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NUTRIÇÃO DIETÉTICA AVANÇADA Sandra Maria Pazzini Muttoni Alimentos funcionais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Diferenciar alimentos funcionais e nutracêuticos. � Identificar os principais compostos funcionais e seus benefícios à saúde humana. � Reconhecer o impacto dos alimentos e produtos funcionais no mercado consumidor. Introdução A relação do alimento e seus nutrientes com o estado de saúde, pre- venção e tratamento de enfermidades vêm acompanhando a história da humanidade. Temos o exemplo de Hipócrates, que há muito tempo atrás trouxe a ideia de que os alimentos poderiam possuir propriedades terapêuticas, além das nutricionais: “Que seu remédio seja seu alimento e que seu alimento seja seu remédio”. Atualmente, sabemos que a alimen- tação deixou de ser somente uma questão de sobrevivência, satisfação da fome e ausência de doenças relacionadas com deficiências de nu- trientes. Os alimentos funcionais, através de seus compostos bioativos, representam um aliado para promoção da saúde e o bem-estar, além de reduzir os riscos de doenças crônicas. Neste capítulo, você vai es- tudar alguns conceitos, a legislação brasileira sobre alimentos funcio- nais, os principais compostos bioativos, suas fontes alimentares e sua influência na prevenção e tratamento de enfermidades, assim como os compostos funcionais e a indústria alimentícia. Alimentos funcionais: conceitos, histórico e legislação Você já reparou que a sociedade moderna tem se tornado cada vez mais com- plexa, modificando os padrões de vida, e que podem ocasionar impactos ne- gativos à condição de saúde das populações. Porém, alguns povos, mesmo com estas mudanças, apresentam baixa incidência de doenças. Os esquimós, por exemplo, com sua alimentação baseada em peixes e produtos do mar ricos em ácidos graxos poliinsaturados (ômega 3 e ômega 6), têm baixo índice de Nutricao_Dietetica_avancada.indb 208 29/09/16 16:04 problemas cardíacos. Os orientais devido ao consumo de soja, que contém fitoestrógenos, apresentam baixa ocorrência de câncer de mama. Neste con- texto, vários fatores têm contribuído para o consumo dos alimentos e com- postos funcionais, sendo um deles o aumento da consciência dos consumi- dores, que desejando melhorar a qualidade de suas vidas, optam por hábitos alimentares mais saudáveis. Histórico dos alimentos funcionais Na antiguidade, as culturas chinesa, indiana, egípcia e grega trabalhavam muito com o conceito de comida-remédio, atribuindo propriedades preventivas e/ou curativas aos alimentos. Saiba que o termo alimento funcional foi inicialmente introduzido no Japão em meados dos anos 1980. Eram alimentos similares em aparência aos convencionais, usados como parte de uma dieta normal, e que de- monstravam benefícios fisiológicos e/ou com capacidade de reduzirem o risco de surgimento de doenças crônicas, além de suas funções nutricionais básicas. Você sabia que o Japão também foi o pioneiro na formulação de um processo de regulamentação específico para os alimentos funcionais? Conhecidos como Foods for Specified Health Use – FOSHU (“Alimentos para Uso Específico de Saúde”) são qualificados e trazem um selo de aprovação do Ministério de Saúde e Previdência Social Japonês. (ARAI, 1996). Agora entenda como foram em outros países: em ação conjunta com outros órgãos, a Comissão Europeia, coor- denada pelo International Life Sciense Institute Europe (ILSI Europe), criou o Projeto Ciência dos Alimentos Funcionais na Europa (Functional Food Sciense in Europe - FUFOSE), concluído em 1999, que apresentou uma forma de rela- cionar as alegações em alimentos funcionais com sólidas evidências científicas, classificando essas em alegações de melhora da função e alegações de redução de risco. Posteriormente, o Conselho da Europa (2001), o Codex Alimentarius (2003) e a União Europeia (2003) propuseram novas classificações das alega- ções de saúde dos alimentos funcionais. Em 2005, em ação conjunta promovida pelo ILSI Europe foi criado o Processo para Avaliação da Base Científica para Alegações em Alimentos (PASSCLAIM), com o objetivo de definir critérios para avaliação das bases científicas das alegações. Nos Estados Unidos, o conceito de alimentos funcionais começou a ser difundido a partir dos anos 90, quando o Instituto Nacional do Câncer Ameri- cano criou um programa para financiamento de pesquisas sobre componentes presentes nos alimentos, principalmente os fotoquímicos existentes em frutas 209Alimentos funcionais Nutricao_Dietetica_avancada.indb 209 29/09/16 16:04 e verduras, que pudessem apresentar atividade anticancerígena. Agora, no Brasil, os alimentos funcionais passaram a ter maior notoriedade no final da década de 1990, quando foram instituídas as regras (legislações) específicas para esta categoria de alimentos, conforme a ANVISA (agência nacional de vigilância sanitária). Alimentos funcionais e nutracêuticos: definições Você sabia que existem componentes alimentares, além dos tradicionais car- boidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas e minerais, que tendem a melhorar o estado de saúde e reduzir o risco de doença? Estes componentes são aqueles que trazem algum tipo de benefício à saúde, além das suas funções nutri- cionais, sendo que tais benefícios dependem da interação entre seus compo- nentes, da sua biodisponibilidade e da quantidade consumida. A portaria nº 398/99, da ANVISA, diz que “todo aquele alimento ou ingre- diente que, além das suas funções nutricionais básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica”. Assim, perceba que um alimento pode ser considerado se for demonstrado que o mesmo pode afetar beneficamente uma ou mais funções alvo no corpo, além de possuir os adequados efeitos nutricionais, de maneira que seja tanto relevante para o bem-estar e a saúde quanto para a redução do risco de uma enfermidade. Há dois modos que os alimentos e ingredientes funcionais podem ser clas- sificados. São eles: quanto à fonte (de origem animal ou vegetal), ou quanto aos benefícios que oferecem, atuando em diferentes partes do organismo: no sistema digestório; no sistema cardiovascular; no metabolismo de substratos; no crescimento, no desenvolvimento e diferenciação celular; no comporta- mento das funções fisiológicas e como antioxidantes. Então, para que um ali- mento seja considerado funcional, é necessário que apresente as seguintes características: � Deve ser um alimento convencional e ser consumido na dieta usual. � Deve ser formado por componentes naturais. Em termos de aparência, os alimentos funcionais devem ser similares aos alimentos convencionais. � Deve ter efeitos positivos além do efeito nutritivo, que pode aumentar o bem-estar e a saúde e/ou reduzir o risco de ocorrência de doenças, promovendo benefícios à saúde além de aumentar a qualidade de vida, o desempenho físico, psicológico e comportamental. Nutrição e dietética avançada210 Nutricao_Dietetica_avancada.indb 210 29/09/16 16:04 � A alegação da propriedade funcional deve ter embasamento científico. � Pode ser um alimento natural, ou um alimento do qual o componente funcional tenha sido removido e “transformado” em “cápsulas” (nutra- cêutico). � Pode ser um alimento em que a origem de um ou mais componentes tenha sido modificada. � Pode ser um alimento no qual a bioatividade de um ou mais compo- nentes tenha sido modificada. Saiba que o nutracêutico, por sua vez, é um alimento ou parte de um ali- mento que proporciona benefícios médicos e de saúde, incluindo a prevenção e/ou tratamento da doença. Tais produtos podem abranger desde os nutrientes isolados, suplementos dietéticos na forma de cápsulas e dietas até os pro- dutos beneficamente projetados, produtos herbais e alimentos processados tais como cereais, sopas e bebidas. Vejacomo os nutracêuticos podem ser classificados: fibras dietéticas, ácidos graxos poliinsaturados, proteínas, peptídeos, aminoácidos ou cetoá- cidos, minerais, vitaminas antioxidantes e outros antioxidantes (glutationa, selênio), sendo que muitos podem ser produzidos através de métodos fermen- tativos, com o uso de microorganismos geralmente reconhecido como seguros (GRAS - Generally Recognized as Safe). O alvo dos nutracêuticos é significa- tivamente diferente dos alimentos funcionais, sabe por quê? a. enquanto que a prevenção e o tratamento de doenças são relevantes aos nutracêuticos, apenas a redução do risco da doença, e não a prevenção e tratamento da doença estão envolvidos com os alimentos funcionais; b. enquanto que os nutracêuticos incluem suplementos dietéticos e outros tipos de alimentos, os alimentos funcionais devem estar na forma de um alimento comum. Resumindo, podemos dizer que os compostos funcionais são um grupo de ingredientes que apresentam benefícios à saúde, tais como o licopeno presente no tomate, as alicinas presentes no alho, os carotenoides e flavonoides encon- trados em frutas e vegetais, os glucosinolatos encontrados nos vegetais crucí- feros, ou os ácidos graxos poliinsaturados presentes em óleos vegetais e no óleo de peixe. Tais ingredientes podem ser consumidos juntamente com os alimentos dos quais são provenientes, sendo estes alimentos considerados alimentos fun- cionais, ou isoladamente, como nutracêuticos. Precisam ter, ainda, adequado 211Alimentos funcionais Nutricao_Dietetica_avancada.indb 211 29/09/16 16:04 perfil de segurança ao consumo humano, sem apresentar risco de toxicidade ou efeitos adversos de drogas medicinais. O registro de um alimento funcional só pode ser realizado depois de comprovada a alegação de propriedades funcionais ou de saúde com base no consumo previsto ou recomendado pelo fabricante, na finalidade, condições de uso e valor nutricional, quando for o caso ou na evidência(s) científica(s). Que são: composição química ou caracterização molecular, quando for o caso, e ou formulação do produto; ensaios bioquímicos; ensaios nutricionais e ou fisiológicos e ou toxicológicos em animais de experimentação; estudos epidemiológicos; ensaios clínicos; evidências abrangentes da literatura científica, organismos internacionais de saúde e legislação internacional- mente reconhecidas sob propriedades e características do produto e comprovação de uso tradicional, observado na população, sem associação de danos à saúde. Legislação brasileira sobre alimentos funcionais Aqui, no Brasil, o Ministério da Saúde, através da ANVISA, regulamentou os Alimentos Funcionais através das seguintes resoluções: ANVISA/MS 16/99; ANVISA/MS 17/99; ANVISA/MS 19/99, confira suas principais definições: � Resolução da ANVISA/MS 16/99 - Trata de Procedimentos para Re- gistro de Alimentos e ou Novos Ingredientes, tendo como caracterís- tica de não necessitar de um Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) para registrar um alimento, além de permitir o registro de novos pro- dutos sem histórico de consumo no país e também novas formas de comercialização para produtos já consumidos. � Resolução da ANVISA/MS 17/99 - Aprova o Regulamento Técnico que estabelece as Diretrizes Básicas para Avaliação de Risco e Segu- rança de Alimentos que comprova, baseado em estudos e evidências científicas, se o produto é seguro sob o ponto de risco à saúde ou não. � Resolução ANVISA/MS 18/99 - Aprova o Regulamento Técnico que es- tabelece as Diretrizes Básicas para a Análise e Comprovação de Proprie- dades Funcionais e/ou de Saúde, alegadas em rotulagem de alimentos. Nutrição e dietética avançada212 Nutricao_Dietetica_avancada.indb 212 29/09/16 16:04 � Resolução ANVISA/MS 19/99 - Aprova o Regulamento Técnico de Procedimentos para Registro de Alimentos com Alegação de Proprie- dades Funcionais e ou de Saúde em sua Rotulagem. Veja as diretrizes para a utilização da alegação de propriedades funcionais e ou de saúde. São elas (segundo a ANVISA): a. A alegação de propriedades funcionais e ou de saúde é permitida em caráter opcional; b. O alimento ou ingrediente que alegar propriedades funcionais ou de saúde pode, além de funções nutricionais básicas, quando se tratar de nutriente, produzirem efeitos metabólicos e ou fisiológicos e ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica; c. São permitidas alegações de função ou conteúdo para nutrientes e não nutrientes, podendo ser aceitas aquelas que descrevem o papel fisioló- gico do nutriente ou não nutriente no crescimento, desenvolvimento e funções normais do organismo, mediante demonstração da eficácia. Para os nutrientes com funções plenamente reconhecidas pela comu- nidade científica não será necessária a demonstração de eficácia ou análise da mesma para alegação funcional na rotulagem; d. No caso de uma nova propriedade funcional, há necessidade de com- provação científica da alegação de propriedades funcionais e ou de saúde e da segurança de uso, segundo as Diretrizes Básicas para ava- liação de Risco e Segurança dos alimentos; e. as alegações podem fazer referências à manutenção geral da saúde, ao papel fisiológico dos nutrientes e não nutrientes e à redução de risco de doenças. Não são permitidas alegações de saúde que façam referência à cura ou prevenção de doenças. 213Alimentos funcionais Nutricao_Dietetica_avancada.indb 213 29/09/16 16:04 É importante que você saiba que representações que afirmem ou sugiram a existência de uma relação entre o consumo de determinado alimento, ou seu constituinte e a saúde, podem ser veiculadas quando forem atendidas as diretrizes básicas para comprovação de propriedades funcionais ou de saúde estabelecidas, conforme consta na Resolução nº 18, de 30 de abril de 1999, da ANVISA. Saiba que segundo consta nesta legislação, a ALEGAÇÃO DE PROPRIEDADE FUNCIONAL é aquela relativa ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, ma- nutenção e outras funções normais do organismo humano. Por sua vez, a ALEGAÇÃO DE PROPRIEDADE DE SAÚDE é aquela que afirma, sugere ou implica a existência de relação entre o alimento ou ingrediente com doença ou condição relacionada à saúde. Os compostos funcionais e seus benefícios à saúde humana Veja agora, como parte de uma alimentação saudável, alguns alimentos fun- cionais que podem trazer benefícios na prevenção e no tratamento de várias enfermidades, quando consumidos de maneira adequada. São eles: � Probióticos e prebióticos: os probióticos são microorganismos vivos que podem ser agregados como suplementos na dieta, afetando de forma be- néfica o desenvolvimento da microbiota intestinal. Os microorganismos probióticos considerados mais comuns são os Lactobaccilus e Bifidobac- terium (L. casei, L. acidophilus, L. lactis, L. plantarum e L. bulgaricus, B. bifidum, B. longum, B. infantis). Saiba os principais benefícios à saúde atribuídos à ingestão de probióticos: controle da microbiota intestinal, estabilização da microbiota intestinal após o uso de antibióticos, pro- moção da resistência gastrintestinal à colonização por patógenos, dimi- nuição da concentração dos ácidos acético e lático, de bacteriocinas e outros compostos antimicrobianos, promoção da digestão da lactose em indivíduos intolerantes à lactose, estimulação do sistema imune, alívio da constipação e aumento da absorção de minerais e vitaminas. Você sabe que os probióticos são comercializados de diversas formas, sendo que a mais popular e acessível no nosso país é o leite fermentado e os iogurtes. Os prebióticos, por sua vez, são oligossacarídeos não di- Nutrição e dietética avançada214 Nutricao_Dietetica_avancada.indb 214 29/09/16 16:04 geríveis, porém fermentáveis, cuja função é mudar a atividade e a com- posição da microbiota intestinal com a perspectiva de promover a saúde. Você sabia que as fibras dietéticas e os oligossacarídeosnão digeríveis são os principais substratos de crescimento dos microorganismos intes- tinais? E que os prebióticos estimulam o crescimento dos grupos endó- genos de população microbiana, tais como as Bifidobactérias e os Lac- tobacillos, que são ditos como benéficos para a saúde humana, capazes de reduzir a atividade de microorganismos potencialmente patogênicos? Confira alguns dos efeitos atribuídos aos prebióticos: a modulação de funções fisiológicas-chave, como a absorção de cálcio, o metabolismo lipídico, a modulação da composição da microbiota intestinal, a qual exerce um papel primordial na fisiologia intestinal e a redução do risco de câncer de cólon. É importante você saber que quando em um produto nutricional estão combinados um probiótico e um prebiótico, este produ- to recebe a denominação de simbiótico. � Alimentos sulfurados e nitrogenados: os alimentos sulfurados e ni- trogenados são compostos orgânicos usados na proteção contra a carci- nogênese e mutagênese, sendo ativadores de enzimas na detoxificação do fígado. Você sabia que as propriedades anticarcinogênicas dos ve- getais crucíferos como repolho, brócolis, rabanete, palmito e alcaparra são atribuídas ao seu conteúdo relativamente alto de glicosilatos? Sabe por quê? Os isotiacianatos e indóis são compostos antioxidantes que estão presentes em crucíferas, tais como brócolis, couve-flor, couve- -de-bruxelas, couve e repolho. Esses compostos inibem a mutação do DNA, que predispõe algumas formas de câncer. � Antioxidantes: os antioxidantes podem agir diretamente na neu- tralização da ação dos radicais livres ou participar indiretamente de sistemas enzimáticos com essa função. Entre os antioxidantes estão a vitamina C, a vitamina E e os carotenóides. Os carotenóides estão presentes em alimentos com pigmentação amarela, laranja ou vermelha (tomate, abóbora, pimentão, laranja). Seus principais representantes são os carotenos, precursores da vitamina A e o licopeno. Saiba que tanto os carotenóides precursores de vitamina A quanto os não precur- sores, como a luteína, a zeaxantina e o licopeno, parecem apresentar ação protetora contra o câncer, sendo que os possíveis mecanismos de proteção são por intermédio do sequestro de radicais livres, modu- lação do metabolismo do carcinoma, inibição da proliferação celular, aumento da diferenciação celular via retinóides, estimulação da co- 215Alimentos funcionais Nutricao_Dietetica_avancada.indb 215 29/09/16 16:04 municação entre as células e aumento da resposta imune. Você sabia que o β-caroteno e a vitamina E são potentes antioxidantes com ação protetora contra doenças cardiovasculares e contra o envelhecimento? Estudos apontam que a luteína e a zeaxantina, que são amplamente encontradas em vegetais verde-escuros, parecem exercer uma ação protetora contra degeneração macular e catarata. A vitamina C (ácido ascórbico) tem efeito protetor contra os danos causados pela exposição às radiações e medicamentos e parece ter um possível papel de pro- teção no desenvolvimento de tumores. � Compostos fenólicos: os flavonoides compõem uma ampla classe de substâncias de origem natural, que atuam sobre os sistemas biológicos, por exemplo, como antioxidantes. Eles englobam uma classe importante de pigmentos naturais encontrados com frequência na natureza, uni- camente em vegetais. Os verdadeiros flavonoides são as antocianinas (pigmentos azul-púrpura), as antoxantinas (amarelas), as catequinas e as leucoantocianinas que são incolores, mas que facilmente se trans- formam em pigmentos pardos, sendo essas duas últimas comumente de- nominadas de taninos. Existe uma subclasse dos flavonoides que são as isoflavonas, as quais têm sido um componente da dieta de certas popu- lações durante muitos séculos. O consumo da soja tem sido considerado benéfico, com efeito potencialmente protetor contra várias doenças crô- nicas que incluem: doenças cardiovasculares, câncer de próstata, câncer de mama, diabetes, osteoporose, deficiência cognitiva e efeitos da me- nopausa. Saiba que as isoflavonas são encontradas principalmente em grãos de soja e produtos alimentícios baseados em soja. � Ácidos graxos poliinsaturados: os ácidos graxos poliinsaturados, des- tacando as séries ômega 3 e 6, são encontrados em peixes de água fria. São eles: (salmão, atum, sardinha, bacalhau), óleos vegetais, sementes de linhaça, nozes e alguns tipos de vegetais. Além de seu papel nutricional na dieta, os ácidos graxos ômega 3 podem ajudar a prevenir ou tratar uma variedade de doenças, incluindo doenças do coração, câncer, artrite, de- pressão e doença de Alzheimer entre outros. O ácido linoleico, presente Nutrição e dietética avançada216 Nutricao_Dietetica_avancada.indb 216 29/09/16 16:04 no óleo de girassol, por exemplo, pertencente ao grupo dos ácidos graxos ômega 6, é transformado pelo organismo humano no ácido araquidô- nico e em outros ácidos graxos poliinsaturados. Saiba que os ômega 6 derivados do ácido linoléico exercem importante papel fisiológico. Sabe qual? Participam da estrutura de membranas celulares, influenciando a viscosidade sanguínea, permeabilidade dos vasos, ação antiagregadora, pressão arterial, reação inflamatória e funções plaquetárias. � Fibras (Oligossacarídeos): você sabia que a fibra dietética é uma substância indisponível como fonte de energia, uma vez que não é di- gerível pelas enzimas do intestino humano e que pode ser fermentada por algumas bactérias? A maior parte das substâncias classificadas como fibras são polissacarídeos não amiláceos. As fibras são encon- tradas nos vegetais, que são : em grãos (arroz, soja, trigo, aveia, feijão, ervilha), em verduras (alface, brócolis, couve, couve-flor, repolho), ra- ízes (cenoura, rabanete) e outras hortaliças (chuchu, vagem, pepino). Saiba que as fibras diminuem a absorção de ácidos biliares, parecem diminuir os níveis de triglicerídeos, colesterol e reduzir a insulinemia. Há três fatores em que o consumo de fibras alimentares também está relacionado à diminuição dos riscos de desenvolvimento de câncer. São eles: capacidade de retenção de substâncias tóxicas ingeridas ou pro- duzidas no trato gastrointestinal durante processos digestivos; redução do tempo do trânsito intestinal, promovendo uma rápida eliminação do bolo fecal, com redução do tempo de contato do tecido intestinal com substâncias mutagênicas e carcinogênicas e formação de substâncias protetoras pela fermentação bacteriana dos compostos de alimentação. 217Alimentos funcionais Nutricao_Dietetica_avancada.indb 217 29/09/16 16:04 No Quadro 1 são estudados muitos alimentos e compostos funcionais para que seus possíveis efeitos benéficos fiquem evidenciados: (Continua) Quadro 1. Principais alimentos e compostos funcionais, fontes alimentares e benefí- cios à saúde humana. Composto bioativo Fonte alimentar Efeito Isoflavona Soja e derivados. Reduz sintomas da meno- pausa e ação anti-câncer. Proteínas da soja Soja e derivados. Redução dos níveis de colesterol. Ácidos graxos ômega 3 Sardinha, salmão, atum, an- chova, pescada, arenque. Redução do LDL-c, ação anti-inflamatória e desn- volvimento do cérebro e retina em recém-nascidos. Ácidos graxos ômega 6 Linhaça, soja, nozes e amêndoas. Estimula o sistema imunológico e tem ação anti-inflamatória. Catequinas Chá verde, cerejas, amoras, framboesas, uva roxa. Reduz incidência de alguns tipos de câncer, reduz o colesterol e estimula o sistema imunológico. Licopeno Tomate e derivados, goiaba vermelha, pimentão vermelho e melancia. Antioxidante, reduz o colesterol e o risco de câncer de próstata. Luteína e zeaxantina Folhas verdes (luteína), pequi e milho (zeaxantina). Antioxidante e proteção contra a degeneração macular e catarata. Indóis e Isotiocianatos Couve-flor, repolho, bró- colis, couve de Bruxelas, ra- banete e mostarda (folhas). Proteção contra o câncer de mama. Flavonoides Soja, frutas cítricas, tomate, pimentão, al-cachofra e cereja. Ação anti-câncer, antio- xidante, anti-inflamatória e vasodilatadora. Nutrição e dietética avançada218 Nutricao_Dietetica_avancada.indb 218 29/09/16 16:04 Composto bioativo Fonte alimentar Efeito Fibras solúveis e insolúveis Cereais ointegrais, legu- minosas, hortaliças com talos e frutas com casca. Reduz o risco de câncer de cólon. Melhora o funcionamento intestinal. As solúveis auxiliam no controle da glicemia e da obesidade. Prebióticos (FOS* e inulina) Extraídos de vegetais como a chicória e a batata yacon. Favorecem o bom funcionamento intestinal. Sulfetos alílicos Alho e cebola. Reduzem o colesterol e a pressão sanguínea, melhoram o sistema imunológico e reduzem o risco de câncer gástrico. Lignanas Linhaça e noz moscada. Inibição de tumores hormônio-dependentes (mama, endométrio e próstata). Tanino Maçã, manjericão, manje- rona, sálvia, uva, caju e soja. Antioxidante, antisséptico e vasoconstritor. Estanóis e esteóis vegetais Óleos vegetais. Reduzem risco de doenças cardiovasculares. Probióticos Leites fermentados, iogurtes e outros produtos lácteos fermentados. Favorece as funções gastrointestinais, reduzindo risco de constipação e câncer de cólon. *FOS = fruto-oligossacarídeos Fonte: Sociedade Brasileira de Alimentos Funcionais, 2008 (aprovados pela ANVISA). Quadro 1. Principais alimentos e compostos funcionais, fontes alimentares e benefí- cios à saúde humana. (Continuação) 219Alimentos funcionais Nutricao_Dietetica_avancada.indb 219 29/09/16 16:04 Compostos funcionais e a indústria alimentícia Você já deve ter percebido que nos últimos anos, os consumidores viram apa- recer nos supermercados novos produtos alimentares, que prometem contribuir na busca por uma vida mais saudável, assim como na cura ou prevenção de do- enças, como as cardiovasculares, certos tipos de câncer, alergias e transtornos intestinais. Veja que os alimentos funcionais são a nova tendência do poderoso mercado alimentício, estando disponíveis diversos tipos de produtos, desta- cando aqueles que favorecem o desenvolvimento infantil e crescimento, a regu- lação de processos metabólicos básicos, a defesa contra o estresse oxidativo, a melhoria da performance mental, cognitiva e condição física, bem como efeitos na fisiologia cardiovascular e na gastrointestinal. No Brasil, muitos desses produtos já estão disponíveis no mercado: além dos iogurtes com probióticos que melhoram a saúde intestinal, os leites enri- quecidos com ferro (que ajuda na prevenção e no tratamento da anemia), vita- minas e ácido ômega-3 (que ajuda no controle do colesterol), bem como ovos e margarinas enriquecidos também com ômega-3. Os alimentos associados a uma forte imagem de “saúde” representam uma fonte de diferenciação e de rentabilidade em certos ramos do setor alimentar, movimentando o mercado consumidor. Aumento/redução de ingredientes em produtos alimentícios Note que a indústria alimentar tem demonstrado um particular interesse na melhoria do valor nutricional dos produtos industrializados, tendo em conta a efetiva diminuição de teores de vitaminas e minerais que ocorre durante o processamento desses alimentos. Atualmente, existem à disposição do con- sumidor vários alimentos enriquecidos em cálcio, como o leite, iogurtes e queijos. O ferro, por sua vez, é um mineral muito usado para enriquecer os ce- reais e farináceos. A fibra é frequentemente adicionada a bolachas, pão e cereais. Este mesmo nutriente é ainda adicionado a alimentos em que não está normalmente presente, tais como leite, iogurte e diversas bebidas lácteas. A adição de vitaminas e minerais também acontece em um grande número de alimentos, principalmente em bolachas, cereais e laticínios. Nutrição e dietética avançada220 Nutricao_Dietetica_avancada.indb 220 29/09/16 16:04 Adição de ingredientes funcionais não presentes normalmente no alimento A indústria tem desenvolvido produtos nos quais são adicionados compostos funcionais, que normalmente não fazem parte de tais produtos (considerados “estranhos” à sua composição). Os esteróis vegetais (fitoesteróis) são utilizados com a finalidade de reduzir o colesterol no organismo humano, estando pre- sentes em produtos que fazem parte da alimentação diária, como margarinas (cremes vegetais), iogurtes, leite e alguns cereais. Você sabia que os ácidos graxos do tipo ômega 3 desempenham um papel importante na estrutura lipídica das membranas celulares, principalmente do tecido nervoso e das células da retina? Também podem reduzir o nível sérico de colesterol e de triglicerídeos, melhorarem os níveis pressóricos e, ainda, possuem efeitos anti-inflamatórios. Pois saiba que a indústria alimentícia tem colocado no mercado produtos enriquecidos com ômega 3, como leite, pães, bolachas, cereais e ovos (o ômega 3, neste caso, é adicionado na ração das aves). Produtos enriquecidos com prebióticos e probióticos Saiba que certos produtos lácteos e produtos à base de soja contêm bacté- rias benéficas para o organismo, como Lactobacillus acidophilus bulgarius e Biiidobacterium y Lactobacillus casei, que contribuem para a proteção de algumas doenças causadas por microorganismos, defendem o organismo de outros agentes patogênicos e fortalecem o sistema imunológico. Os produtos lácteos (iogurtes, leites fermentados, requeijão, queijos, kefir, coalhada, sor- vetes, sobremesas lácteas) e o próprio leite são aqueles que mais apresentam estes compostos. Pois saiba que estes produtos representam, atualmente, um dos principais nichos de mercado de funcionais. 221Alimentos funcionais Nutricao_Dietetica_avancada.indb 221 29/09/16 16:04 Bebidas energéticas e isotônicas e água mineral funcional É importante saber que as bebidas energéticas têm como principal função a revitalização do organismo, combatendo os efeitos do cansaço e contribuindo para a eliminação de toxinas, sendo ainda úteis em grandes esforços. Veja os principais ingredientes destas bebidas: São eles: água, açúcar e cafeína, podendo ainda conter aminoácidos e vitaminas. Você sabia que as bebidas isotônicas foram concebidas a partir das neces- sidades específicas de desportistas, destinando-se à ingestão durante e após esforços físicos intensos e continuados? Ainda que, relativo à água mineral, as indústrias já disponibilizam no mercado água contendo alta concentração de vitamina C e do complexo B, com o principal propósito de otimizar o sistema imunológico e diminuir o estresse oxidativo, além de conterem também FOS (fruto-oligossacarídeo), uma fibra alimentar que tem possíveis benefícios de prevenção para certos tipos de câncer (cólon e mama), redução de riscos car- diovasculares, além de auxiliarem no funcionamento intestinal. Você já deve ter notado que o interesse pelo consumo de alimentos e produtos fun- cionais vem crescendo em todo o mundo. Sabe por quê? Justamente pelo fato das pessoas estarem mais preocupadas com o estado de saúde e a qualidade vida. Saiba que o Brasil é considerado com um país de categoria emergente no consumo de fun- cionais, com crescimento projetado para cerca de 20% até o ano de 2018. Isso reforça a necessidade de pesquisas de consumo em âmbito nacional, bem como em relação aos próprios alimentos e compostos funcionais, mostrando uma área fértil de desenvolvi- mento e aquisição de conhecimentos para você e outros profissionais da área da saúde. Nutrição e dietética avançada222 Nutricao_Dietetica_avancada.indb 222 29/09/16 16:04 1. Trata-se de uma das principais carac- terísticas que diferencia o alimento funcional do nutracêutico: a) Deve ser um alimento conven- cional, a ser consumido quando necessário. b) Pode ser representado pelos suplementos dietéticos. c) Pode ser usado para a prevenção e o tratamento de doenças. d) Deve ser um alimento conven- cional e ser consumido na dieta usual. e) Pode ser um nutriente isolado, na forma de cápsulas, por exemplo, o ômega 3. 2. Controleda microbiota intestinal, estabilização da microbiota intestinal após o uso de antibióticos, promoção da resistência gastrintestinal à colo- nização por patógenos, promoção da digestão da lactose em indivíduos intolerantes à lactose, estimulação do sistema imune e alívio da cons- tipação. Estes são alguns dos bene- fícios à saúde humana, associados ao consumo de qual composto funcional? a) Antioxidantes. b) Oligossacarídeos. c) Probióticos. d) Compostos fenólicos. e) Ácidos graxos poliinsaturados. 3. Representa um alimento funcional, fonte de licopeno (carotenoide), com importante ação antioxidante e pre- ventiva na possível redução de risco de alguns tipos de câncer: a) Cenoura. b) Pimentão. c) Laranja. d) Abóbora. e) Tomate. 4. São produtos que representam, atualmente, um dos principais nichos de mercado de funcionais: a) Produtos lácteos. b) Biscoitos. c) Produtos cárneos. d) Produtos de panificação. e) Margarinas. 5. Exemplo de produto alimentício, no qual foi adicionado um composto bioativo, passando a ser considerado um produto funcional: a) Sardinha com ômega 3. b) Creme vegetal (margarina) com fitoesterol. c) Cenoura, com caroteno. d) Farinha de linhaça com ômega 6. e) Soja com isoflavona. 223Alimentos funcionais Nutricao_Dietetica_avancada.indb 223 29/09/16 16:04 BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 16, de 30 de abril de 1999. Aprova o Regulamento Técnico de Procedimentos para Registro de Alimentos e ou Novos Ingredientes. Brasília, 1999a. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 17, de 30 de abril de 1999. Aprova o Regulamento Técnico que Estabelece as Diretrizes Básicas para Avaliação de Risco e Segurança dos Alimentos. Brasília, 1999b. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 18, de 30 de abril de 1999. Aprova o Regulamento Técnico que Estabelece as Diretrizes Bá- sicas para Análise e Comprovação de Propriedades Funcionais e ou de Saúde Alegadas em Rotulagem de Alimentos. Brasília, 1999c. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 19, de 30 de abril de 1999. Aprova o Regulamento Técnico de Procedimentos para Registro de Alimento com Alegação de Propriedades Funcionais e ou de Saúde em sua Rotulagem. Brasília, 1999d. COSTA, M. N. B.; ROSA, C. O. B. Alimentos funcionais: componentes bioativos e efeitos fisiológicos. Rio de Janeiro: Rubio, 2016. COZZOLINO, S. M. F. Biodisponibilidade de nutrientes. 5. ed. São Paulo: Manole, 2014. IKEDA, A. A.; MORAES, A.; MESQUITA, G. Considerações sobre tendências e oportuni- dades dos alimentos funcionais. Revista P&D em Engenharia de Produção, v. 8, n. 2, p. 40-56, 2010. MORAES, F.; COLLA, L. M. Alimentos funcionais e nutracêuticos: definições, legislação e benefícios à saúde. 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Nutrição e dietética avançada224 Nutricao_Dietetica_avancada.indb 224 29/09/16 16:04 Conteúdo:
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