Buscar

AULA 8 TGP UFES - NORMAS FUNDAMENTAIS E PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO; ACESSO À JUSTIÇA E RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO

Prévia do material em texto

Teoria Geral do Processo – Aula 8 
AULA 8: NORMAS 
FUNDAMENTAIS E 
PRINCIPIOS 
CONSTITUCIONAIS DO 
PROCESSO; ACESSO À 
JUSTIÇA E RAZOÁVEL 
DURAÇÃO DO PROCESSO 
 
PROCESSSO JUSTO E DEVIDO 
PROCESSO LEGAL; ACESSO À 
JUSTIÇA E RAZOÁVEL DURAÇÃO 
DO PROCESSO 
 
Ideia-chave: Texto e norma não se 
confundem. Normas fundamentais podem 
ser normas-regras, normas-princípio e 
normas-procedimento. E efetiva das 
pessoas e dos direitos e solucionar os 
conflitos. As garantias são a outra face dos 
direitos e o sistema de justiça é uma 
garantia de segundo grau. 
 
OS PRINCÍPIOS - INTRODUÇÃO 
Todas as teorias são válidas enquanto têm 
uma coerência interna e uma capacidade 
explicativa externa e servem na vida 
prática para descrever e prescrever 
determinados comportamentos e condutas 
para o ordenamento jurídico, para a 
pacificação do Direito. A questão dos 
princípios surgiu justamente a partir de um 
problema de metodologia do Direito. 
Atualmente, a noção de princípios se 
reveste pela constitucionalização do 
ordenamento jurídico, pela discussão do 
papel do STF, pela vinculação do texto à 
norma, etc. Tais discussões são oriundas 
da filosofia da linguagem e buscam 
questionar as premissas do modelo 
positivista. 
A passagem dos princípios gerais do direito 
do direito civil ao direito constitucional é 
uma das mais importantes conquistas da 
teoria jurídica do séc. XX. 
Há a revalorização da função criativa do 
juiz, o seu papel na revelação dos princípios 
ou de seu conteúdo, e a insuficiência do 
positivismo jurídico. O papel do direito 
constitucional é muito grande nesta 
abertura, pois, por ser um direito menos 
compacto, a função prática dos princípios 
gerais aparece mais evidente. Até esse 
estágio do desenvolviemnto, os princípios 
eram considerados apenas fontes 
secundárias e sua função criativa era 
apenas excepcional ou marginal; agora, em 
função da colocação do direito 
Teoria Geral do Processo – Aula 8 
constitucional como cento do ordenamento 
jurídico, os princípios passam a ter lugar 
de destaque. Os princípios, hoje, são 
normas, não se pode mais questionar sua 
vinculatividade imediata, indicam 
comportamentos que devem ser. 
 
AS FUNÇÕES DOS 
PRINCÍPIOS 
Função Diretiva: Função de base ou 
fundamento. Nesse sentido, podemos dizer 
que, quando a norma formula um juízo de 
ponderação sobre um determinado conflito 
de interesses estará, para esses casos, 
determinando um caminho a ser seguido e, 
consequentemente, um princípio. 
Função Indutiva: Ponto de partida, 
segundo a qual as respostas devem estar 
de acordo com o problema para serem 
aplicáveis. Nesse sentido, os princípios 
atuam normativamente, participam da 
dogmática jurídica, do sistema de normas. 
Sob essa perspectiva, os princípios têm 
aplicação imediata e regulam uma série de 
situações concretas, da mesma maneira 
que as normas-regra, mas com elas não se 
confundem. 
Função Hermenêutica: Interpretação, 
conhecimento, integração e aplicação do 
direito. Nesta função podemos identificar 
antecedente históricos na doutrina dos 
princípios gerais do direito, utilizados para 
a colmatação e integração dos sistemas 
jurídicos codificados, mas principalmente 
os cânones de interpretação. 
 
NATUREZA E FONTES DOS 
PRINCÍPIOS 
Formou-se oposições entre jusnaturalistas 
e juspositivistas quanto à natureza e à 
fonte dos princípios. 
De um lado os positivistas, que defendiam a 
função dos princípios gerais como sendo 
supletiva e o conteúdo desses como o 
resultado da abstração sucessiva de 
regras particulares, portanto, uma visão 
intra sistemática dos princípios (auto-
integração), só se aplicando 
imediatamente. 
De outro, os jusnaturalistas, que pregavam 
que os princípios eram encontrados fora do 
sistema, princípios de direito natural, 
portanto a integração que proporcionaram 
era extras sistemática (hetero-
integração). 
Teoria Geral do Processo – Aula 8 
Quanto à natureza dos princípios, houve a 
discussão acerca de sua função normativa. 
A diferença entre uma ideia e outra está 
que uns identificam “princípio” com valores 
inspiradores de um sistema jurídico, em 
uma interpretação restritiva do conceito 
de princípios; os outros utilizam o termo 
norma em uma acepção mais ampla, 
compreendendo qualquer enunciado que 
contenha uma orientação ou impulso para 
a ação. 
 
NORMAS-PRINCÍPIO E 
NORMAS-REGRA 
Princípios e regras são normas, exprimem 
o dever ser. Ambos são formulados com as 
expressões deônticas básicas: mandado, 
permissão e proibição; identificam-se nas 
regras e nos princípios razões para juízos 
concretos de dever ser, muito embora da 
espécie bem diferente (Alexy). 
A diferença entre os dois fundamenta seus 
pontos decisivos. Consoante a lição de 
Esser, os princípios não são eles mesmos 
diretrizes determinativas, mas sim razões, 
critérios e justificativas para diretrizes 
(regras). As regras dento de um 
determinado sistema jurídico são, 
portanto, o fruto dessa determinação pelos 
princípios. 
Enquanto as regras formulam razões 
definitivas aos princípios fica reservada a 
tarefa de estabelecer razões prima facie. 
 
Princípios: são normas que ordenam que 
algo seja realizado na maior medida 
possível, dentro das possibilidades 
jurídicas e fáticas existentes. Portanto, os 
princípios são mandados de otimização que 
estão caracterizados pelo fato de que 
podem ser cumpridos em diferentes graus 
e que a medida devida de seu cumprimento 
não só depende das possibilidades reais 
como também das jurídicas. 
Regras: São normas que somente podem 
ser cumpridas ou não. Se uma regra é 
válida, então deve ser feito exatamente o 
que ela exige, nem mais nem menos. 
Portanto, as regras contêm determinações 
no âmbito fático e juridicamente possível. 
Isto significa que a diferença ente regras e 
princípios é qualitativa e não de grau 
(Humberto Àvila). As regras são 
faticamente suportadas. Ocorrendo o fato, 
a regra incide. 
 
Teoria Geral do Processo – Aula 8 
Toda norma ou é regra ou é um princípio. 
 
Conflitos de regras se resolvem na 
dimensão da validade, as colisões de 
princípios se resolvem na dimensão do 
peso. 
 
A DISSOCIAÇÃO 
HEURÍSTICA NO MODELO 
REGRAS, PRINCÍPIOS E 
PROCEDIMENTOS 
(POSTULADOS) 
Nem os princípios nem as regras regulam 
por si mesmos sua aplicação. Eles 
representam somente a face passiva do 
sistema jurídico. A face ativa refere-se ao 
procedimento, responsável pela aplicação 
das regras e princípios. 
Para a obtenção de um modelo completo, é 
necessário a implementação de um 
terceiro nível a esse conjunto. Em um 
sistema orientado pelo conceito da razão 
prática, este terceiro nível pode ser 
somente o de um procedimento que 
assegure a racionalidade. Desta maneira, 
surge um modelo de sistema jurídico de 
três níveis que pode ser chamado “modelo 
regras/princípios/procedimentos”. 
A compreensão interpretativa 
contemporânea afirma que texto não se 
confunde com a norma, sendo, 
conseuqentemente, possível a extração de 
normas-regras e normas princípios de uma 
mesma disposição legislativa. 
 
Segundo Humberto Àvila, os princípios e as 
regras distinguem-se por hipótese 
provisória, ou dentro de um determinado 
modelo de interpretação e aplicação 
(dissociação heurística). Antes da 
interpretação, não se pode precisar se 
serão extraídas regras ou princípios do 
texto analisado. O procedimento de 
aplicação destas normas é igualmente 
“Normas não são textos nem o conjunto 
deles, mas os sentidos construídos a partir 
da interpretação sistemática de textos 
normativos. Daí se afirmar que os 
dispositivos constituem objeto da 
interpretação; e as normas no seu 
resultado. O importante é que não existe 
correspondência entre norma e dispositivo, 
no sentido de que sempre que houver um 
dispositivo haverá uma norma, ou sempre 
que houver umanorma deverá haver 
dispositivo que lhe sirva de suporte” 
Teoria Geral do Processo – Aula 8 
importante para densificar este significado 
de forma a explicitar sua justificação. 
 
PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS 
DO PROCESSO 
 
CONCEITOS 
IMPORTANTES 
Os direitos fundamentais constitucionais 
têm como núcleo essencial a dignidade da 
pessoa humana, sendo esta o valor-fonte 
de todo o ordenamento jurídico brasileiro. 
As emendas constitucionais não podem 
atingir esse núcleo e isso é garantido pelas 
clásuslas pétreas. Estas são normas. 
O núcleo essencial do direito processual é 
o contraditório e os princípios processuais 
cetrais ao ordenamento são o acesso a 
justiça e o devido processo legal, os quais 
se articulam reciprocamente para a 
organização do processo, através do 
direito fundamental à organização e ao 
procedimento. 
 
O DEVIDO PROCESSO 
LEGAL E O PROCESSO 
JUSTO 
 
Ideia Chave: O processo justo é aquele 
capaz de, respeitando o direito 
fundamental à organização e ao 
procedimento, prestar a tutela adequada, 
tempestiva e efetiva das pessoas e dos 
direitos, mediante as garantias 
processuais estimulando a 
autocomposição dos conflitos. As garantias 
são a outra face dos direitos. 
 
Esse enunciado confere a todos os sujeitos 
do Brasil o direito fundamental a um 
processo devido, justo e equitativo. O 
devido processo legal implica também no 
direito fundamental à organização e ao 
procedimento e é por ele implicado 
( SARLET, MARINONI, MITIDIERO, 2012). 
O devido processo legal é uma garantia 
contra o exercício abusivo do poder. 
É preciso observar as normas que 
concretizam o devido processo legal e 
compõem o seu conteúdo mínimo: 
Art. 5º, LIV: Ninguém será privado da 
liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal. 
Teoria Geral do Processo – Aula 8 
❖ O contraditório e a ampla defesa 
❖ Dar tratamento paritário às partes 
do processo 
❖ Proibição de provas ilícitas 
❖ O processo há de ser público 
❖ Garante-se o juiz natural 
❖ As decisões hão de ser motivadas 
❖ O processo deve ter uma duração 
razoável 
❖ O acesso à justiça é garantido 
 
Luigi Comoglio Paolo enumera uma série de 
características essenciais em um 
processo justo: 
❖ Garantias individuais: amplo 
acesso que garanta igualdade, 
correlação e adequação; assistência 
judiciária gratuita; ampla defesa; juiz 
natural. 
❖ Garantias estruturais: justiça 
adminsitarda em nome do povo e 
juízes sujeitos somente ao direito e à 
lei; função judicial exercida por 
magistrados instituídos e 
disciplinados por lei de organização 
judiciária; vedação de juízes de 
exceção ou extraordinários; fim 
institucional de tutela dos direitos; 
independência dos juízes e dos 
membros do Ministério Público; 
autonomia dos juízes e dos membros 
do Ministério Público; exercício da 
jurisdição segundo o justo processo; 
etc. 
 
ACESSO À JUSTIÇA 
A compreensão ampla do conceito de 
acesso à justiça exige a coordenação entre 
três eixos: o de acesso à justiça 
propriamente dito, o da adequação da 
tutela e da efetividade da tutela. 
O direito à tutela jurisdicional adequada 
determina a previsão de: 
❖ Procedimentos com nível de 
cognição apropriado à tutela do 
direito pretendida; 
❖ De distribuição adequada do ônus da 
prova, inclusive da possibilidade de 
dinamização e inversão, 
❖ De técnicas antecipatórias idôneas a 
distribuir isonomicamente o ônus do 
tempo no processo, seja em face da 
evidência. 
❖ De formas de tutela jurisdicional com 
executividade intrínseca. 
❖ De técnicas executivas idôneas. 
Teoria Geral do Processo – Aula 8 
❖ De standarts para valoração 
probatória pertinentes à natureza do 
direito material debatido em juízo. 
 
RAZOÁVEL DURAÇÃO DO 
PROCESSO 
O CPC/2015 prevê o princípio da razoável 
duração do processo em vários 
dispositivos, como no art. 4º (tutela 
tempestiva do processo como uma de suas 
finalidades), art. 6º (cooperação entre os 
sujeitos para atingir tal finalidade), art. 12 
(ordem cronológica de julgamento), art. 191 
(calendarização processual), art. 1.048 
(prioridade legal de tramitação) e art. 139, 
IV (dilação de prazos). 
O CPC/2015 busca mudar a lógica da 
impropriedade dos prazos processuais 
para juízes e impor um certo grau de 
responsabilidade, uma vinculatividade 
mitigada, que, se não observada, deva ser 
motivada adequadamente a partir dos 
valores que orientam o ordenamento 
jurídico.

Outros materiais

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes