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Sabrina Angheben │ Urologia Urgências Urológicas Definições Emergência consiste em perigo de vida ou de viabilidade de um órgão, sendo necessária a resolução imediata. As emergências urológicas são priapismo, escroto agudo, parafimose e síndrome de Fournier. Já a urgência é uma situação sem perigo de vida ou viabilidade imediatos, sendo necessária a resolução em até 24 horas. Na urologia, as principais urgências são a cólica renal e a retenção urinária. Anatomia urológica Testículos ● Escroto - É uma bolsa músculo-cutânea que contém os testículos, epidídimo e primeira porção dos ductos deferentes - A bolsa escrotal costuma ser 1ºC mais baixa que a temperatura corporal - Composição (fora para dentro) - Cutis - Pele enrugada com pregas transversais e pelos esparsos - Túnica dartos - Músculo cutâneo liso - Tela subcutânea - Tecido conjuntivo frouxo - Fáscia espermática externa - Lâmina de tecido conjuntivo do ângulo inguinal até escroto - Fáscia cremastérica - Tecido conjuntivo que prende as fibras musculares estriadas verticais - Túnica vaginal - É um saco peritoneal fechado - Composto por parte visceral e parietal - A lâmina visceral envolve o testículo, epidídimo e parte inferior do ducto deferente - Entre as lâminas, encontra-se uma cavidade preenchida com líquido ● Testículos - Possuem uma face externa fibrosa e resistente denominada túnica albugínea - Irrigação - Artérias testiculares, originadas da face anterolateral da aorta abdominal, abaixo das artérias renais - As artérias testiculares anastomosam com as do ducto deferente. - Drenagem - Veias do testículo e epidídimo que formam o plexo venoso pampiniforme - É uma rede de 8-12 veias anteriores ao ducto deferente - Convergem formando a testicular direita, culminando na veia cava inferior - No lado esquerdo, a testicular esquerda culmina na veia renal esquerda - Funículo espermático - É formado pela artéria testicular e o plexo pampiniforme Parafimose ● Definição É a condição em que o prepúcio, uma vez que tenha sido retraído sobre a glande, não pode ser recolocado em sua posição normal (mantém-se no sulco balanoprepucial). Isso ocorre pela inflamação crônica sobre o prepúcio redundante, o que leva à estenose da abertura prepucial (fimose) e formação de um anel de pele. O anel cutâneo formado causa congestão venosa, evoluindo com edema e dilatação da glande. A condição pode culminar em oclusão arterial e necrose da glande. - Ocorre na presença de fimose ● Fatores de risco - Ausência de circuncisão - Cateterismo urinário - Dependência de cuidador para higiene diária - Prepúcio apertado ● Tipos - Congênita - Persistência da aderência que causa estenose cicatricial e impede o retraimento do prepúcio. - Adquirida - Retração incorreta da abertura prepucial, causando fissuras e irritação química. - Patológica - Prepúcio não retrátil, com ou sem aderência cicatricial ou anel fibroso. - É causada pela não liberação de aderências, infecções locais de repetição ou trauma. ● Clínica - Dor peniana - Prepúcio retraído - Eritema - Glande edemaciada - Dificuldade para urinar ● Conduta - Deve-se realizar compressão da glande durante cinco minutos, causando a redução do edema - Possibilita a mobilização do prepúcio para frente - Em alguns casos pode ser necessária a incisão do anel constritor com anestesia local - O paciente deve receber antibióticos e, depois do desaparecimento da inflamação, será tratado por circuncisão. Gangrena de Fournier Consiste em uma fasciite necrosante do períneo e parede abdominal, com origem no escroto e pênis no homem e vulva e virilha na mulher, do tipo polimicrobiana. ● Fatores de risco - Desnutrição - Sepse - Imunossupressão - Doenças colorretais e urogenitais - Pós-operatório - Diabetes ● Fisiopatologia É caracterizada por endarterite obliterante, seguida por necrose da pele e tecido subcutâneo e adjacente, rompendo a barreira de defesa e permitindo a contaminação. Bactérias aeróbias e anaeróbias colonizam esses tecidos, diminuindo a disponibilidade de oxigênio, causando isquemia tecidual e facilitando a disseminação de microrganismos formadores de gases nas primeiras 48-72 h (hidrogênio e nitrogênio). ● Conduta - Antibioticoterapia de amplo espectro, visando cobrir anaeróbios, aeróbios gram-negativos e streptococcus. - Debridamento cirúrgico para retirada do tecido necrótico. - Oxigenoterapia hiperbárica - Auxilia no combate à infecção e na cicatrização - Cirurgia reparadora - Indicada na ausência de infecção e tecido necrótico. - Utiliza-se preferencialmente retalhos pela capacidade de cobertura, proteção e boa vascularização. Escroto agudo É definido pelo aumento súbito, ou em curto espaço de tempo, do volume escrotal, acompanhada de dor,náuseas, sudorese, inquietação, febre e edema. Torção do cordão espermático, torção dos apêndices testiculares, orquiepididimites, hérnia inguinoescrotal, hidroceles, edema idiopático do escroto, púrpura de Henoch-Schöenlein e trauma escrotal são as principais causas do escroto agudo Torção do cordão espermático ● Definição - Um quadro de escroto agudo deve ser considerado como torção do cordão espermático, até que se prove o contrário (⅓ dos casos). - Deve ser diagnosticado em 4-8 horas - Tempo diminui conforme a gravidade - Pode ser precedida por orquite - Ocorre pelo cordão testicular alongado ● Tipos - Extravaginais - Acomete RN nos primeiros anos de vida - Ocorre por defeito na fase final de fixação dos testículos - Apresenta-se como aumento do volume testicular com bom estado geral - Intravaginal - O pico de incidência é na puberdade ● Quadro clínico - Dor de início súbito de grande intensidade, sem relação com trauma ou exercício físico - Náuseas e vômitos podem estar presentes - Febre e alteração do leucograma são raros - Ao exame físico - Epidídimo costuma estar anteriorizado - Elevação do testículo na bolsa (redux testis) - Edema, eritema, dor à palpação e endurecimento ● Diagnóstico - Os médicos podem diagnosticar a doença em função da descrição dos sintomas e pelo que detectarem durante o exame físico. - Solicitar ultrassonografia com doppler → padrão ouro - Mesmo após distorção clínica ● Conduta - Os médicos podem tentar distorcer o testículo sem cirurgia, girando-o dentro do escroto→manobra do livro aberto - Realizar posterior cirurgia de fixação - Cirurgia para distorção do cordão - Orquiectomia e orquipexia - Os urologistas costumam fixar ambos os testículos durante a cirurgia, seja ela feita imediatamente ou depois, para evitar episódios futuros de torção. Orquiepididimites ● Definição - Doenças inflamatórias dos testículos e do epidídimo, que ocorrem de maneira gradual, acompanhada de queixas urinárias ou sintomas gerais, como febre e prostração. - Aumento do escroto, acompanhado de rubor e dor intensa - Etiologia comumente é viral (caxumba, principalmente) - Epididimite - A causa mais comum é por IST → clamídia ● Quadro clínico - Dor de início insidioso - Comumente é unilateral - Sinais flogísticos presentes - Epidídimo doloroso e espesso - Pode ocorrer febre - Hidrocele ● Diagnóstico - História clínica + exame físico + exames laboratoriais + exames de imagem ● Conduta - Medidas gerais - Repouso relativo - Gelo - Suspensão escrotal - Analgésicos ou AINES - Antibióticos - Ciprofloxacino 10-14 duas ● Sinais clínicos importantes - Sinal de Angell - Horizontalização e elevação do testículo, pelo encurtamento do cordão espermático - Sinal de Prehn - Alívio da dor com a elevação manual testicular, indicando orquiepididimite - Encontra-se negativo na torção - Sinal de Rabinowitz - Ausência do reflexo cremastérico - Positivo em caso de torção - Contração do músculo cremastérico e elevação do testículo ipsilateral após estímulo na face medial da coxa. Priapismo ● Definição - Consiste na condição incomum de ereção prolongada dolorosa, geralmente mais de 4 horase sem relação com excitação sexual. - 60% dos casos é idiopático - 40% se relaciona com leucemia, anemia falciforme, tumores pélvicos, uso de medicamentos e etc. ● Tipos - Alto fluxo - Não isquêmico - Ocorre pela lesão das artérias penianas centrais, causando perda da regulação do fluxo sanguíneo peniano - Mais comum → queda de cavalo - Baixo fluxo - Isquêmico - É o mais comum - Apresenta-se como ereção dolorosa de várias horas - Corpos cavernosos encontram-se congestos, tensos e sensíveis à palpação - A glande e o corpo esponjoso ficam mole ● Fisiopatologia - Consiste na obstrução fisiológica da drenagem venosa, provando acúmulo de sangue viscoso e pouco oxigenado nos corpos cavernosos - Morte dos capilares sinusoidais dor corpos cavernosos - Evolui com isquemia, edema e fibrose ● Diagnóstico - História de duração e visualização no exame físico - Avaliar - Duração - Episódios prévios - Uso de drogas ou medicamentos - Cocaína e craque - Antipsicótico - Medicamento para ereção - História de doenças hematológicas (⅓ dos casos) - O paciente pode não ter diagnóstico prévio - Trauma peniano ou perineal - Presença de dor - Tumor - Síndrome paraneoplásica - Especialmente em idosos - Exames complementares - Retirada de 3-5mL - Indicada em casos com duração há mais de 4 horas - Diferencia o tipo - Isquêmico → sangue escuro, pH <7,25, PO2 <30 e PCO2 >60 - Não-isquêmico → pH >7,35, PO2 >90 e PCO2 <50 ● Conduta - Isquêmico - Punção para esvaziamento dos corpos cavernosos - Transglandar com Abocath 14 - Lateral ao corpo cavernoso com Scalp 19 - Lavagem dos corpos cavernosos com soro fisiológico - 1L + 1 ampola adrenalina - Simpaticomiméticos - Fenilefrina 100-200 mcg/dose a cada 5-10 min - Repetidos até 1000 mcg - Não-isquêmico - 60% evoluem com resolução espontânea - Gelo + compressa - Embolização endovascular - Ligadura cirúrgica direta - Shunt: entre corpo cavernoso e esponjoso Retenção urinária ● Definição - É uma condição caracterizada pela interrupção abrupta da eliminação de urina, deixando-a represada na bexiga, sem a possibilidade de eliminação - Pode ocorrer por alteração anatômica ou funcional ● Etiologias - Tumores vesicais ou uretrais - Processos inflamatórios crônicos - Estenose da uretra - Esclerose do colo vesical - Cálculos vesicais ou uretrais - Disfunções neurogênicas - Uso de medicamentos - Processos obstrutivos congênitos - Prostatite aguda - HBP e câncer de próstata - Pós-parto → comum no puerpério imediato (até 10º dia) - Alteração da pressão esfincteriana - Esfíncter torna-se hipertônico durante a gestação ● Quadro clínico - Dor no hipogástrio de forte intensidade - Massa palpável ou visualizada → globo vesical - Associada ou não à sudorese e palidez - Poliúria, noctúria, urgência urinária, interrupção do jato, resíduo pós-miccional e jato fraco ● Tratamento - Desobstrução por cateter urinário de alívio e/ou de demora - Sempre investigar a causa e tratar - Cistostomia - Sondagem abdominal Trauma Renal ● Etiologias - 85-90% dos casos decorrem de trauma fechado - Colisão de veículos motores, quedas ou agressões - Lesões penetrantes por arma de fogo ● Classificação ● Diagnóstico - História - Momento e local do incidente - Cirurgia renal pregressa - Anormalidade renais conhecidas - Exames laboratoriais - Hematúria macroscópica - Exame de urina com fita reagente - Hematócrito seriado - Creatinina sérica basal - Exames de imagem - Padrão-ouro para lesões renais fechadas em pacientes estáveis → TC ● Conduta Uretral - É raro - 75% são iatrogênicas - 18% por trauma fechado - 7% por trauma penetrante - Terço inferior é o mais acometido ● Classificação ● Diagnóstico - UIV (urografia intravenosa) com injeção de contraste intra operatório - TC com contraste - Sinais tardios - Febre - Sensibilidade no flanco - Íleo paralítico prolongado - Extravasamento urinário - Obstrução - Sepse ● Tratamento - Lesões mínimas - Cateter ureteral - Lesão ureteral com lesão vascular - Reparo ureteral com preservação renal ou nefrectomia - Lesões completas - Terço superior → uretero-ureterostomia - Terço médio → uretero-ureterostomia ou retalho de Boari e reimplante - Terço inferior → reimplante direto ou psoas hitch - Parede ureteral completa → interposição ileal tardia ou autotransplante tardio Vesical - Comumente causado por acidentes automobilísticos ● Classificação - Extra ou intraperitoneal ● Diagnóstico - Quadro clínico - Hematúria macroscópica - Dor abdominal - Incapacidade de urinar - Contusão suprapúbica - Distensão abdominal - Edema de períneo por extravasamento de urina - Cistografia retrógrada - É o padrão-ouro ● Tratamento Uretral - Lesões da uretra posterior - Maioria por acidente automotivo - Fratura com arrancamento e diástase da articulação sacroilíaca possuem maior risco - Mais comum em homens - Lesões da uretra anterior - Relação sexual com fratura peniana - Trauma penetrante - Colocação de bandas de constrição peniana ● Classificação Genitália externa ● Fratura peniana - Definido como trauma peniano fechado, com ruptura da túnica albugínea - Ocorre pelo aumento da pressão sob a túnica - Relação sexual→ espessura da túnica reduz em até 75% - Maioria das vezes ocorre na base peniana - Permite a saída de sangue - Ereção é inibida imediatamente - Causa hematoma e deformação ● Conduta - Tratamento conservador - Curativo compressivo, compressas de gelo, drogas fibrinolíticas, antibiótico e inibição farmacológica da ereção - Possui taxas acima de 30% de complicações tardias - Tratamento cirúrgico - Correção cirúrgica imediata oferece mais chance de completa recuperação em todos os casos - Local e o tipo de incisão para o acesso cirúrgico variam - Mais utilizada a incisão circunferencial distal - Após identificado o local da lesão da túnica vaginal - Fechamento com sutura contínua ou com pontos separado - Fio absorvível ou não https://www.scielo.br/j/rbcp/a/Jpwywc6YHkvWvtcJHW4YNh p/?lang=pt&format=pdf
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