Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lara Torres Pinto Brito – 6º SEMESTRE DISFAGIA DISFAGIA: Sensação subjetiva de dificuldade ou anormalidade na deglutição. Não necessariamente envolve dor. Obs: se a dificuldade for no início da deglutição >> entalo Odinofagia: dor na garganta (a dificuldade de deglutir é secundária à dor). Bolus: sensação de “bolo” / ”nó” na garganta. Não está relacionada com o momento da deglutição e nem com a passagem do alimento. Tende a estar presente em pessoas ansiosas como manifestação psicossomática. INTRODUÇÃO A disfagia depende da fase da deglutição que está presente. O processo de deglutição é consciente até um certo ponto. A orofaringe e o esôfago proximal possuem musculatura estriada e controle nervoso, precisando de coordenação. Se houver algum problema nessa região, o paciente vai ter sensação de engasgo. Do terço médio ao distal do esôfago, começa a substituir a musculatura estriada pela musculatura lisa. Nesse ponto são outras patologias que vão envolver a musculatura lisa. Se o paciente tiver problema na condução do alimento ao longo do corpo do esôfago e na passagem para o estômago, a sensação não vai ser de engasgo em cima, mas sim de entalo mais para baixo. TIPOS DE DISFAGIA Existem dois tipos principais de disfagia e para investiga-las a anamnese é de suma importância. Raras alterações de esôfago podem causar alterações do exame físico, mas a anamnese é bastante rica e ajuda na diferenciação. Entender que existem diferentes tipos de disfagia nos dá direcionamentos clínicos completamente diferentes. As alterações mecânicas são comuns aos dois tipos de disfagia. Por exemplo: no caso de tumor ele pode estar presente em orofaringe, esôfago médio ou distal – alterações mecânicas podem ocorrer em qualquer um desses níveis. Orofaríngea: devido ao fato de a orofaringe e o esôfago proximal possuírem musculatura estriada e necessidade de coordenação neuromuscular para funcionar, doenças que fazem disfagia orofaríngea, muitas vezes, são aquelas que fazem incoordenação dos fenômenos musculares da mastigação e do início da deglutição. Esofágica: já os pacientes que possuem disfagia esofágica são acometidos por doenças que fazem alteração da peristalse/condução do alimento, ou então aquelas que fazem alteração do relaxamento do EEI. CLASSIFICAÇÃO DE DISFAGIA DISFAGIA OROFARÍNGEA (ALTA): ocorre no momento da transferência do alimento da orofaringe para o esôfago. Disfagia de transferência Engasgo Esôfago proximal, orofaringe (m. estriada) Início da deglutição Tosse, regurgitação nasal, aspiração Distúrbios neuromusculares e obstrução DISFAGIA ESOFAGEANA (BAIXA): depois que o alimento já está no esôfago. Disfagia de condução Entalo Esôfago médio e distal (m. lisa) Segundos após a deglutição Doenças intraluminais, extrínsecas, distúrbios de motilidade INVESTIGAÇÃO ANAMNESE Alterações Mecânicas Incoordenação dos fenômenos neuromusculares (mastigação e início da deglutição) Alterações na peristalse esofágica ou de relaxamento do EEI. Tipos OROFARÍNGEA ESOFÁGICA DISFAGIA 2 | GASTROENTEROLOGIA A primeira coisa a ser feita é determinar se estamos diante de uma disfagia orofaríngea ou esofagiana, Depois, é importante delimitar quais são os tipos de alimento com os quais há disfagia: sólidos, líquidos ou ambos. Atentar para a progressão temporal: Sólidos e líquidos Primeiro sólidos, evolui para pastosos e depois para líquidos Intermitente É preciso questionar se a disfagia está da mesma forma, se vem melhorando ou piorando ao longo do tempo. Questionar quais os sintomas associados com a disfagia que podem auxiliar no entendimento do caso: Perda de peso Dor Anemia Sangramentos DISFAGIA OROFARÍNGEA Mastigar e deglutir adequadamente exige coordenação neuromuscular, produção de saliva, mucosa intacta e integridade de estruturas (como a presença dos dentes). Um exemplo de causa da etiologia orofaríngea é o AVC com comprometimento do controle neuromuscular da mastigação e deglutição. Tumor de orofaringe / esôfago proximal pode causar disfagia orofaríngea. Se a mucosa não estiver íntegra, escorregadia. Se o indivíduo tiver lesão de mucosa pode haver a disfagia. Parkinson – tanto pelo mal de Parkinson, quanto por outras síndromes parkinsonianas – em graus avançados pode ter incoordenação da musculatura da deglutição. A produção de saliva é fundamental no processo da deglutição. Se o paciente possui uma condição de xerostomia, como na Síndrome de Sjögren, o individuo pode fazer disfagia por conta de saliva insuficiente para formar um bolo alimentar adequado para ser deglutido. DIVERTÍCULO DE ZENKER O esfíncter esofagiano superior (EES) é composto por músculos, em especial o cricofaríngeo. Acima do musculo cricofaríngeo tem o musculo constritor da faringe. Entre esses músculos existe um intervalo em que não existe cama extra de musculo por fora do esôfago. Essa área de fragilidade – devido ao fato de não ter a camada extra de músculo – é o Triângulo de Killian. Em algumas condições o individuo possui hipertonia do m. cricofaríngeo (EES) e isso faz uma área de alta pressão. A válvula de escape para essa alta pressão vai ser a área de fragilidade / Triângulo de Killian. Com isso, a mucosa do esôfago vai se projetar para fora (parede posterior) por conta do aumento de pressão, criando uma bolsa de mucosa de esôfago por fora do esôfago. Ou seja, o Divertículo de Zenker consiste em uma protusão da mucosa na junção do musculo cricofaríngeo com o constritor inferior da faringe (triangulo de Killian). Se projeta atrás do esôfago e enche de alimento que vai apodrecendo. Dependendo da quantidade de alimento nessa bolsa, pode começar a pesar e comprimir o esôfago de trás para frente, cursando com disfagia alta. A conduta é cirúrgica e é considerado como uma condição rara. DISFAGIA ESOFAGIANA CAUSAS INTRÍNSECAS E INTRALUMINAIS Corpo estranho: tende a ser uma disfagia instantânea logo após ingerir o corpo estranho que ficou preso. Ex: osso de galinha Estenose esofágica: pode acontecer naqueles pacientes que possuem uma DRGE grave, cursando com uma estenose péptica por conta da doença de base. É uma disfagia baixa porque a estenose tende a ocorrer no esôfago distal por ser o local que mais recebe o conteúdo do refluxo. Esofagites: podem fazer inflamação, edema e estenose, causando diminuição da luz do esôfago. Ex: esofagite eosinofílica. Anéis e membranas: são estruturas que se projetam na luz do esôfago atrapalhando a descida do alimento. Síndrome de Plummer- Vinson ou Patterson-Kelly: membrana de mucosa que acontece no contexto de anemia ferropriva. Especula-se que a ausência de ferro suficiente aja alterações na formação do 3 | GASTROENTEROLOGIA epitélio, como no caso da projeção da mucosa na luz do esôfago. Essa membrana não causa uma disfagia progressiva e só acontece quando o alimento é maior do que a fenda. Tende a acontecer em mulheres mais velhas no contexto de anemia ferropriva. Anel de Schatzki: projeção para dentro da luz só de mucosa ou mucosa + submucosa + camada muscular. Pode ser congênito ou adquirido. Não piora com o tempo e sua manifestação é semelhante à Síndrome de Plummer-Vinson. Geralmente congênita, visualizado em pacientes mais novos CA de esôfago: pode acontecer em qualquer parte do esôfago. Se acontece no proximal é o CA escamoso, geralmente relacionado ao tabagismo, no esôfago distal é o adenocarcinoma, geralmente relacionado à DRGE. Geralmente acomete pacientes mais velhos que têm uma disfagia progressiva (de sólidos até líquidos, dependendo da situação) e perda ponderal importante. CAUSAS EXTRÍNSECAS O esôfago pode ser comprimido por algumas estruturas.Nesses casos, a condição de base tende a chamar mais atenção do que a disfagia. Anormalidades cardíacas e vasculares Aterosclerose grave do arco da aorta: o esôfago quando atravessa o mediastino posterior passa em contato intimo com o arco da aorta e com o brônquio fonte. Essas estruturas podem fazer uma compressão além do fisiológico. Anormalidades em tireoide DISTÚRBIOS MOTORES PRIMÁRIOS: Acalasia: a motilidade o EEI e do esôfago distal é controlada por estimulo nervoso. Existem plexos nervosos dentro da parede do esôfago/intestino (mioentéricos) que controlam a motricidade do esôfago. O esôfago distal precisa ter peristalse para empurrar o alimento contra o EEI e o EEI precisa relaxar para o alimento passar. Supondo que haja uma destruição do plexo mioentérico, com consequente destruição da inervação do esôfago distal e EEI. Isso possui duas consequências motoras principais: 1. Contrações aperistálticas do esôfago distal 2. Hipertonia do EEI Com isso, o alimento não consegue passar e inicialmente tem uma disfagia para sólidos. Com o passar do tempo esse alimento vai acumulando, gerando uma situação de alta pressão e dilatando o esôfago e perdendo ainda mais a capacidade de contração. Assim, progressivamente há disfagia para alimentos pastosos, podendo chegar até líquido A causa para destruição do plexo pode ser autoimune/idiopática fora do Brasil. Entretanto, a nível de Brasil, a causa de destruição do plexo mioentérico a ser pensada é a Doença de Chagas. Espasmo esofagiano difuso (esôfago em saca rolhas): “câimbra” do esôfago. Não tem causa exata, pode ser por DRGE, presença de conteúdo ácido, etc. É uma contração patológica do 1/3 distal do esôfago muito forte e não peristáltica. Ou seja, é uma contração desordenada. Pode ser desencadeada pela passagem do alimento. Na hora da disfagia o paciente sente dor forte retroesternal que se assemelha a do IAM, não passa nenhum tipo de alimento. Esôfago em quebra nozes: a clínica é muito parecida com a do espasmo esofagiano difuso, a diferença é por ser uma contração peristáltica. Começa em cima e vai descendo, mas a amplitude é muito grande provocando dor e impedindo a passagem do alimento. É intermitente e nunca se sabe o que vai causar. Independe do tipo de alimento. Geralmente não piora ao longo do tempo e o diagnóstico é feito com esofagomanometria. 4 | GASTROENTEROLOGIA SECUNDÁRIOS: Doença de Chagas: causa secundária de acalasia, com apresentação clínica igual. Colagenoses: se o paciente possui uma condição que faz depósito de substâncias na m. lisa do esôfago distal e impede seu relaxamento ou peristalse correta, causa disfagia. Amiloidose: idem colagenoses. Doenças endocrinológicas (DM, tireoidopatias): pode impedir o relaxamento do EEI e peristalse. Doenças sistêmicas acometendo de forma secundaria o esôfago. Casos Clínicos Paciente A, 35 anos, de vez em quando sente um entalo. Tem isso há muitos anos e não sabe dizer quando começou, mas sempre que come um pedaço de carne maior que não foi mastigada adequadamente, se entala. Depois bebe um copo de água e consegue desentalar. Sempre foi assim, mas so acontece de vez em quando nos momentos em que come algo sem mastigar direito. Nunca teve problema com alimentos pastosos e nem líquidos. Não tem piorado ao longo do tempo e nem possui sintomas associados. Anéis e Membranas Paciente B, 29 anos, que há alguns anos (2 – 3 anos) de vez em quando sente dor retroesternal em aperto, forte, que vem junto com uma disfagia, fazendo com que ela se entale com qualquer tipo de alimento que esteja comendo naquele momento (pão, carne, bolo, mingau, água,etc), depois passa. Isso vai e volta e ela nunca sabe quando vai acontecer. Pode acontecer de 2-3x no mês, as vezes vem, outras não vem. Não está piorando e nem possui sintomas associados. Esôfago em quebra nozes Paciente C, 67 anos, teve DRGE a vida inteira e há 6 meses começou a apresentar disfagia para alimentos sólidos, mas há 2 meses vem piorando com disfagia também para alimentos pastosos (como um mingau). De 2 semanas para cá começou a notar que até mesmo água ou suco entala. Relata ter perdido 10kg nesses 6 meses, apresenta mucosas descoradas ao exame físico. CA de esôfago distal (adenocarcinoma) Paciente D, 75 anos, possui disfagia progressiva há 25 anos atrás. Iniciou com alimentos sólidos, foi piorando aos poucos e ele foi se adaptando. Agora até mesmo o liquido entala. Foi perdendo peso – de 25 à 30kg - progressivamente ao longo desses 25 anos. Possui halitose e as vezes regurgita alimento não digerido. Acalasia / Megaesôfago
Compartilhar