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Clara F. | @medclaris depressão maior • O humor pode ser definido como uma emoção ou um tom de sentimento difuso e persistente que influencia o comportamento de uma pessoa e colore sua percepção de ser no mundo • Os transtornos do humor constituem uma categoria importante de doença psiquiátrica, consistindo em transtorno depressivo, transtorno bipolar e outros transtornos Diversos adjetivos são usados para descrever o humor: deprimido, triste, vazio, melancólico, angustiado, irritável, desconsolado, excitado, eufórico, maníaco, jubiloso e muitos outros, todos de natureza descritiva O humor pode ser lábil, flutuar ou alternar rapidamente entre os extremos (rindo alto e de modo expansivo em um momento, choroso e desesperado no seguinte) Outros sinais e sintomas de transtorno do humor incluem mudanças no nível de atividade, nas capacidades cognitivas, na fala e nas funções vegetativas (p. ex., sono, apetite, atividade sexual e outros ritmos biológicos). Esses transtornos quase sempre resultam em comprometimento do funcionamento interpessoal, social e ocupacional • Pacientes apenas com episódios depressivos maiores têm transtorno depressivo maior ou depressão unipolar. Aqueles com episódios maníacos e depressivos ou somente com episódios maníacos são considerados com transtorno bipolar • Três categorias adicionais de transtornos do humor são hipomania, ciclotimia e distimia: Hipomania: episódio de sintomas maníacos que não satisfaz os critérios para episódio maníaco Ciclotimia: transtorno que representa forma menos grave de transtorno bipolar Distimia: transtorno que representa forma menos grave de depressão maior • A possibilidade de que o transtorno bipolar seja, na verdade, uma expressão mais grave de depressão maior foi recentemente reconsiderada. Muitos pacientes que receberam o diagnóstico de transtorno depressivo maior revelam, em um exame cuidadoso, episódios passados de comportamento maníaco ou hipomaníaco que não foram detectados definição: • Síndromes de etiologia variada → humor patológico e alterações comportamentais, cognitivas e vegetativas • Período podrômico → sintomas que precedem o episódio depressivo → sintomas ansiosos e depressivos leves • Sem tratamento um episódio leve a moderado dura 4-30 semanas e um grave dura 6-8 meses; episódios tratados duram 3 meses • Deprimidos que desenvolveram 2 episódios tem 70% de chance de apresentar um terceiro e aí passam a ter 90% de risco de nova depressão • Um transtorno depressivo maior ocorre: Sem uma história de um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco Deve durar pelo menos 2 semanas O paciente apresenta pelo menos 4 sintomas de uma lista que inclui: 1. Alterações no apetite e peso 2. Alterações no sono e na atividade 3. Falta de energia 4. Sentimento de culpa 5. Problemas para pensar e tomar decisões 6. Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio Clara F. | @medclaris epidemiologia: INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA: • Os transtornos do humor são comuns. Nos levantamentos mais recentes, o transtorno depressivo maior tem a prevalência mais alta ao longo da vida de todos os transtornos psiquiátricos SEXO: • A prevalência é 2 vezes maior em mulheres do que em homens. As hipóteses para essa disparidade envolvem diferenças hormonais, os efeitos do parto, estressores psicossociais diferentes para mulheres e para homens e modelos comportamentais de impotência aprendida IDADE: • A idade média de início para transtorno depressivo maior é em torno dos 40 anos, sendo 50% de todos os pacientes iniciando entre os 20 e os 50 anos. Esse transtorno também pode iniciar na infância ou na velhice • Dados epidemiológicos recentes revelam que a incidência de transtorno depressivo maior pode estar aumentando entre pessoas com menos de 20 anos. É possível que isso esteja relacionado ao aumento do uso de álcool e do abuso de drogas nessa faixa etária ESTADO CIVIL: • O transtorno depressivo maior ocorre mais frequentemente em pessoas sem relacionamentos interpessoais íntimos e naquelas que são divorciadas ou separadas FATORES SOCIOECONÔMICOS E CULTURAIS: • Não foi encontrada correlação entre condição socioeconômica e transtorno depressivo maior. A depressão é mais comum em áreas rurais do que em áreas urbanas • A prevalência de transtorno do humor não difere entre as raças. Contudo, existe uma tendência dos examinadores a diagnosticar menos transtorno do humor e mais esquizofrenia em pacientes cuja base racial ou cultural difira da sua COMORBIDADES: • Indivíduos com transtornos depressivos maiores têm maior risco de apresentar 1 ou mais transtornos comórbidos. Os mais frequentes são abuso ou dependência de álcool, transtornos de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno de ansiedade social. De modo inverso, indivíduos com transtornos por uso de substâncias e de ansiedade também têm um risco elevado de transtorno do humor comórbido atual ou ao longo da vida etiologia: • Resulta de complexa interação entre fatores biológicos, psicológicos, ambientais e genéticos FATORES BIOLÓGICOS: • Muitos estudos relataram anormalidades biológicas em pacientes com transtornos do humor. Até recentemente, os neurotransmissores monoaminégicos (norepinefrina, dopamina, serotonina e histamina) eram o centro das teorias e da pesquisa sobre a etiologia desses transtornos • Tem ocorrido uma mudança progressiva em favor do estudo de sistemas neurocomportamentais, circuitos neurais e mecanismos neurorreguladores mais complexos • Os sistemas monoaminérgicos são agora considerados sistemas neuromodulares e os distúrbios tendem a ter efeitos secundários ou epifenomenais e relacionados direta ou causalmente com a etiologia e a patogenia • Aminas biogênicas: das aminas biogênicas, a norepinefrina e a serotonina são os neurotransmissores mais implicados na fisiopatologia dos transtornos do humor Norepinefrina: a correlação entre a down regulation dos receptores beta-adrenérgicos e as respostas clínicas aos antidepressivos é provavelmente a evidência isolada mais convincente indicando um papel direto do sistema noradrenérgico na depressão. Outras evidências implicaram também os receptores beta2 pré-sinápticos na depressão, visto que sua ativação resulta em redução da quantidade de Clara F. | @medclaris norepinefrina liberada. Esses receptores também estão localizados nos neurônios serotonérgicos e regulam a quantidade de serotonina liberada. A eficácia clínica dos antidepressivos com efeitos noradrenérgicos (venlafaxina) confirma ainda mais um papel da norepinefrina na fisiopatologia de pelo menos alguns dos sintomas da depressão Serotonina: com o forte efeito dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) (fluoxetina) sobre o tratamento da depressão, a serotonina se tornou a amina biogênica neurotransmissora mais comumente associada à depressão. A depleção da serotonina pode precipitar depressão, e alguns pacientes com impulsos suicidas têm concentrações baixas de metabólitos da serotonina no líquido cerebrospinal (LCS) e concentrações baixas de zonas de captação de serotonina nas plaquetas Dopamina: embora a norepinefrina e a serotonina sejam as aminas biogênicas associadas com mais frequência à fisiopatologia da depressão, há a teoria de que a dopamina também desempenhe um papel. Dados indicam que sua atividade pode estar reduzida na depressão e aumentada na mania. Os medicamentos que reduzem as concentrações da dopamina (reserpina) e as doenças que também têm esse efeito (p. ex., doença de Parkinson) estão associados com sintomas depressivos. Em contraste, medicamentos que aumentam suas concentrações (tirosina, anfetamina e a bupropiona), reduzem os sintomas de depressão. Duas teorias recentes sobre dopamina e depressão são que a via mesolímbica da dopamina pode ser disfuncional e que seu receptor D1 pode ser hipoativona depressão Outros distúrbios de neurotransmissores: ➢ A acetilcolina (ACh) é encontrada nos neurônios que se distribuem de forma difusa por todo o córtex cerebral. Os neurônios colinérgicos têm relações recíprocas ou interativas com todos os 3 sistemas de monoamina. Níveis anormais de colina (precursor de ACh), foram encontrados na necropsia de cérebros de alguns pacientes deprimidos, talvez refletindo anormalidades na composição de fosfolipídeo das células. Agentes agonistas e antagonistas colinérgicos têm efeitos clínicos diferentes sobre depressão. Os agonistas podem produzir letargia, falta de energia e retardo psicomotor em indivíduos saudáveis e exacerbar os sintomas na depressão. Esses efeitos em geral não são suficientemente fortes para ter implicações clínicas, e os efeitos adversos são problemáticos. Os agonistas colinérgicos podem induzir alterações na atividade hipotalâmico- hipofisário-suprarrenal (HHS) e no sono que imitam aquelas associadas com depressão grave. Alguns pacientes com transtornos do humor em remissão e seus parentes em primeiro grau que nunca tiveram a doença, têm aumento do traço de sensibilidade a agonistas colinérgicos ➢ O ácido gama-aminobutírico (GABA) tem um efeito inibidor sobre as vias ascendentes monoaminérgicas, particularmente os sistemas mesocortical e mesolímbico. Reduções dos níveis plasmático, do LCS e cerebral de GABA foram observadas na depressão. Estudos com animais também revelaram que o estresse crônico pode reduzir e esgotar os níveis de GABA. Por sua vez, os receptores de GABA sofrem regulação ascendente por antidepressivos, e alguns medicamentos GABAérgicos têm efeitos antidepressivos fracos ➢ Os aminoácidos glutamato e glicina são os principais neurotransmissores excitatórios e inibitórios no SNC. Esses aminoácidos ligam-se a sítios do receptor de N-metil-D-aspartato (NMDA), e um excesso de estimulação glutamatérgica pode causar efeitos neurotóxicos. Significativamente, existe alta concentração de receptores de NMDA no hipocampo. O glutamato, portanto, pode operar em conjunto com a hipercortisolemia para mediar os efeitos neurocognitivos prejudiciais da depressão recorrente grave. Evidências recentes apontam que agentes que antagonizam os receptores NMDA têm efeitos antidepressivos • Segundos mensageiros e cascatas intracelulares: a ligação de um neurotransmissor e um receptor pós- sináptico (do neurônio pós-sináptico) desencadeia uma cascata de processos ligados à membrana e intracelulares mediados por sistemas de segundo mensageiro Os receptores nas membranas celulares interagem com o ambiente intracelular por meio de proteínas G. As proteínas G, por sua vez, se conectam a várias enzimas intracelulares (p. ex., adenilato ciclase, fosfolipase C e fosfodiesterase) que regulam a utilização de energia e a formação de segundos mensageiros, como o nucleotídeo cíclico (p. ex., adenosina monofosfato cíclico [cAMP] e monofosfato cíclico de guanosina [cGMP]), bem como os fosfatidilinositóis (p. ex., inositol trifosfato e diacilglicerol) e Clara F. | @medclaris cálcio-calmodulina. Os segundos mensageiros regulam a função dos canais iônicos da membrana neuronal. Evidências crescentes também indicam que agentes estabilizadores do humor agem sobre as proteínas G ou outros segundos mensageiros. • Alterações da regulação hormonal: alterações duradouras nas respostas neuroendócrinas e comportamentais podem resultar de estresse precoce grave. Estudos com animais indicam que mesmo períodos transitórios de privação materna podem alterar as respostas subsequentes a estresse ➢ A atividade do gene para o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) neuroquinina é diminuída após estresse crônico, assim como o processo de neurogênese. Estresse prolongado, portanto, pode induzir alterações no estado funcional dos neurônios e acabar levando a morte celular ➢ Estudos recentes com humanos deprimidos revelam que uma história de trauma precoce está associada com atividade HHS aumentada acompanhada de alterações estruturais (i.e., atrofia ou diminuição de volume) no córtex cerebral. Atividade de HHS elevada é uma característica de respostas a estresse em mamíferos e uma das ligações mais claras entre depressão e a biologia do estresse crônico ➢ Hipercortisolemia (aumento do cortisol) na depressão sugere um ou mais dos seguintes distúrbios centrais: (1) tônus inibitório de serotonina diminuído (2) impulso aumentado de norepinefrina, ACh ou hormônio liberador de corticotrofina (CRH) (3) Diminuição da inibição do feedback do hipocampo ➢ A evidência de aumento da atividade do eixo HHS é aparente em 20 a 40% dos pacientes ambulatoriais deprimidos e em 40 a 60% dos internados deprimidos ➢ A atividade elevada de HHS na depressão foi documentada por meio de excreção de cortisol livre urinário (UFC), coletas de níveis de cortisol plasmático intravenoso (IV) de 24 horas (ou de segmentos de tempo mais curtos), níveis de cortisol salivar e testes da integridade da inibição de feedback. ➢ Um distúrbio desta última é testado pela administração de dexametasona (0,5 a 2,0 mg), um glicocorticoide sintético potente que costuma suprimir a atividade do eixo HHS por 24 horas ➢ A não supressão da secreção de cortisol às 8h da manhã seguinte ou subsequente não supressão às 16h ou às 23h é indicativa de comprometimento da inibição do feedback. A hipersecreção de cortisol e a não supressão de dexametasona não estão perfeitamente correlacionadas (em torno de 60% de concordância) • Atividade do eixo tireoidiano: aproximadamente 5 a 10% das pessoas avaliadas para depressão têm disfunção tireoidiana ainda não detectada, conforme refletido por nível basal elevado do hormônio estimulante da tireoide (TSH) ou resposta de TSH aumentada a uma infusão de 500 mg do neuropeptídeo hipotalâmico hormônio liberador de tireotrofina (TRH) Essas anormalidades muitas vezes estão associadas com níveis elevados de anticorpos antitireoidianos e, a menos que seja corrigido com terapia de reposição hormonal, podem comprometer a resposta ao tratamento Um subgrupo ainda maior de pacientes deprimidos (20 a 30%) apresenta uma resposta de TSH diminuída à administração de TRH. Até o momento, a principal implicação terapêutica de uma resposta de TSH diminuída é a evidência de um risco aumentado de recaída apesar da terapia antidepressiva preventiva Vale destacar que, ao contrário do teste de supressão com dexametasona (TSD), a resposta de TSH diminuída a TRH geralmente não se normaliza com tratamento eficaz • Hormônio do crescimento: o hormônio do crescimento (GH) é secretado da hipófise anterior após estimulação por norepinefrina (NE) e dopamina. A secreção é inibida por somatostatina (um neuropeptídeo hipotalâmico) e por CRH. Níveis de somatostatina do LCS diminuídos foram relatados na depressão e níveis aumentados foram observados na mania • Prolactina: a prolactina é liberada da hipófise pela estimulação da serotonina e é inibida por dopamina. A maioria dos estudos não encontrou anormalidades significativas da secreção de prolactina basal ou circadiana na depressão, embora uma resposta reduzida a vários agonistas de serotonina tenham sido descrita. Essa resposta é incomum entre mulheres antes da menopausa, o que sugere que o estrogênio tenha um efeito moderador Clara F. | @medclaris • Alterações da neurofisiologia do sono: a depressão está associada com perda prematura do sono profundo (de onda lenta) e aumento no despertar noturno. Este aumento no despertar noturno é refletido por 4 tipos de distúrbio: (1) aumento nos despertares noturnos (2) redução no tempo de sono total (3) aumento do sono REM (movimentos oculares rápidos) fásico (4) aumento da temperatura corporal A combinação de sono REM aumentado e sono de onda lenta diminuído resulta em uma redução no primeiro período de sono não-REM (NREM), um fenômeno chamadode latência REM reduzida. Este fenômeno juntamente com os déficits do sono de onda lenta, normalmente persistem após a recuperação de um episódio depressivo A secreção reduzida de GH no sono está relacionada com diminuição do sono de onda lenta e mostra comportamento independente de estado ou tipo traço semelhante. A combinação de: latência REM reduzida + densidade REM aumentada + manutenção do sono diminuída, identifica cerca de 40% dos pacientes ambulatoriais deprimidos e 80% dos internados deprimidos Resultados falso-negativos costumam ser observados em pacientes mais jovens, hipersonolentos, que, na verdade, podem experimentar aumento no sono de onda lenta durante episódios de depressão. Cerca de 10% dos indivíduos saudáveis têm perfis de sono anormais e casos de falso-positivos são vistos com frequência em outros transtornos psiquiátricos Foi verificado que pacientes que manifestam um perfil de sono anormal são menos responsivos a psicoterapia e apresentam um risco maior de recaída ou recidiva e podem se beneficiar da farmacoterapia • Distúrbios imunológicos: os transtornos depressivos estão associados com várias anormalidades imunológicas, incluindo diminuição da proliferação de linfócitos e outras formas de imunidade celular comprometida. Parece haver ligação entre: gravidade clínica, hipercortisolemia e disfunção imunológica, sendo que a IL-1 (que está reduzida) pode induzir atividade gênica para a síntese de glicocorticoide • Imagem cerebral estrutural e funcional: a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) têm permitido métodos sensíveis e não invasivos para avaliar o cérebro vivo, incluindo os tratos cortical, subcortical e lesões da substância branca. As anormalidades mais observadas nos transtornos depressivos são: Maior frequência de hiperintensidades anormais nas regiões subcorticais, tais como as regiões periventriculares, os gânglios da base e o tálamo. Essas hiperintensidades parecem refletir os efeitos neurodegenerativos prejudiciais de episódios afetivos recorrentes Aumento ventricular Atrofia cortical Alargamento sulcal Redução do hipocampo ou do núcleo caudado, ou de ambos Áreas de atrofias difusas e focais foram associadas com maior gravidade da doença, bipolaridade e aumento dos níveis de cortisol Os achados mais encontrados da tomografia por emissão de pósitrons (PET) são: Diminuição no metabolismo cerebral anterior, mais pronunciada no lado esquerdo Aumento na atividade do hemisfério não dominante Reduções do hemisfério esquerdo são vistas na depressão e reduções do hemisfério direito são vistos na mania Aumento do metabolismo da glicose em diversas regiões límbicas, em particular entre pacientes com depressão recorrente relativamente grave e história familiar de transtorno do humor. Durante episódios de depressão, o aumento do metabolismo da glicose está correlacionado com ruminações importunas Outros estudos observaram reduções do fluxo sanguíneo ou do metabolismo cerebrais, ou de ambos, nos tratos dopaminergicamente inervados dos sistemas mesocortical e mesolímbico na depressão. Novamente, as evidências sugerem que os antidepressivos normalizam essas mudanças pelo menos em parte • Considerações neuroanatômicas: a neurociência afetiva moderna focaliza na importância de 4 regiões cerebrais na regulação das emoções normais: Córtex pré-frontal (CPF): considerado a estrutura que contém representações de objetivos e as respostas adequadas para alcançá-los. Essas atividades são importantes quando respostas Clara F. | @medclaris comportamentais múltiplas e conflitantes são possíveis ou quando é necessário superar a excitação afetiva Córtex cingulado anterior (CCA): serve como ponto de integração de estímulos atencionais e emocionais. Foi proposto que a ativação do CCA facilita o controle da excitação emocional, sobretudo quando a realização do objetivo foi frustrada ou quando problemas novos foram encontrados. Duas subdivisões foram identificadas (regiões rostral e ventral: compartilha conexões extensivas com outras regiões límbicas; região cognitiva dorsal: interage mais com o CPF e com outras regiões corticais) Hipocampo: envolvido em várias formas de aprendizagem e memória, incluindo o condicionamento do medo e regulação inibitória da atividade do eixo HHS. A aprendizagem emocional ou contextual parece estar relacionada com uma conexão direta entre o hipocampo e a amígdala Amígdala: parece ser um local crucial para o processamento de estímulos novos de significado emocional e para a coordenação e organização de respostas corticais. Localizada logo acima dos hipocampos bilateralmente. A amígdala sempre foi considerada o coração do sistema límbico. Embora a maior parte das pesquisas tenha-se concentrado no papel da amígdala na resposta a estímulos assustadores ou dolorosos, pode ser a ambiguidade ou a novidade, e não a natureza aversiva do estímulo em si, que ative a amígdala FATORES GENÉTICOS: inúmeros estudos de famílias, de adoção e de gêmeos há muito têm documentado a hereditariedade dos transtornos do humor. Recentemente, entretanto, o foco primário dos estudos genéticos tem sido identificar genes específicos de suscetibilidade usando métodos genéticos moleculares • Estudos de famílias: os estudos de famílias investigam se um transtorno é familiar. Dados familiares indicam que, se um dos pais tem um transtorno do humor, um dos filhos tem um risco entre 10 e 25% de também apresentá-lo. Se ambos os pais são afetados, o risco praticamente duplica. Quanto mais membros da família forem afetados, maior o risco para um filho. O risco é maior se os afetados forem parentes de primeiro grau • Estudos de gêmeos: esses estudos fornecem a abordagem mais poderosa para separar fatores genéticos de ambientais. Dados de gêmeos fornecem evidências convincentes de que os genes explicam apenas 50 a 70% da etiologia dos transtornos do humor. O ambiente ou outros fatores não hereditários devem explicar o restante. Portanto, é uma predisposição ou suscetibilidade à doença que é herdada • Estudos de ligação: marcadores do DNA são segmentos de DNA de localização conhecida no cromossomo, muito variáveis entre os indivíduos. Eles são usados para rastrear a segregação de regiões cromossômicas específicas em famílias afetadas com o transtorno. Quando um marcador é identificado com doença em famílias, diz-se que a doença é geneticamente ligada Estudos de mapeamento genético da depressão unipolar encontraram evidência muito forte de ligação ao locus para a proteína ligadora do elemento de resposta a cAMP (CREB1) no cromossomo 2. Outras 18 regiões genômicas também eram ligadas; algumas delas exibiam interações com o locus de CREB1. Outro estudo relatou evidência de uma interação gene-ambiente no desenvolvimento de depressão maior. Foi demonstrado que indivíduos com eventos de vida adversos tinham risco aumentado para depressão. Entretanto, aqueles com uma variante no gene transportador de serotonina apresentavam o maior aumento no risco. Esse é um dos primeiros relatos de uma interação gene-ambiente específica em um transtorno psiquiátrico FATORES PSICOSSOCIAIS: • Acontecimentos de vida e estresse ambiental: eventos de vida estressantes precedem os primeiros episódios de transtornos do humor. Essa associação tem sido relatada tanto em pacientes com transtorno depressivo maior como naqueles com transtorno bipolar I. Uma teoria para isso é a de que o estresse que acompanha o primeiro episódio resulta em mudanças duradouras na biologia do cérebro, que alteram os estados funcionais de vários neurotransmissores e sistemas sinalizadores intraneuronais, mudanças que podem levar a uma perda de neurônios e uma redução excessiva de contatos sinápticos. Como resultado, uma pessoa tem alto risco de desenvolver episódios subsequentes de um transtorno do humor, mesmosem um estressor externo O evento de vida associado com mais frequência ao desenvolvimento da depressão é a perda de um dos genitores antes dos 11 anos de idade Clara F. | @medclaris O estressor ambiental mais associado ao início de um episódio de depressão é a perda do cônjuge. Outro fator é o desemprego, pois indivíduos desempregados têm 3 vezes mais probabilidade de relatar sintomas de um episódio de depressão maior do que os que estão empregados. A culpa também pode ter um papel FATORES DE PERSONALIDADE: • Nenhum traço ou tipo de personalidade isolado predispõe de forma única uma pessoa a depressão; todos os seres humanos, com qualquer padrão de personalidade, podem e ficam deprimidos sob determinadas circunstâncias. Aqueles com certos transtornos da personalidade (obsessivo-compulsiva, histriônica e borderline) podem ter um risco maior de depressão do que pessoas com personalidade antissocial ou paranoide. Estas últimas podem usar projeção e outros mecanismos de defesa externalizantes para se protegerem de sua raiva interior. Acontecimentos estressantes recentes são os preditores mais poderosos do início de um episódio depressivo • Fatores psicodinâmicos na depressão: o entendimento psicodinâmico da depressão definido por Sigmund Freud e expandido por Karl Abraham é conhecido como a visão clássica da depressão. A teoria envolve 4 pontos fundamentais: Distúrbios na relação bebê-mãe durante a fase oral (os primeiros 10 a 18 meses de vida) predispõem a vulnerabilidade subsequente a depressão A depressão pode estar ligada a perda real ou imaginada do objeto A introjeção de objetos que partiram é um mecanismo de defesa invocado para lidar com o sofrimento associado com a perda do objeto Visto que o objeto perdido é percebido com uma mistura de amor e ódio, sentimentos de raiva são dirigidos contra o self A depressão se instala quando o indivíduo percebe que a pessoa ou o ideal pelo qual estava vivendo nunca vai responder de forma a satisfazer suas expectativas • Fatores psicodinâmicos na mania: a maioria das teorias acerca da mania considera os episódios maníacos uma defesa contra a depressão subjacente. O estado maníaco também pode resultar de um superego tirânico, que produz autocrítica intolerável, que é, então, substituída pela autossatisfação eufórica. Bertram Lewin considerava o ego do paciente maníaco sobrecarregado por impulsos prazerosos, como o sexo, ou por impulsos temidos, como a agressão OUTRAS FORMULAÇÕES DE DEPRESSÃO: • Teoria cognitiva: de acordo com a teoria cognitiva, a depressão resulta de distorções cognitivas específicas presentes nas pessoas predispostas a desenvolvê-la. Essas distorções, referidas como esquemas depressogênicos, são modelos cognitivos que percebem tanto os dados internos quanto os externos de formas alteradas por experiências precoces. Aaron Beck postulou a tríade cognitiva da depressão, que consiste em: (1) visão sobre si próprio (uma autopercepção negativa) (2) visão sobre o mundo (uma tendência a experimentar o mundo como hostil e exigente) (3) visão sobre o futuro (a expectativa de sofrimento e fracasso) A terapia tem por objetivo modificar essas distorções Clara F. | @medclaris • Teoria da impotência aprendida: a teoria da impotência aprendida da depressão associa fenômenos depressivos à experiência de acontecimentos incontroláveis. Por exemplo, quando cães, em laboratório, foram expostos a choques elétricos dos quais não podiam escapar, exibiram comportamentos que os diferenciavam de cães que não foram expostos a tais eventos incontroláveis. Os cães expostos ao choque não cruzaram uma barreira para interromper o fluxo de choque elétrico quando colocados em nova situação de aprendizagem. Eles permaneceram passivos e não se moveram. De acordo com a teoria da impotência aprendida, os cães submetidos a choques aprenderam que os desfechos eram independentes das respostas, de modo que tinham tanto déficit cognitivo motivacional (não tentavam escapar ao choque) quanto emocional (indicando reatividade diminuída do choque). Na visão reformulada da impotência aprendida aplicada à depressão humana, pensa-se que explicações causais internas produzem perda de autoestima após eventos externos adversos diagnóstico: TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR: TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR – EPISÓDIO ÚNICO: ocorre quando o paciente apresenta um único episódio de depressão. A diferenciação entre esses pacientes e os que têm 2 ou mais episódios de transtorno depressivo maior é justificada pelo curso incerto do transtorno dos primeiros episódios Clara F. | @medclaris TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR – RECORRENTE: indivíduos que estão vivenciando um segundo episódio de depressão são classificados com transtorno depressivo maior, recorrente • O principal problema ao diagnosticar episódios recorrentes de transtorno depressivo maior é escolher o critério para designar a resolução de cada período. As 2 variáveis são o grau de resolução dos sintomas e a duração da resolução. • O DSM-5 exige que episódios distintos de depressão sejam separados por pelo menos 2 meses, durante os quais o paciente não tenha sintomas significativos de depressão ESPECIFICADORES (CARACTERÍSTICAS DOS SINTOMAS): além de especificadores de gravidade, psicose e remissão, outras características dos sintomas (especificadores) podem ser utilizadas para descrever pacientes com vários transtornos do humor • COM ASPECTOS PSICÓTICOS: a presença de aspectos psicóticos no transtorno depressivo maior reflete doença grave e é um indicador de mau prognóstico. O transtorno depressivo maior psicótico com o não psicótico indica que as duas condições podem ser distintas em sua patogênese. Os próprios sintomas psicóticos são, muitas vezes, categorizados como: Congruentes com o humor: em harmonia com o transtorno do humor (“Eu mereço ser punido porque sou muito mau”). Os pacientes têm um tipo de transtorno do humor psicótico Incongruentes com o humor: em desarmonia com o transtorno do humor. Os pacientes podem ter transtorno esquizoafetivo ou esquizofrenia Os seguintes fatores foram associados a mau prognóstico para pacientes com transtornos do humor: longa duração dos episódios, dissociação temporal entre o transtorno do humor e os sintomas psicóticos e história de mau ajustamento social pré-mórbido. A presença de aspectos psicóticos também tem implicações significativas para o tratamento. Esses pacientes requerem medicamentos antipsicóticos (além dos antidepressivos) e dos estabilizadores do humor e podem necessitar de ECT para obter melhora clínica Clara F. | @medclaris • COM ASPECTOS MELANCÓLICOS: melancolia é o humor negro da depressão. Ainda é usado em referência a uma depressão caracterizada por anedonia grave, despertar matinal precoce, perda de peso e sentimentos profundos de culpa (frequentemente por acontecimentos triviais). É comum pacientes melancólicos terem ideação suicida. A melancolia está associada com alterações no sistema nervoso autônomo e nas funções endócrinas. Por essa razão, é algumas vezes referida como “depressão endógena” ou que se origina na ausência de estressores ou precipitantes externos da vida. Os aspectos melancólicos do DSM-5 podem ser aplicados a episódios depressivos maiores no transtorno depressivo maior, no transtorno bipolar I ou no transtorno bipolar II • COM ASPECTOS ATÍPICOS: pacientes com aspectos atípicos têm características específicas e previsíveis: excesso de apetite e de sono. Esses sintomas têm sido referidos como sintomas vegetativos reversos e seu padrão tem sido chamado de disforia histeroide Os pacientes com transtorno depressivo maior com aspectos atípicos apresentam idade de início mais precoce, lentificação psicomotora mais grave e diagnósticos coexistentes mais frequentes de transtorno de pânico, abuso ou dependência de substâncias e transtorno de somatização A alta incidência e a gravidade dos sintomas de ansiedade nestes pacientes têm sido correlacionadas com a probabilidade de serem classificados de forma equivocada com um transtorno de ansiedade em vez de um transtorno do humor Clara F. | @medclaris Os aspectos atípicos do DSM-5 podem ser aplicados ao episódio depressivo maior mais recente no transtorno depressivo maior, no transtorno bipolar I, no transtorno bipolar II ou na distimia. A depressão atípica pode mascarar sintomas maníacos • COM ASPECTOS CATATÔNICOS: por ser um sintoma, a catatonia (posição rígida e imóvel que pode durar horas) pode estar presente em vários transtornos mentais, com mais frequência na esquizofrenia e nos transtornos do humor. A presença de catatonia em pacientes com transtornos do humor pode ter um significado para o prognóstico e para o tratamento Os sintomas característicos de catatonia (estupor [inconsciência profunda], afeto reduzido, reclusão extrema, negativismo e retardo psicomotor acentuado) podem ser observados na esquizofrenia catatônica e na esquizofrenia não catatônica, no transtorno depressivo maior (frequentemente com manifestações psicóticas) e em doenças clínicas e neurológicas • PADRÃO SAZONAL: pacientes com um padrão sazonal de seus transtornos do humor tendem a vivenciar episódios depressivos durante uma determinada estação (mais comumente o inverno). O padrão tornou-se conhecido como transtorno afetivo sazonal (TAS), embora esse termo não seja utilizado no DSM-5. Dois tipos de evidência indicam que o padrão sazonal pode representar uma entidade diagnóstica separada: Os pacientes tendem a responder ao tratamento com terapia luminosa A pesquisa demonstrou que os pacientes exibem diminuição da atividade metabólica no córtex orbitofrontal e no lobo parietal inferior esquerdo Clara F. | @medclaris • COM INÍCIO NO PÓS-PARTO: o DSM-5 possibilita a especificação de um distúrbio do humor pós-parto se o início dos sintomas ocorrer no período de 4 semanas após o parto • OUTROS: TRANSTORNOS COEXISTENTES: • ANSIEDADE: nos transtornos de ansiedade, o DSM-5 observa a existência de transtorno misto de ansiedade e depressão. Sintomas significativos de ansiedade podem e costumam coexistir com sintomas significativos de Clara F. | @medclaris depressão. Pacientes de ambos os tipos podem constituir o grupo de pessoas com transtorno misto de ansiedade e depressão • DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL: a dependência de álcool com frequência coexiste com transtornos do humor. Pacientes com transtorno depressivo maior têm probabilidade de satisfazer os critérios diagnósticos de um transtorno por uso de álcool. A dependência tem mais forte ligação com um diagnóstico coexistente de depressão em mulheres do que em homens. Em contraste, dados genéticos e familiares de homens que têm tanto transtorno do humor quanto dependência de álcool revelam, que eles tendem a ter dois processos de doença geneticamente distintos • OUTROS TRANSTORNOS RELACIONADOS A SUBSTÂNCIAS: os deprimidos costumam usar estimulantes (cocaína e anfetaminas) para aliviar a depressão • CONDIÇÕES CLÍNICAS: a depressão tende a ocorrer em associação com condições clínicas, principalmente em pessoas mais velhas. Quando isso acontece, os médicos devem tentar determinar se a condição clínica subjacente está relacionada à depressão ou se a depressão decorre de algum medicamento que o paciente esteja tomando para a doença. Muitos estudos indicam que o tratamento de um transtorno depressivo maior coexistente pode melhorar o curso da condição clínica subjacente, incluindo o câncer ESCALAS DE AVALIAÇÃO OBJETIVA DA DEPRESSÃO: escalas de avaliação objetiva da depressão podem ser úteis na prática clínica para documentar o estado clínico do paciente deprimido • ZUNG: a escala de autoavaliação da depressão de Zung é um relato de 20 itens. A escala fornece um índice global da intensidade dos sintomas depressivos do paciente, incluindo a expressão afetiva da depressão: Pontuação normal ≤ 34 Pontuação deprimido ≥ 50 • RASKIN: a escala de depressão de Raskin é avaliada pelo médico, que mede a gravidade da depressão, conforme o que ele observa e o paciente relata, em uma escala de 5 pontos de 3 dimensões: relato verbal, comportamento exibido e sintomas secundários. A escala tem uma variação de 3 a 13: Pontuação normal é 3 Pontuação deprimido ≥ 7 • HAMILTON: a escala de avaliação da depressão de Hamilton (HAM-D) é amplamente utilizada com até 24 itens, sendo cada um classificado de 0 a 4 ou de 0 a 2, com a pontuação total de 0 a 76. O médico avalia as respostas do paciente a perguntas sobre sentimento de culpa, pensamentos de suicídio, hábitos de sono e outros sintomas de depressão, e as pontuações são derivadas da entrevista clínica exame do estado mental: • O retardo psicomotor generalizado é o sintoma mais comum de depressão (ainda que também seja observada agitação psicomotora, sobretudo em pacientes mais velhos, que torcem as mãos e arrancam cabelos). De forma clássica, o indivíduo deprimido tem uma postura encurvada, sem movimentos espontâneos e com o olhar desviado para baixo, sem encarar • HUMOR, AFETO E SENTIMENTOS: a depressão é o sintoma-chave, embora cerca de 50% dos pacientes neguem sentimentos depressivos e não pareçam estar particularmente deprimidos. Membros da família ou empregadores muitas vezes os conduzem para tratamento devido a reclusão social e redução generalizada da atividade • FALA: muitos pacientes deprimidos evidenciam uma redução da taxa e do volume da fala, demoram a responder a perguntas e o fazem de forma monossilábica. O examinador pode ter de esperar 2 ou 3 minutos para obter a resposta a uma pergunta • DISTÚRBIOS DA PERCEPÇÃO: indivíduos deprimidos com delírios ou alucinações são referidos com um episódio depressivo maior com manifestações psicóticas. Diz-se que os delírios e as alucinações consistentes com um humor deprimido são congruentes com o humor Delírios congruentes com o humor em uma pessoa deprimida incluem os de culpa, pecado, inutilidade, pobreza, fracasso, perseguição e doenças somáticas terminais (tais como câncer ou “apodrecimento” do cérebro) Clara F. | @medclaris O conteúdo dos delírios ou das alucinações incongruentes com o humor não é compatível com um humor deprimido. Por exemplo, um delírio incongruente com o humor em uma pessoa deprimida poderia envolver temas grandiosos de poder, conhecimento e valor exagerados. Quando isso ocorre, um transtorno esquizofrênico deve ser considerado • PENSAMENTO: pacientes deprimidos costumam ter visões negativas do mundo e de si próprios. O conteúdo de seus pensamentos inclui perda, culpa, suicídio e morte. Cerca de 10% de todos os pacientes deprimidos têm sintomas acentuados de um transtorno do pensamento, geralmente bloqueio do pensamento e profunda pobreza de conteúdo • SENSÓRIO E COGNIÇÃO: Orientação: a maioria dos pacientes deprimidos está orientada em relação a pessoa, lugar e tempo, embora alguns possam não ter energia ou interesse suficientes para responder a perguntas sobre esses assuntos durante a entrevista Memória: cerca de 50 a 75% de todos os pacientes deprimidos têm um comprometimento cognitivo, algumas vezes referido como pseudodemência depressiva. Esses pacientes comumente se queixam de dificuldade de concentração e de esquecimento • CONTROLE DOS IMPULSOS: em torno de 10 a 15% de todos os indivíduos deprimidos cometem suicídio, e cerca de 2/3 têm ideação suicida. Os que apresentam aspectos psicóticos às vezes consideram matar alguém como resultado de seus sistemas delirantes, mas os mais gravemente deprimidos não têm a motivação e a energia para agir de forma impulsiva ou violenta. Pessoas com transtornos depressivos têm aumento do risco de suicídio à medida que começam a melhorar e a readquirir a energia necessária para planejar e executarum suicídio (suicídio paradoxal) • JULGAMENTO E INSIGHT: o julgamento do paciente é mais bem avaliado revisando suas ações no passado recente e seu comportamento durante a entrevista. As descrições dos pacientes deprimidos a respeito de seu transtorno são muitas vezes hiperbólicas; eles enfatizam demais seus sintomas, seu transtorno e seus problemas de vida. É difícil convencê-los de que a melhora é possível • CONFIABILIDADE: em entrevistas e conversas, os pacientes deprimidos dão grande ênfase ao ruim e minimizam o bom Curso da doença: INÍCIO: • Cerca de 50% dos pacientes que estão tendo o primeiro episódio de transtorno depressivo maior exibiram sintomas depressivos significativos antes do primeiro episódio identificado. Portanto, a identificação precoce e o tratamento dos sintomas iniciais podem prevenir o desenvolvimento de um episódio depressivo completo. Mesmo que sintomas possam ter estado presentes, indivíduos com transtorno depressivo maior geralmente não têm um transtorno da personalidade pré-mórbido • O primeiro episódio depressivo ocorre antes dos 40 anos em cerca de 50% das pessoas. Um início mais tardio está associado com ausência de história familiar DURAÇÃO: • Um episódio depressivo não tratado dura de 6 a 13 meses • Os episódios tratados duram cerca de 3 meses. A retirada dos antidepressivos antes desse período quase sempre resulta no retorno dos sintomas • À medida que o curso do transtorno progride, os pacientes tendem a vivenciar episódios mais frequentes, que duram mais tempo. Ao longo de um período de 20 anos, o número médio de episódios é de 5 ou 6 DESENVOLVIMENTO DE EPISÓDIOS MANÍACOS: • Cerca de 5 a 10% dos indivíduos com o diagnóstico inicial de transtorno depressivo maior têm um episódio maníaco 6 a 10 anos após o primeiro episódio depressivo. A idade média dessa mudança é de 32 anos e ocorre após 2 a 4 episódios depressivos Clara F. | @medclaris Prognóstico: • O transtorno depressivo maior não é uma condição benigna. Ele tende a ser crônico, e os indivíduos costumam ter recidivas. Pacientes que foram hospitalizados no primeiro episódio têm cerca de 50% de chance de se recuperarem no primeiro ano • A porcentagem de recuperação após hospitalizações repetidas diminui com o passar do tempo. Em torno de 25% dos pacientes sofrem recorrências nos primeiros 6 meses após a alta hospitalar. A incidência de recidiva é menor do que em pacientes que continuam o tratamento psicofarmacológico profilático e naqueles que tiveram apenas 1 ou 2 episódios depressivos. Em geral, à medida que um paciente apresenta cada vez mais episódios depressivos, o tempo entre eles diminui, e a gravidade aumenta • Os indicadores de bom prognóstico são: História de amizades sólidas durante a adolescência Funcionamento familiar estável Funcionamento social geralmente sadio nos 5 anos anteriores ao transtorno Ausência de um transtorno psiquiátrico comórbido e de um transtorno da personalidade Não mais do que 1 hospitalização anterior por transtorno depressivo maior Idade de início avançada • Os indicadores de mau prognóstico são: Coexistência de distimia; Abuso de álcool ou outras substâncias; Sintomas de transtorno de ansiedade; História de mais de um episódio depressivo anterior Homens têm mais probabilidade do que as mulheres de vivenciar um curso cronicamente comprometido tratamento: TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: • O tratamento de pacientes com transtornos do humor deve ser direcionado para vários objetivos: A segurança do paciente deve ser garantida Uma avaliação diagnóstica completa do paciente é necessária Deve ser iniciado um plano de tratamento que trate não apenas os sintomas imediatos, mas também vise ao bem-estar futuro do paciente • Ainda que o tratamento atual enfatize a farmacoterapia e a psicoterapia orientadas ao paciente individual, acontecimentos estressantes da vida também estão associados com aumentos nas taxas de recaída. Portanto, o tratamento deve ser voltado à redução do número e da gravidade dos estressores nas vidas dos pacientes • HOSPITALIZAÇÃO: a primeira e mais crítica decisão que um médico precisa tomar é quanto a hospitalizar o paciente ou tentar um tratamento ambulatorial. Indicações claras para hospitalização são: Risco de suicídio ou homicídio Incapacidade do indivíduo de obter alimento e abrigo Necessidade de procedimentos diagnósticos Sintomas de rápida progressão Ruptura do sistema de apoio habitual • TERAPIA PSICOSSOCIAL: embora a maioria dos estudos indique (e a maioria dos médicos e pesquisadores acredite) que uma combinação de psicoterapia e farmacoterapia é o tratamento mais eficaz para transtorno depressivo maior, alguns dados sugerem outra visão: tanto uma quanto a outra isoladas são eficientes. Três tipos de psicoterapia de curto prazo (terapias cognitiva, interpessoal e do comportamento) foram estudados para determinar sua eficácia no tratamento do transtorno depressivo maior. Terapia cognitiva: focaliza as distorções cognitivas no transtorno depressivo maior. Essas distorções incluem atenção seletiva aos aspectos negativos das circunstâncias e inferências mórbidas não realistas sobre suas consequências. Por exemplo, apatia e baixa energia resultam de uma expectativa do paciente de fracasso em todas as áreas. O objetivo da terapia cognitiva é aliviar os episódios depressivos e prevenir sua reincidência ajudando-o a identificar e testar as cognições negativas; desenvolver formas de pensar Clara F. | @medclaris alternativas, flexíveis e positivas; e ensaiar novas respostas cognitivas e comportamentais. Estudos mostraram que a terapia cognitiva é eficaz no tratamento do transtorno depressivo maior. A maioria deles verificou que sua eficácia é igual à da farmacoterapia e está associada com menos efeitos adversos e melhor evolução Terapia interpessoal: concentra-se em 1 ou 2 dos problemas interpessoais atuais do paciente. O programa de terapia interpessoal geralmente consiste em 12 a 16 sessões semanais e é caracterizado por uma abordagem terapêutica ativa. Ela tem base em 2 pressupostos: (1) é provável que os problemas interpessoais atuais tenham suas raízes em relacionamentos disfuncionais precoces (2) esses problemas podem estar envolvidos na precipitação e na perpetuação dos sintomas depressivos atuais Terapia comportamental: baseia-se na hipótese de que padrões comportamentais mal-adaptativos resultam de o indivíduo receber poucas respostas positivas e talvez rejeição direta da sociedade. Ao abordar os comportamentos mal-adaptativos no tratamento, os pacientes aprendem a funcionar no mundo de maneira que recebam reforço positivo. A terapia comportamental para transtorno depressivo maior ainda não foi objeto de muitos estudos controlados. Os dados limitados indicam que ela é um tratamento eficaz para essa condição Terapia de orientação psicanalítica: a abordagem psicanalítica aos transtornos do humor é fundamentada nas teorias psicanalíticas sobre depressão e mania. Seu objetivo é efetuar uma mudança na estrutura da personalidade ou no caráter do paciente, não simplesmente aliviar os sintomas. Melhoras na confiança interpessoal, na capacidade para intimidade, nos mecanismos de enfrentamento, na capacidade de enfrentar o luto e na capacidade de vivenciar uma ampla gama de emoções são alguns dos objetivos dessa terapia. O tratamento muitas vezes requer que o paciente experimente períodos de aumento da ansiedade e do sofrimento durante seu curso, que pode se prolongar por vários anos TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: • INIBIDORES DA CAPTURA DE MONOAMINAS: Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (5-HT) (ISRSs): fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina, citalopram, escitalopram, vilazodona Antidepressivos tricíclicos (ADTs) clássicos: imipramina, desipramina, amitriptilina,nortriptilina, clomipramina. Esses variam na sua atividade e seletividade no que diz respeito à inibição da recaptação de norepinefrina e 5-HT Inibidores mais recentes e misturados da captura da norepinefrina e 5-TH: venlafaxina (um pouco seletiva para 5-HT, embora menos que os ISRSs), desvenlafaxina, duloxetina Inibidores da captura da norepinefrina: bupropiona, reboxetina, atomoxetina A preparação da erva-de-são-joão, cujo principal ingrediente ativo é a hiperforina, tem eficácia clínica semelhante à maioria dos antidepressivos prescritos. É inibidor fraco da captura, mas também tem outras ações • ANTAGONISTAS DO RECEPTOR DA MONOAMINA: Fármacos como a mirtazapina, trazodona, mianserina são não seletivos e inibem uma variedade de receptores, inclusive os receptores alfa2-adrenérgicos e 5-HT2. Também apresentam efeito brando sobre a captura de monoaminas • INIBIDORES DA MONOAMINO-OXIDASE (IMAOS): Inibidores irreversíveis não competitivos: fenelzina e tranilcipromina que não são seletivos com respeito aos subtipos MAO-A e B Inibidores reversíveis seletivos para MAO-A : moclobemida • AGONISTA DO RECEPTOR DA MELATONINA: A agomelatina é um agonista dos receptores MT1 e MT2 da melatonina e um antagonista fraco do 5-HT ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS: os antidepressivos tricíclicos (ADTs: imipramina, desipramina, amitriptilina, nortriptilina, clomipramina) ainda são amplamente utilizados • Mecanismo de ação: o principal efeito imediato dos ADTs é bloquear a captura das aminas pelas terminações nervosas, por competição pelo ponto de ligação do transportador de aminas. A maioria dos ADTs inibe a captura de norepinefrina e de 5-HT, mas tem menos efeito sobre a captura de dopamina. Sugere-se que: A melhora dos sintomas emocionais seja pelo aumento na transmissão mediada por 5-HT Clara F. | @medclaris A melhora dos sintomas biológicos seja pela facilitação da transmissão noradrenérgica Os ADTs também afetam outros receptores, incluindo os receptores colinérgicos muscarínicos (responsável por vários efeitos adversos), os receptores de histamina e os receptores de 5-HT • Efeitos adversos: em indivíduos não depressivos, os ADTs causam sedação, confusão e falta de coordenação motora. Esses efeitos ocorrem também nos pacientes com depressão nos primeiros dias de tratamento, mas tendem a ir desaparecendo em 1 a 2 semanas, quando se desenvolve o efeito antidepressivo Os antidepressivos tricíclicos produzem alguns efeitos adversos problemáticos, principalmente em razão da interferência no controle autonômico Os efeitos anti-muscarínicos incluem sedação, boca seca, visão embaçada, constipação, retenção urinária e hipotensão postural. Esses efeitos são notáveis com a amitriptilina e muito mais fracos com a desipramina. A longa duração de ação significa que o desempenho diurno costuma ser afetado por sonolência e dificuldade para se concentrar As superdosagens de ADTs podem causar arritmias ventriculares associadas ao prolongamento do intervalo QT. As doses terapêuticas habituais dos ADTs aumentam um pouco, porém de maneira significativa, o risco de morte súbita de causa cardíaca. • Interações com outros fármacos: Os ADTs dependem do metabolismo hepático, por enzimas dos citocromos microssomais P450 (CYP), para a eliminação, sendo inibida por fármacos competidores (antipsicóticos e alguns esteroides) Os ADTs potencializam os efeitos do álcool e dos anestésicos por motivos que não são bem compreendidos, e têm ocorrido mortes em decorrência disso, havendo depressão respiratória grave após consumo mais intenso de bebidas alcoólicas Os ADTs também interferem na ação de vários anti-hipertensivos, com consequências potencialmente perigosas, de modo que seu uso nos hipertensos exige monitoração constante. • Toxicidade aguda: Os ADTs são perigosos em superdosagem e eram comumente usados em tentativas de suicídio, o que foi um fator importante que levou à introdução de antidepressivos mais seguros. Os principais efeitos são sobre o SNC e o coração O efeito inicial da superdosagem de ADT é causar excitação e delírio, que podem ser acompanhados de convulsões. Isso é seguido de coma e depressão respiratória, durando alguns dias. Os efeitos atropínicos são pronunciados, incluindo boca e pele secas, midríase e inibição do intestino e da bexiga. São comuns as arritmias cardíacas, e pode ocorrer morte súbita (rara) por fibrilação ventricular INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS): Clara F. | @medclaris ANTIDEPRESSIVOS MISTOS: esses fármacos são relativamente não seletivos para a captação de 5-HT e NE. Incluem a venlafaxina, desvenlafaxina e duloxetina. Esses fármacos antidepressivos têm sido extensivamente utilizados, devido à maior eficácia terapêutica e do baixo perfil de efeitos adversos, cuja evidência é bastante fraca: Venlafaxina: à medida que se aumenta a dose de venlafaxina, sua eficácia também aumenta. Está disponível em formulação de liberação lenta, o que reduz a incidência de náuseas Desvenlafaxina: pode ser útil para o tratamento de alguns sintomas da pré-menopausa, como ondas de calor e insônia Duloxetina: também é utilizada para o tratamento de dor neuropática, fibromialgia e de incontinência urinária. É hepatotóxica, sendo contraindicada para pacientes com insuficiência hepática. Os efeitos adversos desses fármacos (principalmente devido ao aumento da ativação de receptores adrenérgicos) incluem cefaleia, insônia, disfunção sexual, boca seca, tontura, sudorese e perda de apetite. No caso de superdosagem, os sintomas mais comuns são depressão do SNC, toxicidade por serotonina, convulsão e anormalidades na condução cardíaca DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS distimia: DEFINIÇÃO: • O aspecto mais característico da distimia (significa “mal-humorado”) também conhecida como transtorno depressivo persistente, é a presença de um humor deprimido que dura a maior parte do dia e está presente quase continuamente. Existem sentimentos de inadequação, culpa, irritabilidade, raiva, afastamento da sociedade, perda de interesse e inatividade e falta de produtividade. A história familiar de indivíduos com distimia é repleta de transtornos depressivos e bipolares, o que é um dos achados mais consistentes a apoiar seu elo com os transtornos do humor primários • A distimia distingue-se do transtorno depressivo maior pelo fato de os pacientes se queixarem de que sempre estiveram deprimidos. Portanto, a maioria dos casos é de início precoce, começando na infância ou na adolescência e ocorrendo na época em que os pacientes atingem a faixa dos 20 anos. • Embora a distimia possa ocorrer como uma complicação secundária de outros transtornos psiquiátricos, seu conceito central se refere a um transtorno depressivo subafetivo ou subclínico com: Cronicidade de baixo grau por pelo menos 2 anos Início insidioso, com origem na infância ou na adolescência Curso persistente ou intermitente EPIDEMIOLOGIA: • Afeta 5 a 6% de todas as pessoas • Atinge metade a 1/3 dos pacientes psiquiátricos • Não há diferenças de gênero para as taxas de incidência • Mais comum em mulheres ˂ 64 anos do que em homens de qualquer idade • Mais comum entre indivíduos solteiros e jovens e naqueles com menor renda • A distimia com frequência coexiste com outros transtornos mentais, particularmente o depressivo maior, e pessoas com distimia apresentam menos probabilidade de remissão completa entre os episódios • Os pacientes podem também ter transtornos de ansiedade (em especial transtorno de pânico), abuso de substâncias e transtorno da personalidade borderline comórbidos • A distimia é mais comum entre aqueles que têm parentes em primeiro grau com transtorno depressivo maio • Pacientes com distimia têm mais probabilidade de estar utilizando uma amplavariedade de medicamentos psiquiátricos, incluindo antidepressivos, agentes antimaníacos, carbamazepina e sedativos-hipnóticos Clara F. | @medclaris QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO: transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM): • O TDPM é uma doença somatopsíquica desencadeada pela oscilação dos níveis de esteroides sexuais que acompanham um ciclo menstrual ovulatório. Ocorre cerca de 1 semana antes do início da menstruação e desaparece durante algum tempo entre os ciclos. As mudanças hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual provavelmente estão envolvidas na produção de sintomas, embora a etiologia exata seja desconhecida • Caracteriza-se por irritabilidade, labilidade emocional, cefaleia, ansiedade e depressão. Os sintomas somáticos incluem edema, ganho de peso, dor nos seios, síncope e parestesias. Cerca de 5% das mulheres apresentam o transtorno • O tratamento é sintomático (analgésicos para dor, sedativos para ansiedade e insônia e diuréticos para a retenção de líquidos) Clara F. | @medclaris • A síndrome geralmente identificada envolve sintomas de humor (p. ex., labilidade, irritabilidade), de comportamento (p. ex., mudanças no padrão de alimentação, insônia) e físicos (p. ex., sensibilidade nos seios, edema e cefaleias) • A epidemiologia de TDPM não é conhecida com certeza. Até 80% de todas as mulheres passam por algum tipo de alteração no humor, no sono ou de sintomas somáticos durante o período pré-menstrual, e cerca de 40% dessas mulheres
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