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HISTÓRIA DO KARATÊ 1- O INÍCIO DAS ARTES MARCIAIS Formas de autodefesa são, provavelmente, tão antigas quanto à espécie humana. As Artes Marciais da atualidade tem sua origem nos séculos V e VI antes de Cristo (a.C), quando se encontram os primeiros registros de “luta organizada” na Índia. Esta luta era chamada de “VAJRA MUSHTI”, cuja tradução aproximada poderia ser “aquele cujo punho cerrado é inflexível”. VAJRA MUSHTI foi o estilo de luta do KSHATRIYA, uma casta de guerreiros da Índia. Acredita-se que os Rishis guerreiros ensinaram seus segredos para os principais Brahmins. Esses, por sua vez, treinaram outros e escolheram 21 peritos em combate corpo a corpo, com os quais os guerreiros, Yodhas, foram treinados. Esses 21 guerreiros estabeleceram 21 Kalaris para proteger a terra e manter a paz. Em 520 a.C, um monge budista chamado BODHIDHARMA (também conhecido como “Ta Mo”, em chinês ou “Daruma Taishi”, em Japonês) vivia no Sul da Índia, e viajou da Índia para a China para ensinar Budismo no Templo SHAOLIN (SHORINJI). Quando ele chegou encontrou os monges do Templo com uma saúde precária, devido às longas horas que passavam imóveis durante a meditação, imediatamente se preocupou em melhorar a saúde deles. o Vajramushti foi introduzidos na China e no Japão, e depois em outras terras e países. Na China, o Kalaripayátu e o Vajramushti tomaram o nome de Kung Fu. No Japão, estas artes foram desenvolvidas dentro do sistema samurai, onde criou-se e desenvolveu-se o Kenjutso, Jujutso e o Kyūjutsu. Bodhidarma ensinou uma combinação de exercícios de respiração profunda, yoga e uma série de movimentos conhecidos como “As dezoito mãos de LO HAN” (discípulo de Buda). Esses ensinamentos foram reunidos e os monges logo se descobriram capazes de se defender contra os muitos bandidos nômades que os consideravam uma presa fácil. Os ensinamentos de BODHIDHARMA são reconhecidos pelos historiadores como a base de um estilo de arte marcial chamado SHAOLIN KUNG FU. Diferentes estilos de KUNG FU se desenvolveram quando as personalidades e as nuances dos monges emergiram. Havia dois templos SHAOLIN, um na província de Honan e outro em Fuklen. Entre 840 e 846 a.C. Ambos os templos, assim como muitos milhares de templos menores, foram saqueados e queimados. Isto foi supervisionado pelo Governo Imperial Chinês, que na época tinha uma política de perseguição e importunação sobre os budistas. Os templos de HONAN e FUKLEN foram mais tarde reconstruídos somente para serem destruídos por completo pelos Manchus durante a dinastia Ming de 1368 a 1644 a.D. Somente cinco monges escaparam. Todos os outros foram massacrados pelo imenso exército MANCHU. Os cinco sobreviventes tornaram-se conhecidos como “Os Cinco Ancestrais”. Eles vagaram por toda a China, cada um ensinando sua própria forma de KUNG FU. Considera-se que este fato deu origem aos cinco estilos básicos de: Tigre, Dragão, Leopardo, Serpente e Grou. 2- A ARTE MARCIAL DE OKINAWA OKINAWA consiste em 169 ilhas que formam o arquipélago Ryukyu, numa cadeia de ilhas de 1000 quilômetros de comprimento, que se estende no sudoeste japonês, de Kyushu até Taiwan, ainda que as ilhas mais a norte façam parte da província de Kagoshima. Algo interessante é que, na antiguidade, Okinawa fazia parte de um reino independente, o reino Ryukyu. No século XIV existiam diversos pequenos vilarejos agrícolas no arquipélago, o Reino Ryūkyū (da qual Okinawa era a Ilha principal) tratava-se como um estado vassalo ao Império Chinês, desde o século XIII. Os camponeses de Ryūkyū viviam numa situação desagradável, pois, a exemplo do que acontecia em muitos feudos nipônicos, acabavam por pagar os „tributos reais‟ com quase todo o produto da colheita, que eram exigidos pela aristocracia de Ryūkyū Como o porte de armas pela população comum era proibido pelos reis da Dinastia Shō, os Heimin (camponeses) passaram a sistematizar dois sistemas de defesa pessoal que, em verdade, eram treinados juntos. A estes chamaram genericamente de “TE” cujas formas eram rudimentares em relação ao que viríamos conhecer por Karatê-Dō e Kobu-Dō de Okinawa. Empregaram contra os Peichin (Militares), técnicas toscas de agarramento, empurrões, batidas de ombro, punho e pé, além do uso de ferramentas rurais como os batedores de arroz, varas,enxadas, foices, linhas de pesca, manivelas de moinho, ancinhos e outros, para se proteger das espadas, correntes e lanças dos guerreiros do Rei. Desde 1404 d.C., os Ryūkyū recebiam visitas „diplomáticas‟ de representantes chineses, pois como já citamos o reino do qual Okinawa fazia parte era vassalo deste país. Nas visitas dos Sapposhi (militares do „país do meio‟ que vinham supervisionar as relações entre Ryūkyū e a China) haviam intercâmbios culturais, entre estes demonstração de Kung Fu e “TE”, tal intercâmbio deu origem ao treinamento do “KATA”. Passados 25 anos do primeiro encontro, Shō Hashi unificaria os reinos dos Ryūkyū, estabelecendo, entre outras coisas, a periodicidade da vinda dos Sapposhi. Sabe-se que esses eventos eram momentos importantes para trocas culturais com os representantes chineses e que foram realizadas demonstrações dos especialistas Os praticantes de “TE” ficaram famosos, naquele tempo, por feitos inconcebíveis a um ser humano normal, como a capacidade de receber inúmeros golpes sem sofrer danos, paralisar adversários com o “KI-AI”, romper troncos de árvores com golpes ou esmagar grossos talos de bambu com as mãos nuas e matar seus adversários com apenas um golpe. Outro fator apontado para uma nova onda de desenvolvimento do “TE” foi um decreto de proibição do porte de armas pelos ocupantes japoneses de Okinawa em 1609, neste tempo novas técnicas foram incorporadas. No sec. XIX iniciava a prática do Karatê nas escolas de Okinawa. Havia três principais núcleos de “TE” em OKINAWA. Estes núcleos eram as cidades de SHURI, NAHA e TOMARI. Consequentemente os três estilos básicos tornaram-se conhecidos como: SHURI-TE, NAHA-TE e TOMARI-TE. O primeiro deles, SHURI-TE, veio a ser ensinado pelo Sensei Sakugawa (1733 – 1815), que ensinou Sokon “Bushi” Matsumura (1796 – 1893), e que, por sua vez, ensinou ANKO ITOSU (1813 – 1915). Neste contexto, Ankō Itosu, um dos mais eminentes mestres da arte de Okinawa passou a trabalhar em uma forma de levar a prática do Karatê ao público geral, tornando-o a disciplina de Educação Física nas escolas, formulou os “Dez artigos sobre o Tō-de”, que bem aceitos pelos dirigentes do sistema educacional da época possibilitaram a inserção do Karatê nas escolas da prefeitura de Okinawa. Seu aluno mais famoso foi Gichin Funakoshi. SHURI- TE foi o precursor dos estilos japoneses que eventualmente vieram a se chamar SHOTOKAN, SHITO RYU e ISHIN RYU. NAHA-TE tornou-se popular devido aos esforços de Kanryo Higaonna (1853 – 1916). o principal professor de Higaonna foi Seisho Arakaki(1840 – 1920) e seu mais famoso aluno foi Chojun Miyagi (1888 – 1953). MIYAGI também foi à China para estudar. Ele, mais tarde, desenvolveu o estilo conhecido hoje por GOJU RYU. TOMARI-TE foi desenvolvido juntamente por Kosaku Matsumora (1829 – 1898) e Kosaku Oyadomari (1831 – 1905). Matsumora ensinou Chokki Motobu (1871 – 1944) e Oyadomari ensinou Chotoku Kyan (1870 – 1945) – dois dos mais famosos professores da época. Até então TOMARI-TE era largamente ensinado e influenciou tanto SHURI-TE como NAHA-TE. A história do KARATÊ moderno se dá a partir das duas principais linhas de KARATÊ, O SHURI-TE (SHOTOKAN-RYU) e o NAHA-TE (GOJU-RYU); Na historia de Okinawa percebemos que devido se localizar em uma rota comercial e de fundamental posição estratégica (entre a Indonésia, Polinésia, China, Coréia e Japão) o arquipélago Ryukyu foi ocupado e influenciado por diversos impérios (Russo, Chinês, Japonês). Por isso Okinawa desenvolveu uma cultura própria, e parte de sua história significativamentediferenciada do resto do Japão. Relatos antigos apontam comerciantes e representantes Okinawanos nas cortes imperiais da China e do Japão. Historicamente , Okinawa recebeu mais influências culturais da China do que do Japão. Depois da Segunda Guerra Mundial e da Batalha de Okinawa em 1945, Okinawa permaneceu sob a administração dos Estados Unidos por 27 anos. Durante esse período, os Estados Unidos estabeleceram lá várias bases militares. Em 15 de maio de 1972, Okinawa foi devolvido ao Japão. No entanto, os Estados Unidos ainda mantém uma grande presença militar no arquipélago. Devido ao nacionalismo nipônico o Karatê não é considerado uma Arte Marcial Nacional Japonesa por ter nascido há muitos séculos na ilha de Okinawa (que era um reino independente). A arte chegou de fato bem depois ao Japão, tendo sido introduzida por Gichin Funakoshi na década de 1920. Para os nipônicos o Karatê possui mais semelhanças com as artes marciais chinesas e coreanas. O Karatê passou a ganhar popularidade mundial e tornou-se a Arte Marcial mais praticada no mundo. Acredita-se que o número de praticantes no mundo seja superior a 60 milhões de pessoas, em diversos estilos e Confederações Mundiais: 3- GICHIN FUNAKOSHI: O PAI DO KARATÊ MODERNO A história do Mestre GICHIN FUNAKOSHI se confunde com a própria história do KARATÊ, por isso a ele é creditado o título de “Pai do Karatê Moderno”, devidos aos seus esforços em divulgar essa arte para o mundo e torná-la acessível a todos. GICHIN FUNAKOSHI nasceu em Shuri, Okinawa, Em 1868, o mesmo ano da MEIJI (quadro 1). FUNAKOSHI era filho único, e logo após seu nascimento foi levado para a casa dos seus avós maternos, com quem foi educado e aprendeu poesias clássicas chinesas. Algum tempo depois ele começou a freqüentar a escola primária, onde conheceu outro garoto de quem ficou muito amigo. Esse garoto era filho de YASUTSUNE AZATO, um dos maiores especialistas de Okinawa na arte do Shuri-TE, e membro de uma das famílias mais respeitadas. Logo Funakoshi começava a tomar suas primeiras lições de Karatê. Como na época a prática de artes marciais era proibida em OKINAWA, os treinos eram realizados a noite, no quintal da casa do Mestre Azato. Lá ele aprendia a socar, chutar e mover-se conforme os métodos praticados naqueles dias. O treinamento era muito rigoroso. Mestre Azato tinha uma filosofia de treinamento que se chamava “HITO KATA SAN NEN”, ou seja, “UM KATA EM TRÊS ANOS”. Funakoshi estudava cada Kata a fundo, e então, quando autorizado pelo seu mestre, seguia para o próximo. Enquanto praticava no quintal de Azato com outros jovens, outro gigante do Karatê, Mestre ITOSU, amigo de Azato, aparecia e observava-os fazendo kata, tecendo comentários sobre suas técnicas. Era uma rotina dura que terminava sempre de madrugada sobre a disciplina rígida do Mestre Azato, do qual o melhor elogio se limitava apenas a uma única palavra: “Bom”. Após os treinos, já quase ao amanhecer, Azato falava sobre a essência do Karatê. Após vários anos, a prática do Karatê deu grande contribuição para a saúde de Funakoshi, que fora uma criança muito frágil e doentia. Ele gostava muito do KARATÊ, mas como não pensava que pudesse fazer dele uma profissão, inscreveu-se e foi aceito como professor de uma escola primária, em 1888, aos 21 anos, aproveitando toda a sua cultura adquirida desde a infância quando seus avós lhe ensinavam os Clássicos Chineses. Esta deveria ser sua carreira a partir de então. No começo deste século, em 1902, durante a visita de Shintaro Ogawa, que era então inspetor escolar da prefeitura de Kagoshima, a escola de Funakoshi em Okinawa, foi feita uma demonstração de Karatê. Funakoshi impressionou bastante devido ao seu status de educador. Ogawa ficou tão entusiasmado que escreveu um relatório para o Ministério da Educação elogiando as virtudes da arte. Foi então que o treinamento de Karatê passou a ser oficialmente autorizado nas escolas. Até então o Karatê só era praticado atrás de portas fechadas, mas isso não significava que fosse um “segredo”. As casas em Okinawa eram muito próximas umas das outras, e tudo que era feito numa casa era conhecido pelas oito casas adjacentes. Enquanto muitos autores pregam o Karatê como sendo um segredo àquela época, ele não era tão secreto assim. Contra os pedidos de muitos dos mestres mais antigos de Karatê, que eram a favor de manter tudo em segredo, Funakoshi trouxe o Karatê, com a ajuda de Itosu, até o sistema de escolas públicas. Logo, crianças na escola estavam aprendendo Kata como parte das aulas de Educação Física. A redescoberta da herança étnica em Okinawa era moda, então as aulas de KARATÊ em Okinawa eram vistas como uma coisa legal. Alguns anos depois, o Almirante ROKURO YASHIRO (na época Capitão), assistiu a uma demonstração de KATA. Essa demonstração foi feita por FUNAKOSHI junto com uma equipe composta por seus melhores alunos. Enquanto ele narrava, os outros executavam o KATA, quebravam telhas e geralmente chegavam ao limite de seus pequenos corpos. FUNAKOSHI sempre enfatizava o desenvolvimento do caráter e autodisciplina nas suas narrações durante as suas demonstrações. Quando ele participava, gostava de executar o kata KANKU DAÍ, o maior do Karatê, e talvez o mais representativo. YASHIRO ficou tão impressionado que ordenou aos seus homens que iniciassem o aprendizado na arte. Em 1912, a Primeira Esquadra Imperial da Marinha ancorou na baia de CHUJO, sob o comando do Almirante DEWA, que selecionou doze homens de sua tripulação para estudarem Karatê durante uma semana. Foi graças a esses dois oficiais da Marinha que o Karatê começou a ser comentado em TÓQUIO. Os japoneses que viam essas demonstrações levavam as histórias sobre o Karatê consigo quando voltavam ao Japão. Pela primeira vez na sua história, o Japão acharia algo na sua pequena possessão de OKINAWA além de praias bonitas e o ar puro. Em 1921, o então Príncipe Herdeiro HIROITO, em viagem para a Europa, fez escala em OKINAWA e assistiu uma demonstração de Karatê liderada por FUNAKOSHI, e ficou muito impressionado. Por causa disso, no final desse mesmo ano, FUNAKOSHI foi convidado para fazer uma demonstração de Karatê em TÓQUIO, numa Exibição Atlética Nacional. Ele aceitou imediatamente, acreditando ser esta uma ótima oportunidade para divulgar a arte. Sua demonstração de KATA foi um sucesso. Ele pretendia retornar logo para OKINAWA, mas depois da exibição, FUNAKOSHI foi cercado por pedidos para ficar no Japão ensinando Karatê. Uma das pessoas que pediram que ele ficasse foi JIGORO KANO, o fundador do JUDÔ e presidente do Instituto KODOKAN. Funakoshi resolveu ficar mais alguns dias para fazer demonstrações técnicas no próprio KODOKAN. Algum tempo depois, quando se preparava novamente para retornar a OKINAWA, foi visitado pelo pintor HOAN KOSUGI, que já tinha assistido a uma demonstração de Karatê em OKINAWA e pediu que ele lhe ensinasse a arte. Mais uma vez sua volta foi adiada. FUNAKOSHI percebeu então que se ele quisesse ver o KARATÊ propagado por todo o Japão ele mesmo teria que fazê-lo. Por isso resolveu ficar em TÓQUIO até que sua missão fosse cumprida. No Japão, FUNAKOSHI foi ajudado por JIGORO KANO, o homem que reuniu tantos estilos diferentes de JU JUTSU para fundar o JUDÔ. Kano tornou-se amigo íntimo de Funakoshi, e sem sua ajuda nunca teria havido Karatê no Japão. KANO o introduziu às pessoas certas, levou-o às festas certas. Caminhou com ele através dos círculos sociais da elite japonesa. Mais tarde naquele ano, as classes mais altas dos japoneses se convenceram do valor do treinamento do Karatê. FUNAKOSHI fundou um Dojo de karatê num dormitório para estudantes de Okinawa, em MEISEI JUKU. Ele trabalhou como jardineiro, zelador e faxineiro para poder se alimentar enquanto ensinava KARATÊ a noite. Em 1922, a pedido do pintor HOAN KOSUGI, publicouo seu primeiro livro: “RYUKYU KENPO KARATÊ”, um tratado nos propósitos e prática do Karatê. Na introdução daquele livro ele já dizia que: “...a pena e a espada são inseparáveis como duas rodas de uma carroça”. O grande terremoto de KANTO, em 1º de setembro de 1923, destruiu as placas do seu livro, e levou alguns de seus alunos com ele. Ninguém morreu com o tremor, os incêndios que provocaram as mortes. O terremoto ocorreu durante a hora do almoço, no momento em que cada fogão a gás no Japão estava ligado. Os incêndios que ocorreram a seguir foram monstruosos, e a maioria das vidas perdidas se deveu ao fogo. Este livro teve grande popularidade e foi revisado e reeditado quatro anos após o seu lançamento, com o título alterado para: “RENTAN GOSHIN KARATÊ JUTSU”. Em 1925, Funakoshi começou a pegar alunos dos vários colégios e universidades na área metropolitana de TÓQUIO, e nos anos seguintes, esses alunos começaram a fundar seus próprios clubes e a ensinar Karatê a estudantes destas escolas. Como resultado, o Karatê começou a se espalhar por TÓQUIO. No início da década de 1930 havia clube de Karatê em cada universidade de prestígio de TÓQUIO. Mas porque estava Funakoshi conseguindo tantos jovens interessados em Karatê desta vez? O Japão estava fazendo uma Guerra de Colonização na Bahia do Pacífico. Eles invadiram e conquistaram a Coréia, Manchúria, China, Vietnã, Polinésia, e outras áreas. Jovens a ponto de irem para a guerra vinham a Funakoshi para aprender a lutar, assim eles conseguiriam sobreviver ao recrutamento nas Forças Armadas Japonesas. O seu número de alunos aumentou bastante. Por volta e 1933, Funakoshi desenvolveu exercícios básicos para prática das técnicas em duplas. Tanto o ataque de cinco passos (GOHON KUMITÊ) como o de um (IPPON KUMITÊ) foram usados. Em 1934, um método de praticar esses ataques e defesas com colegas de um modo levemente mais irrestrito, semi-livre (JYU IPPON KUMITÊ), foi adicionado ao treinamento. Finalmente, em 1935, um estudo de métodos de luta livre (JYU KUMITÊ) com oponentes finalmente tinha começado. Neste mesmo ano de 1935, foi publicado seu próximo livro: “KARATÊ-DO KYOHAN”. Este livro trata basicamente dos KATA. Funakoshi era TAOISTA e ensinava Clássicos Chineses como o TAO TE CHING de LAO TZU, enquanto estava vivendo em OKINAWA. Funakoshi era profundamente religioso. Ele tinha muito medo de que o Karatê se tornasse um instrumento de destruição, e provavelmente queria eliminar dos treinamentos algumas aplicações mortais dos KATA. Então parou de fazer essas aplicações. Ele também começou a desenvolver estilos de luta que fossem menos perigosos. Funakoshi teve sucesso ao remover do Karatê técnicas de quebra de juntas, de ossos, dedos nos olhos, chaves de cotovelo, esmagamento de testículos, criando um novo mundo de desafios e lutas em equipe onde somente umas poucas técnicas seriam legais. Ele fez isso baseado nos seus propósitos e com tal conhecimento dos resultados. Em 1936, Funakoshi mudou os caracteres KANJI utilizados para escrever a palavra KARATÊ. O caracter “KARA” significava “CHINA”, e o caracter “TE” significava “MÃO”. Para popularizar mais a arte no Japão, ele mudou o caracter “KARA” por outro, que significa “VAZIO”. De “MÃOS CHINESAS” o Karatê passou a significar “MÃOS VAZIAS”. E como os dois caracteres são lidos exatamente do mesmo jeito, então a pronúncia das palavras continuou a mesma. Além disso, Funakoshi defendia que o termo “MÃOS VAZIAS” seria o mais apropriado, pois representa não só o Karatê ser um método de defesa sem armas, mas também representa o espírito do Karatê, que é esvaziar o corpo de todos os desejos e vaidades terrenas. Com essa mudança, Funakoshi iniciou um trabalho de revisão e simplificação, que também passou pelos nomes dos KATA, pois ele também acreditava que os japoneses não dariam muita atenção por qualquer coisa que tivesse a ver com o dialeto caipira (interiorano) de Okinawa. Por isso ele resolveu mudar não só nome da arte, mas também os nomes dos KATA. Ele estava certo, e seus números cresceram mais ainda. Funakoshi tinha 71 anos em 1939, e foi quando ele deu o primeiro passo dentro de um DOJO de KARATÊ em 29 de janeiro. O prédio foi feito de doações particulares, e uma placa foi pendurada sobre a entrada e dizia: “SHOTOKAN”. “SHO” significa “PINHEIRO”, “TO” significa “ONDAS” ou o som que as árvores fazem quando o vento bate nelas. “KAN” significa “CASA” ou “ESCOLA”. “SHOTO” era o pseudônimo que FUNAKOSHI usava para assinar suas poesias quando jovem, pois quando ele ia escrevê-las se recolhia em um lugar mais afastado, onde pudesse buscar inspiração, ouvindo apenas o barulho dos pinheiros ondulando ao vento. Esse nome dado ao SHOTOKAN KARATÊ DOJO foi uma homenagem de seus alunos. A necessidade de um treinamento nas artes militares estava em crescimento. Jovens estavam se amontoando no DOJO, vindos de todas as partes do Japão. O Karatê foi de carona nessa onda de militarismo e estava desfrutando de uma aceitação acelerada como resultado. Finalmente o Japão cometeu um grande erro. O bombardeio das forças navais americanas em Pearl Harbor a Sete de dezembro de 1941, foi algo além da conta. Numa tentativa de prevenir que as embarcações americanas bloqueassem a importação japonesa de matéria-prima, os japoneses tentaram remover a frota americana e varrer a influência Ocidental do próprio Oceano Pacífico. O plano era bombardear os navios de guerra e os porta-aviões que estavam no território do Hawaii. Isso deixaria a Força da América no Pacífico tão fraca que a nação iria pedir a paz para prevenir a invasão do Hawaii e do Alasca. Infelizmente, o pequeno Japão não tinha os recursos, força humana, ou a capacidade industrial dos Estados Unidos. Com uma mão nas costas, os americanos destruíram completamente os japoneses na Ásia e no Pacífico. Uma das vítimas dos ataques aéreos foi o SHOTOKAN KARATÊ DOJO que havia sido construído em 1939. Com os Estados Unidos da América exercendo pressão em Okinawa, a esposa de Funakoshi finalmente iria deixar a ilha e juntar-se a ele em KYUSHU no sul do Japão. Eles ficaram lá até 1947. Os americanos destruíram tudo o que estava em seu caminho. As ilhas foram bombardeadas e todas as cidades queimadas até o fim, as colinas crivadas de balas belos cruzadores de guerra de longe da costa, e então as tropas varreram através da ilha, cercando todo mundo que estivesse vivo. A era dourada do Karatê em Okinawa tinha acabado. Todas as artes militares haviam sido banidas rapidamente pelas forças ocupantes americanas. Primeiro uma, depois outra bomba atômica explodiram sobre as cidades de HIROSHIMA e NAGASAKI. Três dias depois, bombardeiros americanos sobrevoaram TÓQUIO em tal quantidade que chegaram a cobrir o Sol. TÓQUIO foi bombardeada com dispositivos incendiários. Descobrindo que o governo do Japão estava a ponto de cometer um suicídio virtual sobre a imagem do Imperador, cartas secretas foram passadas para os japoneses garantindo sua segurança se eles assinassem sua “rendição incondicional”. O Japão estava acabado, a Guerra do Pacífico também, mas o pesadelo de Funakoshi ainda havia de acabar. Então, GIGO (também conhecido como Yoshitaka), filho de Funakoshi, um promissor jovem mestre de Karatê no seu próprio direito, aquele que Funakoshi estava contando para substituí-lo como instrutor do SHOTOKAN, pegou tuberculose em 1945 e morre enquanto, teimosamente, recusa-se a comer a ração americana dada ao povo faminto. Funakoshi e sua esposa tentaram viver em KYUSHU, uma área predominantemente rural, sob a ocupação americana no Japão. Mas, em 1947, ela morre, deixando Funakoshi retornar a TÓQUIO para reencontrar seus alunos de Karatê que ainda viviam. Depois que a guerra havia acabado, as artes marciais haviam sido completamente banidas. Entretanto, alguns dos alunos de Funakoshi tiveram sucesso em convencer as autoridades que o Karatêera um esporte inofensivo. As autoridades americanas concederam, mas por causa de que naquela época eles não tinham idéia do que fosse Karatê também alguns homens estavam interessados em aprender as artes militares secretas do Japão, então as proibições foram eliminadas completamente em 1948. Em maio de 1949, os alunos de Funakoshi movem-se para organizar todos os clubes de Karatê universitários e privados numa simples organização, e eles a chamaram de NIHON KARATÊ KYOKAI (Associação Japonesa de Karatê). Eles nomearam Funakoshi seu instrutor chefe. Em 1955, um dos alunos de Funakoshi consegue arranjar um DOJO para a NKK. Em 1957, Funakoshi tinha 89 anos de idade. Ele foi professor da escola primária e um estudante de Karatê. Ele mudou-se para o Japão (e não é um pequeno ato de coragem) e trouxe o Karatê consigo em 1922 dando ao Japão algo de OKINAWA com seu próprio jeito pacifista. No processo ele perdeu um filho, sua esposa, o prédio, seu lar, e qualquer esperança de ter uma vida pacífica. Ele suportou uma Guerra Mundial que resultou em calamidade nacional, e ele treinou seus jovens amigos e conheceu suas famílias apenas para vê-los irem lutar e serem mortos pelas forças invencíveis dos Estados Unidos. Ele viu o Japão queimar. Ele viu os antigos templos e santuários serem totalmente aniquilados, ele viu bombardeiros enegrecerem o Sol, e ele viu como um pilar de fumaça negra subia de cada cidade no Japão e envenenava o ar que ele respirava. Ele viu o Japão cair da glória para uma nação miserável, dependendo de suprimentos de comida e roupas de seus conquistadores. O cheiro da fumaça e o cheiro dos mortos, os berros daqueles que foram deixados para morrerem lentamente, o choro das mães que perderam seus filhos e esposas que nunca mais iriam ver seus maridos, o medo, o ruído ensurdecedor dos B-29s voando sobre suas cabeças aos milhares, os clarões, como de trovões, por todo o país quando as bombas explodiam em áreas residenciais, os flashes de luz na escuridão, a espera no rádio para poder ouvir a voz do Imperador pela primeira vez, somente para anunciar a rendição, a humilhação de implorar comida aos soldados... os intermináveis funerais e famílias arruinadas e lares destruídos... Tente e imagine o que ele suportou! A lição mais importante que ele nos ensinou está expressa na história de modo que ele passou pelo DOJO principal de JIGORO KANO, o fundador do JUDÔ. Caminhando pela rua, ele parou e fez uma pequena prece quando passou pelo KODOKAN. E, se estivesse dirigindo um carro, ele tiraria seu chapéu quando passasse pelo KODOKAN. Seus alunos não entenderam porque ele estria rezando pelo sucesso do JUDÔ. Ele explicou: “Eu não estou rezando pelo JUDÔ. Eu estou oferecendo uma prece em respeito ao espírito de JIGORO KANO. Sem ele, eu não estaria aqui hoje”. GICHIN FUNAKOSHI, o “Pai do Karatê Moderno”, faleceu no dia 26 de abril de 1957. Em seu túmulo negro, em forma de cruz, estão as palavras “KARATÊ NI SENTE NASHI” (No KARATÊ não existe atitude ofensiva). RESTAURAÇÃO MEIJI – 1868QUADRO 1 No Japão, a partir da Restauração Meiji, que industrializou e modernizou o país, diversas mudanças políticas e sociais ocorreram. Para o mundo das artes marciais, a fundação da Dai Nippon Butokukai61, uma instituição japonesa voltada para o desenvolvimento das artes marciais, foi um grande marco. A partir de seu estabelecimento, toda disciplina guerreira tinha que ser registrada nessa fundação e seguir certas normativas, como por exemplo, a adoção da graduação KYŪ/DAN e o uso do DŌGI BRANCO. A partir desse registro a arte poderia ser reconhecida ou distinguida como Budō, desde que fosse uma antiga arte tradicional japonesa que antes se nomeava a partir do sufixo Jutsu. Como o Karatê nunca foi uma arte tradicional japonesa e, portanto, não teve o sufixo Jutsu como parte de seu nome e nunca foi reconhecido como uma arte tradicional japonesa, apesar de ter sido posteriormente reconhecida e registrada na Butokukai através dos esforços de Gichin Funakoshi. Cabe lembrar também que todas as artes japonesas sem exceção sofreram mudanças neste período, abandonando os nomes antigos e adotando os novos juntamente das novas diretrizes e preceitos.Assim o Jūjutsu tornou-se Jūdō, o Kenjutsu tornou- se Kendō, o Kyūjutsu tornou-se Kyūdō e o Karatê a fim de seguir esta linha tornou-se Karatê-Dō. Karatê é uma disciplina que nasce em Okinawa, quando a ilha fazia parte de um reino independente (Ryūkyū) e foi influenciada essencialmente pelo Wu-shu chinês. A única lacuna que pode ser aberta a esse respeito é que o estilo Wadō-ryū de Hironori Otsuka é uma mistura dos estilos de Jūjutsu que ele aprendeu na juventude com o Shōtōkan Karatê-Dō, que estudou sob a tutela de Gichin Funakoshi, mas isso ocorreu no Japão em pleno século XX, quando a arte já possui algumas centenas de anos. KUMITÊ Existem vários tipos e formas de treinamento de “KUMITÊ” (luta). Vejamos: KUMITÊ; KUMITÊ; IPON KUMITÊ; IPON KUMITÊ; TIPOS DE KUMITE KUMITÊ; e KUMITÊ. KUMITÊ É uma forma de treinamento de combate entre dois atletas, com a postura previamente estabelecida convencionando-se sempre qual será atacante que golpe aplicará e a que nível será direcionado. A seqüência de ataque conterá 5 (cinco) movimentos avançando em linha reta, aos quais corresponderão ao mesmo número de movimentos defensivos pelo atleta opositor. Os objetivos deste treinamento são fortalecer as bases, aferição da distância ideal de aplicação dos golpes tanto de ataque como de defesa, firmeza corporal, auto confiança e tempo de reação. Forma de treinamento – os atletas se posicionam em dupla, frente a frente. O atacante indica a direção e a altura do soco (OI ZUKI) e inicia a seqüência. Quando do último soco, o defensor usará o bloqueio adequado e imediatamente executará um contragolpe que atenda à distância correta, força, KIMÊ e direção. Completada a primeira etapa o defensor passará a atacar atendendo aos mesmos requisitos. É importante que o defensor não recue antes que o atacante inicie o seu movimento ofensivo. Aos atletas iniciantes este treinamento deve ser dirigido com um ritmo mais lento sob o comando do instrutor. Aos KARATECAS de nível avançado, este treinamento deverá ser aplicado mais rapidamente, podendo ser, também, sem comando e inclusive com variação de ritmo. Por exemplo, o atacante executa 2 ou 3 movimentos em “REN ZUKI”, no mesmo nível e os movimentos restantes em “DAN ZUKI”, outro nível, ou altura e direções diferentes. KUMITÊ Este tipo de treinamento de combate assemelha-se muito ao anterior, com a diferença que as técnicas de ataque e defesa são em número de 3 (três), com o contragolpe se registrando no quarto tempo. 16 Os objetivos são também semelhantes ao anterior. Como observação registra que, por ser uma seqüência mais curta executa-se mais rapidamente e representa um estágio mais adiantado na prática de combate. Neste tipo de treinamento, os iniciantes também aplicam cada golpe separadamente, enquanto que os mais adiantados podem praticá-lo com variação de ritmo. Podem ainda os KARATECAS mais adiantados praticar, não só variação do ritmo, como também com variação dos golpes. Por exemplo: OI ZUKI – URAKEN – OI ZUKI, ou outra seqüência previamente estabelecida. IPPON KUMITÊ Consiste na forma de combate a um só golpe (IPPON), onde os dois oponentes estabelecem qual será o atacante e o golpe a ser utilizado para o ataque. Neste tipo de treinamento os adversários se posicionam frente a frente, em pé, SHIZENTAI, posição natural, ou seja, SHIZEN (postura) TAI (corpo), o atacante toma a base ZENKUTSU e avisa qual a técnica que será executada, se soco ou chute e faz a devida aplicação. O defensor, ainda em SHIZENTAI, no exato momento do ataque, muda a postura. Desviando- se a um ângulo de 45º e aplica a defesaadequada seguida, imediatamente, de um contragolpe eficaz. Retornam ambos à posição inicial e recomeçam o treinamento com a mesma técnica ou outra se assim preferirem. Os objetivos deste treinamento são acentuar a percepção da iniciativa de ataque do adversário, condicionar o imediato uso do contragolpe quando atacado e desenvolver a utilização das técnicas de esquivas, esmerando-se sempre quanto à postura e a potência dos golpes. Este tipo de treinamento pode ser realizado em dois tempos, seja um tempo para defesa, outro tempo para o contragolpe, quando se evidencia a força de cada um desses dois golpes, ou a um só tempo, quando defesa e contragolpe misturam-se em uma só ação, suprimindo, logicamente, qualquer intervalo entre a defesa e o contragolpe, tornando o defensor mais rápido na sua seqüência. A técnica de dois tempos é muito utilizada por KARATECAS iniciante, enquanto que a de apenas um tempo é largamente eficaz àqueles que já dominam com segurança a técnica anterior. JYU KUMITÊ O objetivo final do esporte KARATÊ é a luta propriamente dita. Nesta prática os contendores podem adotar a forma livre, na postura em que se sentirem mais confortáveis para atacarem ou recuarem, executando ataque ou defesa. A meta é alcançar através de golpes adequados o corpo do adversário, quer seja na região do tronco, da cabeça ou até mesmo das pernas com eficiência e vigor. É de suma importância que os contendores dominem bem as técnicas a serem aplicadas, para evitar contusões graves nos companheiros de treinamentos. É importante, também, dominar a técnicas de distância, aproximação e recuo, possuir defesas eficazes e ataques precisos. É um treinamento que requer coragem, autocontrole, perseverança e determinação, aliada a um bom domínio das técnicas do KARATÊ. O JYU KUMITÊ não deve ser praticado por iniciantes, a não ser com rigorosa observação do instrutor responsável e assim mesmo sob a característica de não usarem força a distância muito próxima. Este tipo de treinamento é comumente denominado de “sombra” e tem a finalidade apenas de aprimorar os reflexos para aplicações de golpes de ataque ou defes KUMITÊ É chamada luta de competição, cujo objetivo é a marcação de pontos. ÁREA DE COMPETIÇÃO O QUE É KATÁ? Fisicamente os KATÁS são combinações de movimentos de ataques e defesas previamente esta- belecidas em deslocamentos para frente, lados ou para trás, com o objetivo de desenvolver a coordenação motora, estética corporal e a agilidade. Espiritualmente esses treinamentos objetivam em primeiro lugar a cortesia, representada pela mesura que o KARATECA efetua quando inicia e finaliza o KATÁ, mesmo estando treinando sozinho, como forma de respeito que o cultor do karatê tem para consigo próprio, para com o ato que está a realizar, para com a roupa que está vestindo – KARATÊ GI (KIMONO) – e para com o local onde está treinando (DOJO). Ainda como conteúdo do treinamento espiritual o KARATECA deverá executá-lo idealizando uma luta imaginária, onde seus adversários situem-se em várias direções e posições, sendo que nos seus movimentos contra estes adversários, o executor do KATÁ deverá mostrar coragem e confiança, mas também polidez e humildade, como se esses adversários fossem reais e o combate de vida ou morte. Nunca devemos treinar o KATÁ sem pensar que estamos lutando de verdade. Se assim o fizer- mos, os golpes perderão a essência e sentido de aplicação. Executar o KATÁ não é apenas desenhar com o nosso corpo a forma postural, mas aliar esta for- ma ao espírito do “BUDÔ”, ao coração, a vontade de vencer. O treinamento do KATÁ exige a mesma seriedade e cuidados que o treinamento para KUMITÊ, pois também é seu objetivo a aplicação das técnicas assimiladas em combates reais. Na prática do KATÁ devemos manter o KI (espírito) do início da seqüência até o final e para tanto é muito importante a concentração mental. Unir o movimento do golpe à respiração adequada, à concentração mental, à força física, ao KIMÊ. O KIMÊ exercitado quando da execução do KATÁ materializa aspectos da própria personalidade do KARATECA, aquele que tem a personalidade fraca, sempre o fará sem força, determinação, ou a ne- cessária atenção. Já o homem forte, se impõe, demonstra a força interior exteriorizando-se a cada movi- mento, com atenção, cortesia, polidez e humildade. Devemos procurar ser fortes, porém acima de tudo, socialmente educados. Segundo GICHIN FUNAKOSHI, o espírito do KARATÊ associa-se à cortesia. O TREINAMENTO Para iniciarmos o treinamento de qualquer KATÁ, devemos manter o corpo totalmente relaxado, principalmente os ombros e quadris. O único ponto do corpo onde devemos concentrar a força, é o centro de gravidade, denominado TANDEN. Desta forma o KARATECA estará com o corpo preparado e o espírito alerta. A este espírito alerta, denomina-se ZANCHIN. Para a boa execução do KATÁ, devemos atentar para os seguintes itens: 1 – SEQUÊNCIA CORRETA: O número de técnicas e seqüência dos movimentos não podem ser modificados nem suprimidos. Devem ser totalmente executados. 2 – INÍCIO E FINAL: A seqüência do KATÁ tem um local previamente determinado para começar e, neste lugar, deve- rá terminar. 3 – CONSCIÊNCIA DO OBJETIVO DO KATÁ: O KARATECA precisa conhecer o objetivo, para que serve a técnica do golpe que está a execu- tar naquele momento. Cada movimento de ataque ou defesa, deve ser claramente entendido, sem perder suas características. 4 – RITMO E TEMPO: O ritmo é próprio de cada KATÁ e o corpo precisa ter flexibilidade, não estar excessivamente tenso, observando os seguintes fatores: uso correto da força, rapidez ou lentidão apropriada na execução das técnicas, e, expansão e contração dos músculos. 5 – RESPIRAÇÃO ADEQUADA: A respiração deverá ser modificada com a troca de cada situação, adotando-se respiração breve e curta, quando o golpe é rápido e respiração alongada para golpes lentos e longos. 6 – KIMÊ: Cada movimento deve ter certa potência em sua execução. Esses movimentos ora são suaves, ora são firmes e potentes. 7 – ZANCHIN: É a concentração que se deve ter durante a execução dos movimentos cadenciados e pré- determinados de cada KATÁ. 8 – OLHAR: Antes de iniciar qualquer movimento, de ataque ou defesa, deve-se olhar ostensivamente e deci- sivamente na direção de onde, hipoteticamente, vem o ataque do adversário. 9 – CENTRALIZAÇÃO DOS GOLPES: As defesas e os ataques deverão ser centralizados nas direções JODAN, SHUDAN e GUEDAN. 10 – POSTURA: Desde a entrada até a saída da área do local de execução do KATÁ deve ser adotada uma postura marcial com o corpo ereto e olhar na linha do horizonte, ou seja, totalmente preparado para o combate. 11 – ATITUDE: Tudo que se refere à execução do KATÁ deve ser feito com decisão e atitude totalmente ofensi- va, pois se trata de uma luta imaginária onde está em jogo a vida do KARATECA. Série HEIAN: São considerados os KATÁS básicos do KARATÊ-DO. É uma espécie de luta simulada contra um ou vários adversários e significa paz e serenidade. Tem como objetivos principais o aperfeiçoamento das bases (ZENKUTSU DACHI, KOKUTSU DACHI e KIBA DACHI, etc.), a transição (ritmo, tempo e deslocamento) e a aprendizagem dos princí- pios do soco e do chute. Foram aperfeiçoados pelo Sensei YASUTSUNE ITOSU, que era conhecido, na época, como “o punho sagrado”, seu objetivo era divulgar e simplificar as técnicas básicas do KARATÊ-DO, ensinadas na escolas secundárias, diferenciando assim das técnicas ensinadas nas universidades. HEIAN SHODAN OU PRIMEIRO KATÁ Literalmente traduz-se SHO (um ou primeiro). DAN (grau). HEIAN (o nome da série), surgindo então como KATÁ de primeiro grau da sérieHEIAN. Analisando o primeiro KATÁ da série HEIAN, o definimos como composto de 21 técnicas de golpes, sendo nove destes de defesa, na postura de ZENKUTSU DACHI, quatro na postura KOKUTSU DACHI e oito de ataque na postura de ZENKUTSU DACHI. O objetivo deste KATÁ é desenvolver um trabalho de base firme e golpes potentes sem a preocu- pação com outros parâmetros; como agilidade ou combinação de golpes a um só tempo. Seu ritmo é cadenciado e cada golpe é executado a um tempo próprio e independente. Apenas no quarto movimento do KATÁ, o golpe TETSUI, possui o tempo de recuperação mais curto que o apresen- ta como acoplado ao quinto movimento do KATÁ que é o HIDARI CHUDAN OI ZUKI ou soco avan- çando com punho esquerdo. O HEIAN SHODAN, em alguns estilos que diferem do SHOTOKAN, é conhecido como PINAN SHODAN (Estilo WADO RYU). Este KATÁ tem a duração de 25 segundos. O primeiro KIAI deve ser executado na técnica de número nove, MIGI JODAN AGUE UKE, enquanto que o segundo na técnica número dezessete, MIGI CHUDAN OI ZUKI. 26 KATAS SHOTOKAN + 5 TAIKYOKU