Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Logo antes da ovulação o ovário está na fase folicular final e produz altos níveis de estrógeno. O estrógeno é responsável por promover o crescimento do endométrio uterino, além de induzir a expressão dos receptores de progesterona. O estrógeno vai induzir o surto de LH, que por sua vez induz a maturação meiótica do oócito e a ovulação. Os eventos entre a fertilização e a implantação duram cerca de 6 dias para se completarem, de forma que a implantação ocorre por volta do dia 22 do ciclo menstrual. Neste momento, o ovário se encontra na fase lútea média e secreta grandes quantidades de progesterona. A progesterona estimula a secreção das glândulas uterinas, as quais proporcionam nutrientes para o embrião. A progesterona inibe a contração do miométrio e evita a liberação de fatores parácrinos (p. ex., citocinas, prostaglandinas, quimiocinas e vasoconstritores) que levam à menstruação. A progesterona induz a “janela de receptividade” no endométrio uterino, entre os dias 20 a 24 do ciclo menstrual, aproximadamente. Quando um óvulo fertilizado se implanta no útero, o endométrio uterino está com sua espessura máxima, secretando ativamente e é capaz de aderir-se fortemente ao embrião em implantação. FERTILIZAÇÃO Etapa 1: Penetração do espermatozoide no cumulus expandido. Isto envolve digestão da matriz extracelular do cumulus por uma hialuronidase de membrana, PH-20. Etapa 2: Penetração do espermatozoide na zona pelúcida. Isto envolve a ligação do espermatozoide à proteína ZP3 desta zona (etapa 2a), que induz a liberação de enzimas acrossômicas (denominada reação acrossômica — etapa 2b). Em seguida, o espermatozoide se liga a outra proteína da zona, ZP2 (etapa 2c) e à medida que a zona pelúcida é digerida, o espermatozoide nada através do ovo. Etapa 3: Fusão da membrana do espermatozoide e do óvulo. Etapa 4: Uma cascata de sinalização desencadeada por Ca++. Etapa 5: A cascata de sinalização ativa a exocitose de vesículas preenchidas por enzimas, denominadas grânulos corticais, que se encontram na região mais externa, ou cortical, do óvulo não fertilizado. As enzimas contidas nos grânulos corticais são liberadas no exterior do óvulo por exocitose. Assim, apenas um espermatozoide normalmente penetra no óvulo. Ocasionalmente, mais de um espermatozoide penetra no óvulo. Isto resulta em uma célula triploide que não é capaz de se desenvolver posteriormente. Desta forma, a prevenção da polispermia é fundamental para o desenvolvimento normal do óvulo fertilizado. Etapa 6: Todo o espermatozoide penetra no óvulo durante a fusão. O flagelo e a mitocôndria se desintegram, de forma que a maior parte do DNA mitocondrial das células vem da mãe. Uma vez dentro do óvulo, ocorre a descondensação do DNA do espermatozoide. Uma membrana, denominada pró-núcleo, se forma ao redor do DNA do espermatozoide, à medida que o ovo recém-ativado completa a segunda divisão meiótica. 2 Processo fisiológico da gestação A fertilização ocorre, tipicamente, no dia 16 a 17 do ciclo menstrual, e a implantação ocorre cerca de 6 dias mais tarde. Assim, a primeira semana da embriogênese se inicia nos lúmens da tuba uterina e do útero. Em grande parte deste tempo o embrião permanece encapsulado pela zona pelúcida. As primeiras duas clivagens duram cerca de 2 dias e o embrião torna-se uma mórula de 16 células em 3 dias. As células externas da mórula tornam-se altamente adesivas entre si e começam a transportar fluidos para dentro da massa embrionária. Durante os dias 4 e 5, o transporte de fluido gera uma cavidade denominada cavidade blastocística, e o embrião é então denominado blastocisto. O blastocisto é composto de duas subpopulações de células: uma massa interna de células, excêntrica, e uma camada externa semelhante a uma camada epitelial de trofoblastos. A região da camada trofoblástica imediatamente adjacente a massa de células internas é denominada polo embrionário, e é esta região que se liga ao endométrio uterino durante a implantação. Relação do hCG com a gravidez O primeiro hormônio produzido pelo sinciciotrofoblasto é o hCG – Gonadotrofina Coriônica Humana. A estrutura do hCG está relacionado aos hormônios glicoproteicos hipofisários. Como estes, o hCG é composto de uma subunidade glicoproteica-α comum (α- GSU) e uma subunidade β específica para hormônio (β-hCG). Anticorpos utilizados para detectar hCG (i. e., em testes laboratoriais e em kits comerciais para diagnóstico de gestação) são produzidos para, especificamente, detectar a subunidade β. O hCG é mais semelhante ao LH e se liga com grande afinidade ao receptor de LH. A subunidade β do hCG é mais longa que a do LH e contém mais sítios de glicosilação, o que aumenta bastante a meia-vida do hCG, para 24 a 30 horas. A estabilidade do hCG permite que ele se acumule rapidamente na circulação materna, de forma que o hCG é detectável no soro materno dentro de 24 horas após a implantação. Os níveis séricos de hCG dobram a cada 2 dias nas primeiras 6 semanas e atingem um pico em torno da 10a semana. A partir daí, o hCG sérico diminui para um nível mantido de cerca de 50% do valor de pico A ação primária do hCG é a de estimular os receptores de LH no corpo lúteo. Isto evita a luteólise e mantém níveis altos de produção de progesterona derivada do corpo lúteo durante as primeiras 10 semanas. O rápido aumento do hCG é responsável pela náusea do “enjôo matinal” associado ao período inicial da gestação. Correlação Placenta Acreta Após o parto, a placenta geralmente se solta do útero e a mulher pode expulsar a placenta sozinha ou com a ajuda de um médico ou parteira. Quando a placenta está muito 3 firmemente presa ao útero, partes da placenta podem ficar no útero após o parto. Nesses casos, a expulsão da placenta demora e os riscos de hemorragia e infecção no útero aumentam. O sangramento pode ser fatal. O que classifica a Placenta acreta que é uma placenta com uma fixação anormalmente firme ao útero. A placenta acreta tem mais propensão para ocorrer em mulheres com as características a seguir: • Já tiveram um parto por cesariana; • quando a placenta cobre o colo do útero (a denominada placenta prévia- é quando a placenta está presa (implantada) sobre a abertura do colo do útero, na parte inferior do útero, em vez de na parte superior.) Ela cobre a abertura do colo do útero, ou seja, a entrada para o canal vaginal. Às vezes, a placenta está situada próxima à abertura do colo do útero e não sobre ele (uma situação denominada placenta baixa). • têm mais de 35 anos; já tiveram várias gestações; têm miomas sob o revestimento do útero (endométrio); tiveram cirurgia envolvendo o útero, incluindo remoção de miomas; tiveram distúrbios do revestimento uterino, como a Síndrome de Asherman (cicatrização anormal do revestimento uterino devido a uma infecção ou cirurgia) Ter feito uma cesariana em gestação anterior e ter placenta prévia na gestação atual aumenta muito o risco de placenta acreta nas próximas gestações. Implantação ectópica A resposta decidual ocorre apenas no útero. Assim, a natureza altamente invasiva do embrião humano oferece considerável risco à mãe no caso de implantação ectópica. A implantação ectópica se refere à implantação do embrião em um local que não o útero, e uma gestação ectópica se refere ao desenvolvimento de um embrião em um local de implantação ectópica. A maioria das gestações ectópicas (> 90%) ocorre nas tubas uterinas (denominadas gestações tubárias), mas elas também podem ocorrer no ovário e na cavidade abdominal. A implantação na tuba uterina está, frequentemente, associada a infecção e inflamação crônicas (doença inflamatória pélvica) e obstrução da trompa e acasos de hemorragia, sendo que a principal causa de Abdome agudo hemorrágico é a gravidez ectópica rota Atuação da progesterona na gravidez A placenta produz uma grande quantidade de progesterona, a qual é absolutamente necessária para manter um miométrio quiescente e um útero grávido. A produção de progesterona pela placenta é, em grande parte, não regulada — a placenta produz tanta progesterona quanto o suprimento de colesterol e os níveis de CYP11A1 e 3β-HSD permitirem. Importante salientar que a produção de esteroide placentar é diferente da síntese no córtex da adrenal, ovários e testículos, pois na placenta o colesterol é transportado para a mitocôndria por um mecanismo independente de proteína StAR. Assim, esta primeira etapa da esteroidogênese não é uma etapa regulada e limitante como nas outras glândulas esteroidogênicas. Isto significa que fetos com uma mutação inativadora na proteína StAR desenvolverão hiperplasia adrenal lipoide congênita (Capítulo 42) e hipogonadismo, mas terão níveis normais de progesterona produzidos por sua placenta. Progesterona também produz diversos efeitos na fisiologia materna e induz o crescimento e diferenciação da mama. A troca entre a progesterona derivada do corpo lúteo e a progesterona derivada da placenta (troca luteoplacentar) está completa em torno das 8 semanas de gestação. A progesterona (e a pregnenolona) é utilizada pela zona de transição 4 do córtex fetal para formar cortisol ao final da gestação. Atuação do estrogênio Os níveis de estrógenos maternos aumentam ao longo da gestação. Como a produção de estrógeno é dependente de um feto saudável, os níveis de estriol podem ser utilizados para avaliar a saúde fetal. O termo coletivo utilizado para os sinciciotrofoblastos placentares e os órgãos fetais, no contexto de produção de estrógeno, é unidade fetoplacentar. Os estrógenos aumentam o fluxo sanguíneo útero- placentar, aumentam a expressão de receptores para LDL nos sinciciotrofoblastos e induzem vários componentes (p. ex., prostaglandinas, receptores de ocitocina) envolvidos no parto. Os estrógenos aumentam o crescimento mamário, direta e indiretamente, por estimularem a produção de prolactina pela hipófise materna. Os estrógenos também aumentam o tamanho e o número de lactotrofos, desta forma aumentando a massa hipofisária geral para mais de duas vezes no fim da gestação. Os estrógenos também afetam vários aspectos da fisiologia materna. Lactogênio Placentar Humano. O lactogênio placentar humano (hPL), também denominado somatomamotrofina coriônica humana (hCS), é um hormônio proteico de 191 aminoácidos, produzido no sinciciotrofoblasto, estruturalmente semelhante ao hormônio do crescimento (GH) e prolactina (PRL). Sua função se sobrepõe às do GH e PRL. Ele pode ser detectado no sinciciotrofoblasto 10 dias após a concepção e no soro materno por volta das 3 semanas de gestação. Os níveis séricos maternos aumentam progressivamente por todo o restante da gestação. A quantidade de hormônio produzida está diretamente relacionada ao tamanho da placenta, de forma que à medida que a placenta cresce durante a gestação, a secreção de hPL aumenta. Cerca de 1 g de hPL pode ser secretado por dia ao final da gestação. Da mesma forma como o GH, o hPL é anabólico para proteínas e lipolítico. Sua ação antagônica à insulina é a base principal para a diabetogenicidade da gestação. Da mesma forma que a PRL, ele estimula o crescimento e desenvolvimento da glândula mamária. O desenvolvimento da glândula mamária na gestação resulta de ações do hPL, PRL, estrógenos e progestinas. O hPL inibe a absorção e utilização de glicose pelo organismo materno, desta forma aumentando os níveis séricos de glicose. A glicose é um dos principais substratos energéticos para o feto, e o hPL aumenta a disponibilidade de glicose para o feto. Assim como ocorre com o hCG, muito menos hPL é encontrado na circulação fetal do que na circulação materna. Isto sugere que esses hormônios podem desempenhar um papel mais importante na mãe do que no feto. O hPL não é essencial para a gestação. Tanto o hPL quanto a PRL atuam como hormônios de crescimento fetal e estimulam a produção dos hormônios promotores do crescimento fetal, fatores de crescimento semelhante à insulina I e II (IGF-I e IGF-II). Ironicamente, o GH fetal não parece regular o crescimento e infantes anencéfalos ou crianças deficientes de GH, tipicamente, apresentam peso normal ao nascer. 5 Diabetogenicidade da gestação O lactogênio placentar humano (hPL), um hormônio anabólico para proteínas e lipolíticos para o tecido lipídico. A gestação representa um estado de resistência à insulina. Durante a última metade da gestação, quando os níveis de hPL estão máximos, o metabolismo energético materno é modificado de um estado anabólico, no qual os nutrientes são armazenados, para um estado catabólico, no qual o metabolismo energético materno é modificado para utilização de gordura com poupança da glicose. Como o uso materno de glicose para a produção de energia diminui, a lipólise aumenta e os ácidos graxos se tornam uma fonte energética majoritária. A resposta periférica à insulina diminui e a secreção de insulina pelo pâncreas aumenta. Ocorre hiperplasia de células beta na gestação. Apesar de isto, normalmente, não levar a uma condição clínica, a gestação agrava um diabetes melito pré-existente e o diabetes pode surgir, pela primeira vez, na gestação. Se o diabetes desaparece espontaneamente após o parto, a condição é denominada diabetes gestacional. Outros hormônios que contribuem para a diabetogenicidade da gestação são os estrógenos e as progestinas porque ambos reduzem a sensibilidade à insulina. Referência BERNE e LEVY – Fisiologia - Tradução da 7ª Edição. Editores Bruce M. Koeppen e Bruce A. Stanton. Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2018.
Compartilhar