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URGÊNCIAS UROLÓGICAS NÃO TRAUMÁTICAS SBCMC I - 2021.1 Urologia Dr. Felipe de Almeida Entre as urgências urológicas, podemos citar as infecções urinárias (é a urgência mais comum), as litíases, os sangramentos, a parafimose, o priapismo e as dores de escroto. ESCROTO AGUDO: TORÇÃO DO CORDÃO TESTICULAR CONCEITO Dor súbita de forte intensidade na região escrotal, associada ou não a edema e/ou eritema local. ● O escroto agudo tem várias causas, com destaque para a torção do cordão testicular, que pode levar a perda de função/perda do órgão, determinando uma emergência. ● Caracteriza uma emergência urológica ⇒ preservação testicular. ● Quando um paciente dá entrada no PS com dor testicular aguda, a gente precisa diferenciar a torção testicular do “resto” - esse “resto” são as outras causas de dor de escroto que não levam a perda do órgão. ● Uma torção testicular precisa ser tratada em em média 6h (4-8h), a contar do momento de início da dor. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS é o “resto” ● Torção de apêndice testis - o sinal do ponto azul é patognomônico. ● Torção de apêndice de epidídimo ● Epididimite / Orquite ● Hérnia inguinal ● Hidrocele ● Trauma / Picada de inseto ● Lesões dermatológicas ● Vasculite (Púrpura de Henoch-Schönlein) ● Edema escrotal idiopático ● Espermatocele ● Varicocele HISTÓRIA CLÍNICA DA TORÇÃO TESTICULAR Clássica: ● Dor escrotal unilateral súbita e intensa - não melhora, só piora e começa a doer no momento que ocorre a torção, é imediata. ● Frequentemente associada a náuseas e vômito ● Edema testicular e eritema podem ocorrer Intermitência: ● História de sintomas anteriores ● Dor com resolução espontânea EXAME FÍSICO !!! Sinais Característicos: ● Testis Redux: elevação do testículo ● Sinal de Angel: horizontalização do testículo ● Sinal de Prehn: elevação manual sem alívio da dor - “sinal positivo para torção” ○ Se houver melhora é mais sugestivo de orquite, é “ Prehn negativo para torção” ● Sinal de Rabinowitz: ausência do reflexo cremastérico (elevação do testículo) ○ Estímulo na região medial da coxa com objeto pontiagudo. INVESTIGAÇÃO/DIAGNÓSTICO Suspeita de torção = tratamento. ● O paciente vai ser submetido ao tratamento, porque é mais aceitável uma cirurgia desnecessária do que o paciente perder o escroto por falta de tratamento. Exames de Imagem: ● São desnecessários diante de forte suspeita pela história e exame clínico, porque podem atrasar o tratamento, aumentando a chance de perda testicular. ● São mais recomendados para confirmar a ausência da torção (quando a gente acha que não é, faz o exame para confirmar) e quando há disponibilidade e tempo. ● Opções: ○ US doppler ○ Cintilografia (nunca faz, não é tão disponível) TIPOS DE TORÇÃO ! De acordo com a condição da túnica vaginal. Extravaginal: ● Torção proximal da túnica vaginal durante a descida do testículo ● Giro conjunto das túnicas e testículo ● Fixação frouxa do gubernaculum ● Ocorre no período intra-uterino ou perinatal Intravaginal: ● Fixação anormal do testículo e epidídimo dentro da túnica vaginal: Bell-Clapper Deformity ○ Badalado de sino ● Normalmente bilateral ● Mais frequente, principalmente em adolescentes FATORES ASSOCIADOS À TORÇÃO ● Rápida contração cremastérica (frio, exercício ou sexo) ● Rápido crescimento e aumento da vascularização testicular ● Congestão vascular (processo inflamatório) ● Traumatismo contuso local ● Evento secundário GRAU DE TORÇÃO TESTICULAR O grau de torção é dado pelo número de voltas do cordão espermático, sendo que quanto mais voltas, mais rápida é a necrose. ● 1 volta = 12 horas. 2 voltas = 6 horas. 3 a 4 voltas = 1 hora. TRATAMENTO !!! É exclusivamente cirúrgico - exploração cirúrgica precoce: distorção e orquidopexia ou orquiectomia + orquidopexia contralateral. ● Orquidopexia é a fixação, é feita quando há retorno do fluxo sanguíneo após a distorção. Orquiectomia é a retirada do testículo, feita quando após a distorção o testículo contínua isquêmico. PRIAPISMO CONCEITO Ereção peniana persistente e prolongada, não relacionada a um estímulo sexual. Geralmente dolorosa. ● A partir de 04h iniciam-se as complicações ⇒ perda de função. ● Trata-se de uma síndrome compartimental, e exige intervenção médica emergencial. EPIDEMIOLOGIA ● 0,5 a 1,5 por 100.000 pessoas / ano ● Todas as faixas etárias ● Mais comum dos 5 aos 10 anos e após os 40 anos. CLASSIFICAÇÃO ● Priapismo isquêmico ● Priapismo não-isquêmico PRIAPISMO ISQUÊMICO ou DE BAIXO FLUXO ou VENOCLUSIVO É a forma mais frequente. Potencial para alterações permanentes da ereção peniana. Fisiopatologia: ● Os corpo cavernosos encontram-se rígidos e dolorosos ● O problema é que ocorre uma oclusão das veias dos corpos cavernosos, então o sangue arterial chega e enche o corpo cavernoso, mas não sai, porque a veia está ocluída, consequentemente ocorre hipóxia, determinando sofrimento tecidual. ● Segue-se um mecanismo de antiagregação plaquetária, que é regulado pelo Óxido Nítrico e pelas prostaciclinas e dependente da presença de O2. Como ocorre a hipóxia, esse mecanismo é inibido, o que tem como consequência a formação de trombos e piora da hipóxia. A longo prazo, vai ocorrendo morte celular e fibrose de corpos cavernosos. Causas: !!! ● Distúrbios hematológicos: anemia falciforme, talassemia, policitemia, hemoglobinopatia de Olmsted e leucemia. ● Injeção intracavernosa de drogas vasoativas ● Medicamentos: antidepressivos (trazodona, fluoxetina, sertralina…), psicotrópicos, anti-psicóticos, anti-histamínicos e anti-hipertensivos. ● Outras: cocaína, neoplasias, trauma raquimedular, anestesias, nutrição parenteral... PRIAPISMO NÃO-ISQUÊMICO ou DE ALTO FLUXO ou ARTERIAL Forma pouco frequente, a ereção é parcial. Pode permanecer por longos períodos sem prejuízos, não se relaciona com necrose ou fibrose dos corpos cavernosos. Fisiopatologia: ● Os corpos cavernosos encontram-se semi-rígidos e indolor. ● Decorre de um aumento do fluxo arterial para os espaços lacunares, sem alteração da drenagem venosa. Esse aumento do fluxo decorre de uma fístula arterio-lacunal ou um pseudo-aneurisma. Causas: !!! ● Trauma perineal ou peniano ● Agulha para injeção de fármacos DIAGNÓSTICO ● História e antecedentes ● Evidência de trauma/tumescência glandar e peniana ● Hemograma completo e eletroforese de Hb ● Gasometria de punção sanguínea do corpo cavernoso ● Na dúvida: US duplex-scan (imagem) e Arteriografia Gasometria do Corpo Cavernoso: !!! ● Se o sangue está oxigenado, não tem como ser a venoclusiva, então é priapismo arterial. ● Se tem acúmulo de CO2, o meio fica ácido, então o pH no priapismo venoclusivo é baixo. TRATAMENTO !!! Priapismo Isquêmico: 1) Lavagem dos corpos cavernosos + agonistas adrenérgicos ● Anestesia local: bloqueio peniano ● Escalpe 19G (grosso) inserido em um dos corpos cavernosos (sulco bálano-prepucial) - lateralmente à haste peniana, no lado direito ou esquerdo ● Drenagem, lenta e com compressão → lavagem com SF 0,9% → nova drenagem ● Pode utilizar Fenilefrina (1 ampola/1mg/10mg diluída em 1000 mL de SF 0,9%) 2) Shunts: perfuração da glande para permitir a drenagem do cavernoso através dessas perfurações (shunt distal) Priapismo Arterial: ● Não necessita abordagem de urgência ● Aguardar resolução espontânea em 7-10 dias ● Se ausência de melhora ou não tolerância pelo paciente: arteriografia e embolização ○ Quem faz é o cirurgião vascular
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