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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CAMILA SANTIAGO NATAL DA SILVA PIRES CÂNCER DAS CÉLULAS PLASMÁTICAS DA MEDULA ÓSSEA MIELOMA MÚLTIPLO DOURADOS - MS 2021 OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo abordar o desenvolvimento do mieloma múltiplo, sua caracterização, processo, controle e tratamentos. INTRODUÇÃO O mieloma múltiplo é, até hoje, uma doença incurável, principalmente porque os doentes sofrem várias recidivas e desenvolvem resistência aos fármacos administrados. Trata-se de um tumor maligno das células linfoides responsável por 1% dos óbitos em países ocidentais. Está em segundo lugar no ranking de doenças onco-hematologicas mais comuns no mundo, acometendo predominantemente pacientes idosos, com média de 65 anos ao diagnóstico. O baixo índice de sobrevida apresentado pelos pacientes com diagnóstico tardio é um problema significativo, a identificação de fatores que poderão influenciar no prognóstico é muito importante para tentar predizer a sobrevida e auxiliar no tratamento. A proliferação de linfócitos B neoplásicos produtores de imunoglobulinas anômalas provocam destruição óssea causada pela infiltração e multiplicação dos plasmócitos na medula óssea, as manifestações clínicas incluem o desenvolvimento de fadiga, anemia, insuficiência renal, hipercalcemia e imunodeficiência com infecções recorrentes. O diagnóstico baseia-se em exames laboratoriais, radiológicos e biópsia na medula óssea para identificação de plasmócitos. O tratamento depende do diagnóstico e seu sucesso está diretamente relacionado com a precocidade da identificação do tumor. MIELOMA MÚLTIPLO O mieloma múltiplo é uma neoplasia maligna progressiva e incurável da medula óssea (tecido encontrado no interior dos ossos, tem a função de produzir as células sanguíneas: glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas) em que a célula afetada é o plasmócito – célula da família dos linfócitos, que tem a função de produzir as proteínas denominadas imunoglobulinas, que são anticorpos naturais contra infecções. Habitualmente, os plasmócitos estão em pequeno número na medula (menos de 5%). No mieloma múltiplo eles aumentam em quantidade, infiltrando a medula óssea. Consequentemente, há um aumento excessivo dos linfócitos B que produzem e secretam de forma desproporcional as imunoglobulinas anômalas, que não exercem a função de defesa, por esse motivo, um dos indicadores da doença em análises sanguíneas são a detecção do aumento dessas proteínas. As alterações encontradas no mieloma múltiplo decorrem de dois fenômenos: O crescimento exacerbado de plasmócitos sobrecarrega a medula óssea, suprimindo a produção de outras células, causando anemia (por redução da produção de hemácias), hemorragia (por redução das plaquetas), e redução da imunidade do doente, uma vez que há a redução na produção dos leucócitos – responsável pela defesa do organismo. E o acumulo de imunoglobulina no sangue periférico torna o sangue viscoso e com dificuldade para circular. Essa proteína é conhecida como proteína M (monoclonal, ou seja, produzida por um grupo de células malignas). As imunoglobulinas incompletas, chamadas de cadeias leves, podem ser secretadas na urina (proteína Bence-Jones: produzida em grande quantidade, excedendo a capacidade de metabolismo pelo rim, com consequente perda pela urina, sua produção prolongada leva a uma lesão tubular com insuficiência renal). A alta concentração desses anticorpos está associada a disfunções orgânicas. EPIDEMIOLOGIA Como tumor maligno das células linfoides medulares, o mieloma múltiplo é responsável por 1% das mortes por câncer nos países ocidentais e é a segunda doença onco-hematológica (aproximadamente 10% dos casos) mais comum do mundo, estando em primeiro lugar os linfomas. O mieloma apresenta incidência elevada em negros e adultos de meia idade. A sua prevalência é maior a partir da quinta década de vida, principalmente entre 50 e 60 anos, caracterizando-se por acometer principalmente pacientes idosos, sua incidência aumenta com a idade e em casos raros acomete pessoas abaixo dos 40 anos. A sobrevida dos pacientes é variável e pode mudar de poucos meses a anos. Sem intervenção terapêutica a sobrevida média gira em torno de 7 meses, e com esquemas de quimioterapia sistêmica é de 2,5 a 3 anos. Somente 3,5% dos pacientes sobrevivem mais de 10 anos. Apesar de existir vários estudos sobre o mieloma múltiplo, a suspeita do diagnóstico da doença depende do conhecimento clínico, pois a pequena sobrevida apresentada pelos pacientes que recebem o diagnóstico tardio é um problema significativo. FISIOPATOLOGIA Quase todos os doentes com mieloma múltiplo evoluem de um estágio assintomático denominado Gamopatia Monoclonal De Significado Indeterminado (GMSI), que progride para mieloma múltiplo a uma taxa de 1% ao ano, nesse caso o doente tem apenas como alteração laboratorial o aumento da imunoglobulina monoclonal, e precisa fazer análises de 6 em 6 meses ou uma vez por ano. Em alguns doentes, pode ser reconhecido um estágio assintomático mais avançado, denominado Mieloma Múltiplo Latente (MML), que progride para mieloma múltiplo a uma taxa de 10% ao ano nos primeiros 5 anos após o diagnóstico, 3% ao ano durante os 5 anos seguintes e 1,5% por ano a partir de então. O mieloma assintomático é uma fase inicial do mieloma, que não dá sintomas e não necessita de tratamento, apenas se existir doença óssea. Existem vários tipos de mieloma que são definidos de acordo com a imunoglobulina produzida pelo tumor. Cada imunoglobulina é formada por duas cadeias pesadas e duas cadeias leves. As cadeias pesadas de proteína são G, A, D, E e M; as cadeias leves são kappa (κ) e lambda (λ). Na maioria dos casos as células do mieloma múltiplo produzem os componentes da cadeia pesada da imunoglobulina. DIAGNÓSTICO O diagnóstico baseia-se essencialmente em exames laboratoriais, incluindo hemograma completo, eletroforese de proteínas séricas e urinárias – método de separação das proteínas encontradas no soro ou na urina - com imunofixação – método de detecção de proteínas específicas -, e punção e biópsia medular para confirmar a presença de plasmócitos atípicos. O diagnóstico por imagem pode ser realizado por meio de radiografias, tomografia computadorizada e ressonância magnética. As radiografias são os exames de imagem inicial no estudo do mieloma múltiplo - é encontrado plasmocitoma (lesão solitária que atinge principalmente coluna, pelve, crânio e costelas). Na tomografia é possível visualizar lesões osteolítcas perfurantes, lesões expansivas com massa em tecido mole, fraturas e esclerose óssea (aumento anormal da densidade do osso, ocorrendo um endurecimento do tecido ósseo). A ressonância magnética permite visualizar diretamente o tumor na medula óssea, possibilitando determinar de forma precisa a extensão da doença e acompanhar a evolução do tratamento. Alguns sinais e sintomas: dor óssea associada a lesões osteolíticas observadas em exame radiológico; hipercalcemia (excesso de cálcio no sangue, devido a destruição óssea); presença da proteína monoclonal; anemia e insuficiência renal. Entretanto, alguns pacientes podem ser assintomáticos e a doença é descoberta por acaso, quando exames laboratoriais mostram anemia e hiperproteinemia – aumento na concentração de proteínas no sangue. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas presentes no mieloma múltiplo são consequências da infiltração neoplásica medular e da presença da proteína monoclonal no sangue e/ou na urina. Detectar um ou mais desses casos em pacientes com mais de 40 anos, justifica a suspeita clínicada doença. Principais manifestações clínicas: 1. Doença óssea: é a principal manifestação clínica indicadora da doença. Pode levar a fraturas patológicas, compressão da medula espinhal, hipercalcemia e dor, sendo uma das principais causas da morbidade e mortalidade. As fraturas vertebrais são as mais comuns, comprometendo significativamente a qualidade de vida, com dores crônicas e, muitas vezes, com incapacitação motora. Essas complicações resultam do desequilíbrio da reabsorção e formação óssea, decorrente do aumento da atividade osteoclástica, aumento este, mediado por fatores ativadores dos osteoclastos (célula óssea que remove o tecido ósseo eliminando a sua matriz mineralizada e quebrando o osso orgânico, processo conhecido como reabsorção óssea), produzidos na medula óssea por células tumorais e não tumorais. O paciente também pode apresentar diminuição da estatura por colapso vertebral ou cifose. Além disso, parestesia ou perda sensorial associada podem indicar lesão neurológica por compressão medular 2. Hipercalcemia: a hipercalcemia é a mais comum desordem metabólica associada a pacientes com câncer, mais frequentemente na fase terminal, podendo evoluir para falência renal e morte. Entretanto, essa incidência está diminuindo em decorrência do uso de medicações específicas. Em geral, quando a hipercalcemia surge, a malignidade é clara e o paciente provavelmente apresenta metástase em múltiplos órgãos. • O câncer afeta diretamente o osso ou metástase nos ossos causam ruptura do osso, liberando cálcio em excesso no sangue. 3. Anemia: é uma condição patológica decorrente da diminuição do número de glóbulos vermelhos ou da concentração da hemoglobina, ocasionando a diminuição da oxigenação tecidual. No paciente com câncer a anemia é comum e causada por diversos fatores: infiltração da medula óssea por células neoplásicas, efeito mielossupressor (causa supressão da produção de células sanguíneas da medula óssea) e nefrotóxico (tóxico para os rins) das drogas quimioterápicas, sangramento gastrointestinal induzido pelo uso frequente de anti-inflamatórios não hormonais, insuficiência renal, hemólise, deficiência de ferro, ácido fólico, vitamina B12, entre outros. 4. Insuficiência Renal: a deposição de proteína monoclonal provoca obstrução dos túbulos renais e alterações nos glomérulos, levando a proteinúria – excesso de proteínas na urina - e perda da função renal. Esse dano pode ser causado por diversos fatores presentes na patogênese do mieloma múltiplo, tais como: hipercalcemia, hiperuricemia, desidratação e uso de anti-inflamatórios. 5. Infecções: são consideradas as principais causas de mortalidade e morbidade em pacientes que apresentam mieloma múltiplo. O aumento de infecções é atribuído à imunodeficiência – desordem do sistema imunológico - associada à doença, caracterizada pela diminuição das imunoglobulinas normais, e à imunossupressão – redução da atividade ou eficácia do sistema imunológico - cumulativa dos vários tratamentos recebidos ao longo do curso da doença. 6. Plasmocitomas (neoplasia): podem causar deslocamento e compressão dos nervos, da medula espinhal ou do tecido cerebral, nos ossos e nos tecidos moles. Essa compressão representa uma emergência médica e requer tratamento imediato, com doses elevadas de corticosteroides, radioterapia ou neurocirurgia. Dessa forma, o mieloma múltiplo deve ser considerado como hipótese diagnóstica em todos os pacientes idosos com dor óssea persistente, principalmente ao movimento, e não aliviada com medicações e repouso, e associada a sintomas como os citados acima. TRATAMENTO O tratamento do mieloma múltiplo visa estabelecer o melhor regime terapêutico adaptado a cada doente, baseado na genética do tumor e na situação clínica do paciente, incluindo a idade e suas comorbidades, cujo principal objetivo é aumentar a sobrevida e a qualidade de vida. É exigida uma abordagem multiprofissional, sendo importante para o paciente o acompanhamento por nutricionista, psicólogo, odontólogo e seu médico clínico, que deve estar atento as peculiaridades e intercorrências que esta doença pode trazer, tanto na sua evolução como de seu tratamento. As opções de tratamento podem ser divididas em: 1. Quimioterapia com agentes alquilantes, em administração enteral/endovenosa • Impedem a célula de se reproduzir danificando seu DNA 2. Quimioterapia sem agentes alquilantes em esquemas quimioterápicos com múltiplas drogas 3. Imunoterapia • Tratamento biológico que tem o objetivo de potencializar o sistema imunológico de maneira que este possa combater o câncer 4. Quimioterapia associada a agente antiangiogênico • Inibe o crescimento de novos vasos sanguíneos no tumor Quimioterapia associada a agente imunomodulador • Nutrientes que atuam diretamente no sistema imunológico, modulando-o de forma a fortalecer suas defesas e seu funcionamento 5. Transplantes 5.1 Transplante Autólogo após quimioterapia com altas doses • Antes da realização do transplante, é feito o tratamento com medicamentos para reduzir o número de células do mieloma presentes no corpo do paciente. No transplante autólogo, as células-tronco do próprio paciente são removidas de sua medula óssea ou sangue periférico antes do transplante 5.2 Transplante Heterólogo ou Alogênico • As células precursoras da medula provêm de outro indivíduo (doador), de acordo com o nível de compatibilidade do material sanguíneo 6. Bortezomib (provoca a morte celular das células sanguíneas) 7. Bisfosfonatos (ajuda os ossos a se manterem fortes) REFERÊNCIAS SALEMA, L. Z. Carolina; CARVALHO, Claudemir. Diagnósticos, tratamentos e prognósticos do mieloma múltiplo. n. 1, vol. 4. Pindamonhangaba: Ciência e Saúde On-line, 2019. DIAS, ALESSANDRA GOMES et al. Caracterização dos sinais e sintomas clínicos do mieloma múltiplo e os atuais métodos de diagnóstico laboratorial. REVISTA UNINGÁ REVIEW, [S.l.], v. 21, n. 1, jan. 2015. ISSN 2178-2571. Gerecke, Christian et al. The Diagnosis and Treatment of Multiple Myeloma. Deutsches Arzteblatt international vol. 113,27-28 (2016): 470-6. doi:10.3238/arztebl.2016.0470 GARNICA, Marcia. Mieloma múltiplo e infecção: essa associação ainda é estreita. Hematol., Transfus. Cell Ther. São Paulo, v. 41, n. 4, pág. 281-282, dezembro de 2019 Peña, Camila et al. Prognostic impact of renal failure recovery in patients with newly diagnosed multiple mieloma. Revista medica de Chile vol. 147,11 (2019): 1374-1381. doi:10.4067/S0034-98872019001101374 J., H.G.D.M. S. Fisiopatologia da doença. Grupo A, 2015. 9788580555288. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580555288/.
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