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Lara Torres Pinto Brito - GASTROENTEROLOGIA OBSTIPAÇÃO INTRODUÇÃO Queixa mais comum relacionada ao TGI. Apesar de ser a queixa mais comum, não há uma definição global unificada. DEFINIÇÃO QUANTO À FREQUÊNCIA: diminuição das evacuações (< 3x na semana) QUANTO AO ESFORÇO: esforço para defecar QUANTO À CARACTERÍSTICA DAS FEZES: ressecadas A definição não é única e global. As queixas são variadas de acordo com o paciente; diferentes pacientes podem ter diferentes definições para o que seja obstipação. Muitas vezes é um paciente que defeca mais de 3x na semana, mas precisa fazer esforço para eliminar as fezes ou possui fezes ressecadas, e isso também é definido como obstipação. Pode haver outros sintomas associados como distensão, dor, flatulência, dentre outros. Não é necessário ter todos os fatores compatíveis com obstipação (frequência, esforço e característica), apenas 1 já é suficiente para enquadrar como um paciente obstipado. Há obstipação, de fato? Muitas vezes o paciente acha que tem que defecar todos os dias e percebe seu padrão como anormal se isso não acontece; mas na verdade está normal. É necessário explicar que cada pessoa tem seu padrão de idas ao banheiro. CARACTERÍSTICA DAS FEZES 1 e 2 são os tipos mais característicos de pacientes constipados; 3 e 4 são consideradas saudáveis; A partir do 5 são consideradas diarreicas. FATORES DE RISCO Sexo feminino Idade mais avançada Dieta – baixa ingestão de fibra e água Nível socioeconômico inferior Sedentarismo Isso ocorre, principalmente, naqueles que possuam fatores de risco para desenvolver obstipação funcional. ETIOLOGIA CAUSAS SECUNDÁRIAS São mais incomuns, geralmente decorrente de doença sistêmica. As três primeiras colunas (obstrutivas, neurológicas e metabólicas) e algumas da quarta (outras) são as causas secundárias mais comuns e é preciso excluí-las do diagnóstico. Um exemplo é a retocele em que ocorre a extrusão do reto, considerado um defeito anatômico grave que gera um problema de defecação. É importantíssimo questionar quais medicamentos o paciente usa: Anticolinérgicos: antiparkinsonianos, antidepressivos, neurolépticos, anti- histaminicos e anti-espasmódicos Analgésicos opioides: morfina, codeína e difenoxilato Anti-hipertensivos: b-bloqueadores, BCC, clonidina e diuréticos Outros: suplementos de cálcio e ferro, antiácidos de alumínio, AINES, colestiramina Embora a grande maioria das causas seja funcional, é preciso lembrar das causas secundárias: doenças sistêmicas ou causas orgânicas do próprio intestino que podem estar sendo responsáveis por aquela obstipação. 2 | GASTROENTEROLOGIA Lara Brito | CAUSA FUNCIONAL Mais comum, paciente apresenta alteração funcional do cólon (intestino grosso) e pode ser classificado em três categorias principais: Trânsito Normal – muitas vezes não há obstipação. É comum em pacientes com perfil ansioso ou que possui alguma desordem psicológica/psiquiátrica que faz com que perceba o seu trânsito como anormal. Trânsito Lento – possui tempo de trânsito colônico reduzido e sua obstipação é por conta disso. Desordens de Defecação – para defecar é preciso que uma série de coisas estejam em ordem: assoalho pélvico e musculatura íntegros, nervos funcionantes, coordenação neuromuscular e responsividade ao reflexo. Entretanto, em algumas situações, defecar não é o ideal, mas a vontade acontece e o indivíduo consegue suprimir o reflexo. Porém, algumas pessoas suprimem cronicamente o reflexo, fazendo com que ele deixe de existir de forma fisiológica, criando uma incoordenação do reflexo. Outra condição é por incoordenação neuromuscular. Essas condições provocam a obstipação. Ao falar de obstipação crônica, a grande maioria dos pacientes adultos tem um distúrbio funcional; mas se a obstipação é recente, é preciso sempre pensar em obstipação secundária. OBSTIPAÇÃO FUNCIONAL – ROMA IV Os critérios precisam estar presentes nos últimos 3 meses, tendo sido iniciado há pelo menos 6 meses. Duas ou mais dos seguintes em, ao menos, 25% das evacuações: Esforço para defecar Fezes endurecidas Sensação de evacuação incompleta Sensação de obstrução anorretal Manobras para facilitar defecação As fezes macias são raras em uso de laxante. Além disso, esses pacientes NÃO preenchem os critérios para ser classificado como SII; porque a SII pode, também, cursar com obstipação. AVALIAÇÃO INICIAL ANAMNESE É necessário fazer uma anamnese cuidadosa, excluindo as possíveis causas secundárias. Questionar: Tempo de história (dias, meses ou anos) Comorbidades Sinais de doença sistêmica Medicações em uso Sinais de alarme Procedência (importante considerar, dentre outras coisas, porque o Brasil é país endêmico para doença de Chagas, que pode cursar com megacólon) EXAME FÍSICO O exame físico pode ser normal ou possuir alguns achados como: Sinais de alarme Sinais de doença sistêmica Hipertimpanismo Distensão abdominal Dor difusa à palpação profunda Hemorroida ao toque retal. SINAIS DE ALARME Outros: fezes em fita, tenesmo, febre Na presença desses sinais é preciso pensar em uma investigação mais profunda e ativa, visto que não são todos os pacientes com queixa de obstipação que necessitam dessa investigação. AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR Não é necessária na maioria dos casos (em relação à obstipação), sendo resolvido com uma anamnese bem colhida. Quando necessária uma avaliação complementar – trata e não melhora - os exames de preferência são: Laboratoriais EDA Tempo de trânsito colônico, manometria anorretal, balão de expulsão e defecografia Obs: a colonoscopia tem indicação quando na presença do sinal de alarme ou para rastreio de CA de Sangramentos Anemia Perda de peso História familiar de CA de cólon ou DII Presença de sangue oculto nas fezes Início agudo em idosos (> 50 anos) 3 | GASTROENTEROLOGIA Lara Brito | cólon; e não somente porque o paciente tem obstipação. TEMPO DE TRÂNSITO COLÔNICO Paciente ingere cápsula com anéis radiopacos e, depois de 120 horas, faz radiografias. A primeira imagem mostra um paciente normal, com quase nenhum anel no cólon. A segunda imagem mostra um paciente com inércia colônica - tempo de trânsito lento – sendo possível visualizar os anéis em diferentes partes do cólon. O terceiro reflete um paciente com distúrbio defecatório em que os anéis estão presos no final. DEFECOGRAFIA Injeta contraste no reto do paciente e, enquanto o paciente faz manobras de defecação, são realizadas radiografias ou ressonâncias. A interpretação da defecografia pode ser complicada porque precisa que o reflexo para defecação aconteça e, devido ao fato de o paciente estar exposto, isso pode gerar inibição. MANEJO Educação do paciente sobre a obstipação para desmistificar o problema Modificações comportamentais – “disciplina e obediência” para o corpo como, por exemplo, retirar o uso abusivo dos laxantes, adquirir um hábito de ir ao banheiro e atender ao reflexo da defecação Dieta – fibras naturais e aumento da ingesta hídrica Exercício físico Terapia Laxante ALTERAÇÕES NO TRÂNSITO X DESORDENS DE DEFECAÇÃO Se já foi afastada a possibilidade de doenças secundárias, bem como realizado o manejo adequado e este não foi responsivo, passa a ser necessário realizar exames para detectar se há alterações no trânsito ou desordens na defecação. No caso de desordens de defecação, algumas outras coisas podem ser necessárias como fisioterapia, reeducação do reflexo, dentre outros. Ou, se for uma alteração grave do trânsito, pode ser necessário outras terapias secundárias ou terciárias. TERAPIA LAXATIVA INCREMENTADORES DOBOLO FECAL Devem ser associados às fibras da dieta e ingesta hídrica. Juntos, fazem um estímulo fisiológico à defecação. Devem ser realizados como primeiro passo. OUTROS Laxantes osmóticos Agentes lubrificantes/amaciantes Agentes estimulantes Procinéticos A lógica da terapêutica funciona da seguinte forma: Além da dieta rica em fibras e da ingestão hídrica, é orientado fibra suplementar – que incrementa o bolo fecal – e, se não resolver, trocar para um laxativo osmótico. Se não funcionar, tenta o 4 | GASTROENTEROLOGIA Lara Brito | laxativo lubrificante e, se também falhar, opta-se por procinéticos ou laxativos irritativos/estimulante. Por último, se nenhum desses resolver, realiza-se exames específicos para avaliar se há distúrbio de defecação ou alteração no tempo de trânsito. SEQUÊNCIA DE CONDUTA Fazer a avaliação inicial, considerando as causas secundárias e sinais de alarme. Na ausência destes, orienta a ingesta hídrica, exercício físico e vai introduzir laxantes de acordo com a resposta. Se após o uso do terceiro laxante a resposta for inadequada, são solicitados exames complementares que vão avaliar se o paciente tem tempo de trânsito colônico lento ou um distúrbio de defecação: manometria anorretal ou expulsão do balão. Se distúrbio na defecação: terapias específicas como fisioterapia, reeducação do reflexo de defecação, etc. Se tempo de trânsito lento: terapias laxativas de terceira/quarta linha, mais complexas. Existem, também, as terapias cirúrgicas (exceção) que são feitas em pacientes com obstipação do tipo funcional muito grave. Avaliação inicial •Considerar causas secundárias •Afastar sinais de alarme Fibras Água Exercício •Introduzir laxantes de acordo com a resposta Exames •Manometria •Balão Se resposta inadequada
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