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O Campesinato e seus problemas O Campesinato e seus problemas Camponeses e Primitivos Civilização O desenvolvimento da civilização é relacionado com a formação de uma ordem social complexa com a divisão entre os que governam e os que cultivam alimentos (p.16) Mínimo Calórico e Excedentes A sustentação de uma divisão entre os que cultivam e os que governam depende da produção de excedente acima do mínimo necessário para manter a vida. O mínimo calórico é o consumo diário de calorias alimentares necessário para compensar a energia usada pelo homem diariamente no trabalho (p.17). Além do mínimo calórico, precisam fornecer alimentos a mais do mínimo, como sementes para a próxima safra e alimentação do gado. Montante que não é considerado excedente porque é parte da manutenção dos instrumentos da produção. Fundo de manutenção: Gastos para a manutenção do equipamento de produção e consumo. A produção a mais do mínimo calórico e do fundo de manutenção só acontece com incentivos sociais. Excedentes Sociais Fundo Cerimonial As populações rurais estão em contínua interação e comunicação com outros grupos sociais, não podem ser explicados de maneira isolada, é preciso considerar as influências externas e as reações dessas influências. A antropologia em primeiro momento tinha como objeto os povos "primitivos" depois se desloca para as sociedades complexas ao começar a pesquisar as populações rurais; O autor distingue o camponês do primitivo; Definição de Camponeses: cultivadores rurais, cultivam e criam gado no campo (p.13). Se distingue dos fazendeiros porque a fazenda norte-americana é uma empresa, o seu objetivo é o lucro, enquanto que o camponês não empreende na visão econômica, busca sustentar a família e não uma empresa (p.14). O camponês faz parte da sociedade complexa; A distinção entre primitivo e camponeses está no tipo de envolvimento com o exterior: Na sociedade primitiva os produtores controlam os meios de produção e o próprio trabalho, fazem trocas de produtos, bens e serviços definidos culturalmente como equivalentes a outros. Com a evolução cultural esses sistemas simples são substituídos por sistemas que o controle dos meios de produção, incluindo a distribuição do trabalho, é transferido para grupos que não são encarregados do processo de produção, mas que tem as funções executivas e administrativas, assumiram essa função pelo uso da força (p.16). Esse tipo de sociedade não é baseada em trocas diretas de bens e serviços equivalentes, os bens serão fornecidos a um centro, depois são redistribuídos. Nas sociedades primitivas os excedentes são trocados diretamente pelos grupos ou por seus membros; Os camponeses são cultivadores rurais, cujo excedentes são transferidos para os grupos dominantes, que os utilizam para manter seu próprio nível de vida, e para os grupos que não cultivam, mas que precisam se alimentar (p.16) As relações sociais, que nunca são apenas utilitárias ou instrumentais, pois são constituídas de construções simbólicas que a explicam, justificam e regulam. (p. 20). Fundo de Aluguel O papel da Cidade O Lugar do Campesinato na Sociedade O Dilema Camponês O camponês "assemelhar-se a uma ovelha que é periodicamente despojada de sua lã" (p. 27). Uma parte do fundo de manutenção do camponês, poderá ser o "fundo de lucro" de outro. Todas as relações sociais envolve um cerimonial, seja casamento, batismo, entre outras festividades. Todo cerimonial demanda recursos. Fundo cerimonial: Reserva para as despesas da participação e realização de cerimônias (p. 21). O fundo cerimonial depende da tradição cultural; O fundo cerimonial é uma produção de excedentes acima do fundo de manutenção. Os esforços na vida camponesa não são regulados apenas pelas exigências do seu modo de vida. A quantidade de esforços se relaciona em como é e quais regras regem a divisão de trabalho na sociedade que pertence (p.22). A quantidade de esforço para alcançar o fundo de manutenção varia a cada sociedade. O nível de autossuficiência e as trocas equivalentes de produtos e serviços (trocas simétrica) reduz o esforço. Quanto mais a sociedade se desenvolve menos ocorre trocas equivalentes, ocorrendo mais trocas assimétricas, determinadas por condições externas, no qual as redes de troca são abrangentes e não consideram o poder aquisitivo da população, assim tendo a necessidade de uma produção maior para conseguir a quantia necessária para a manutenção. Fundo de aluguel é a obrigação em sua produção, que não são exigências provenientes do seu trabalho na terra, mas de uma relação de poder. A ordem social possibilita a existência de grupos que através do poder exigem pagamentos de outros, resultando na transferência da riqueza de um para o outro. Ex.: Rendeiros e o sistema morador. " O que é perda para o camponês é ganho para os detentores do poder, pois o fundo de aluguel levantado pelo camponês é parte do "fundo de poder" através do qual os dominadores se alimentam" (p. 24). Existem diversas formas do fundo de aluguel ser produzido e absorvido pelo grupo dominante. O poder exercido tem efeito estrutural na organização do campesinato, existindo vários tipos de campesinato. O termo "camponês" denota uma relação estrutural assimétrica entre produtores de excedentes e o grupo dominante Desenvolvimento da civilização é frequentemente identificado com o desenvolvimento das cidades (p. 24) O camponês tem uma relação duradoura com a cidade. A crescente complexidade de uma sociedade pode levar o surgimento da cidade, mas isso não é inevitável. Cidade como um lugar eficiente devido a centralização de combinações de funções. A presença ou não de cidade afeta o padrão de uma sociedade. Mas o que distingue a vida primitiva e a civilizada é a existência de Estado (p. 26). É a formação do Estado que transforma cultivadores de alimentos em camponeses. Os processos de construção do Estado são diversos, complexos e sua formação varia em cada lugar. Em outras sociedades com a revolução industrial criou um vasto maquinário, possibilitam as "fábricas do campo", fazendas capitalizadas, são mantidas por trabalhadores agrícolas, que recebem salários da mesma forma que trabalhadores industriais. Assim o camponês ocupa um local secundário na criação de riqueza (p. 27). Existem sociedades que o camponês é o principal produtor de reservas de riquezas sociais e sociedades que seu papel é de segundo plano. Existem sociedades no qual os camponeses cultivam a terra com suas ferramentas tradicionais, sendo a maioria da população e fornecendo os fundos de aluguel e lucro que sustentam toda a estrutura social. WOLF, Eric R. O Campesinato e seus problemas. In: _____. Sociedades Camponesas.2ªed. São Paulo: Zahar, 1970. Cap. 1. p.13-34. Se a estrutura do poder está enfraquecida, muitos laços tradicionais perdem a concordância. A ascensão econômica de camponeses o afastarão dos outros camponeses, eles transgredirão as expectativas tradicionais das relações sociais ao usar o poder recém adquirido para enriquecer as custas dos seus companheiros. A segunda estratégia é reduzir o consumo, restringindo sua alimentação em alimentos mais básicos, seu grupo doméstico passa a produzir o próprio mantimento e objetos necessários, sem precisar sair dos limites de sua terra. Tais camponeses sustentarão a manutenção as relações sociais tradicionais. Tem capacidade para se resguardar de exigência externas, forçando até seus membros mais afortunados a compartilhar parte de seus bens e de seu trabalho com os demais. Com o controle da terra e a capacidade de cultivá- la, o camponês tem autonomia e capacidade de sobreviver. As duas alternativas não se excluem mutuamente. A predominância de uma ou de outra depende do contexto social maior, terá periodos que optarão pela primeira, em outros vão na segunda opção, ou as duas ao mesmo tempo. O campesinato é dinâmico, movendo-se entre os dois polos em busca da solução para seu dilema. " A existência de uma vida camponesa não envolve meramente uma relação entre camponeses e não- camponeses,mas um tipo de adaptação, uma combinação de atitudes e atividades destinadas a sustentar o cultivador em sua luta pela sobrevivência individual e de toda a sua espécie, dentro de uma ordem social que o ameaça de extinção" (p.34). Para o camponês o mínimo calórico, o fundo de manutenção e o fundo cerimonial são indispensável para garantir a ordem social. As necessidades do camponês entrarão frequentemente em choque com as exigências das forças exteriores. Os camponeses serão obrigados a equilibrar suas próprias necessidades e as exigências de fora, estando sujeitos às tensões causadas pela luta para manter um equilíbrio (p. 28). No campesinato a propriedade é ao mesmo tempo unidade econômica como lar. A unidade camponesa é um organização produtiva e uma unidade de consumo. Estarão preocupado não só com a alimentação, mas também a outros serviços para seus membros, como o cuidado voltado a crianças e idosos. Assim a unidade exerce trabalho e tem despesas, em diferentes contextos, que não são ditadas, diretamente, pelo sistema econômico. O dilema camponês consiste em contrabalançar as exigência das forças exteriores com as necessidade de seus familiares. Tem duas estratégias: incrementar a produção ou reduzir o consumo. No primeiro caso é aumentar a produção, mas isso depende da capacidade em conseguir os elementos necessários para isso como terra, trabalho e capital e da situação do mercado (p.31). A produção já está toda comprometida com compromissos prioritários e é muito difícil conseguir sozinho aumentar a produtividade. É difícil o camponês pensar em suas posses sem considerar o grupo, pois tem um valor simbólico. Situações que o camponês segue o incremento da produção: 1º Quando a influência dos detentores do poder se torna ineficaz. 2º Quando o camponês escapa das responsabilidades, tem como objetivo assegurar os laços sociais tradicionais ao trazer o sentimento de união. Os dois casos acontecem, normalmente, na mesma época.
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