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Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
 
 
 
Currículo 
 
 
Unidade Nº 1 – Primeiras 
aproximações: concepções de Currículo 
 
 
 
 
Franciane Heiden Rios 
 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
 
 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
Introdução 
A palavra “currículo” remete a muitos significados e produtos no imaginário 
daqueles que atuam com a Educação ou a têm enquanto campo de estudo: aulas, 
planos, sistematizações, enfim, uma enorme conjuntura de objetos, recursos, 
práticas e documentos que permeiam a escola e as práticas pedagógicas. 
Diante desse cenário, cabe a primeira reflexão sobre o tema dessa primeira 
unidade: essas materializações são, de fato, a definição de Currículo como campo 
de estudo? 
O que queremos apontar com a questão proposta é que, para entender o 
produto inicial, intermediário ou final do currículo que se manifesta, é preciso 
compreender efetivamente o que é Currículo. 
Tanto em suas concepções, como em conceito, não é possível tê-lo como 
sinônimo exclusivo de plano de aula ou como recorte de conteúdos ou objetivos 
de aprendizagem. Para Silva (1996), “o currículo corporifica relações sociais” (p. 
23), assim sendo, está inseparável da cultura, da política, da realidade histórica, 
da organização social e de ideologias. Ou seja, constitui-se em um campo 
complexo de estudo, que se altera e modifica a linguagem do mundo social, em 
um movimento de retroalimentação. 
Assim, teremos como objetivo principal nesta primeira unidade ampliar as 
reflexões sobre o termo Currículo, conceituando-o, para, a partir dessa definição, 
atingir objetivos específicos: 
1) Ampliar a discussão de currículo como processo social; 
2) Compreender a relação entre complexidade e valoração na 
viabilização do processo de ensino-aprendizagem, tendo como referência os 
níveis de Currículo (formal, real e oculto); 
3) Identificar, de forma inicial, as nuances entre concepções de 
currículo e práticas pedagógicas. 
Nesse percurso de novos conhecimentos, algumas perguntas serão 
fundamentais ter-se em vista: Para quem? Para quê? Como? Afinal, conforme será 
discutido no decorrer do texto, enquanto território de constante transformação, 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
são essas três questões que, de fato, nos permitirão avançar e legitimar o que 
aqui se propõe como objetivos de aprendizagem. 
Desejo a todos bons estudos! 
 
1. A complexidade do termo Currículo 
Para compreender a relação Currículo X Escola é preciso, inicialmente, 
responder à pergunta: O que é Currículo? 
Etimologia: 
Currículo deriva do latim curriculus, de currere e significa “o ato de correr, 
percurso”. 
 
A definição etimológica já aponta para alguns elementos essenciais para a 
compreensão de currículo. Ao relacioná-lo às palavras “ato” e “percurso”, já é 
possível observar que Currículo prevê obrigatoriamente uma ação e um processo 
(percurso). Nesse sentido, a primeira característica indissociável de currículo é a 
de que sua concepção se dá com objetivo de agir sobre/com/junto a algo/alguém 
na intenção de transmitir alguma coisa. 
Portanto, Currículo representa tudo o que se estabelece antes da ação: 
intenção, concepção, entre outras; durante a ação: métodos, metodologias, 
escolhas, assuntos, entre outros; e, por fim, como resultado da ação: o que se 
aprendeu, com o que se teve contato, o que se privilegiou em decorrência de 
escolhas teóricas, etc. 
Assim, ampliando a concepção, podemos entender Currículo como: 
[...] um dos locais privilegiados onde se entrecruzam saber e 
poder, representação e domínio, discurso e regulação. É também 
no currículo que se condensam relações de poder que são cruciais 
para o processo de formação de subjetividades sociais. Em suma, 
currículo, poder e identidades sociais estão mutuamente 
implicados. [...] (SILVA, 1996, p. 23) 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
Enquanto local privilegiado, o currículo estabelece-se como campo 
permeado de ideologia, cultura e relações de poder, sendo esses os três principais 
elementos a serem compreendidos na manifestação curricular. Para Moreira e 
Silva (1997), ideologia consiste na veiculação de ideias que transmitem 
determinadas visões do mundo social. Cada grupo social possui determinada 
visão e, portanto, opera socialmente de acordo com sua visão. 
Já em relação à cultura, podemos entendê-la, brevemente, como uma “teia 
de significados” (GEERTZ, 2007), que orienta a existência humana. Trata-se de um 
conjunto de valores, hábitos, costumes e símbolos que interagem com os 
sistemas individuais dos sujeitos em uma troca recíproca. Benedict (2000) 
esclarece: “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo”. 
Entre ideologia e cultura estabelecem-se as relações de poder. 
Por vezes, para melhor compreender conceitos complexos, precisamos 
exercitar a criatividade e, também, aproximá-los de “situações corriqueiras”. É 
fato que essa aproximação não deve ser a única reflexão proposta, porém, ela é 
subsidiária para que seja possível avançar no entendimento de um conceito 
profundo e que entrelaça campos tão mais complexos, como no caso do 
Currículo. Dito isso, o convidamos para que, juntos, analisemos a situação 
hipotética a seguir. 
Observe a imagem: 
Fonte: Shutterstock@ 1252324903 
Nessa imagem, está representada a planificação de uma pirâmide de base 
quadrada. Caso todas suas “beiradas” estivessem coladas, a imagem 
tridimensional visível aproximada seria essa: 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
 Fonte: Shutterstock@ 1343328605 
Porém, retornando à frase de Benedict (2000): “a cultura é como uma lente 
através da qual o homem vê o mundo”, é possível afirmar que, dependendo do 
local de observação, cada pessoa identificaria uma figura geométrica plana 
diferente. Vejamos: 
 Fonte: Elaborado pela autora, 2019. 
Dessa observação, seriam possíveis afirmações: - Vejo um quadrado! – Vejo 
um triângulo! E, no caso, nenhuma delas estaria errada, pois, apresentam o 
“recorte do observador”, seu papel parcial, permeado por ideologia e cultura. 
As relações de poder se estabelecem nesse cenário quando o observador 
da base, por exemplo, é aquele que “tem o poder” e, portanto, define o que é 
verdade e o que será, a partir de agora, adotado como padrão. Ou seja, 
independente do observador e do que ele vê, o quadrado deverá ser assumido 
como correto e aceito. 
Assim, nessa tríade, o currículo acabaria por praticar “os valores, os hábitos 
e costumes, os comportamentos da classe dominante” (SILVA, 1996, p. 47), na 
manifestação das relações de poder, oriundas do modelo social vigente. 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
Entretanto, é preciso destaque para o fato de que nenhum dos observadores são 
passivos. Por isso, a afirmação do currículo enquanto campo filosófico, dinâmico 
e que “assinala uma mudança em direção a um conjunto de condições sociais que 
estão reconstituídas no mapa social, cultural e geográfico do mundo e 
produzindo, ao mesmo tempo, novas formas de crítica cultural.” (GIROUX, 1993, 
p. 15). 
 
Saiba mais! A UNESCO-IBE, em um trabalho conjunto, colaborativo e 
intermitente disponibiliza para acesso o Glossário de Terminologia Curricular. 
Esse documento não tem como objetivo estabelecer definições padrão 
universalmente aplicáveis sobre o termo “Currículo”. Em vez disso, intenciona 
apresentar conceitos e práticas diversas, contribuindo para a reflexão no âmbito 
de sistemas educacionais sobre o papel da terminologia curricular na promoção 
de melhorias significativas. Portanto, essa leitura pode enriquecer seus 
conhecimentos acerca das concepçõescurriculares, bem como, ser interessante, 
seja por sua proposta, seja pelo formato em que se apresenta. 
Disponível em: http://movimentopelabase.org.br/wp-
content/uploads/2016/10/glossario_unesco.pdf 
 
1.1. Currículo escolar 
Na transposição para a escola, o currículo é assumido como o elemento 
central do projeto pedagógico. Complexo e relativo como todo processo social, 
ampara lado a lado os fatores lógicos, epistemológicos, intelectuais e 
determinantes sociais (poder, interesses, conflitos simbólicos e culturais). É ele 
que organiza e viabiliza o processo de aprendizagem: “[...]é a ligação entre a 
cultura e a sociedade exterior à escola e à educação; entre o conhecimento e 
cultura herdados e a aprendizagem dos alunos; entre a teoria [...] e a prática 
possível, dadas determinadas condições.” (SACRISTÀN, 1999, p. 61). 
Young et al (2014) inclusive destacam que, em sua visão, “[...] currículo é o 
conceito mais importante que emergiu do campo dos estudos educacionais” (p. 
http://movimentopelabase.org.br/wp-content/uploads/2016/10/glossario_unesco.pdf
http://movimentopelabase.org.br/wp-content/uploads/2016/10/glossario_unesco.pdf
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
197), afinal, tem como propósito a aprendizagem, a “mais básica atividade 
humana”, permitindo a produção de conhecimentos. 
Como campo de conhecimento e objeto de estudo, as perspectivas de 
análise do currículo avançam para várias correntes de pensamento, 
principalmente, a partir do século XX, sendo possível destacar duas abordagens 
distintas e antagônicas: o eficientismo e o progressivismo. 
O eficientismo é marcado por uma perspectiva de resultado, como o 
próprio termo já transparece. É a transposição do modelo industrial e fabril, 
resultado da Revolução Industrial, para a escola. A eficiência, etapas e sequência 
linear de uma linha de produção é tida como ideário ao processo educacional e, 
diante do resultado dessa organização no campo econômico, surge como 
promessa no campo da Educação. É desse pensamento estrutural fortemente 
ancorado na administração científica que derivam as abordagens tradicionais do 
currículo, tema que será desenvolvido na unidade dois. 
A progressivismo contrapõe-se à ideia do eficientismo. Como já discutimos, 
sendo a experiência humana ampla, diversa e complexa e o currículo espaço 
cultural, ideológico e político, o eficientismo buscava uma “neutralidade” 
impossível, bem mais que isso, desconsiderava em grande medida a ação e a 
intervenção ativa dos sujeitos no processo educacional. Portanto, o 
progressivismo questiona, principalmente, o fato do eficientismo desconsiderar 
as questões humanas, tendo a escolarização apenas como evento para formação 
instrumental de métodos e a organização do currículo apenas sob a perspectiva 
técnica. É dessa perspectiva que se consolidam as teorias críticas e pós-críticas, 
temas da próxima unidade. 
Compreender nesse momento a existência da dualidade (eficientismo x 
progressivismo) teórica acerca do currículo nos permite, principalmente, nesse 
momento, compreender que, assim como todo conhecimento e como já 
evidenciamos até o momento, é possível entender o currículo sob diferentes 
perspectivas. O que não é possível enquanto profissionais da educação é 
compreender essas perspectivas de forma descontextualizada de todas as 
demais relações que fundamentam, incorrendo no risco de assumirmos como 
“verdade” ou “qualidade” modelos e propostas já comprovadamente inefetivas. 
É necessário conhecer a totalidade da construção teórica e do pensamento 
enquanto profissionais para, assim, perceber e poder exercer com êxito a 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
profissão a que nos propomos, nesse caso, a de educadores. Uma reflexão 
simples, mas, muito pertinente a respeito da teoria da Origem da Vida. 
Durante muito tempo, a perspectiva da Abiogênese ou geração espontânea 
foi tida como verdade científica aceita. Nessa hipótese, os seres vivos poderiam 
surgir da matéria sem vida, a partir de substâncias que possuíam a chamada 
“força vital”. Uma comprovação empírica dessa premissa era o surgimento de 
moscas sobre a carne e de ratos em trapos sujos. Entretanto, no século XVII, o 
cientista Francesco Redi realizou o experimento representado na figura 3 e, essa 
teoria, até aquele momento aceita, entrou em descrédito e, posteriormente, em 
desuso. 
Figura 3: Experimento de Francesco Redi sobre geração espontânea de vida 
Fonte: https://blogdoenem.com.br/origem-vida-teorias-biologia-enem/ 
 
 Na atualidade, outros cientistas avançaram em pesquisas e, com isso, as 
discussões e teorias foram remodeladas e novos conhecimentos passaram a 
integrar o conhecimento humano. Mas, a questão pertinente é: qual a relação 
desse experimento com a perspectiva da teoria curricular e, consequentemente, 
com o conceito de currículo? 
 Apesar de limitador e questionável em muitos aspectos, se não 
conhecemos a proposta eficientista, não podemos avançar para a progressista e, 
também, se não exercitarmos nosso senso crítico, pouca será nossa contribuição 
para a melhoria dos currículos em qualquer que seja a perspectiva. 
https://blogdoenem.com.br/origem-vida-teorias-biologia-enem/
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
Cabe lembrar que a distinção entre as abordagens até aqui trabalhadas 
ficarão mais evidentes quando avançarmos nas Teorias Curriculares, conteúdo da 
unidade 2, sendo primordial, nesse momento, retornamos à concepção e 
conceito geral de currículo. Assim, com as discussões até aqui propostas 
podemos considerar currículo como: 
- um espaço de relações sociais e de poder com uma história específica; 
isso está relacionado com a ideia de que o currículo pode ser entendido 
como “conhecimento dos poderosos”; 
- um corpo complexo de conhecimentos especializados e está ligado a 
saber se e, em que medida, um currículo representa “conhecimento 
poderoso” – em outras palavras, é capaz de prover aos alunos recursos 
para explicações e pensar alternativas, qualquer que seja a área de 
conhecimento e a etapa da escolarização. (YOUNG et al, 2014, p. 201) 
Para efeito de análise, diante de um resumo tão complexo de relações, 
alguns estudos a partir das décadas de 1960 e 1970 indicaram a classificação em 
três distintos graus de aprofundamento do currículo: formal, real e oculto. Em 
cada nível é possível a identificação de posicionamentos de valores e, 
consequentemente, a distinção do aprendido ou não pelo estudante. 
Para a melhor compreensão desses níveis, e de como eles efetivamente se 
estabelecem como práticas pedagógicas, as análises de suas estruturas serão 
orientadas pelas três questões indicadas no início da unidade: Para quem? Para 
que? Como? permitindo, assim, refletir sobre a complexidade desse campo nas 
macro e micro estruturas da escola. 
Você quer ler? Livro: Indagações sobre Currículo: Currículo e Avaliação, 
organizado por: Jeanete Beauchamp, Sandra Denise e Pagel Aricélia Ribeiro do 
Nascimento, para Ministério da Educação/MEC – Secretaria da Educação Básica. 
Nesse livro, os textos organizados se propõem a trabalhar concepções 
educacionais e a responder às questões propostas pelos coletivos das escolas e 
das Redes, a refletir sobre elas, a buscar seus significados na perspectiva da 
reorientação do currículo e das práticas educativas. 
Link: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag5.pdf 
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag5.pdf
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
 
2. Currículo formal 
 Currículo formal também é chamado de currículo prescrito. Refere-se às 
intenções educativas estabelecidas às redes e sistemas de ensino. Sua 
materialização se dá em diretrizes curriculares, matrizes e, também, em 
referenciais,tendo como princípio organizar objetivos e conteúdos das áreas e 
disciplinas de estudo. 
 Assim, sistematizando a primeira resposta às questões propostas - Para 
quem? - é possível afirmar que o currículo formal é genérico e global, se 
estabelece enquanto regra e normativa a todos os sistemas e redes de ensino. 
2.1. Currículo normativo 
 Uma das questões primordiais para entender as necessidades de 
considerar a importância do currículo prescrito é entender a natureza do 
processo educativo. Young (2014) afirma que existem duas questões relacionadas 
e cruciais sobre o aspecto normativo das abordagens curriculares. São elas: 
1) A educação é uma atividade prática. Para ele, 
[...] Não é como a física, filosofia ou história - campos de 
investigação que buscam a verdade sobre nós e sobre o mundo e 
o universo que habitamos. A educação trata de fazer coisas com e 
para os outros; a pedagogia é sempre uma relação de autoridade 
[...] e devemos aceitar essa responsabilidade. A educação 
preocupa-se, antes de mais nada, em capacitar as pessoas a 
adquirir conhecimentos que as leve para além da experiência 
pessoal, e que elas provavelmente não poderiam adquirir se não 
fossem à escola ou à universidade. (YOUNG, 2014, p. 196) 
2) A educação é uma atividade especializada, consequentemente, o currículo 
também o é. Sendo, portanto, imprescindível “[...] desenvolver currículos 
melhores e ampliar oportunidades de aprendizado.” (YOUNG, 2014, p. 197). 
Diante desses dois itens, a segunda questão se elucida - Para que? O currículo 
prescrito teria, então, como desafio e meta organizar os conhecimentos de 
relevância histórica, social e cultural a todos que fazem parte do sistema de 
ensino. Por fim, a última questão - Como? - seria expressa na materialização em 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
normativas da duas questões anteriores. Portanto, de acordo com o efetivo 
documento que agrupa informações ao campo educacional: “[...] o que ensinar, o 
para que ensinar, o como ensinar e as formas de avaliação, em estreita 
colaboração com a didática” (2008, p. 168). 
Cabe lembrar que a “prescrição” fragmenta-se em recortes curriculares 
conforme aproxima-se da sala de aula e do estudante. Assim, na figura 4 
podemos identificar que o currículo, nesse caso, se ramifica da lei maior da 
Educação Brasileira - LDB 9394/96 - para o Plano Nacional da Educação e, por fim, 
para a Base Nacional Comum Curricular e seus desdobramentos nos currículos 
específicos das redes, que, a partir do documento orientativo, reestruturam seus 
currículos locais. Veja: 
 
 
 
Figura 4. Currículo prescrito. Fonte: a autora, 2019. 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
Você quer Ler? 
Artigo: BNCC - Desafios e oportunidades na Educação Básica - por Maria Helena 
Guimarães Andrade. 
Neste artigo, a BNCC é apresentada, historicizada e, mais à frente, são 
discutidas as possibilidades, desafios e oportunidades dos municípios no 
processo de reestruturação de seus currículos frente à nova proposta nacional. 
Link: https://conexiaeducacao.com.br/wp/blog/bncc/ 
 
 
3. Currículo real 
 Currículo real também é encontrado como currículo “em ação” na literatura 
acadêmica. Em uma breve explicação, diz respeito às práticas efetivas na escola, 
em sala de aula. Veja: 
https://conexiaeducacao.com.br/wp/blog/bncc/
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
Figura 5. Identificação do Currículo real. Fonte: a autora, 2019. 
 Retornando às questões orientadoras: “Para quem? Para quê? Como?”, a 
primeira característica está no público desse currículo: professores e alunos. 
Trata-se da efetividade no dia a dia da sala de aula dos conhecimentos prescritos, 
considerando as particularidades das vivências locais e individuais, bem como da 
identidade e das maneiras de pensar sobre esses conhecimentos organizados em 
normativas. 
 A resposta da questão “Para quê?” Em se tratando do currículo Real, ainda 
é objetiva no sentido de “promover a aprendizagem”, bem como a da questão 
“Como?” que seria possibilitar que os conhecimentos sejam, como aponta Young 
(2014) “ensináveis” e “aprendíveis” “[...] por alunos de diferentes etapas e idades.” 
(YOUNG, 2014, p. 199). Mas, como a aproximação humana e contextualizada 
torna-se mais efetiva, apenas essas afirmações cartesianas são insuficientes para 
entender a materialização do currículo em ação. 
3.1. Currículo em ação 
O currículo real consiste nas adaptações feitas no cotidiano pelos 
professores ao notarem o interesse de seus alunos por determinado assunto, por 
exemplo. 
“A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão 
individual e a de classe dos educandos, cujo respeito é 
absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é 
problema que não pode ser desprezado. Tem que ver diretamente 
com a assunção de nós por nós mesmos (FREIRE, 2002, p. 34).” 
 Assim, ao conceituar currículo real é preciso considerar as interações e, 
mais que nunca, o processo de recontextualização que, para Young (2014), 
consiste em “[...] uma palavra relativamente simples para um processo 
extremamente complexo.” (2004, p. 199). 
Para compreender um pouco melhor o currículo em ação convidamos a todos a 
refletir sobre a seguinte proposta de trabalho: 
Tema: Andiroba 
Conteúdo: Gêneros textuais (texto informativo) e Usos do Solo (cultivo x extração 
da semente da Andiroba) 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
Disciplina: Ciências e Língua Portuguesa 
Turma: 3º ano - Fundamental I 
Em recorte, a professora tem como objetivo apresentar a Andiroba por 
meio de textos informativos, propor a produção autoral de um texto coletivo com 
características informativas e, a partir dele, discutir como se dá a extração e/ou o 
cultivo dessa planta e o processamento da semente para os produtos usados no 
cotidiano. A professora inicia mostrando a imagem da semente de Andiroba e, a 
partir dela, verifica os conhecimentos prévios sobre o assunto. 
Figura 5: Semente de Andiroba. Fonte: https://www.tuasaude.com/andiroba/ 
Esse exemplo permite que façamos algumas perguntas iniciais: 
- Sendo um recurso natural da Floresta Amazônica, estudantes de todas as 
regiões do Brasil teriam a mesma relação com o conteúdo? 
- Sendo previstas relações diversas com o mesmo conteúdo, as propostas 
metodológicas da professora deveriam ser as mesmas indiferentemente 
do contexto? 
- Havendo especificidades regionais de flora, deveria esse conteúdo ser 
retirado do currículo de determinadas regiões? 
Não temos como objetivo neste tópico responder essas questões, apenas 
propor essas reflexões, para que seja possível perceber que, independente das 
ações tomadas pela professora, o fato é que haverá recontextualização do 
currículo, instaurando o que Young (2014) afirma ser a “inevitável tensão entre os 
papéis do governo e das comunidades educacionais na elaboração do currículo.” 
(p. 199). 
https://www.tuasaude.com/andiroba/
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
 Portanto, como entendimento inicial das discussões sobre currículo em 
ação, o fundamental para avançarmos no tema “Currículo” é entender que da 
prescrição do currículo formal, o currículo real avança para, efetivamente, o 
processo ensino-aprendizagem, no qual “transmitir” ou “transferir” conteúdos 
não são práticas possíveis para a construção do conhecimento. 
Você quer Ler? Artigo: Ponto de chegada: a definição do currículo, por: Daniela 
Almeida, para Nova Escola. Nesse texto, são discutidas as características inerentes 
a um “bom currículo” no que se refere aos objetivos de aprendizagem dos 
estudantes. Assim, trata-se da análise fundamental do Currículo Real e da relação 
deste com a prática pedagógica. 
Link:https://novaescola.org.br/conteudo/1531/ponto-de-chegada-a-definicao-do-curriculo 
 
 Assim, das diretrizes, normativas e legislação, escolas e professores 
selecionam e ressignificam conteúdos para seus estudantes, considerando os 
aspectos culturais, históricos e sociais em uma perspectiva mais próxima da 
realidade desses estudantes. Entretanto, os objetivos de aprendizagem são 
propostos pelo professor, que considera assim, apesar das relações humanas, o 
processo educacional a partir de seus planos e sistemas. Porém, existem 
influências, que já são percebidas no currículo em ação, mas que se evidenciam 
no Currículo Oculto, tema discutido a seguir. 
4. Currículo oculto 
 Na proposta analítica de níveis de currículo, o último a ser apresentado e 
discutido é o Currículo oculto ou implícito. Esse termo é utilizado para denominar 
as influências que afetam as aprendizagens dos estudantes e a prática dos 
professores mas que, de certa forma, são implícitas e, por vezes, não percebidas 
de forma consciente pelos interlocutores do processo. 
 Em uma sistematização básica, podemos entender o currículo oculto da 
seguinte forma: 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
1. Para quem? - Comunidade escolar em geral (professores, estudantes, 
pedagogos, entre outros diretamente envolvidos no processo de ensino-
aprendizagem) 
2. Para quê? - Representação do aprendido, diariamente, em meio às várias 
práticas, atitudes, comportamentos, gestos, percepções que vigoram no 
meio social. 
3. Como? - Por observação, interação e reprodução. 
 Ou seja, o currículo oculto não aparece no planejamento do professor, não 
é avaliado nas provas semestrais, não é tido como objetivo das famílias, 
tampouco é ponderado nas avaliações de desempenho. Para os estudantes, por 
vezes, é o definidor do comportamento aprendido, é o que, de forma precisa e 
ágil, colabora para a construção identitária dos sujeitos. 
Você quer Ler? Artigo: Estigma e Currículo Oculto, por: Rita de Cássia Barbosa 
Paiva Magalhães e Erasmo Miessa Ruiz. 
Nesse artigo, é proposta uma discussão profunda sobre estigma e suas 
formas de manifestação no currículo da escola, a partir do conceito de currículo 
oculto. Link: http://www.scielo.br/pdf/rbee/v17nspe1/10.pdf 
 
4.1. Currículo como construtor de identidade 
Efetivamente, é possível compreender currículo oculto como normas e 
valores implícitos, transmitidos nos ambientes escolares. Apple (1982) e Santomé 
(1995) evidenciam algumas características peculiares à escola como ambiente 
gerador de comportamentos: 
a) Local em que hábitos são ensinados de forma subliminar por 
intermédio da organização e sua prática pedagógica. Por exemplo: 
alunos exitosos nas avaliações são recompensados, reforçando a lógica 
de recompensas e punições. 
http://www.scielo.br/pdf/rbee/v17nspe1/10.pdf
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
b) Constante vigilância de comportamento e disciplina. Por exemplo: sinal 
com marcações de horários, fila para entrar na sala de aula e outras 
práticas que fracionam “trabalho” e “lazer”. 
c) Fração entre “desejos pessoais” e “intencionalidades institucionais”. Por 
exemplo: escolha dos grupos de trabalho, local para sentar na sala, 
entre outros. 
d) Categorização dos estudantes via avaliações e, também, predileções 
(elogios ou censuras). Por exemplo: veja fulano como é bem 
comportado! 
Diante dessas constatações, podemos identificar que, mais que ensinar 
matemática, língua portuguesa e ciências, a escola e seus atores em suas escolhas 
“não objetivas”, acabam por ensinar pertencimento, ambiguidades, preconceitos 
e, intencionalmente ou não, reproduzir aquilo que, por vezes, o currículo formal 
e real propõe transformar. 
Observe a imagem a seguir: 
Figura 6: Placas de identificação de banheiros na Educação Infantil 
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/552605816772036873/?autologin=true 
 Esses recursos visuais de identificação são muito comuns e recorrentes no 
espaço da escola e, dificilmente, analisamos sob a perspectiva crítica que nos 
instrumentaliza o currículo oculto. Sabendo que um dos elementos previstos, 
tanto no currículo formal como no real é a diversidade, garantindo as matrizes 
africanas e indígenas, ao retornarmos a imagem, veremos crianças de um único 
grupo identitário. Sabendo que: 
[...] o conhecimento não é exterior ao poder, o 
conhecimento não se opõe ao poder. O conhecimento não 
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é aquilo que põe em xeque o poder: o conhecimento é 
parte inerente do poder [...], o mapa do poder é ampliado 
para incluir os processos de dominação centrados na raça, 
na etnia, no gênero e na sexualidade. (SILVA, 1999, p. 84) 
Poderíamos dizer, assim, que optar pela representação da Figura 6 e não 
por, talvez, a representação a seguir (figura 7), implicitamente, haveria a 
predileção de determinado conhecimento em relação a outro? 
Figura 7: Representação de menino. Fonte: Shutterstock@1148150969 
 Novamente, como unidade introdutória às questões complexas ao que se 
relaciona ao tema currículo, não objetivamos responder tal questão, apenas 
ilustrar situações reais e cotidianas da escola e como elas se relacionam com o 
campo teórico da disciplina de Teorias do Currículo. Tais reflexões são 
fundamentais para compreender as correntes de pensamento e, também, à 
construção dos documentos que orientam os currículos no seio da educação 
brasileira. 
Compreendendo a perspectiva dos três níveis de currículo, é possível vê-lo 
tomar forma na escola, a partir das práticas que o constituem em diversas 
dimensões, mas que se inserem intencionalmente ou implicitamente nas ações 
dos professores e nas aprendizagens dos estudantes. 
O currículo deve estabelecer, portanto, uma relação dinâmica dentro do 
ambiente no qual se insere, alterando perspectivas e, com isso, ressignificando-
se e redesenhando práticas e propostas. 
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
Você quer ver? Emocionando o currículo oculto | Diego Díaz Martínez | 
TEDxRúaSanFroilán 
Nesse vídeo, Professor Diego discute e reflete como o Currículo Oculto se 
faz à base do dia a dia da sala de aula e sobre sua importância na aprendizagem. 
Professor de Educação Primária e Licenciado em Jornalismo, seu trabalho junto 
aos estudantes vem se destacado ao aliar ensino e comunicação. 
Link: https://www.youtube.com/watch?v=M1Tn0vFGwEo 
 
Síntese 
Nessa unidade, discutimos as concepções de “currículo”, ampliando seus 
significados para, a partir de reflexões e exposições teóricas, esboçar o conceito 
pertinente que irá orientar a trajetória de aprendizagem sobre o tema. Assim, 
definimos Currículo como: um sistema de relações sociais permeado por 
ideologia, cultura e relações de poder. 
No que diz respeito ao currículo escolar, analisamos sua materialização em 
três níveis conforme Figura 8. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=M1Tn0vFGwEo
https://www.youtube.com/watch?v=M1Tn0vFGwEo
Currículo - Unidade N° 1 - Primeiras aproximações: concepções de Currículo 
 
Figura 8. Níveis do Currículo nos espaços escolares 
Fonte: Elaborado pela autora, 2019. 
 
 
 Assim, podemos evidenciar como principais conteúdos abordados nesta 
unidade: 
● Conceito de currículo enquanto campo teórico; 
● Conceito de currículo escolar e seus níveis para análise; 
● Materialização e breve análise do currículo formal nas práticas 
pedagógicas; 
● Materialização e breve análise do currículo real nas práticas 
pedagógicas e, por fim; 
● Discussão e análise do currículo oculto em sua perspectiva 
educativa. 
 
 
 
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Bibliografia 
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do Brasil, 2000. 
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ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. 
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. New York: Basic Books, 2007. 
GIROUX, Henry. O pós-modernismo e o discurso da crítica educacional. In: 
SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Teoria educacional crítica em tempos pós-modernos. 
Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. 
MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa; SILVA, Tomaz Tadeu. (Org.). Currículo, 
cultura e sociedade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997. 
SACRISTÁN, J. G. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto 
Alegre: Artmed, 1998. 
____________, J. Gimeno. Poderes instáveis em educação. Tradução de Beatriz 
Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed, 1999. 
SANTOMÉ, J. T. O curriculum oculto. 3. ed. Porto: Porto Editora, 1995. 
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidades terminais: as transformações na política 
da pedagogia e na pedagogia da política. Petrópolis: Vozes, 1996. 
YOUNG, Michael. Teoria do currículo: o que é e por que é importante. 
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 44, n. 151, p. 190-202, jan./mar. 2014. 
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/198053142851>. Acesso em 15 jun. 
2019.

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