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Livro - Fundamentos e Metodologia do Ensino da Lingua Portuguesa
FACULESTE
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práticas sociais da leitura e da escrita; é também o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apro- priado da escrita e de suas práticas sociais” (SOARES, 1998, p. 38). Trata-se, segundo Costa Val (2006, p. 19), de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas, etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, como a leitura e redação de contratos, de livros científicos, de obras literárias, por exemplo. Kate M. Chong (apud SORES, 1998, p. 410), define o que é letra- mento no seguinte poema: O que é Letramento? Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente O tempo, os artistas da TV Fundamentos e Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa – 30 – e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. É um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não fique perdido. Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser. No decorrer do presente material, muitas vezes serão abordadas as práticas do letramento e algumas possibilidades de se desenvolver esse trabalho integrado em sala de aula. – 31 – Concepções de Linguagem 2.4 Alguns objetivos do interacionismo Representada no Brasil de modo intenso, essa concepção de linguagem, o interacionismo, tem entre seus seguidores mais representativos Preti (1991, 1993), Koch (1992), Marcuschi (1986, 1992, 1995), Kleiman (1995), Urbano (2000) e muitos outros. Essa perspectiva tem grande sensibilidade para as estratégias de organização textual-discursiva preferencial nas moda- lidades falada e escrita. Por isso, colocam-se alguns objetivos propostos por esses teóricos: 2 refletir sobre os textos produzidos, lidos ou ouvidos, de modo a atualizar o gênero e tipo de texto, assim como os elementos grama- ticais empregados na sua organização; 2 empregar a língua oral em diferentes situações de uso, saber ade- quá-la a cada contexto e interlocutor, reconhecer as intenções implícitas nos discursos do cotidiano e propiciar a possibilidade de um posicionamento diante deles; 2 respeitar as variedades linguísticas do educando, mostrando que não há um único português; 2 desenvolver o uso da língua escrita em situações discursivas por meio de práticas sociais que consideram os interlocutores, seus objetivos, o assunto tratado, os gêneros e suportes textuais, além do contexto de produção/leitura; 2 aprimorar, pelo contato com os textos literários, a capacidade de pensamento crítico e a sensibilidade estética, bem como propiciar pela literatura a constituição de um espaço dialógico que permita a expansão lúdica da oralidade, da leitura e da escrita; 2 reconhecer a importância da norma culta da língua, de maneira a propiciar acesso aos recursos de expressão e compreensão de pro- cessos discursivos, como condição para tornar o aluno capaz de enfrentar as contradições sociais em que está inserido e para a afir- mação da sua cidadania, como sujeito singular e coletivo. Fundamentos e Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa – 32 – Da teoria para a prática Trabalhando com a língua No trabalho com a língua, o professor é o mediador entre dois sujeitos: aquele que escreve e aquele que lê. Deverá, portanto, incentivar a participação do aluno na construção de significados dos textos e reconhecer a natureza plurissignificativa dos textos e enunciados. Por meio da leitura de textos curtos e/ou longos ou de fragmentos textu- ais, o aluno perceberá que em todo texto há marcas ideológicas e é necessário que sejam desvendadas. Esse trabalho prático com textos e com a leitura sig- nificativa levará o educando a compreender o mundo que o cerca e a observá- -lo. A simulação de situações incitativas conduz o estudante a sentir desejo de ler e aceitar ou refutar ideias contidas nos textos informativos e/ou literários de época e atuais. O aluno terá a oportunidade de interagir oralmente, por meio de ques- tionamentos, relatos, exposições de experiências vivenciadas, dramatizações, debates, formulação de hipóteses, levantamento de dados, apresentação de trabalhos de pesquisa, entre outras formas que se fizerem necessárias para adequar-se à turma e à situação nova surgida em sala de aula, desde que não haja desvio do tema em questão. Síntese São três as concepções de linguagem apresentadas por diversos teóricos. 2 A linguagem é a expressão do pensamento – corresponde à gramá- tica tradicional: 2 ler: decodificar; 2 escrever: copiar. 2 A linguagem é instrumento de comunicação – corresponde ao estruturalismo: 2 ler e escrever: repetir estruturas. – 33 – Concepções de Linguagem 2 A linguagem é uma forma de interação – corresponde ao intera- cionismo: 2 ler: atribuir sentidos; 2 escrever: intervir no mundo. A última perspectiva citada – a concepção de linguagem interacionista – tem grande sensibilidade para as estratégias de organização textual-discursiva preferencial nas modalidades falada e escrita. Atividades 1. A partir da compreensão das concepções de linguagem estudadas neste capítulo, aponte quais delas são ou foram contempladas no seu trabalho em sala de aula. Você pretende manter a adoção da concepção que vem seguindo? Justifique sua resposta. 2. O professor e linguista Carlos Alberto Faraco (apud GERALDI, 1984) publicou um artigo intitulado As sete pragas do ensino do português para demonstrar que a concepção de linguagem (a tradi- cional) adotada pelos professores em muitas escolas brasileiras tem deixado a desejar, uma vez que foi constatado que muitos alunos têm acentuada dificuldade de expressão oral e escrita, pouca ou nenhuma leitura e incapacidade de interpretação de textos. Leia o fragmento a seguir (a quarta praga proferida pelo autor) e registre suas impressões: Você concorda com os apontamentos do texto? Por quê? 4ª praga: Gramática – confusão O ponto nevrálgico do ensino de português tem sido o estudo da teoria gramatical. Vale dizer, o aluno é capaz de passar onze anos sem manter con- tato direto com a língua em si. O que lhe oferecemos é apenas a metalíngua (conceitos, regras, exceções), na ilusória certeza de estarmos ensinando a lín- gua. Ocupamos a maior parte do tempo com falatórios sobre a língua (em vez de ensiná-la) e com exercícios de aplicação dessa teoria toda (em vez de exercícios de domínio da língua). Fundamentos e Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa – 34 – Estamos assumindo aqui (e voltaremos à carga em outras oportunida- des) uma posição contrária ao ensino da teoria gramatical (isto é, o domínio da teoria gramatical não deve ser objetivo do ensino de português) por dois motivos. Primeiro, porque é possível dominar uma língua sem conhecer um pingo sequer da teoria gramatical. Segundo, porque a teoria que corre por aí, é incompleta (não dá conta da língua portuguesa como um todo); é absurda (os coitados de nossos alunos têm de aprender, por exemplo, que o sujeito é elemento essencial da oração; logo adiante,