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resenha filme Sérgio

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Sergio 
Das baixas sentidas durante a invasão ao Iraque em 2003, nenhuma foi mais impactante, do 
lado dos ocidentais, do que a morte do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello. 
Representante da ONU que mediaria a transição política após a queda de Saddam Hussein, 
Sérgio ("todos conheciam ele pelo primeiro nome", diz em discurso o Secretário-Geral Kofi 
Annan) era tido como sucessor de Annan. O fiasco diplomático abalou as Nações Unidas, que 
hoje vê esvaziado seu papel de árbitro de conflitos mundiais. 
 
É a partir dessa gravidade, e à luz dos desencontros entre as lideranças políticas do mundo 
hoje, que o filme Sergio se organiza. Sua força precede o filme de certa forma, e vem desse 
contexto. Então Wagner Moura interpreta o diplomata, logo de cara, com altivez e firmeza no 
discurso, com voz impostada, gravando um vídeo para novatos na ONU ou dando ordens aos 
seus comandados. É como se seu status de protagonista também o precedesse, e é curioso 
notar como o filme dirigido por Greg Barker - que já havia feito um documentário sobre Sérgio 
em 2009 - assume isso como dado consumado e passa a tratar de outras questões na 
construção do personagem. 
 
Essas outras questões não estão necessariamente explicitadas no texto mas transpiram ao 
longo do filme; na dinâmica com seu jovem interesse amoroso, nas cenas de demonstração de 
atletismo e vigor físico, nos sorrisos fáceis de Moura enquanto caminha tranquilo pela rua no 
Timor Leste, na liberdade com que acelera a sua moto, o que temos é nada menos que um 
protagonista que, ciente do privilégio do seu próprio protagonismo, usa-o para se impor. Uma 
vez que o diplomata já surge no filme consolidado como mestre do seu ofício, a narrativa não-
linear acaba, talvez inconscientemente, lidando mais com as repercussões morais disso. É 
como se Sérgio fosse James Bond, o curioso agente secreto que todo mundo conhece, e que 
usa amoralmente a fama que o precede a seu favor. 
 
A comparação com 007 se insinua em escolhas de mise-en-scène que lembram thrillers 
sensuais nos Trópicos, o tipo de coisa que não se esperaria num relato sobre a ONU. De 
qualquer forma, Barker não parece muito empolgado em contar uma história sobre jogo 
político, e quando o faz soa bastante simplista. Seu filme é mais interessante quando tateia um 
jogo de influência e poder, aproveitando-se da química entre Wagner Moura e Ana de Armas. 
Na falta de intrigas políticas consistentes, o filme irradia o deslumbramento com o jogo de 
cintura e os impulsos sanguíneos do homem latino, um papel que Moura já fez vezes o 
suficiente para dominar sem esforço. 
 
Nas mãos de um narrador ciente desses potenciais "secretos", e não de um apologista 
comovido, Sérgio poderia aproveitar melhor as contradições de seu personagem e se 
aprofundar nelas, ao invés de traçar relações de causa e efeito de entrega rápida, pensadas 
para adequar a jornada do diplomata aos manuais de heroísmo e martírio do cinema. É um 
filme que se pretende uma história de amor e vocação, mas que no fim se aproxima mais de 
um relato de vaidade e força, num caso de autoengano atroz.

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