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Samara Pires- MED25 Bioquímica Médica II Síntese de eicosanoides, do colesterol e das glicoproteínas 1. Ácido araquidônico ● Araquidônico: ácido graxo de 20 átomos de carbono insaturado (apresenta ligações duplas nos carbonos 5, 8, 11 e 14). É um lipídio presente nas membranas que é precursor para a síntese de prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxanos e leucotrienos; ● A fosfolipase A2 cliva os fosfolipídios de membrana para liberar o araquidonato. Essa liberação aumenta em caso de grande quantidade da enzima fosfolipase A2 ou em caso de infecção, lesão por cobras e insetos, etc. ● O ácido araquidônico é incluído no grupo de “ like-hormônios”, uma vez que são marcadores inflamatórios, agem no local da síntese e lá são degradados. Não são armazenados em quantidade apreciável. Já os hormônios são sintetizados em um local e agem em outro local distante. 2. Eicosanoides ● Prostaglandinas (PG): produzidos em locais de dano ou de infecção tecidual. Controlam os processos inflamatórios, formam os coágulos sanguíneos e promovem a indução do parto. ● Leucotrienos (LT) : fazem a constrição da musculatura lisa, participam dos processos de inflamação aguda, aumentam a permeabilidade vascular e favorecem o edema em uma zona afetada. ● Tromboxanos (TX): são vasoconstritores na circulação sistêmica e vasodilatadores na circulação pulmonar. Apresentam ação na formação de trombos e são agentes hipertensivos. ● Prostaciclinas (PGI2): sintetizada nas células endoteliais. São potentes vasodilatadores e inibidores da agregação plaquetária. Encontram-se em um equilíbrio homeostático com os tromboxanos. ● Síntese dos eicosanoides - Fosfolipídio de membrana → ação da fosfolipase A2 → produção de ácido araquidônico → pode seguir pela via da lipoxigenase (produz leucotrienos) ou da cicloxigenase (formação das prostaglandinas, das prostaciclinas e dos tromboxanos); - Via da lipoxigenase (LOX): ácido araquidônico → formação do HPETE (mono-hidroxiperoxidoeicosatetraenoico) → formação dos leucotrienos dos grupos A, B, C, D e E e dos HETEs (5-HETE, 12-HETE e 15-HETE). - Existem 3 isoformas da lipoxigenase: 5-LOX, 12-LOX e 15-LOX. Samara Pires- MED25 - Via da cicloxigenase (COX ou prostaglandina H₂ sintase): ácido araquidônico → prostaglandinas (PGH₂) → a partir dela, originam-se as prostaglandinas D, E e F, as prostaciclinas e os tromboxanos. - Isoformas da COX: COX-1 (constitutiva: apresenta funções fisiológicas), COX-2 (induzida após estímulos, como o de lesão) e COX-3 (cérebro, medula espinhal e coração → é inibida pelo paracetamol). ● Inibição da síntese dos eicosanoides - Corticoides: bloqueiam o processo de formação do ácido araquidônico, por isso inibem as vias da lipoxigenase e da cicloxigenase. - COX-2: inibida pela aspirina, fenilbutazona, indometacina e dipirona. Essas substâncias evitam a formação de eicosanoides que formam trombos, por isso são um risco para pessoas que têm suspeita de dengue hemorrágica, por exemplo. - COX-2: induzida por citocinas, endotoxinas, fatores de crescimento e promotores de tumor. Obs.: a aspirina e o ibuprofeno são AINEs (anti-inflamatórios não esteroides). 3. Metabolismo do colesterol ● Contém, em sua estrutura, o ciclo pentano peridro fenantreno (esteroide) → precursor de sais biliares, vitamina D3, hormônios esteroides e constituintes de membranas. ● Participa da constituição de membranas → quanto mais colesterol, menos fluida a membrana é. ● Sintetizado no fígado, no intestino, no córtex da adrenal, nos ovários, nos testículos e na placenta. ● O local da biossíntese do colesterol é o citosol e o processo é dependente de acetil-CoA e de NADPH. ● O precursor do colesterol é o 𝛃-hidroxi-𝛃-metil-glutaril-CoA (HMG-CoA), o qual também é precursor dos corpos cetônicos. ● A enzima HMG-CoA-redutase é a reguladora do processo (dependente de NADPH). As estatinas inibem essa enzima. Obs.: vale lembrar que pouco mais da metade do colesterol do organismo se origina por síntese, pois o restante provém da dieta. Praticamente todos os tecidos que contêm células nucleadas conseguem sintetizar o colesterol, pois a sua produção ocorre no retículo endoplasmático e nos compartimentos citosólicos. ● Síntese do colesterol - A partir da acetil-CoA → formação do HMG-CoA → mevalonato → após uma série de reações intermediárias, forma-se o esqualeno (possui número de carbonos necessário para a produção de colesterol) → lanosterol (catálise da ciclase, pois ela cicliza o esqualeno) → colesterol (forma alcoólica). Samara Pires- MED25 Obs.: o lanosterol, intermediário da síntese do colesterol, está muito presente na lã e era utilizado para a fabricação de condicionadores. A formação do colesterol a partir do lanosterol ocorre nas membranas do retículo endoplasmático. - O colesterol está presente no organismo na forma esterificada → acil-CoA-colesterol-aciltransferase (ACAT) adiciona o ácido graxo e o composto final (éster de colesterol) é armazenado no retículo endoplasmático ou transportado por meio das lipoproteínas. ● Excreção e diminuição da concentração do colesterol - Fígado: excreta como colesterol ou como sais biliares ou utiliza para a formação de vitamina D3 (calcitriol: forma ativa). - Colesterol esterase: ativada pelo AMPc e inibida pelos tromboxanos. Ela degrada a ligação éster e libera o colesterol + ácido graxo. ● Regulação da síntese de colesterol - Feedback (regulação alostérica): aumento da concentração de colesterol, de mevalonato e de LDL levam à inibição da síntese (HMG-CoA redutase) e ao estímulo da acil-CoA-colesterol-aciltransferase (ACAT); - Regulação hormonal: glucagon inibe e insulina estimula a HMG-CoA-redutase. ● Condições patológicas relacionadas ao colesterol - Falta de regulação das enzimas responsáveis pela biossíntese, alteração no receptor de LDL para depositar o colesterol nas células. 4. Transporte de lipídios ● Lipoproteínas plasmáticas (formadas por apoproteínas + lipídios) transportam lipídios e substâncias afins (vitaminas lipossolúveis). - Lipídeos plasmáticos: triacilgliceróis, fosfolipídeos, colesterol e ésteres de colesteril. Em menor proporção, estão os ácidos graxos livres (AGL); - São formadas na mucosa intestinal e no fígado; - A apoproteína é a parte responsável pela ligação aos receptores dessas lipoproteínas. Ex.: ApoC-II do quilomícron ativa a lipase lipoproteica. - As apoproteínas têm múltiplas funções, como a de constituição das lipoproteínas, a de cofatores enzimáticos e a de ligantes na interação com lipoproteínas nos tecidos. - Tipos de lipoproteínas: quilomícrons, VLDL (lipoproteína de densidade muito baixa), LDL (lipoproteína de baixa densidade) e HDL (lipoproteína de alta densidade).Obs.: conforme a densidade aumenta, a quantidade de proteínas sobe e a de triacilgliceróis decresce. Ex.: os quilomícrons apresentam apenas 1% de apoproteína e o restante é composto por triacilgliceróis, por isso são os de menor densidade. Samara Pires- MED25 ● Quilomícrons: transportam os lipídios da célula intestinal à corrente linfática e, depois, à sistêmica. São pobres em proteína e muito ricos em triacilglicerol. - Quilomícrons remanescentes: são derivados dos quilomícrons pela remoção de triacilgliceróis pela lipoproteína lipase no tecido adiposo e muscular durante o transporte pelos capilares. São captados pelo fígado com elevado conteúdo de proteína e de colesterol pelos receptores ApoB-48 e ApoE. ● Lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL): transportam lipídios endógenos e o colesterol do fígado para o tecido adiposo e o músculo (tecidos extra-hepáticos). - Formadas por ApoB-100, ApoC-I, ApoC-III, ApoE e triacilgliceróis. - Podem sofrer alterações nos lipídios e nas proteínas durante o trajeto, formando a IDL (lipoproteína de densidade intermediária) ou VLDL remanescente e, depois torna-se LDL ao captar o colesterol. Obs.: a ApoB-100 é sintetizada no fígado, enquanto a ApoB-48 é sintetizada no intestino. Esta é nomeada dessa forma, porque corresponde a 48% daquela. Samara Pires- MED25 - A VLDL é sintetizada nos polirribossomos (parte proteica) e, no lúmen do retículo endoplasmático, adiciona-se o triacilglicerol, que provém da síntese a partir de acetil-CoA no estado alimentado e da corrente sanguínea no caso de jejum. - Os fatores que aumentam a síntese de triacilglicerol e a secreção de VLDL pelo fígado são o estado alimentado, a ingestão de dietas ricas em carboidratos, níveis elevados de ácidos graxos livres circulantes e altas concentrações de insulina com baixas concentrações de glucagon, pois isso estimula a síntese e a esterificação de ácidos graxos, inibindo a oxidação. No entanto, a insulina inibe a síntese de ApoB-100 e a conversão da VLDL nascente em madura. ● Lipoproteína de Baixa Densidade (LDL) : transporta colesterol para os tecidos extra-hepáticos (ex.: gônadas) e retorna ao fígado. É a que mais transporta colesterol, já que as demais lipoproteínas transportam principalmente triacilgliceróis. As LDL representam o estágio final no catabolismo das VLDL. - Constituição: ApoB-100 e colesteril-linoleato. - Alteração nos receptores ou na lipoproteína geram acúmulo de colesterol nas artérias → aterosclerose (mau colesterol). ● Lipoproteína de alta densidade (HDL): rica em fosfolipídios e colesterol, ApoA-I, ApoC-II, ApoE e ApoD. Apresenta uma proteína com atividade catalítica (enzima) chamada lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT), a qual esterifica o colesterol captado, transformando o HDL nascente em HDL maduro. Para tanto, a LCAT converte o fosfolipídio de superfície e o colesterol livre em ésteres de colesteril e lisolecitina, formando um núcleo apolar. - A HDL é sintetizada e secretada tanto pelo fígado quanto pelo intestino. - Funções: troca os componentes da VLDL e da LDL → transfere éster de colesterila e capta triacilgliceróis (proteína de transferência de éster de colesteril). No entanto, a função principal da HDL é remover o colesterol dos tecidos extra-hepáticos (bom colesterol), fazendo o chamado transporte reverso de colesterol, uma vez que o transporta até o fígado para excreção pela bile. Além disso, ela atua como depósito de ApoC e de ApoE para o metabolismo dos quilomícrons e das VLDL. - Intercâmbio entre HDL₂ e HDL₃ ( ciclo das HDL ): a primeira é gerada após a esterificação da LCAT, por isso é menos densa e mais rica em triacilgliceróis. A segunda é formada pela liberação de éster de colesteril no fígado por meio da lipase hepática, por exemplo. As concentrações de HDL₂ estão inversamente relacionadas à incidência de aterosclerose. - Posteriormente, o HDL é degradado no fígado e o colesterol é liberado. Samara Pires- MED25 Obs.: o triacilglicerol é o lipídio predominante nos quilomícrons e nas VLDL, enquanto o colesterol e os fosfolipídios são mais encontrados nas LDL e HDL, respectivamente. ● Fígado : capta LDL, VLDL remanescente ou IDL e quilomícrons remanescentes por endocitose mediada por receptores, como a ApoE e a ApoB-100 (receptores de LDL revestidos pela proteína clatrina). Cada uma delas tem sua apoproteína que funciona como um receptor no fígado. O colesterol resultante pode ser excretado na forma de sais biliares, de colesterol ou pode ser utilizado para a síntese de vitamina D. Observe que a bile é formada por colesterol e por sais biliares. - O nível de ApoA-I da HDL aumenta na ingestão moderada de álcool (ex.: vinho tinto após as refeições). Hoje, sabe-se que a atividade física também é eficaz para aumentar a quantidade de HDL. Obs.: a VLDL influencia muito pouco na formação de placa aterosclerótica. A alta concentração de LDL e a baixa quantidade de HDL são fatores de risco para a aterosclerose (razão LDL:HDL). A elevada quantidade de LDL pode ser por causa de problemas nos receptores de sua apoproteína no fígado. - O fígado faz a degradação das lipoproteínas, gerando aminoácidos e ácidos graxos. A apoproteína e o éster de colesteril são hidrolisados nos lisossomos. Já o colesterol é liberado e degradado ou armazenado no retículo endoplasmático. - Cerca de 30% das LDL sofrem degradação nos tecidos extra-hepáticos e 70% no fígado. ● Lipoproteína(a): apresenta estrutura semelhante à da LDL, mas sua densidade está entre a HDL e a LDL. - Observou-se associação entre os níveis elevados de Lp(a) e o risco aumentado de doença arterial coronariana, levando à isquemia cerebral. Por quê? Porque 80% dos aminoácidos da constituição de sua apoproteína são idênticos aos do plasminogênio, o qual dá origem à plasmina, que degrada a fibrina, presente na polimerização dos coágulos sanguíneos. Devido à substituição dos aminoácidos originais do plasminogênio pelos da Lp(a), a degradação dos coágulos é retardada, provocando o infarto. 5. Correlação clínica ● Diabetes melitus: a deficiência de insulina causa mobilização excessiva de ácidos graxos livres e utilização deficiente de quilomícrons e de VLDL, com consequente desenvolvimento de hipertriacilglicerolemia. - Os ácidos graxos livres são encontrados em combinação com a albumina. Samara Pires- MED25 ● Abetalipoproteinemia (doença rara): as lipoproteínas que contêm apo B não são formadas e ocorre acúmulo de gotículas de lipídeos no intestinoe no fígado. Como consequência, os níveis sanguíneos de acilgliceróis são baixos. ● Hipercolesterolemia familiar (tipo IIa e III): deficiência genética dos receptores de LDL no fígado: ApoB-100 e ApoE, o que gera níveis elevados de colesterol LDL no sangue, causando aterosclerose prematura. ● Doença hepática gordurosa não alcoólica (EHNA): acúmulo crônico de lipídios no fígado, podendo gerar esteato-hepatite não alcoólica, evoluindo para cirrose, hepatocarcinoma e insuficiência hepática. - O fígado gorduroso pode ser formado devido à elevada concentração de ácidos graxos livres por causa da sua esterificação crescente, o que impede o acompanhamento da produção de VLDL. Isso ocorre no jejum prolongado e no consumo de dietas ricas em gordura. - O segundo tipo de fígado gorduroso acontece devido ao bloqueio metabólico na produção de lipoproteínas plasmáticas, seja na etapa das apolipoproteínas, na formação final das lipoproteínas a partir de lipídios e apolipoproteínas, no suprimento de fosfolipídios ou no mecanismo secretor. Isso pode ser provocado pela deficiência de vitamina E (combate a peroxidação dos lipídios) e de ácidos graxos essenciais. ● Doença hepática alcoólica (DHA): leva à cirrose. Devido às alterações na relação NADH/NAD⁺ no fígado, ocorre comprometimento da oxidação dos ácidos graxos e aumento da lipogênese, formando excesso de triacilglicerol no fígado. - Consequentemente, ocorre também aumento da razão lactato/piruvato por causa do desequilíbrio do NADH, gerando hiperacidemia láctica. Isso diminui a excreção do ácido úrico, agravando a gota. - O etanol também é metabolizado pelo sistema microssomal de oxidação do etanol (MEOS), envolvendo NADPH e oxigênio. ● Aterosclerose : deposição de colesterol e de ésteres de colesterol das lipoproteínas plasmáticas nas paredes das artérias, causando doenças cardíacas. As doenças nas quais existe elevação prolongada dos níveis de Samara Pires- MED25 VLDL, IDL, remanescentes de quilomícrons ou LDL no sangue, como diabetes melitus, nefrose lipídica e hipotireoidismo, são frequentemente acompanhadas de aterosclerose prematura. Obs.: os ácidos graxos insaturados reduzem os níveis de colesterol sanguíneo, uma vez que aumentam os receptores de LDL na superfície celular quando comparados aos ácidos graxos insaturados, aumentando a taxa catabólica dessa lipoproteína responsável por depositar colesterol nos tecidos.
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