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1º neurônio no córtex cerebral passa pela coroa radiada, cápsula interna, tronco cerebral, no bulbo (decussação da pirâmide bulbar) cruza a linha média e faz conexão com 2º neurônio no corno anterior da medula que segue para terminações nervosas periféricas. Podem apresentar lesões de 1º neurônio motor e 2º neurônio motor. Lesão no corno anterior da medula: neuronopatias Lesão na raiz nervosa: radiculopatias Lesão no nervo periférico: neuropatias periféricas Lesão na junção neuromuscular: doenças da placa motora A paralisia flácida é uma manifestação clínica caracterizada por fraqueza ou paralisia e por redução do tônus muscular sem outra causa óbvia (trauma). Essa condição anormal pode ser causada por uma doença ou por um trauma que afete os nervos associados aos músculos acometidos. É uma neuronopatia (doença de 2º neurônio motor), que apresenta inicialmente febre, mal-estar, se assemelha a uma virose comum. Após algumas semanas apresenta fraqueza, atrofia e diminuição ou perda de função de um ou mais membros. Gera alterações articulares, alterações na coluna, depois de algumas décadas o membro contralateral pode sofrer com fadiga e exacerbação da doença – síndrome pós-poliomielite. Em 1989 foi o registrado o último caso de poliomielite no Brasil. Isso se deve a companhas de vacinação e cobertura vacinal com a VOP e VIP. Toda paralisia flácida aguda deve ter notificação compulsória! Não podemos esquecer do risco em locais com baixa cobertura vacinal e da importação do vírus devido livre acesso de estrangeiros. CICLO Pessoa ingere o vírus, no estomago e intestino o vírus se prolifera e ganha a corrente sanguínea, após alguns dias migra para a medula, se alojando no corno anterior e causando neuronopatia. Há a forma pré-paralítica, onde os sintomas são parecidos com um quadro viral comum e a forma paralítica onde há a colonização e lesão do 2º neurônio motor com alterações de fraqueza, atrofia, tônus e reflexos. É uma polirradiculoneuropatia que faz parte de um grupo de transtornos imunomediados (autoimune) que atingem a bainha de mielina de raiz nervosa e nervos periféricos. O subtipo polineuropatia desmielinizante inflamatória aguda (AIDP) representa 90% dos casos, é uma paralisia ascendente, os sintomas sensitivos não são tão importantes, tem predomínio motor com hiporreflexia/arreflexia. Os anticorpos são inespecíficos. Geralmente paciente relata infecção gastrointestinal (náuseas, vômitos, diarreia) ou de vias aéreas superiores (coriza, febre baixa, espirros, tosse) alguns dias antes de apresentar sintomas motores. Há forte relação da polineuropatia desmielinizante crônica com Campylobacter jejuni. Na minoria dos casos está presente o subtipo neuropatia axonal motora aguda (AMAN), onde há lesão predominantemente axonal e não desmielinizante. Está associada a alguns anticorpos específicos como IgG anti-GM1 e IgG anti-GD1a, que são antigangliosídios (esfingolipídio que atua na formação de nervos e gânglios nervosos). Há também a neuropatia axonal sensitivo-motora aguda (AMSAN), é muito rara, lesão aguda, em menos de uma semana há intensa perda de força, tetraparesia profunda e frequentemente há necessidade de ventilação mecânica. Está associado ao anticorpo IgG anti-GM1. E a síndrome de Miller-Fisher, apresenta a tríade de sintomas ataxia, arreflexia e oftalmoplegia. Está relacionada ao anticorpo IgG anti-GQ1b, um antigangliosídio. EPIDEMIOLOGIA Tem incidência anual de 1 a 2 casos por 100 mil pessoas, em 85-90% dos casos como uma polirradiculopatia inflamatória aguda. QUADRO CLÍNICO Em 60% dos casos apresenta infecção pregressa (gastroenterite ou IVAS) – geralmente tem que ser feito questionário ativo, o paciente nem se recorda. Alguns sintomas sensitivos como parestesia, hipoestesia e mais raramente desconforto/dor, podem acometer mãos e pés, porém não são predominantes aos sintomas motores. Apresenta fraqueza progressiva, ascendente, hiporreflexa ou arreflexa, com auge entre 2 e 4 semanas, se inicia pelos pés e pode acometer nervos cranianos como o facial e raramente oculomotor. Fraqueza facial pode estar presente em 50% dos pacientes. Pode ter também oftalmoparesia. Em casos graves tem disartria e disfagia. Raramente pode haver disfunção autonômica e insuficiência respiratória. EXAMES COMPLEMENTARES ▪ Exames de imagem: se apresenta fraqueza em MMII solicitar TC de lombo-sacra, se tem acometimento de par craniano solicitar TC de crânio, no mínimo, ideal é RM de crânio e solicitar também de toda extensão da coluna para excluir lesões compressivas. ▪ Punção lombar para análise do LCR: espera-se dissociação proteíno-citológica – muita proteína, pouca célula, glicose normal. Geralmente, na primeira semana a análise liquórica é normal, com alteração somente na segunda semana, na maioria dos pacientes. *Um exame normal não exclui o diagnóstico. ▪ Eletroneuromiografia (ENMG): diminuição da velocidade de condução nervosa. ▪ Anti-HIV devido associação entre SIDA e polirradiculoneuropatias agudas. Aspectos eletrofisiológicos – ENMG Nas neuropatias desmielinizantes há uma diminuição importante da velocidade de condução nervosa, além disso, há um prolongamento das latências distais, bloqueios de condução motora, dispersão temporal do potencial motor, prolongamento das latências das ondas F ou sua persistência diminuída. Pontos importantes para diferenciar outras doenças neuromusculares que podem ter apresentações semelhantes. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Doenças agudas da medula espinhal (mielite), isquemia do tronco cerebral, miastenia grave e botulismo (doenças de placa motora), neuropatia porfirínica e diftérica, neuropatias tóxicas (organofosforados e arsénico). TRATAMENTO Imunoglobulina intravenosa – 2g/kg/peso em 5 dias (bloqueia autoanticorpo). Plasmaférese. PROGNÓSTICO Há estabilização dos sintomas em torno de 4 semanas. Cerca de 20-25% dos pacientes exigem ventilação mecânica. Tem taxa de mortalidade em torno de 5%. E 25% dos pacientes apresentam fraqueza residual após 1 ano do caso agudo. Entre os fatores de mal prognóstico estão idade avançada, necessidade de ventilação mecânica, evolução menor que 7 dias principalmente se lesão axonal. Tem incidência de 5 a 10 pacientes por 100 mil habitantes, com prevalência de 25 a 140 pacientes por milhão de habitantes. NEUROPATOLOGIA Há a liberação de acetilcolina normalmente, porém acontece uma alteração no receptor de acetilcolina, por isso é uma doença pós-sináptica. Essa alteração ocorre devido presença de anticorpo anti-AChR, ou anti-MuSK, ou anti-LRP4, ou anti- agrina, que impedem a ancoragem e/ou conformação correta para funcionamento do receptor de acetilcolina. *No botulismo, doença pré-sináptica, não há liberação de ACh na fenda sináptica. QUADRO CLÍNICO Fadiga e fraqueza flutuante (oscila durante o dia, geralmente maior ao final do dia) A topografia ocular é muito acometida. Em alguns pacientes terão apenas sintomas oculares como ptose palpebral com flutuação motora após atividade física ou ao final do dia. Pode apresentar diplopia. Na topografia generalizada pode ter acometimento ocular (ptose, diplopia), facial (diparesia facial), bulbar (forma grave com disartria, disfonia e disfagia), axial (pescoço caído) e membros (fraqueza MMSS e MMII). Fatores de agravo: alguns medicamentos como relaxantes musculares, aminoglicosídeos, quinino, quinidina, beta- bloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio, sais de magnésio, penicilamina, agentes curare-símile, toxina botulínica, contraste iodado, quinolonas; além disso, há outros fatores como o estresse físico e psíquico, infecções, disfunções tireoidianas, inadequação entre atividade de vida diária e miastenia grave, gravidez e menstruação. Há também fatores de melhora, como o repouso. CLASSIFICAÇÃO Classificação quanto ao acometimento clínico Classe I: qualquer fraquezana musculatura ocular Classe II: fraqueza leve a: fraqueza de membros e musculatura axial b: fraqueza da musculatura bulbar Classe III: fraqueza moderada a: fraqueza de membros e musculatura axial b: fraqueza da musculatura bulbar Classe IV: fraqueza severa a: fraqueza de membros e musculatura axial b: fraqueza da musculatura bulbar Classe V: necessidade de intubação para manutenção de vias aéreas Classificação quanto à idade ▪ Neonatal – transitória: 10-20% dos neonatos de mães miastênicas. Não tem relação com a gravidade da miastenia materna. Os sinais clínicos estão presentes desde o nascimento e duram até 72-96 horas, a remissão completa pode durar até 3-4 semanas. Apresentam choro fácil, déficit de sucção e deglutição, pouca expressão facial, déficit de força em membros, insuficiência respiratória ou morte (11% dos casos). Precisa de UTI neonatal para suporte ao parto. ▪ Juvenil: geralmente acontece depois do primeiro ano de vida, até os 18-20 anos de idade. ▪ Adulto <50 anos e adulto >50anos Classificação quanto à sorologia ▪ Soropositiva (anti-AChR +): representa 50% dos casos de miastenia grave ocular e 85-90% generalizada. ▪ Soronegativa: representa 15% da forma generalizada, solicitar anti-MuSK, geralmente 40% dos casos positivo. ▪ Duplamente negativa: solicitar anti-LRP4 que vai dar positivo. ▪ Triplamente negativa: outros anticorpos que não são dosados. Classificação quanto ao substrato anatomopatológico ▪ Não timomatosa (65%): timo normal/involuído/hiperplásico ▪ Timomatosa (10-25%): tumor tímico microscópico invasivo → timectomia TESTES DIAGNÓSTICOS ▪ Teste do gelo: melhora ptose palpebral (acetilcolinesterase não funciona no frio) ▪ Teste da prostigmina e teste do edrofônio (pouco usados na prática) – piridostigmina e avaliar melhora dos sintomas, se houver melhora é positivo ▪ Estimulação nervosa repetitiva: espera-se decréscimo no potencial de ação composto, se maior que 10% de decréscimo é positivo para miastenia, pois demonstra fadiga, porém não é tão sensível ▪ Eletromiografia de fibra única: estimula uma fibra por vez, tem sensibilidade mais elevada, estimulação de fibras da face chega a cerca de 99% de positividade ▪ Dosagem de anticorpos: indica diretamente o prognóstico, permite maior racionalidade terapêutica e define o subtipo TRATAMENTO Fase aguda: plasmaferese e imunoglobulina. Manutenção: anticolinesterásicos (piridostigmina 60mg 3x/dia a 120mg 6x/dia), corticoterapia (predinisona 1mg/kg e reduz gradualmente a dose após estabilidade) e imunomoduladores (azatioprina, ciclosporina, micofenolato de mofetila). MIASTENIA GRAVE REFRATÁRIA Recidiva da MG com a redução de imunoterapia; MG não controlada clinicamente mesmo com uso de imunoterapia; efeitos colaterais graves da imunoterapia por pelo menos 12 meses. Realizar tratamento com anticorpo monoclonal (rituximabe).
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