tireotoxicose clinicamente manifestada com Hashitoxicose. Nessa fase o paciente pode se apresentar assintomático e o diagnóstico é feito apenas com exames laboratoriais. 2ª FASE: hipotireoidismo subclínico, caracterizado pela elevação do TSH com T4 ainda dentro da faixa de normalidade, com evolução para o clínico em uma taxa de 5% ano. 3ª FASE: consiste no hipotireoidismo clinicamente manifesto. A clínica é característica de hipotireoidismo, quando se encontra na 3º fase, principalmente. O bócio é difuso, podendo ser uni ou multinodular, é indolor de consistência firme, superfície irregular ou lobulado e de tamanho variável. O volume da tireoide corresponde a 2 a 4 vezes o normal. Pode haver queixa de dor local de intensidade leve. Realizar a dosagem em caso de história clínica, história de outra doença auto-imune na própria família e história de traumatismo cranioencefálico, sangramento pós parto e hipogonadismo. 1º Dosagem de TSH (em caso de alterações, sempre deve ser repetido 3 semanas depois) 2º Dosagem de T4 livre 3º Dosagem de anti-TPO e se necessário de anti-Tg Classicamente, encontramos valores de TSH altos e T4 livre baixo, caracterizando a TH com hipotireoidismo manifesto. Em casos de aumento de TSH e T4 livre normal, temos um hipotireoidismo subclínico. Maressa Duarte PAAF – indicada apenas em caso de bócio com dor local, crescimento rápido ou na presença de nódulos. Confirma o diagnóstico. USG – pode demonstrar alterações antes das mudanças bioquímicas. Apresenta glândula aumentada e com textura normal, com aspecto característico de hipoecogenicidade ou presença de nódulos mal definidos. OUTRAS ALTERAÇÕES: Anemia mormocítica e normocrômica, alterações dos lipídios, aumento da CPK, teste de função hepática e hiponatremia. RASTREAMENTO O rastreamento deve ser realizado nos casos de: - Mulher em idade fértil ou > 60 anos - Grávidas - Tratamento anterior de radiação tireoide - Cirurgia tireoidiana ou disfunção prévia - DM1 - História pessoal de doença autoimune - Síndrome de Down e de Turner - História familiar de doença tireoidiana - Presença de bócio e/ou positividade anti-TPO - Sintomas clínicos de hipotireoidismo - Uso de drogas como lítio, amiodarona e INF-alfa - Hiperprolactinemia - Dislipidemia, anemia e ICC Os pacientes com indicação de tratamento são: - HSC persistente com TSH < 10 - HSC persistente com TSH < 10 em caso de mulheres com anti- TPO positivo e/ou alteração na USG sugestivo de Hashimoto e com elevação progressiva dos níveis de TSH; - Paciente com doença cardiovascular preexistente ou com risco CV aumentado (SM, dislipidemia, DM e HAS) nos < 65 anos e TSH > 7 repetido e confirmado O tratamento é feito com a levotiroxina sódica (LT4), que é sintética e idêntica a produzida pela tireóide. Tem uma absorção rápida no jejuno e íleo superior com pico entre 2 e 4 horas após a ingestão da medicação. Esse fármaco possui efeito periférico dependendo da deiodação. Como tem uma meia-vida de 7 dias, pode ser usada 1x ao dia e se esquecer por 1 dia, não há problema. Retira a medicação, ou altera a dose, após a repetição do TSH. Se objetiva os níveis de TSH entre 0,5-2,0 microU/ml. Quando o TSH está normal, repete-se 1x ao ano, se alterar a dose do medicamento, repete a dosagem após 1 mês no mínimo.
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