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Artigo - Feminismo e Submissão: Uma leitura sobre a pornografia feminista

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Prévia do material em texto

Universidade Federal do Maranhão
Departamento de Comunicação Social - Campus – Imperatriz
Rua Urbano Santos, s/n, Imperatriz, 65900-040
Disciplina de Metodologia da Pesquisa em Comunicação - UFMA
Feminismo e Submissão: Uma leitura sobre a pornografia feminista[footnoteRef:0] [0: Trabalho elaborado como requisito para a obtenção da aprovação na disciplina de Metodologia da Pesquisa em Comunicação ministrada pela Profa. Dra Michelly Santos de Carvalho.] 
Lia Eugênia AMARAL[footnoteRef:1] [1: Estudante do segundo período do Curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão, Campus Imperatriz. Email: liaeugenia07@gmail.com] 
Juliana CARVALHO[footnoteRef:2] [2: Estudante do segundo período do Curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão, Campus Imperatriz. Email: rjulianacarvalho@gmail.com] 
Marcus MARINHO[footnoteRef:3] [3: Estudante do segundo período do Curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão, Campus Imperatriz. Email: marcus.arruda.a@gmail.com] 
Michelly Santos de CARVALHO[footnoteRef:4] [4: Professora Ajunta do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão, Campus Imperatriz. Orinetadora deste trabalho. Email: michellyscarvalho@gmail.com] 
RESUMO 
Neste artigo propomos fazer uma análise das falas do trailer do filme Feminist and Submissive da diretora Erika Lust, comparando com aspectos que podem se enquadrar em narrativas feministas, e constatar se essa narrativa pode ou não ser válida seguindo os livros e artigos selecionados, usamos da exposição de ideias antagônicas dentro do próprio movimento feminista que ajudam a compreender questões como a liberdade feminina e o consentimento usadas nas falas das personagens que participam do trailer e através disso problematizar algumas questões que incrementam na discussão sobre a ação do feminismo. Percebemos que existem visões distintas da ideia de submissão dentro do próprio movimento feminista.
PALAVRAS-CHAVE: Feminismo; Pornografia Feminista; Submissão.
ABSTRACT 
In this article we propose to make an analysis of the lines of the trailer of the film Feminist and Submissive of director Erika Lust, comparing with aspects that may fit into feminist narratives, and to verify whether or not this narrative may be valid following the selected books and articles. exposure of antagonistic ideas within the feminist movement itself that help to understand issues such as female freedom and consent used in the speeches of the characters who participate in the trailer and thereby problematize some issues that increase in the discussion about the action of feminism. We realize that there are distinct views of the idea of submission within the feminist movement itself.
KEYWORDS: Feminism; Feminist Pornography; Submission.
INTRODUÇÃO
O setor movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano, Estimando-se que tenha ultrapassado o tráfico de drogas e é o 2° no ranking de lucratividade para o crime organizado. Em meio a essa indústria que é permeada por disjunturas e escândalos envolvendo a imagem da mulher, vemos aflorar uma nova proposta na produção de conteúdo adulto. Algumas produtoras e diretoras deram início a um movimento que permitisse a inserção da mulher de um jeito que contrariasse a violência sexual e as formas interorganizacionais que as forçam fazer coisas que não querem, porém ordenadas pelo dinheiro acabam que se submetendo a tais. Dentro desse subconjunto há uma diversidade de produtos que são de bastante interesse à pauta.
 A diretora de filmes adultos Erika Hallqvist, conhecida por seu público como Erika Lust, dentro desse nicho, produziu recentemente o filme “Feminist and Submissive” que pode ser tópico de importante discussão na área da comunicação voltada para a temática feminista. Publicado na categoria de BDSM1 no site da diretora “Xconfessions”, um espaço de conteúdo voltado principalmente para o público feminino tendo a pornografia feminista como vertente, o material tem uma pegada diferente de outros trabalhos de Lust. Trata de conceitos que a princípio não parecem coexistir no mesmo sistema semântico, falar de feminismo e submissão parece contraditório, porém a diretora constrói um outro olhar para a questão. O filme por si é totalmente explícito e sem muito valor para essa pesquisa, por isso teremos utilizaremos o trailer como material de análise.
O objetivo geral deste trabalho é analisar as falas e depoimentos expostos no trailer do filme Feminist and Submissive trazendo aspectos que podem se enquadrar em narrativas feministas e constatar como esse discurso pode ou não ser válido seguindo o referencial teórico utilizado. Já como objetivo específicos definimos: questionar a ideologia de submissão feminina e como ela é vista dentro e fora do movimento feminista; por em debate a fala das participantes do trailer e encontrarmos uma resolução; mostrar a mudança do discurso pornográfico ao usar do feminismo como artifício mercadológico; 
A hipótese que temos sobre este assunto é atribuir à difusão de ideais feministas através da 
1 BDSM (Bondage e disciplina, dominação e submissão, submissão e masoquismo) são práticas que ocorrem de forma consensual e tem como principal característica a presença de um indivíduo dominante e outro submisso numa relação de controle físico e psicológico do parceiro, a técnica pode usar de restrição física, submissão, humilhação e sadomasoquismo. 
pornografia como uma forma benéfica para uma nova construção social e de que os princípios de liberdade feminina estariam tendo um papel positivo na causa, entretanto a problemática da objetificação deve ser discutida nesse viés. Projetamos uma antítese do caso, no qual a indústria pornografia pode estar usando do feminismo para construir novas convicções, e com elas atrair um público distinto do habitual, podendo haver uma relação com um jogo de interesse e comércio. Esse artigo tem uma função inteiramente de defesa de uma minoria feminista, e isso é fundamental para que se desperte olhares quanto a esta questão propondo ações a partir dessa análise.
A escolha desse tema apareceu por meio da interação com o grupo de pesquisa Maria Firmina Dos Reis, com orientação da Prof. doutora Michelly Carvalho. O aparecimento da proposta veio por meio de conversas causais entre os acadêmicos e foi se desenvolvendo com a participação do grupo de pesquisa que trata de comunicação: gênero e feminismo, a proposta inicial era mais abrangente e tinha um olhar muito amplo sobre a questão, após o processo de orientação foram especificados as variáveis e delimitou-se um campo de atuação sobre a análise do produto.
A importância da discussão sobre a temática feminista na área da comunicação principalmente em meio às mídias digitais, fez com que tivéssemos interesse em escrever sobre o assunto. Vimos que ainda é muito escassa a existência de artigos na academia que analisam produtos, como matériais pornograficos, em busca de argumentar problemáticas sociais contidas neles. Há um forte interesse no conteúdo, por ser um tema até mesmo polêmico e inusitado para uma análise científica.
REFERENCIAL TEÓRICO
O filme Feminist and Submissive, em português: Feminista e Submissa, obra lançada em 1 de novembro de 2019 tem como eixo principal a ideia de que as mulheres podem escolher o que quiserem, logo podem ser submissas durante as relações sexuais se assim for do seu desejo. A apresentação da obra por meio do trailer tem uma função explicativa do que Lust pretendeu durante a criação do filme. Contando com a participação de algumas atrizes e que estão no produto e uma convidada, cada uma tem uma visão complementar sobre o que é ser submissa através de um olhar feminista. Em suas pontuações podemos destacar a desconstrução da submissão em uma fala aberta sobre sexualidade.
A questão levantada por elas expõem de forma explícita a expressão da sexualidade e do desejo feminino, uma questão que ainda é vista socialmente como um tabu, as forças patriarcais que moldam o comportamentointerpessoal limitam as mulheres a falarem sobre sexualidade. A própria diretora em sua fala introdutória do vídeo diz: “Mulheres são espancadas e homens adoram fazer isso, uma ideia assustadora para muita gente.” Lust diz isso para apresentar a temática do filme e usa a frase como um artifício para atrair a atenção do expectador para o resto do trailer. Podemos discutir sobre a afirmação da diretora com uma fala de Carol Vance apresentada.
Na vida das mulheres a tensão entre o perigo e o prazer sexual é muito poderosa. A sexualidade é um terreno de constrangimento, de repressão e perigo, e um terreno de exploração, prazer e atuação. Centrar-se só no prazer e gratificação deixa de lado a estrutura patriarcal em que atuam as mulheres. Entretanto, falar só de violência e opressão deixa de lado a experiência das mulheres no terreno da atuação e da eleição sexual e aumenta, sem se pretender, o terror, o desamparo sexual com que vivem as mulheres. (VANCE, Carol)
 Ela destaca pontos que que colaboram com a repressão, uma delas é a violência sexual, contrapondo a expressão do prazer sexual com medo e o perigo, onde falar sobre um faria o outro ser esquecido temporariamente, isso pode se misturar na fala de Lust, que entremeia a sexualidade e a violência como fatores naturais dentro da proposta de submissão apresentada no trailer, porém de forma explicativa, a diretora não discute a agressão como um fator de perigo ou medo como é abordado por Carol, segundo Erika, os dois lados podem andar juntos desde que isso seja consensual. “Não é politicamente incorreto, mas se é seu desejo, é sua escolha”, nota-se uma romantização da submissão onde a mulher teria plenitude em optar por estar nessa posição.
 Lust também quis convidar uma voz fora do mundo do cinema adulto para opinar sobre o BDSM e a política de gênero. Então chamou Daisy Bata que faz parte de sua empresa como gerente de conteúdo, mas também tem experiência como jornalista para sites vice e eróticos sob um pseudônimo, escrevendo sobre feminismo, política e fetiche. “E quanto ao fato de que muitas mulheres querem se sentir dominadas, é porque se sentem bem, ponto final.” A fala de Daisy é uma síntese do que o todo o trailer deseja passar, pois para ela, assim como para as outras mulheres que se encontram no vídeo, quando se fala de submissão no contexto sexual, a chave é o consenso, ou seja, a mulher está na posição de escolha, porque isto lhe dá prazer. Porém, Daisy também diz: “Demorei um pouco para aceitar a parte submissa da minha personalidade, talvez porque me senti antitética ao meu feminismo[...]”.
Debateremos essa impressão instantânea que Daisy tem ao entender a colocação primeiramente como antiética, com argumentos que contrariam e negam a submissão da mulher feminista nas relações sexuais, o posicionamento é de Victoria Melbourne, escritora independente pelo blog Liberal Feminist Tropes Debunked, ela defende ideais de igualdade que vão além do convívio social, segundo ela igualdade também inclui a eliminação de hierarquias de poder nos relacionamentos sexuais em geral, o simples fato de haver a classificação de diferentes posições sexuais já abre uma discussão quanto a disparidade entre elas, isso poderia se relacionar muito bem com a imagem passada pelo movimento atualmente na sociedade àqueles leigos no meio. Victoria aponta a questão da escolha, ela diz que nem todas as escolhas levam a libertação e a luta feminista é pela liberdade, não pela “escolha”, o fato de que podemos ser autorizadas a escolher o nosso celular não significa que não estamos em uma prisão. O feminismo luta pelo fim da opressão contra a mulher.
As marcas sociais podem trabalhar nessa impressão inicial que temos ao associar o feminismo a submissão, antes de explicar o ato do consentimento. Talvez pela construção da imagem do movimento feminista na sociedade temos uma radicalização da causa, retomando aos momentos pelo qual já foram trilhados. Na primeira onda do feminismo vemos que valores como a igualdade defendida por Victoria possuem muito mais valor que outros debates, isso pelo foco na obtenção de direitos que somente a paridade dos gêneros conseguiria. Mas a evolução da luta não se findou somente nos ideais de igualdade, hoje a questão é mais ampla e abrange uma discussão que já integra valores de liberdade, onde a mulher tem um papel de domínio sobre sua própria vida, e suas escolhas são o fator mais importante a se considerar.
Vitória Vaar, atriz de filmes adultos da empresa audiovisual de Lust diz “Quero que as pessoas olhem para mim e me vejam como a mulher competente, capaz e inteligente que sou, mesmo quando estou ajoelhada.” E Lina Bembe, também atriz pornografica, relata “Aceito que sou uma feminista inteligente, competente e submissa, que às vezes encontra seu poder escolhendo deixá-lo ir.” Para Vitória e Lina, o fato de serem submissas ou se encontrarem em uma posição de submissão não muda a ideia de que são feministas, pelo contrário, as empodera. Suas vidas privadas não interferem nos seus espaços públicos, nem em seus posicionamentos políticos. Porém, Rayza Sarmento em sua tese de doutorado, defende que não há diferença entre esse público e privado.
Não há diferença entre público e privado, seja pela a) indeterminação do que é e o que pertence a cada uma das esferas, pela b) impossibilidade de afirmar o que é realmente privado, ou pela c) discussão mais famosa de que o pessoal é político e, portanto, a dicotomia não existe.( SARMENTO, Rayza. 2016. p, 32.)
Na segunda fase do movimento feminista, um primeiro aspecto fundamental foi o questionamento da separação entre pessoal e político e a argumentação de que o que se vive na vida privada também é político. Ou seja, essa separação não acontece, os aspectos de suas escolhas referentes a suas vidas privadas, interferem direta ou indiretamente nas suas escolhas públicas, políticas. Como ser feminista se estão se submetendo?
Erika Lust fala no trailer “se eu me submeto, faço isso de lugar de força”. Esse lugar e força tem a ver com troca de poder que é característica do BDSM, a palavra “poder” implica que o que eles estão dizendo é realmente profundo e filosófico e a palavra “troca” implica que algo justo e igualitário está acontecendo. Mas o discurso também prega peças, pois não se deve haver uma troca de poder, mas sim igualdade, sem hierarquias de poder em relacionamentos sexuais no geral, sem igualdade, não pode haver a verdadeira liberdade. As ideias de “troca de poder” e “lugar de força” tem um tom subversivo e como o BDSM é um tabu essa prerrogativa se confirma? De acordo com a escritora independente C.K. Egbert (2015) “Por definição, o BDSM erotiza a desigualdade, a dominação, a dor e o abuso; portanto ele não desafia qualquer norma patriarcal.” Para ser subversivo o BDSM precisaría subverter alguma norma padrão, mas ele faz o contrário, apenas reafirma que o patriarcado existe porque homens sentem prazer em dominar mulheres.
O poder mercadológico da prerrogativa feminista na pornografia com base no trailer de Feminist and Submissive.
É evidente que a narrativa feminista inserida no contexto da indústria pornografica acaba por trazer mudanças, mesmo que poucas, para as pretensões comerciais que esses filmes irão alcançar. A utilização desses artifícios permitem o aumento do valor de entretenimento que o produto receberá. No caso desse filme de Lust, existe um apelo para um mercado que é atraído por fetiches envolvendo a prática do BDSM, nesse caso o material é destinado para espectadores muito exclusivos mas que pode alcançar um grande nicho, o dos consumidores do sexo masculino, que veem essa imagem de submissão com aprovação e buscam essas representações por prenderem a reprodução.
Esses valores se assemelham muito a pornogafia tradicional, que é baseada em valores de objetificação feminina e de satisfação da figura masculina. Vendo por esse ângulo levanta-se a questão sobre no que a pornografia feminista estaria se diferenciando da tradicional, considerando os públicos e suassimilaridades de ambições e o mercado está prontamente disposto a atendê-las. Mesmo que sendo um produto originalmente “intencionado” para mulheres, homens possuem carta branca para adentrarem no espaço. O investimento nessa inovação de modelos para serem trabalhados nos filmes está totalmente ligado com a curta vida do material pornográfico, pois sua única e exclusiva função é promover a excitação momentânea , por isso sua validade é muito curta e logo se torna enfadonho, isso leva a busca por novos materiais pornograficos (CECARELLI, 2011), principalmente se tratando do público masculino que é o principal consumidor.
O Xconfessions possui muita proximidade com seu público feminino, e sempre pretende fortalecer laços com suas assinantes, propondo-as fazerem suas confissões para que virem filmes futuramente. Porém se analizarmos o marcado pornografico em geral, principalmente o de cunho feminista muitos sites podem estarem se apropriando disso para fazerem dinheiro mascarando seus interesses com abordagens semelhantes a do filme Feminist and Submissive que mostram a mulher como inteiramente entregue e de acordo com as vontades do corpo masculino. Consequentemente há uma possibilidade desse material transcender seu público alvo e acabar sendo usado em outro viés, que ao invés de mostrarem ser diferente da pornografia convencional, se torna algo análogo e sem sentido. A submissão nesse caso seria uma faca de dois gumes para a proposta feminista.
A Pornografia Feminista e o Femvertising
O Femvertising é uma nova expressão que vem da junção entre duas palavras em inglês: feminism (feminismo) + advertising (propaganda). Ou seja, o femvertising trabalha com a comunicação de marcas voltado para as mulheres, visando empoderar por meio do discurso e imagens todas as mulheres e meninas. Essa estratégia é efetiva para as marcas pois durante campanha as mulheres acabam por se identificarem com os seus produtos. Porém, Amanda Lai Lee Vasconcelos em sua monografia de graduação sobre femvertising aponta:
No entanto, é importante que não caiamos na ingenuidade de pensar que as marcas estão mudando o seu posicionamento ao aderirem a femvertising por empatia ao movimento feminista. As marcas adotam a femvertising porque é uma estratégia que apresenta uma lógica mercantilista, além do fato de que empregar o empoderamento feminino como estratégia de comunicação, é mostrar que o produto e a marca funcionam como verdadeiras pontes para a mulher empoderar-se. É, portanto, um interesse mercadológico e econômico já que de acordo com a pesquisa feita pelo Data Popular em 2014 as mulheres controlam 85% do consumo (BARRETO JANUÁRIO; CHACEL, 2017). 
Portanto, ao nosso ver, assim como no femvertising a pornografia feminista busca atrair, chamar a atenção de mulheres, utilizando de estratégias e do discurso feminista para que essas mulheres assistam aos filmes sem pensar no que a pornografia realmente representa, como a pornografia afeta de forma maléfica milhares de mulheres que estão inseridas nesse meio. O trailer de Feminist and Submissive, transmite a imagem de mulheres fortes e empoderadas que sabem dos seus desejos e possuem um poder de escolha, então se é da vontade delas, escolhem ser submissas. A pornografia feminista emprega a lógica mercantilista, buscando lucrar com a narrativa feminista, sem às vezes, de fato ocorrer uma mudança de posicionamento.
A Pornografia como Antítese ao Feminismo
Como analisa Andrea Dworkin a palavra pornografia vem do grego, Graphos que representa todo tipo de escrito, gravura ou desenho e Porne ou porneia, por sua vez, representa prostituta. A porneia, todavia, não era qualquer prostituta; tratava-se daquela pertencente a camada mais rebaixada na prostituição, a mais vil, desprezível e desvalorizada prostituta, disponível a todos os homens. (ANDREA DWORKIN; 2015, 24)
 Logo é difícil por duas palavras tão antagônicas que tem histórias e motivações tão diferentes juntas. O feminismo perde sua valorização por usar de uma indústria que usa a mulher desde de o seu princípio como um mero produto, e a objetifica tempo inteiro. E se o feminismo luta para tirar esses preconceitos porque se aliar a essa massa. A autora Carol Vance traz a discussão já que queremos abrir as portas para as mulheres nesse mercado porque não trazer um novo termo sem esse passado obscuro que tem a pornografia.
Antes de tudo deve se pôr em questão que a terceira onda do feminismo é mais liberal e traz princípios mais radicais e que com isso nomenclaturas que antes eram pesadas são trazidas de outras formas pelas feministas que de qualquer maneira essa palavras estão sendo querendo ser renomeadas por um certo grupo de feministas.
O preço da obtenção de uma identidade socialmente inteligível é a subordinação, porque essa identidade nos encarcera em papéis sociais rígidos. Mas esse processo de encarceramento só é bem sucedido quando o próprio sujeito participar dele ativamente. Assim sendo, a construção da identidade em Butler depende em grande parte de uma “auto-opressão” (Butler, 1997, p.14). 
É errado dizer que alguém está certo ou errado os dois tem pontos de vistas pelo movimento e buscam a libertação da objetificação em massa da mulher cada um de sua maneira atacando o sistema que acha melhor. Conclui-se que a pornografia feminista mesmo usando de uma nomenclatura está inserida na terceira onda do feminismo por ser radical.
METODOLOGIA
A pesquisa foi bibliográfica e qualitativa, com análise de um produto, no caso o trailer do filme Feminist and Submissive, dirigido por Erika Lust e foram usados materiais acadêmicos com a temática feminista, como artigos e livros, utilizamos também alguns sites e conteúdo multimídia de  autores que ressaltam o papel negativo da pornografia. Com o uso de afirmativas de algumas dessas autoras tivemos a possibilidade de escrever em uma perspectiva mais abrangente sobre o tema de forma consensual com suas escritas.								
 
RESULTADOS PRELIMINARE
Percebemos acerca da ideologia de submissão que existem visões distintas dentro do próprio movimento feminista, e que essa discussão vai muito além de ponto de vistas, é na verdade um ponto de conflito dentro da comunidade, e de que as ideias de consentimento formam um argumento indiscutível quando se trata da livre escolha da mulher, exteriormente ao analisarmos a visão da sociedade para essa questão temos um estranhamento da proposta e uma negação da relação do feminismo a isso. Isso é bastante claro no trailer que tem o principal objetivo naturalizar a submissão feminina para então apresentar o filme como uma obra que será aceita previamente. Vimos que muitas dessas propostas acabam caindo em um viés mercadológico mesmo que não intencionalmente, mas o conteúdo sempre vai atrair um público latente da indústria que são os homens, que podem até mesmo não compreender a proposta do material por consequência da curta validade da pornografia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Concluímos que o trailer de Feminist and Submissive, mostra diretrizes de mulheres quedizem ser feministas e que por causa disso possuem o poder de escolher ser submissas, tendo a liberdade de escolha. Vimos também que há dentro do feminismo vários debates sobre até que ponto essa escolha pode ser questionada e como o marketing usa do movimento para atrair consumidores e que nada impede de pensar que o trailer é só uma jogada para o consumidor assinar o pacote de serviços do site.
A importância de estudar essa temática é poder debater sobre como o feminismo vem sendo pensado atualmente, e como pode existir muitas vertentes para um só movimento. Que muitas questões devem ser postas em discussão no âmbito político para entender a posição da mulher e defender seus direitos para que as linhas sejam fechadas e não possa haver espaço para brechas que rompam esse “muro” que está sendo construído por anos em busca de direitos iguais para as mulheres.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão de identidade. 6 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
C.K. Egbert. BDSM FAQ (Frequently Asserted Quibbles): Part 1. Disponível em: <https://www.feministcurrent.com/2015/04/23/bdsm-faq-frequently-asserted-quibbles-part-1/>. Acesso: 9 de novembro de 2019.
FARIA, Nalu. Sexualidade e Feminismo. Disponível em: <https://coletivomariasbaderna.files.wordpress.com/2012/09/nalu.pdf>. Acesso em: 8 de novembro de 2019.
FERNANDES, Ana Luiza Ramos. UM OLHAR SOBRE A PORNOGRAFIA: teoria e perspectivas jurídicas. 2107. 72f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação ) - Departamento de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017 .
LUST, Erika. XConfessions, 2013. By you and Erika Lust. Disponível em: <https://xconfessions.com/>. Acesso: 6 de novembro de 2019.
LUST, Erika. Trailer: Feminist and Submissive. (Barcelona), nov. 2019. Disponível em: <https://xconfessions.com/film/feminist-and-submissive/watch/trailer/355>. Acesso: 8 de novembro de 2019. 
MELBOURNE, Victoria. Why I'm Against BDSM - Radical Feminist Perspective. Disponível em: <http://liberalfeministtropes.blogspot.com/2014/03/why-im-against-bdsm-radical-feminist.html>. Acesso: 8 de novembro de 2019.
NETO, Alberto Ribeiro. CECCARELLI, Paulo Roberto. Internet e pornografia: notas psicanalíticas sobre os devaneios eróticos na rede mundial de dados digitais. 2015. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952015000200002>. Acesso: 9 de novembro de 2019.
PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003.
SARMENTO, Raysa. Das sufragista às ativistas 2.0: Feminismo, mídia e política (1921 a 2016). 2017. 220 f. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. 2017. 
VASCONCELOS, Amanda Lai Lee. Empoderamento e Femvertising como estratégias de comunicação das marcas. 2019. 127f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação ) - Departamento de Comunicação Social, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.

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