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QUEIMADURAS INTRODUÇÃO: · A queimadura é uma lesão dos tecidos orgânicos, com destruição do revestimento epitelial, a partir de um agente externo 🡪 pode ser calor, frio, fonte elétrica, química. · Pode variar desde uma pequena bolha ou flictena até formas mais graves, capazes de desencadear um grande número de respostas sistêmicas. → Quanto mais grave for a queimadura, mais resposta sistêmicas teremos. Queimaduras de 2-3º graus já implicam em várias alterações sistêmicas. EPIDEMIOLOGIA · Estima-se que, no Brasil, ocorram em torno de 1.000.000 de acidentes com queimaduras por ano (nos EUA são reportados cerca de 4 milhões ao ano, sendo a 4ª causa de morte por acidentes traumáticos). · Destes, 100.000 pacientes procurarão atendimento hospitalar e cerca de 2.500 irão falecer direta ou indiretamente de suas lesões. · O Sistema Único de Saúde (SUS), no período entre 2013 e 2014, registrou mais de 15 mil casos de internações por queimadura em crianças com idade entre 0 e 10 anos 🡪 esses dados são subestimados. · No Brasil, o tipo de queimadura mais comum é a térmica, acometendo, principalmente, crianças menores de 5 anos. ETIOLOGIA: · ESCALDO: é a causa mais frequente de queimaduras; tende a ser mais grave nas regiões com roupas (mantém o líquido em contato mais tempo) e com líquidos mais espessos, como sopas, molhos, óleo, entre outros. Ex.: É quando cai algum líquido quente, é a mais comum na faixa pediátrica. · CHAMA: é a segunda causa mais frequente; quando atinge as vestimentas, geralmente causa queimaduras mais profundas. · FLASH BURN: as explosões, apesar de fugazes, atingem temperaturas muito elevadas, causando queimaduras profundas; as roupas, quando não incendeiam, conferem boa proteção. Além da queimadura pode atingir a pessoa a certas distâncias, fazendo ter outros traumas associados, são bem menos comuns que as outras. · QUEIMADURA POR CONTATO: Geralmente com metais e plásticos, tende a ser restrito a pequenas áreas, sendo as queimaduras, porém, mais profundas. · QUEIMADURAS ELÉTRICAS: Ocorrem devido à alta intensidade de calor e à lesão das membranas celulares; o calor gerado é diretamente proporcional à amperagem da corrente e da resistência do local por onde passou; apesar de a lesão da pele parecer restrita, há uma grande destruição das estruturas abaixo e nas proximidades, devendo sempre ser considerada mais grave que a aparência. Em função da passagem da corrente pelo organismo, requer atenta monitorização cardíaca, devido às arritmias, e urinária, devido à acidose ou mioglobinúria 🡪 a corrente percorre o corpo todo, alterando o sistema cardíaco, podendo desenvolver arritmias importantes, por isso deve-se realizar ECG seriados para evitar evolução para arritmia maligna. · QUEIMADURAS QUÍMICAS: Causadas mais frequentemente por ácidos ou álcalis em acidentes de trabalho, causam lesão progressiva até o agente ser totalmente removido, preferencialmente por água em abundância; devem ser consideradas profundas até prova em contrário. CLASSIFICAÇÃO QUANTO A PROFUNDIDADE: QUEIMADURAS DE PRIMEIRO GRAU: · Atingem a camada mais externa da pele e epiderme. · Esse tipo de queimadura não provoca alterações hemodinâmicas ou clínicas significativas, caracterizando-se por eritema e dor. · Todas as estruturas responsáveis pela reepitelização são preservadas, havendo reepitelização total, sem cicatriz, em 3 a 6 dias. *A recuperação da epiderme é muito rápida, não produz sinais clínicos 🡪 é a queimadura solar por exemplo. QUEIMADURAS DE SEGUNDO GRAU: · Atingem tanto a epiderme quanto parte da derme, poupando parte dos anexos cutâneos responsáveis pela reepitelização (glândulas sudoríparas ou folículos pilosos). · Clinicamente, caracteriza-se pela presença de bolhas ou flictenas. · Podem ser divididas em superficiais e profundas: · Superficial: É reconhecida pela superfície rósea abaixo das bolhas, ocorrendo cicatrização, sem sequelas, em 10 a 14 dias. · Profundas: Apresentam-se esbranquiçadas, menos dolorosas que as superficiais, e demoram de 25 a 35 dias para reepitelização, a partir dos poucos anexos dérmicos existentes, e fatalmente deixam cicatrizes com resultado estético não satisfatório. → Aqui já começa a gerar cicatrizes 🡪 já começamos a pensar em centros de tratamento específicos para queimados. Queimadura afetou a epiderme, derme papilar e derme reticular A queimadura nem sempre é uniforme, podemos ter áreas com queimadura superficial e outras com queimaduras mais profundas (na foto: centro da mão apresenta queimadura mais profunda). Foto 1: áreas róseas (queimaduras superficiais) e áreas mais esbranquiçadas onde provavelmente são queimaduras mais profundas). QUEIMADURAS DE TERCEIRO GRAU: · São queimaduras profundas, que atravessam toda a espessura da pele, acometendo tecidos profundos, como subcutâneo, músculos e ossos. · Não são dolorosas e não reepitelizam, devido à destruição de todos os anexos e das terminações nervosas dérmicas. · Apresentam aspecto céreo, com consistência endurecida, podendo apresentar, por transparência, vasos sanguíneos trombosados (sinal patognomônico). · São as mais graves de todas as lesões dérmicas, deixando sequelas deformantes. QUEIMADURAS DE QUARTO GRAU: · Necrose Total, Carbonização, Tecido negro. · Acometimento de todas as camadas. Esse tipo de queimadura invariavelmente evolui para a perda do membro (amputação) 🡪 geralmente queimadura elétrica com alta amperagem. TABELA - Classificação da profundidade da queimadura e suas principais características: ZONAS DA LESÃO TÉRMICA: · A queimadura contribui para inflamação local e sistêmica. Ao redor da lesão existe uma zona de isquemia cuja vascularização está comprometida. · Insultos adicionais nessa região, como hipoperfusão, extenso edema, hipóxia ou infecção, podem converter essa área marginalmente viável em tecido morto. São as chamadas zonas da queimadura. · A zona de isquemia é circundada por tecido inflamatório (zona de hiperemia) responsável pela liberação de inúmeros mediadores (citocinas, cininas, histamina, tromboxano e radicais livres) que aumentam a permeabilidade localmente e a distância. FISIOPATOLOGIA: · Com o trauma térmico, há exposição do colágeno tipos IV e V, pertencente aos endotélios vasculares, e consequente ativação e liberação de histamina pelos mastócitos. Essa histamina provoca aumento da permeabilidade capilar que, por sua vez, permite a passagem de um filtrado plasmático para o interstício dos tecidos afetados, provocando edema tecidual e hipovolemia (em paciente grande queimado tem risco de hipovolemia). · A ativação do sistema calicreína produz cininas que colaboram, ainda mais, para o aumento da permeabilidade capilar, agravando o edema e a hipovolemia. · As cininas e a exposição do colágeno ativam o sistema fosfolipase-ácido araquidônico, liberando prostaglandinas e aumentando, assim, a permeabilidade capilar. · Outra via ativada é a do tromboxano, que, junto com a plasmina e a trombina circulantes, provoca um depósito nas paredes desses capilares (depósito de coágulos e de fibrinas - micro trombos), ocasionando um aumento na pressão hidrostática de até 250%, contribuindo para o edema tecidual · Moléculas de alto peso atômico vazam para o interstício, levando com elas grande volume de água, o que provoca um intenso edema e diminui significativamente o volume circulante intravascular, levando ao choque hipovolêmico. · Com a lei de Starling inoperante, a capacidade de reter fluidos no intravascular vai-se agravando e atinge seu auge em torno de 6 a 8 horas. · Alterações da polaridade da membrana celular provocam a migração de sódio e água para dentro da célula e saída de potássio. A diminuição de volume circulante desencadeia elevados níveis de hormônio antidiurético e liberação de aldosterona, com retenção de sódio e excreção de potássio em nível renal, traduzida, clinicamente, por oligúria. · A perda da permeabilidade capilar é o fator hidramático mais importante na chamada "fase de choque" da queimadura, levando ao choque hipovolêmicoe à formação de edema com repercussões irreversíveis, se não tratada a tempo. · Esse fenômeno é bifásico, e a recomposição da permeabilidade se dá por volta de 18 horas com retorno total em 24 horas. · Outros fatores contribuem para o agravamento do choque no queimado, tais como o desaparecimento da barreira cutânea, o grande aumento das perdas insensíveis, a diminuição da velocidade de circulação no sangue e o aumento da viscosidade com obliteração de capilares junto à área queimada, aumentando a lesão. ALTERAÇÕES METABÓLICAS NO PACIENTE QUEIMADO: · Após uma queimadura, ou após qualquer grande trauma, o hipotálamo recebe, presumivelmente, sinais neuronais aferentes, revezando estímulos de dor, pressão, hipóxia, temor e ansiedade. · Um aumento dos hormônios catabólicos endógenos, primariamente o cortisol e catecolaminas, e ainda uma diminuição da atividade endógena normal de agentes anabólicos (hormônio humano do crescimento e testosterona) levam a uma grande perda da rede protéica do organismo. · Na vigência de um acentuado predomínio dos hormônios catabólicos, os substratos energéticos são mobilizados com ritmo duas a três vezes acima do normal. · A produção de glicose, ou gliconeogênese, está marcadamente elevada no queimado, e esse exagero de produção leva ao "diabetes do estresse“. · Em relação ao metabolismo lipídico, existe no queimado, assim como em outras formas de estresse, um aumento da lipólise, principalmente via catecolaminas, em particular estimulação β-adrenérgica. · O principal efeito no metabolismo das proteínas, após uma queimadura, é sua acentuada diminuição no organismo. · Os micronutrientes, sejam eles compostos orgânicos (vitaminas) ou inorgânicos (minerais), encontram-se diminuídos após uma queimadura, seja por aumento nas perdas, por consumo elevado e/ou reposição inadequada. IMUNIDADE: · Depressão maior no sistema de células T do que no sistema de células B, com uma depressão marcante do número de linfócitos T (T helper cells). · Com 24 a 48 horas de trauma, ocorrem as maiores alterações metabólicas, hormonais e celulares e, depois de 3 a 4 dias, ocorre o segundo pico de endotoxemia, que reativa as cascatas do ácido araquidônico e inflamatória da citocina. · Déficit da imunidade celular e humoral, diminuição da função dos linfócitos T, disfunção dos neutrófilos, diminuição da capacidade bactericida, alteração dos receptores de membrana, diminuição da IgG sérica 🡪 tudo isso leva ao organismo ser altamente suscetível a uma infecção CALCULANDO A ÁREA QUEIMADA - LUND BROWDER · O mais avançado método de cálculo de área queimada 🡪 é para cirurgiões plásticos, para nós, não é muito cobrado. · Leva em consideração as várias faixas de idade com precisão. Obs: Em caso de não existir um método disponível pode-se usar a palma da mão como medida de 1% para o cálculo. REGRA DOS NOVE · Rápido, prático, fácil de memorizar, pouco precisa. → Temos que decorar. Em provas, costumam colocar em pegadinhas: região anterior de MMII com queimadura e nenhuma em região posterior 🡪 ai consideramos metade do valor, nesse caso seria 18% AVALIAÇÃO DO QUEIMADO: A avaliação completa de uma pessoa com uma queimadura deve considerar: · O tipo de queimadura (como ele foi queimado - chama, escaldadura, elétrica ou química). · A profundidade e a extensão da queimadura, logo, a gravidade. · O risco de lesão inalatória (pelos nasais chamuscados, carvão escuro no escarro ou carvão na orofaringe). · Quaisquer condições médicas coexistentes (doença cardíaca, respiratória ou hepática; diabetes, gestação ou estados imunocomprometidos). · Quaisquer fatores predisponentes que podem exigir uma investigação mais aprofundada ou tratamento (uma queimadura resultante de uma crise tipo convulsiva ou desmaio). · A possibilidade de lesão não acidental. · As circunstâncias sociais da pessoa (se tem a capacidade de autocuidado ou necessidade de internação). PROGNÓSTICO: · Os principais fatores prognósticos de sobrevida de queimaduras são: área corporal queimada (mais importante), idade do paciente, lesão por inalação, obesidade, abuso de álcool e doenças degenerativas associadas. TRATAMENTO: · O principal foco de tratamento das queimaduras é a prevenção. · Apesar de o número de queimaduras ainda ser relevante, a mortalidade tem decrescido nas últimas décadas, devido a vários fatores, como: advento de protocolos de atendimento, maior disponibilidade de bancos de sangue, UTI mais preparadas, novas opções nutricionais e técnica cirúrgica melhorada. · Reposição volêmica nos grandes queimados. REPOSIÇÃO VOLÊMICA NOS GRANDES QUEIMADOS: · O volume de líquido extravasado do espaço intravascular é extremamente elevado sempre que a queimadura atinge mais de 15% da superfície corpórea 🡪 Essa perda se instala muito rapidamente e é constituída basicamente de água livre. · Existe perda de proteínas apenas após as primeiras 8 horas de evolução e, em geral, quando a queimadura é maior que 15% da superfície corpórea. · O retardo ou a insuficiência na reposição de líquidos determinam acentuado aumento nas taxas de morbimortalidade. · O esquema que preconizamos constitui-se na administração de RINGER LACTATO (pois tem menor concentração de cloro, evitando acidose metabólica), 2 a 4 ml/kg/% ACQ ao longo de 24 horas. · A metade desse volume deve ser infundida em 8 horas e o restante em 16 horas (solução deve ser aquecida de modo a evitar hipotermia). *Esse cálculo deve ser calculado a partir do momento que teve o trauma. · Infusões adicionais devem ser feitas de modo a atingir pressão arterial sistêmica média acima de 70 mmHg e diurese mínima de 0,5 a 1 ml/kg/hora em adultos. · Adicionalmente, devemos monitorar os níveis de lactato e da creatinina sérica. Mensuração e ajustes de pH e eletrólitos devem ser realizados constantemente. · A administração de coloides (ALBUMINA) deve ser iniciada apenas no segundo dia de evolução e/ou quando a albumina sérica é inferior a 2 g/dL. A quantidade sugerida é de 0,3 a 0,5 ml/kg/% ACQ de uma solução coloide 🡪 HOJE EM DIA NÃO SE APLICA NENHUM TIPO DE COLÓIDE, APENAS ADM CASO O LÍQUIDO DO PACIENTE NÃO ESTEJA PARANDO DENTRO DO VASO! HIDRATAÇÃO · Fórmula de Baxter e Parkland: 4 ml de Lactato de Ringer ou Soro Fisiológico X Kg X área queimada *Hoje se tem preferência ao Ringer Lactato e não soro fisiológico. · Composição do Ringer: Sódio, Cloro, Potássio, Cálcio, Lactato · A solução deverá ser administrada nas primeiras 24 horas 🡪 ½ nas 8 horas após o trauma. NUTRIÇÃO: · O suporte nutricional é decisivo na manutenção do sistema imune e no bloqueio da resposta hipermetabólica. · O mecanismo proposto inclui seus efeitos na espessura da mucosa intestinal e na redução da translocação bacteriana, prevenindo a sepse e a síndrome da disfunção de múltiplos órgãos. · É consenso que, no manejo do queimado, a nutrição enteral deve ser iniciada dentro de 24 horas do trauma e utilizada preferencialmente em relação ao suporte parenteral sempre que possível. · A avaliação nutricional do paciente deve ser realizada nas 24 horas da admissão, devendo conter os seguintes parâmetros: · Antropometria: deve-se obter o peso seco na admissão ou habitual e a altura. Calcular o índice de massa corpórea. · Avaliação da história dietética com o paciente e/ou familiares. · Avaliação de parâmetros bioquímicos. · Avaliação das perdas e do balanço nitrogenado. · Definir a via de administração da dieta com a equipe, preferencialmente por via oral, associada ou não à dieta enteral. · Uma avaliação de risco nutricional deve ser realizada na admissão do paciente. O estado nutricional atual e os riscos de depleção deverão ser considerados para a determinação do plano de cuidados, tipo de terapia nutricional a ser empregada e monitorização do paciente. CRITÉRIOS DE TRANSFERÊNCIA PARA UNIDADE DE QUEIMADOS: · Queimaduras de espessura parcial com mais de 10% da superfície corporal queimada (%SCQ). · Queimaduras envolvendo face, genitália, mãos, pés, períneo ou grandes articulações. · Queimaduras de 3º grau em qualquer faixa etária. · Queimaduraselétricas e químicas. · Lesão por inalação. · Queimaduras em pacientes com comorbidades. · Queimaduras associadas a traumas. · Queimaduras em crianças em instituição sem pessoal e equipamento qualificados. · Queimaduras em pacientes que irão necessitar de longa reabilitação social, emocional e funcional. …………………………………………………..PARTE 2 ……………………………………………………... Algumas das complicações que observa-se no grande queimado é a parte respiratória, não só por existir queimaduras externas, através de fumaça, calor e vapor, mas complicações respiratórias pelo próprio curso da doença, assim começa a evoluir com infecções (pneumonia, por exemplo). COMPLICAÇÕES CLÍNICAS NO GRANDE QUEIMADO: INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA: · As complicações respiratórias ocorrem em cerca de 1/3 dos pacientes que sofrem grandes queimaduras e estão relacionadas com a maioria das mortes. · Os sinais e sintomas iniciais da inalação de fumaça são taquipneia, tosse, dispneia, broncoespasmo e estridor. · Queimaduras de face e pescoço, queimadura das vibrissas nasais, eliminação de escarro carbonáceo e uma história de exposição em ambientes fechados podem indicar lesão por inalação. · A ocorrência de confusão mental, dor de cabeça, náuseas, fadiga, instabilidade cardiovascular, ataxia e rebaixamento do nível de consciência podem levar à suspeita de intoxicação por monóxido de carbono (CO). · Nos pacientes com queimaduras extensas, o aparecimento de taquipnéia, hipoxemia progressiva, relação Pa02/Fi02 < 200 e infiltrados radiológicos difusos podem ser sinais da síndrome do desconforto respiratório agudo, mas podem também significar hipovolemia e infecção. · No início do atendimento, deve-se dar atenção especial à manutenção da abertura das vias respiratórias, através da intubação, nos casos de queimaduras extensas, queimaduras envolvendo a face e o pescoço e na suspeita de lesão inalatória. · Pacientes com queimaduras de caixa torácica podem sofrer com síndromes restritivas e necessitar de escarotomia imediata, promovendo melhora na complacência da parede torácica e na complacência pulmonar. · A broncoscopia pode auxiliar no diagnóstico da lesão inalatória, na resolução de atelectasias pulmonares e na coleta de lavado brônquico para cultura, quando há suspeita de infecção pulmonar. · A afinidade da hemoglobina ao monóxido de carbono é 200-250 vezes maior que a afinidade ao oxigênio. Sinais Clínicos: · Muitas vezes subjetivos e que passam despercebidos no ambiente de terapia intensiva, como, por exemplo, cefaleia, falta de atenção ou de concentração, aprendizado e memória, e outros mais evidentes, como depressão, demência ou psicose, são sintomas que podem desenvolver-se de 2 até 28 dias da intoxicação por monóxido de carbono. Sinais e sintomas que devem alertar o médico perante um paciente com história de exposição ao monóxido de carbono: · Perda de consciência · Cefaleia · Confusão mental · Fadiga · Tontura · Distúrbios visuais · Vômitos · Acidose metabólica · Arritmia cardíaca Tratamento: · Os casos de intoxicação por monóxido de carbono devem ser tratados com oxigenoterapia a 1OO%, e · Pacientes com nível de carboxi-hemoglobina maior que 25% podem ser tratados com oxigenoterapia hiperbárica. · Tratamento tradicional da intoxicação por monóxido de carbono: LESÃO INALATÓRIA: · Na presença de inalação de ar, vapor e gases superaquecidos, fumaça e aspiração de líquidos superaquecidos, pode ocorrer a lesão das vias respiratórias superiores e inferiores. · Esse tipo de lesão cursa com edema das vias respiratórias superiores causado pela lesão térmica direta, broncoespasmo, obstrução das vias respiratórias inferiores causada pela presença de debris e perda do mecanismo ciliar, aumento do espaço morto e shunting intrapulmonar, diminuição da complacência pulmonar e torácica, edema alveolar, traqueobronquite ou pneumonia. O diagnóstico é realizado clinicamente baseando-se nos seguintes dados: · História de queimadura em ambiente fechado · Queimaduras faciais · Vibrissas nasais queimadas · Presença de debris carbonáceos no escarro, na boca ou na faringe · Edema nas vias respiratórias superiores · Dificuldade respiratória. O diagnóstico pode ser confirmado com a broncoscopia (edema, debris carbonáceos, úlceras e eritema). INFECÇÃO: · A infecção é a principal causa de mortalidade do grande queimado. · Um dos principais motivos para sua ocorrência é a quebra da barreira cutânea decorrente da necrose tecidual; quanto maior for a superfície de área corpórea comprometida pela queimadura, mais provável a ocorrência de infecção. · Outro motivo de extrema relevância para a aquisição de infecções são os dispositivos intravasculares necessários para administrar medicamentos, além dos dispositivos para melhor monitorização do paciente grande queimado, como cateter de pressão arterial média, cateter de Swan-Ganz e cateterização vesical. · A terapia antimicrobiana tópica é o componente isolado mais importante no tratamento da lesão em pacientes hospitalizados. · O tratamento tópico efetivo em pacientes queimados diminui infecções locais e a mortalidade, prevenindo a disseminação da infecção e assegurando uma enxertia bem sucedida. · As principais opções de agentes antimicrobianos tópicos são: SULFADIAZINA DE PRATA, SULFADIAZINA DE PRATA COM NITRATO DE CÉRIO, NITRATO DE PRATA A 0,5% e MAFENIDE. Prevenção de infecção em queimaduras: · Antissepsia correta das mãos com clorexidina degermante ou com gel alcoólico de toda a equipe. · O paciente grande queimado deve ficar em quarto privativo, em isolamento de contato, prevenindo-se assim de infecção e a transmissibilidade de bactérias multirresistentes. · A antibioticoterapia sistêmica profilática deve ser realizada para evitar a bacteremia após manipulação cirúrgica. Pode-se utilizar cefalosporina de 1ª ou 2ª geração, por ser o S. aureus o patógeno mais prevalente. · O uso de pomadas com antimicrobianos prolonga o tempo de esterilização da área queimada, devendo também ser utilizada se houver evidência de infecção nas queimaduras. · Desbridamento cirúrgico, removendo as áreas desvitalizadas, restos dermo epidérmicos, como as bolhas, com isso permitindo melhor ação da terapia antimicrobiana. *Vamos usar pomadas a partir de queimaduras de 2º grau para evitar uma infecção local. INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA: · A insuficiência renal aguda (IRA) pode desenvolver-se nos pacientes que apresentam extensas áreas de queimadura de 2° e/ou 3° graus. · A incidência de IRA no grande queimado varia de 0,5% a 30% na literatura. · A IRA precoce, aquela que se desenvolve na primeira semana do evento, está relacionada à hipovolemia em virtude da reposição volêmica inicial insuficiente e, também, em decorrência de rabdomiólise e hemólise. · A IRA tardia (após 5 a 10 dias) se instala na vigência de instabilidade hemodinâmica associada à sepse e concomitante ao emprego de drogas nefrotóxicas (principalmente antibióticos), geralmente culminando no desenvolvimento da síndrome da disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. QUEIMADURAS ELÉTRICAS: · As queimaduras elétricas correspondem de 5 a 15% dos casos de acidentes com queimaduras. · A maioria está associada a acidentes do trabalho, nos quais predominam as lesões com alta voltagem (acima de 1.000 Volts), em pacientes do sexo masculino. · As vítimas destes acidentes têm elevado grau de morbimortalidade, com alta incidência de amputações e distúrbios neurológicos, redução da qualidade de vida e baixo índice de retorno ao trabalho anterior, sendo que 5 a 32% não retornam a qualquer tipo de trabalho → queimaduras extremamente graves! · As taxas de mortalidade variam de 2 a 15%, nos mais diversos centros de queimados. · Aproximadamente 60-70% das lesões elétricas registradas devem-se a fontes de corrente de baixa voltagem. *A recuperação de queimadura elétrica é muito mais lerda do que queimaduras por chamas, por exemplo. Fisiopatologia: · As lesões elétricas resultam dos efeitos diretos da corrente e da conversão da energia elétrica em energia térmica enquanto a correntepassa pelos tecidos corporais. · Os efeitos sistêmicos e o dano tecidual da corrente do choque elétrico são proporcionais à magnitude e à intensidade da corrente recebida pela vítima. · Outros fatores que determinam a gravidade da lesão elétrica incluem o fluxo da corrente, o tipo de corrente, a duração do contato e o trajeto da corrente. · O fluxo da corrente (amperagem) está diretamente relacionado à voltagem do sistema e inversamente relacionado à resistência do trajeto da corrente. (Lei de Ohm: I=V/R) · A eletricidade flui através dos tecidos e gera calor, o que os danifica (Lei de Joule: Eel = R . i2 . ∆t) · A resistência dos tecidos aumenta gradualmente partindo dos nervos, para os vasos, músculos, pele, tendões, gordura e ossos. *Quando o paciente encosta em correntes alternadas ele não consegue soltar do fio, causando piores queimaduras - tetania muscular Queimaduras elétricas: · É importante notar que as lesões elétricas de alta voltagem se assemelham a uma síndrome de esmagamento e requerem descompressão adequada. · Dessa forma, o grau de danos nos tecidos é mais extenso do que pode ser percebido na análise inicial, devido à necrose progressiva e contínua do tecido. · Em lesões de alta voltagem, a vítima geralmente não permanece agarrada ao condutor. · Muitas vezes, esses pacientes são jogados para longe do circuito elétrico, o que leva a lesões traumáticas (múltiplas lesões ortopédicas, trauma cranioencefálico). · Como resultado dessas lesões associadas, esses pacientes devem ser considerados como politraumatizados. · A disfunção cardíaca, como a fibrilação atrial ou arritmias supraventriculares, são observadas em até um terço dos pacientes que sofreram queimaduras elétricas. A função elétrica do coração deve ser avaliada por um eletrocardiograma inicial e monitoramento contínuo do ritmo cardíaco durante as primeiras 24 h após a lesão. · A mionecrose, com mioglobinemia grave, como resultado de uma destruição maciça da musculatura pode levar à insuficiência renal aguda, apesar da reposição volêmica agressiva. · O tratamento da mioglobinúria inclui estabilização inicial e reanimação do paciente enquanto tenta-se, concomitantemente, preservar a função renal. A reposição líquida precoce e agressiva é benéfica para minimizar a ocorrência de insuficiência renal, enquanto os diuréticos osmóticos (manitol) e agentes alcalinizantes (bicarbonato) são considerados padrão no tratamento referente à prevenção da insuficiência renal aguda em pacientes com mioglobinúria. LESÕES QUÍMICAS: · As queimaduras químicas podem ser causadas por ácidos, por bases ou produtos de origem orgânica. · As queimaduras por ácido produzem necrose por coagulação e precipitação das proteínas. · As queimaduras por bases promovem necrose por liquefação. · Em relação ao processo de interromper a queimadura química, ainda prevalece, em nosso meio, o conceito da remoção do agente com lavagem abundante e nunca a neutralização do agente, salvo em situações especiais. *Não temos indicação de neutralizar o agente! SÍNDROME COMPARTIMENTAL: · As queimaduras de segundo/terceiro graus circunferenciais profundas podem provocar uma grave síndrome do compartimento que, se não for tratada de forma adequada, pode facilmente resultar na perda da extremidade envolvida. · As queimaduras circunferenciais completas, ou queimaduras que envolvem pelo menos três quartos da circunferência da extremidade, estão sujeitas ao risco da síndrome de compartimento. · A reação clínica que ocorre quando se desenvolve o edema durante as primeiras horas após a queimadura desencadeia um aumento de pressão ao nível muscular das extremidades. As extremidades ficam bloqueadas pela pele queimada, que não tem elasticidade. · Os principais sinais clínicos iniciais da síndrome compartimental são a insuficiência de pulsos nas artérias distais, palidez e membro frio, dor intensa inicial que depois diminui, alta tensão da mão ou do pé, dor no momento passivo do movimento flexão-extensão e parestesia. Escarotomias: · A adequada perfusão de uma extremidade ou da região cefálica pode ser comprometida caso haja uma queimadura circular (na maioria das vezes) ou não das extremidades ou do pescoço. · Deve-se realizar no eixo axial a incisão medial e lateral de toda a espessura da escara, de tal forma que, quando realizada, ocorre o pronto afastamento das bordas incisadas. · Deve-se iniciar sempre de proximal para distal, para que se interrompa o procedimento assim que se obtiver a perfusão da região. *Sempre realizar de proximal para distal – interrompendo o procedimento na hora que retornar a perfusão. ESCAROTOMIAS NAS MÃOS: NO TÓRAX E MEMBRO INFERIOR:
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