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Defeitos do Desenvolvimento – Amanda Figueiredo DEFEITOS DO DESENVOLVIMENTO FOSSETAS DA COMISSURA LABIAL Pequenas invaginações da mucosa que ocorrem no limite do vermelhão dos lábios, nos ângulos da boca. Essa localização sugere que elas ocorram devido à falha na fusão dos processos embrionários maxilar e mandibular. Embora as fossetas da comissura labial sejam consideradas alterações congênitas, percebe-se que estas invaginações desenvolvem-se tardiamente na vida: CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Geralmente são identificadas durante o exame clínico de rotina e muitas vezes o paciente relata nunca ter percebido a alteração. As fossetas podem ser uni ou bilaterais e apresentam-se como fístulas cegas que podem estender-se de 1 a 4mm de profundidade. Em alguns casos, uma pequena quantidade de líquido pode ser eliminada da fosseta quando ela é pressionada. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS O exame microscópico revela uma invaginação estreita revestida por epitélio escamoso estratificado e ductos de glândulas salivares menores podem drenar para esta invaginação. No entanto, a biópsia raramente é realizada em pacientes com fossetas da comissura labial. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Por serem assintomáticas, não há necessidade de tratamento. Em casos raros, as secreções salivares podem ser excessivas ou pode ocorrer infecção secundária, tornando necessária a remoção cirúrgica. GRÂNULOS DE FORDYCE Os grânulos de Fordyce são glândulas sebáceas que ocorrem na mucosa oral. Por serem relatados em mais de 80% da população, a sua presença é considerada uma variação anatômica normal. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Os grânulos de Fordyce apresentam-se como múltiplas pápulas, assintomáticas, de coloração amarelada ou branco amareladas. Aparecem frequentemente em mucosa jugal e porção lateral do vermelhão do lábio superior, mas as vezes também ocorrem na região retromolar e no pilar amigdaliano anterior. Mais comum em adultos, provavelmente devido a fatores hormonais: a puberdade parece estimular o desenvolvimento. Defeitos do Desenvolvimento – Amanda Figueiredo CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS Lóbulos acinares podem ser observados logo abaixo da superfície epitelial, muitas vezes comunicando-se com a superfície através de um ducto central. As células sebáceas nestes lóbulos possuem forma poligonal, contendo núcleo centralmente localizado e abundante citoplasma. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Por serem considerados uma variação anatômica normal e serem assintomáticos, nenhum tratamento é indicado. Além disso, o aspecto clínico é bem característico e a biópsia não é necessária para fechar o diagnóstico. LEUCOEDEMA Condição comum da mucosa oral de etiologia desconhecida. Embora o leucoedema pareça ser uma alteração do desenvolvimento, alguns estudos mostraram que o leucoedema é mais acentuado em pacientes tabagistas e se torna menos pronunciado quando o paciente abandona o hábito do tabagismo. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Caracterizado pela aparência difusa, opalescente e branco acinzentada da mucosa. A superfície frequentemente apresenta estrias esbranquiçadas ou rugosidades e as lesões não são destacáveis. Em geral, o leucoedema acomete a mucosa jugal bilateralmente podendo estender-se até a mucosa labial. O leucoedema pode ser facilmente diagnosticado clinicamente, porque o aspecto esbranquiçado diminui muito ou até mesmo desaparece quando a mucosa é distendida (terceira imagem). Defeitos do Desenvolvimento – Amanda Figueiredo CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS Aumento da espessura epitelial, com edema intracelular proeminente na camada espinhosa. A superfície epitelial é frequentemente paraceratinizada e as cristas epiteliais são amplas e alongadas. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO O leucoedema é uma condição benigna e nenhum tratamento é necessário. O aspecto clínico de lesão que desaparece após estiramento, auxilia o diagnóstico. MACROGLOSSIA É uma condição incomum caracterizada pelo aumento da língua. Este aumento pode ser causado por diversas condições, incluindo malformações congênitas e doenças adquiridas. As causas mais frequentes são malformações vasculares e hipertrofia muscular. Causas Hereditárias e Congênitas: Malformações vasculares | Linfangioma | Hemangioma | Cretinismo | Síndrome de Down; Adquiridas: Pacientes edêntulos | Amiloidose | Mixedema | Acromegalia | Angioedema | Carcinoma e outros tumores; CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Em recém nascidos, a macroglossia pode se manifestar inicialmente pela respiração ruidosa, incontinência salivar e dificuldade na alimentação. Além disso, o aumento da língua pode causar gagueira. A pressão da língua contra a mandíbula e os dentes pode produzir endentações em borda lateral de língua, mordida aberta e prognatismo mandibular. Ainda pode ocorrer obstrução das vias aéreas nos casos de macroglossia acentuada. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Depende da causa e da gravidade da condição. Defeitos do Desenvolvimento – Amanda Figueiredo Nos casos leves, embora não seja necessário o tratamento cirúrgico, a fonoaudiologia pode ser útil quando a fala é afetada. Nos pacientes sintomáticos, pode haver necessidade de redução da língua, através da glossectomia. MICROGLOSSIA Alteração de desenvolvimento incomum e de etiologia desconhecida, caracterizada por uma língua anormalmente pequena. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS A microglossia pode ser difícil de diagnosticar, podendo não ser notado. No entanto, a maioria dos casos relatados tem sido associada a um grupo de condições sobrepostas. Alguns pacientes têm anormalidades simultâneas, como fenda palatina, bandas intraorais e transposição das vísceras. A microglossia está frequentemente associada a hipoplasia da mandíbula e os incisivos inferiores podem estar ausentes. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO O tratamento varia de acordo com a natureza e gravidade da condição. Procedimentos cirúrgicos e ortodônticos podem melhorar a função oral. Surpreendentemente, muitas vezes o desenvolvimento da fala é bom, mas isso varia de acordo com o tamanho da língua. TIREOIDE LINGUAL Entre a 3ª e 4ª semana de VIU, a tireoide começa a se desenvolver pela proliferação epitelial no soalho do cordão faringiano. Por volta da 7ª semana, o botão tireoidiano migra inferiormente para o pescoço e posiciona-se anteriormente à traqueia e laringe. Posteriormente, o local de onde o botão migrou invagina-se e torna-se o forame cego, localizado na junção dos dois terços anteriores e terço posterior da língua, na linha média. Se a glândula primitiva não migrar normalmente, um tecido tireoidiano ectópico pode ser encontrado entre o forame cego e a epiglote. De todas as tireoides ectópicas, 90% são encontradas nesta região. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Os sintomas geralmente surgem durante a puberdade, adolescência, gestação ou menopausa. Em 70% dos casos, essa glândula ectópica é o único tecido tireoidiano do paciente. A tireoide lingual pode variar de uma lesão nodular pequena e assintomática a grandes massas, que podem bloquear as vias aéreas. Os sintomas clínicos mais comuns são: disfagia, disfonia e dispneia. O hipotireoidismo foi relatado em mais de 33% dos pacientes. As tireoides linguais evidentes clinicamente ou sintomáticas são quatro a sete vezes mais comuns em mulheres, talvez por influências hormonais. Defeitos do Desenvolvimento – Amanda Figueiredo O seu diagnóstico é bem estabelecido pela cintilografia da tireoide, utilizando isótopos de iodo. A tomografia computadorizada e imagem por ressonância magnética podem ser úteis na avaliação do tamanho e extensão da lesão. A biópsia, geralmente é evitada devido ao risco de hemorragia e porque o aumento de volume pode ser o único tecido tireoidiano funcional do paciente. Em alguns casos, a biópsia incisional será necessária para confirmar o diagnóstico ou excluiralterações malignas. TIREOIDE LINGUAL CINTILOGRAFIA TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Nenhum tratamento é necessário, a não ser acompanhamento periódico. Em pacientes sintomáticos, a terapia supressiva com suplemento de hormônio tireoidiano pode, frequentemente, reduzir o tamanho da lesão. Alguns autores aconselham a realização da terapia supressiva até mesmo em pacientes assintomáticos, a fim de evitar um possível aumento do tamanho. Quando a terapia hormonal não funciona, a remoção cirúrgica ou ablação com iodo são indicadas. Se o aumento de volume for excisado, pode-se tentar o autotransplante para outra parte do corpo. LÍNGUA FISSURADA Condição relativamente comum caracterizada pela presença de várias fissuras ou sulcos na superfície dorsal da língua. A causa é incerta, mas pode ser hereditária. Fatores ambientais e idade também podem contribuir para o desenvolvimento. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Clinicamente observamos múltiplos sulcos ou fissuras no dorso lingual, variando de 2 a 6mm de profundidade. Em geral, ocorre de forma assintomática, embora alguns pacientes apresentem queixa de ardência ou dor. Uma forte associação entre língua fissurada e língua geográfica foi encontrada. A língua fissurada pode ser um componente da Síndrome de Melkersson-Rosenthal. Defeitos do Desenvolvimento – Amanda Figueiredo A prevalência e a gravidade desta condição parecem aumentar com a idade. Em algumas pesquisas, observou-se uma predileção pelo gênero masculino. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS O exame microscópico revela hiperplasia das projeções epiteliais e perda dos “pelos” de ceratina na superfície das papilas filiformes. As papilas variam de tamanho e muitas vezes estão separadas por fendas profundas. Um infiltrado inflamatório misto está presente na lâmina própria. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Orientação do paciente para escovar a língua, pois restos alimentares retidos podem ser uma fonte de irritação. LÍNGUA PILOSA Acúmulo acentuado de ceratina nas papilas filiformes do dorso lingual, o que resulta em uma aparência semelhante a pelos. Essa condição ocorre por um aumento na produção de ceratina ou um decréscimo na descamação. Embora sua causa seja incerta, muitos pacientes tabagistas são afetados. Outros fatores possivelmente associados são: debilitação geral, higiene oral deficiente e histórico de radioterapia na região de cabeça e pescoço. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E HISTOPATOLÓGICAS Comumente observada na linha média anterior às papilas circunvaladas, espalhando-se para as margens lateral e anterior. As papilas alongadas geralmente são acastanhadas, amareladas ou enegrecidas, como resultado do crescimento de bactérias, pigmentos do tabaco e alimentos. Em geral, a condição é assintomática, porém pode haver queixa de náusea ou gosto desagradável na boca. A biópsia é desnecessária, mas quando realizada, o exame microscópico mostra alongamento e hiperceratose das papilas filiformes. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Fatores predisponentes devem ser eliminados e a higiene oral deve ser orientada. Agentes ceratolíticos também podem ser indicados, mas por medidas de segurança, sua utilização nem sempre é recomendada. Defeitos do Desenvolvimento – Amanda Figueiredo VARICOSIDADES São veias anormalmente dilatadas e tortuosas. A idade parece ser um fator etiológico, tendo em vista que elas são raras em crianças. Por conta disso, acredita-se que o seu desenvolvimento está relacionado a perda do tônus do tecido conjuntivo. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Variz sublingual é o tipo mais comum. Apresenta-se como vesículas papulares ou elevadas, azul púrpuras, localizadas na margem lateral e no ventre lingual. Com menor frequência, varizes solitárias surgem em outras áreas como lábios e mucosa jugal. As lesões em geral são assintomáticas. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS A imagem microscópica mostra uma veia dilatada, cuja parede exibe pouco músculo liso e tecido elástico pouco desenvolvido. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Por serem assintomáticas, não há indicação de tratamento. Nas varicosidades solitárias, pode haver necessidade de remoção cirúrgica para confirmação do diagnóstico, por causa da formação de trombo secundário. EXOSTOSES Protuberâncias ósseas localizadas que surgem da cortical óssea. Estes crescimentos benignos acometem frequentemente maxila e mandíbula. As exostoses mais conhecidas são o tórus palatino e o mandibular, mas outros tipos de exostoses também podem acometer os maxilares; EXOSTOSE VESTIBULAR EXOSTOSE PALATINA EXOSTOSE SUBPÔNTICA REACIONAL As exostoses vestibulares são assintomáticas, a menos que ocorra ulceração por trauma. Observa-se um aumento de volume ósseo bilateral ao longo da face vestibular dos rebordos alveolares da maxila e/ou mandíbula. As exostoses palatinas se desenvolvem no lado lingual das tuberosidades palatinas. Geralmente são bilaterais, mas podem acometer um lado só. Defeitos do Desenvolvimento – Amanda Figueiredo Uma variante rara é a exostose subpôntica reacional, que pode se desenvolver da crista óssea alveolar, abaixo do pôntico de uma prótese fixa. TÓRUS MANDIBULAR Exostose que se desenvolve ao longo da superfície lingual da mandíbula. Sua causa é provavelmente multifatorial, envolvendo fatores ambientais e genéticos. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS Protuberância óssea. O envolvimento bilateral ocorre em mais de 90% dos casos. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS Massa de osso cortical lamelar denso e, às vezes, uma zona mais interna de osso trabecular. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO A remoção pode ser necessária para acomodar próteses. TÓRUS PALATINO Exostose comum que ocorre na linha média do palato duro. A sua patogênese é incerta, mas há uma discussão a respeito de uma possível origem genética ou fatores ambientais, como o estresse mastigatório. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS Apresenta-se como uma massa dura de osso que surge na linha média do palato duro. Podem ser classificados de acordo com a sua morfologia: plano, alongado, nodular e lobulado. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS Massa de osso cortical lamelar denso e, às vezes, uma zona mais interna de osso trabecular. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Remoção cirúrgica, caso seja necessário acomodar uma prótese ou em casos de ulceração recorrente. Defeitos do Desenvolvimento – Amanda Figueiredo DEFEITO DE STAFNE Em 1942, Stafne descreveu uma série de lesões radiolúcidas assintomáticas, localizadas próximo ao ângulo da mandíbula. Esta condição representa uma concavidade focal do osso cortical da superfície lingual da mandíbula. Na maioria dos casos, a biópsia revela tecido de glândula salivar histologicamente normal, sugerindo que estas lesões representem defeitos do desenvolvimento que contêm uma porção da glândula submandibular. Defeitos semelhantes já foram observados mais anteriormente na mandíbula e foram relacionados à glândula sublingual; além disso, um relato apontou a glândula parótida como a causa de um defeito cortical no ramo ascendente da mandíbula, sugerindo que todas as glândulas salivares maiores podem causar essas concavidades corticais. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS Apresenta-se como uma lesão radiolúcida assintomática, abaixo do canal mandibular, na região posterior de mandíbula. A lesão é tipicamente bem circunscrita e apresenta margem esclerótica. Algumas vezes, o defeito pode interromper a continuidade da margem inferior mandibular, com uma depressão clinicamente palpável nesta área. A maioria dos defeitos de Stafne são unilaterais | Predileção pelo gênero masculino. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Paraos defeitos localizados na região posterior não há necessidade de tratamento e o prognóstico é excelente. No caso do defeito lingual anterior da glândula salivar, pode ser necessária a realização de biópsia para descartar outras lesões. Fonte: Neville, 3ª edição.
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