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Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 • Comportamento alimentar disfuncional; • Preocupações envolvendo medo de engordar e/ou distorção da imagem corporal; • Preocupação extrema com comida/alimentação; • Fatores de risco: 1. Ambientais: ✓ Culturas e contextos que valorizam a magreza; ✓ Ocupações que exijam e valorizem a forma física (modelos, atletas, bailarinas, nutricionais...) ✓ Relações familiares conflituosas; ✓ Abuso sexual ou físico na infância. 2. Temperamentais: ✓ Transtornos de ansiedade; ✓ Sintomas depressivos; ✓ Fobia social; ✓ Baixa autoestima; ✓ Afeto negativo; ✓ Preocupações com o peso. 3. Genéticos e fisiológicos: ✓ Gêmeos monozigóticos; ✓ Parentes de primeiro grau; ✓ Parentes com transtorno do humor; ✓ Obesidade infantil; ✓ Maturação puberal precoce. • Síndrome caracterizada por 3 critérios essenciais: 1. Inanição eutoinduzida até um grau significativo – um comportamento; 2. Busca incessante por magreza ou medo mórbido de engordar – uma psicopatologia; 3. Presença de sinais e sintomas resultantes da inanição – uma sintomatologia fisiológica. • Com frequência, está associada a distúrbios da imagem corporal, à percepção do indivíduo de que ele é angustiantemente grande apesar da inanição médica óbvia. Essa distorção é perturbadora quando presente, mas não patognomônica, invariável ou necessária para o diagnóstico; • Há dois subtipos: a restritiva e a compulsão alimentar purgativa. O tema em ambos é a ênfase altamente desproporcional colocada na magreza como uma fonte vital, às vezes a única fonte, de autoestima, sendo o peso e, até certo ponto, a forma física transformados na preocupação principal e desgastante que toma conta dos pensamentos, humor e comportamentos durante o dia inteiro; • Aproximadamente metade das pessoas anoréxicas irá perder peso reduzindo de forma drástica sua ingestão alimentar. A outra metade não só fará dieta como também se envolverá com regularidade em compulsão alimentar seguida de comportamentos purgativos; • Mais prevalente em mulheres e em geral tem início na adolescência; • As hipóteses de um transtorno psicológico subjacente em mulheres jovens com a síndrome incluem conflitos em torno da transição da juventude para a idade adulta. Questões psicológicas relacionadas a sentimentos de desamparo e dificuldade em estabelecer autonomia também foram sugeridas como contribuintes para o desenvolvimento da condição; • Podem ocorrer sintomas bulímicos como um transtorno separado ou como parte da anorexia nervosa. As pessoas com um dos transtornos são excessivamente preocupadas com o peso, alimentos e a forma do corpo; • O desfecho da anorexia nervosa varia de uma recuperação espontânea a um curso com aumento e diminuição na intensidade até a morte. EPIDEMIOLOGIA: • Durante as últimas décadas, houve aumento dos relatos do transtorno em meninas e meninos pré-púberes; • A época mais comum de início é na metade da adolescência, mas até 5% dos pcts anoréxicos têm o início do transtorno no começo da década dos 20 anos. A idade mais comum de início é entre 14 e 18 ano; • 0,5 a 1% das meninas adolescentes; • 10 a 20 vezes mais frequente em mulheres; Transtornos Alimentares Anorexia Nervosa Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 • A prevalência de mulheres jovens com alguns sintomas de anorexia nervosa que não preenchem os critérios diagnósticos é estimada em cerca de 5%; • Parece ser mais frequente em países desenvolvidos e pode ser mais observado entre mulheres jovens em profissões que requerem magreza, como modelo ou bailarina. COMORBIDADE: • Depressão: 65% dos casos; → Pessoas com anorexia nervosa têm altas taxas de transtorno depressivo maior comórbido; foi relatado transtorno depressivo maior ou transtorno distímico em até 50% dos pacientes com anorexia nervosa. • Fobia social: 35% dos casos; • TOC: 25% dos casos. ETIOLOGIA: • Fatores biológicos, sociais e psicológicos; • Algumas evidências apontam para taxas mais elevadas de concordância nos gêmeos homozigóticos do que nos gêmeos dizigóticos; • Irmãs de pacientes com anorexia nervosa têm probabilidade de ser afetadas, porém essa associação pode refletir influências sociais mais do que fatores genéticos; • Transtornos do humor mais graves são mais comuns em membros da família do que na população em geral; • Neuroquimicamente, turnover e atividade reduzida da norepinefrina são sugeridos pelos níveis reduzidos de 3- metóxi-4-hidroxifenilglicol (MHPG) na urina e no líquidocerebrospinal (LCS) de alguns pacientes com anorexia nervosa. Uma relação inversa é vista entre MHPG e depressão nesses pacientes; um aumento no MHPG está associado a uma redução na depressão. Fatores biológicos: • Opioides endógenos podem contribuir para a negação da fome em indivíduos com anorexia nervosa. Estudos preliminares mostram ganho de peso substancial em alguns pacientes que recebem antagonistas opiáceos; • Hipercortisolemia e não supressão pela dexametasona, também presentes na depressão; • A função da tireoide também é suprimida; • A inanição pode produzir amenorreia, que reflete a redução nos níveis hormonais (hormônios luteinizante, folículo- estimulante e liberador de gonadotrofina). Algumas pacientes, no entanto, se tornam amenorreicas antes de uma perda de peso significativa; • Estudos de TC revelam espaços aumentados com LCS (sulcos e ventrículos aumentados) em pcts anoréxicos durante a inanição, um acho que é revertido pelo ganho de peso; • Tomografia por emissão de pósitrons (PET): o metabolismo do núcleo caudado era mais alto no estado anoréxico do que depois da retroalimentação; • Disfunção no eixo hipotalâmico-hipofisário (neuroendócrina); • Disfunção na serotonina, dopamina e norepinefrina, três neurotransmissores envolvidos na regulação do comportamento de alimentação no núcleo paraventricular do hipotálamo; • Outros fatores humorais que podem estar envolvidos incluem o fator liberador de corticotrofina (CRH), o neuropeptídeo Y, o hormômio liberador de gonadotrofina e o hormônio estimulador da tireoide. Fatores sociais: • Apoio na ênfase que a sociedade coloca na magreza e no exercício; • Estudos indicam que esses indivíduos têm relações próximas, mas problemáticas, com seus pais; • As famílias de crianças que apresentam transtornos alimentares, especialmente os subtipos de compulsão alimentar purgativa, podem exibir hostilidade, caos e isolamento e baixos níveis de conforto e empatia; • Um adolescente com um transtorno alimentar grave pode tender a desviar sua atenção de relações conjugais tensas; • Em mulheres jovens, a participação em escolas de ballet rigorosas aumenta a possibilidade de desenvolvimento de anorexia nervosa em pelo menos sete vezes; • Em meninos do ensino médio, a luta está associada a uma prevalência de 17% para síndromes de transtorno alimentar Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 completo ou parcial durante a temporada de lutas, com uma minoria desenvolvendo um transtorno alimentar e não melhorando de maneira espontânea no fim do treinamento; • Homossexualidade em homens é um fator predisponente comprovado. Obs.: uma orientação lésbica pode ser um pouco mais protetora porque as comunidades lésbicas são mais tolerantes quanto a pesos mais elevados e a uma distribuição natural mais normativa da forma corporal do que suas contrapartidas heterossexuais femininas. Fatores psicológicos e psicodinâmicos: A anorexia nervosa parece ser uma reação à demanda de que os adolescentes se comportem de forma mais independente e aumentem seu funcionamento social e sexual. Indivíduos com o transtorno substituem as preocupações adolescentes normais por outras preocupações, quesão semelhantes a obsessões, com a alimentação e o ganho de peso. Esses indivíduos carecem de um senso de autonomia e individualidade. Muitos deles experimentam seu corpo como, de certa forma, sob o controle de seus pais, de modo que sua autoinanição pode ser um esforço para obter validação como uma pessoa única e especial. Somente por meio de atos de extraordinária autodisciplina é que um indivíduo anoréxico pode desenvolver um senso de autonomia e individualidade. DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: • O início do transtorno costuma ocorrer entre 10 e 30 anos de idade; • Está presente quando: 1. O indivíduo voluntariamente reduz e mantém um grau doentio de perda de peso ou não consegue ganhar peso proporcional ao crescimento; 2. O indivíduo experimenta um medo intenso d engordar, tem uma busca incessante por magreza apesar da inanição médica óbvia, ou ambos; 3. O indivíduo experimenta sintomatologia médica significativa relacionada à inanição, de forma frequente, mas não exclusiva, funcionamento anormal do hormônio reprodutivo, mas também hipotermia, bradicardia, ortostase e reservas de gordura corporal severamente reduzidas; 4. Os comportamentos e a psicopatologia estão presentes por pelo menos três meses. • Medo intenso de ganhar peso e ficar obeso está presente em todos os indivíduos com o transtorno; • Um comportamento mais aberrante direcionado para a perda de peso ocorre em segredo; • Em geral, pessoas com esse transtorno se recusam a fazer refeições com sua família ou em lugares públicos; • Perdem peso reduzindo drasticamente sua ingestão alimentar total, com diminuição desproporcional dos alimentos com alto teor de carboidratos e gordura; • Alguns não conseguem controlar de forma contínua sua restrição voluntária da ingestão alimentar e, por isso, têm ataques de compulsão alimentar. Esses ataques, via de regra, ocorrem em segredo e em geral à noite e com frequência são seguidos de vômito autoinduzido. Os pacientes abusam de laxantes e diuréticos para perder peso, e exercícios ritualísticos, andar de bicicleta, caminhar e correr excessivamente são atividades comuns; • Exibem comportamento peculiar em relação à comida. Por exemplo: Escondem comida por toda a casa e frequentemente carregam grandes quantidades de doces nos bolsos e em bolsas; • Comportamento obsessivo-compulsivo, depressão e ansiedade são outros sintomas psiquiátricos de anorexia nervosa observados clinicamente de forma mais frequente; • Os pacientes tendem a ser rígidos e perfeccionistas, e queixas somáticas, sobretudo desconforto epigástrico, são comuns; • Pode ocorrer roubo compulsivo, em geral de doces e laxantes, mas ocasionalmente de roupas ou outros itens; • Um pobre ajustamento sexual é com frequência descrito em pacientes com o transtorno. Muitos adolescentes com anorexia nervosa têm seu desenvolvimento psicossocial atrasado; em adultos, interesse por sexo acentuadamente reduzido costuma acompanhar o início do problema. Uma minoria dos pacientes anoréxicos tem história pré-mórbida de promiscuidade, abuso de substância ou ambos, mas Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 durante o transtorno apresentam redução no interesse por sexo; • À medida que a perda de peso de torna profunda aparecem sinais físicos: hipotermia, edema dependente, bradicardia, hipotensão e lanugem, bem como uma variedade de alterações metabólicas; • Amenorreia; • Alcalose hipocalêmica → devido à indução de vômito ou abuso de purgativos e diuréticos; • Também pode ser observado prejuízo na eliminação de água (diurese); • Alterações ECG: achatamento ou inversão da onda T, depressão do segmento ST e prolongamento do intervalo QT → observadas no estágio emaciado da anorexia nervosa. Essas alterações também podem resultar da perda de potássio, o que pode levar à morte; • Dilatação gástrica é uma complicação rara desse transtorno; • Em alguns pacientes, a aortografia apresentou uma síndrome da artéria mesentérica superior. SUBTIPOS: Restrição alimentar: • Presente em cerca de 50% dos casos; • Ingestão alimentar restrita. Em geral, com tentativa de consumir menos de 300 a 500 calorias por dia e nenhum grama de gordura; • O paciente pode ser incansável e compulsivamente hiperativo, com lesões esportivas por esforço excessivo; • As pessoas que apresentam anorexia nervosa restritiva costumam ter traços obsessivo-compulsivos em relação a comida e outros assuntos. Purgação: • Os indivíduos alternam tentativas de dieta rigorosa com compulsão intermitente ou episódios de purgação; • A purgação representa uma compensação secundária para as calorias indesejadas, muitas vezes realizada por meio de vômito autoinduzido, com frequência por uso de laxantes, menos frequentemente por diuréticos, e algumas vezes com eméticos; • Existem casos de purgação repetitiva sem compulsão alimentar prévia, após a ingestão de bem poucas calorias; • Ambos os tipos podem ser socialmente isolados e com sintomas de transtorno depressivo e diminuição do interesse sexual; • Exercício em excesso e traços perfeccionistas também são comuns em ambos os tipos. Obs.: Transtorno de compulsão alimentar: caracterizado por ataques episódicos com a ingestão de quantidades excessivas de comida, mas sem purgação ou comportamento compensatório similar. • Compulsão alimentar-purgação: maior taxa de suicídio em comparação a taxa entre aqueles pcts com anorexia nervosa do tipo restritivo. Pessoas com compulsão alimentar-purgação têm maior probabilidade de estar associadas a abuso de substância, transtorno do controle de impulsos e transtorno de personalidade; • Algumas pessoas com anorexia nervosa podem purgar, mas não têm compulsão. PATOLOGIA E EXAMES LABORATORIAIS: • Hemograma: leucopenia com linfocitose relativa em paciente emaciadas com anorexia nervosa; • Se estiver presente compulsão alimentar e purgação, a determinação dos eletrólitos séricos revela alcalose hipocalêmica; • ECG: alterações no segmento ST e na onda T, que são, em geral, secundárias a distúrbios eletrolíticos; • Pacientes emaciadas têm hipotensão e bradicardia; • Garotas jovens podem ter um nível alto de colesterol sérico; • Alterações endócrinas, como: amenorreia, hipotireoidismo leve e hipersecreção do hormônio liberador da corticotrofina. Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: • Condições clínicas que possam justificar a perda de peso, como, p. ex., tumor cerebral ou câncer; • Transtornos depressivos; • Transtornos de sintomas somáticos; • Bulimia nervosa; • São encontradas condições raras de etiologia desconhecida nas quais a hiperatividade do nervo vago causa alterações nos padrões alimentares que estão associadas com perda de peso, às vezes em grau elevado. Em tais casos, são observados bradicardia, hipotensão e outros sinais e sintomas parassimpatomiméticos. Visto que o nervo vago está relacionado ao sistema nervoso entérico, comer pode estar associado a desconforto gástrico, como náusea ou inchaço. Os pacientes geralmente não perdem o apetite. CURSO E PROGNÓSTICO: • O curso da anorexia nervosa varia enormemente – recuperação espontânea sem tratamento, recuperação depois de uma variedade de tratamentos, um curso flutuante de ganhos de peso seguido por recaída e um curso de deterioração gradual resultando em morte causada por complicações da inanição; • Pacientes com o transtorno do tipo restritivo parecem ter menos probabilidade de se recuperar do que as com o tipo compulsão alimentar-purgação; • Em geral, o prognóstico não é bom; • Taxas de mortalidade variam de 5 a 18%; • Fatores relacionados a bom prognóstico: admissão da fome, redução danegação e imaturidade e melhora na autoestima; • Fatores relacionados a mau prognóstico: neuroticismo infantil, conflito parental, bulimia nervosa, vômitos, abuso de laxativos e várias manifestações comportamentais (p. ex., sintomas obsessivo-compulsivos, histéricos, depressivos, psicossomáticos, neuróticos e de negação). TRATAMENTO: Psicoterápico: • TCC; • Terapia de apoio familiar. Psicologia Nutrição Nutrologia Psiquiatria Acompanhamento Multidisciplinar Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 Cuidados gerais: • Acompanhamento clínico; • Correção das alterações; • Acompanhamento nutricional; • Reposição calórica. Medicamentoso: • Antidepressivos (ISRS: fluoxetina); • Orexígenos (ciproeptadina); • Antipsicóticos (olanzapina, risperidona); • Outros (ansiolíticos); • Sintomáticos e das comorbidades. Hospitalização. • Caracterizada por episódios de compulsão alimentar combinados com formas inapropriadas de interromper o ganho de peso; • O desconforto físico – por exemplo, dor abdominal ou náusea – interrompe a compulsão alimentar, que é frequentemente acompanhada de sentimento de culpa, depressão ou autoindignação; • Diferentemente das pacientes com anorexia nervosa, aquelas com bulimia nervosa em geral mantêm um peso corporal normal; • Independentemente da razão, a compulsão alimentar provoca pânico quando os indivíduos percebem que sua ingestão alimentar está fora de controle; • A compulsão alimentar indesejada leva a tentativas secundárias de evitar o ganho de peso temido por meio de uma variedade de comportamentos compensatórios, como purgação ou exercícios em excesso. EPIDEMIOLOGIA: • É mais prevalente do que anorexia nervosa; • 1 a 4% em mulheres jovens; • É mais comum em mulheres; • Seu início costuma ser mais no fim da adolescência, podendo ocorrer também no começo da idade adulta; • Embora a bulimia esteja frequentemente presente em mulheres jovens com peso normal, elas por vezes têm uma história de obesidade; • Em países industrializados, a prevalência é de cerca de 1% na população em geral. ETIOLOGIA: Fatores biológicos: • Como os antidepressivos frequentemente beneficiam pacientes com bulimia nervosa, e como a serotonina foi associada à saciedade, a serotonina e a norepinefrina foram implicadas; • Visto que os níveis plasmáticos de endorfina são elevados em algumas pacientes com bulimia nervosa que vomitam, o sentimento de bem-estar após o vômito que algumas delas experimentam pode ser mediado pela elevação dos níveis de endorfina; • É encontrada frequência aumentada de bulimia nervosa em parentes em primeiro grau de pessoas com o transtorno; • Pesquisas recentes usando exame de imagem por ressonância magnética (RM) sugerem que o comer excessivo na bulimia nervos pode resultar de uma percepção exagerada dos sinais de fome relacionados ao gosto doce mediados pela região insular anterior direita do cérebro. Fatores sociais: • Pacientes com esse transtorno tendem a ser pessoas com alto desempenho e a responder às pressões sociais de ser esbeltas; • Muitas são deprimidos e têm maior depressão familiar, mas as famílias das que têm bulimia são em geral menos próximas e com mais conflitos do que as daquelas com anorexia. As que sofrem com bulimia descrevem seus pais como negligentes ou rejeitadores. Fatores psicológicos: • Pacientes com bulimia nervosa, assim como aquelas com anorexia nervosa, têm dificuldades com as demandas da adolescência, mas as com bulimia nervosa são mais extrovertidas, irritadas e impulsivas do que aquelas com anorexia; Bulimia Nervosa Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 • Dependência de álcool, furtos em lojas e labilidade emocional (incluindo tentativas de suicídio) estão associados com bulimia; • Pacientes com bulimia nervosa carecem do controle do superego e da força de ego das suas contrapartidas com anorexia nervosa. Suas dificuldades no controle dos impulsos são com frequência manifestadas por dependência de substância e relações sexuais autodestrutivas, além de pela compulsão alimentar e purga que caracterizam o transtorno; • Muitas pacientes com bulimia nervosa têm história de dificuldades de separação dos cuidadores, manifestadas pela ausência de objetos transicionais durante seus primeiros anos na infância. DIAGNÓSTICO E CARACTTERÍSTICAS CLÍNICAS: • A bulimia nervosa está presente quando: 1. Episódios de compulsão alimentar ocorrem com relativa frequência (uma vez por semana ou mais) por pelo menos três meses; 2. São praticados comportamentos compensatórios depois da compulsão alimentar para impedir o ganho de peso, sobretudo vômito induzido, abuso de laxativos, diuréticos, enemas, abuso de eméticos (80% dos casos) e, menos comumente, dieta severa com exercícios extenuantes (20% dos casos); 3. O peso não é reduzido de forma drástica como na anorexia nervosa; 4. A paciente tem um medo mórbido de obesidade, um ímpeto incessante pela magreza, ou ambos, e uma autoavaliação desproporcional que depende do peso e da forma corporal. • Ao fazer um diagnóstico de bulimia nervosa, os clínicos devem explorar a possibilidade de que a paciente tenha passado por um episódio anterior breve ou prolongado de anorexia nervosa, que está presente em aproximadamente metade daquelas com bulimia nervosa; • A compulsão alimentar em geral precede o comportamento de vomitar em cerca de um ano; • Os vômitos são comuns e costumam ser induzidos pela inserção de um dedo no fundo da garganta, embora algumas pacientes consigam vomitar quando querem; • O vômito reduz a dor abdominal e a sensação de inchaço e permite que continuem a comer sem medo de ganhar peso; • O conteúdo ácido do vômito pode causar danos ao esmalte dos dentes, um achado nada incomum em pessoas com o transtorno; • Depressão, por vezes denominada angústia pós-compulsão, frequentemente se segue ao episódio; • Durante os episódios de compulsão alimentar, as pacientes comem doces, alimentos com alto teor calórico e, em geral, macios ou texturizados, como bolos e massas. Algumas preferem alimentos volumosos sem levar em conta o sabor; • O alimento é comido rapidamente às escondidas e às vezes nem mesmo é mastigado; • A maioria das pacientes com bulimia nervosa está em sua variação normal de peso, mas algumas podem estar abaixo do peso ou com sobrepeso; • Essas pacientes são preocupadas com sua imagem corporal e aparência, com a forma como os outros as veem e com sua atratividade sexual. A maioria é sexualmente ativa, em comparação com as pacientes que apresentam anorexia nervosa, que não são interessadas em sexo; • Pica e discussões durante as refeições são por vezes reveladas nas histórias de pacientes com bulimia nervosa; • A bulimia nervosa ocorre em pessoas com altas taxas de transtornos do humor e transtornos do controle de impulsos. Também é reportada a ocorrência de bulimia naquelas em risco de transtornos relacionados ao uso de substância e a uma variedade de transtornos da personalidade. Pacientes com essa condição também têm taxas mais elevadas de transtornos de ansiedade, transtorno bipolar I, transtornos dissociativos e história de abuso sexual. GRAVIDADE: • Leve: 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana; • Moderada: 4 a 7 episódios por semana; • Grave – 8 a 13 episódios por semana; • Extrema – 14 ou mais episódios por semana. Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 SUBTIPOS: Tipo purgativo: • As pacientes regularmente se engajam em vômito autoinduzido ou no uso de laxantes ou diuréticos; • Risco para certas complicações médicas, como: hipocalemia por vômito ou abuso de laxativos e alcalose hipoclorêmica; • Aquelas que vomitam repetidamenteestão em risco de rupturas gástricas ou esofágicas, embora essas complicações sejam raras. Tipo não purgativo: • Usam dieta restritiva, jejum ou exercícios vigorosos, mas não se engajam com regularidade em purga; • Tendem a ter menor perturbação da imagem corporal e menos ansiedade em relação à alimentação; • Tendem a ser obesas. PATOLOGIA E EXAMES LABORATORIAIS: • Pode resultar em anormalidades eletrolíticas e graus variados de inanição, ainda que isso possa não ser tão óbvio quando em pacientes de baixo peso com anorexia. Portanto, mesmo pacientes de peso normal com bulimia nervosa devem se submeter a estudos laboratoriais de eletrólitos e metabolismo; • Em geral, a função da tireoide permanece intacta na bulimia nervosa, mas as pacientes podem apresentar não supressão em um teste de supressão da dexametasona; • Desidratação e distúrbios eletrolíticos; • Hipomagnesemia e hiperamilasemia; • Embora não seja uma característica diagnóstica central, muitas pacientes com esse transtorno têm distúrbios menstruais; • Hipotensão e bradicardia ocorrem em alguns casos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: • O diagnóstico de bulimia nervosa não pode ser feito se os comportamentos de compulsão alimentar e purgação ocorrerem exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa. Em tais casos, o diagnóstico será anorexia nervosa, tipo compulsão alimentar purgativa; • Os clínicos devem se certificar de que as pacientes não têm doença neurológica, como convulsões equivalentes a epilepsia, tumores do sistema nervoso central, síndrome de Klüver-Bucy ou síndrome de Kleine-Levin; • Pacientes com bulimia nervosa que têm transtorno afetivo sazonal concomitante e padrões de depressão atípica (com ingestão excessiva e sono excessivo em meses com pouca luz) podem manifestar piora sazonal com características de Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 bulimia nervosa e depressivas. Nesses casos, os ataques costumam ser muito mais graves durante os meses do inverno; • Algumas pacientes com bulimia nervosa – talvez 15% – apresentam múltiplos comportamentos compulsivos comórbidos, incluindo abuso de substância, e falta de capacidade de se controlar em áreas diversas, como na administração do próprio dinheiro (resultando em compras impulsivas e compulsivas) e em relações sexuais (muitas vezes resultando em vínculos passionais breves e promiscuidade). Elas exibem automutilação, emoções caóticas e padrões de sono caóticos; • Com frequência, satisfazem os critérios para transtorno da personalidade borderline e outros transtornos mistos da personalidade e, não raramente, transtorno bipolar II. CURSO E PROGNÓSTICO: • Taxas mais elevadas de recuperação parcial de completa em comparação com a anorexia nervosa; • As pacientes que são tratadas apresentam melhores resultados do que as que não o são. Estas últimas tendem a permanecer crônicas ou, com o tempo, podem apresentar pequenos graus de melhora, mas em geral inexpressivos; • A taxa de mortalidade é estimada em 2% por década. TRATAMENTO: Psicoterápico: • TCC; • Terapia de apoio; • Psicodinâmico; • Familiar. Acompanhamento nutricional: diário alimentar. Cuidados gerais: acompanhamento clínico, correção das alterações; Medicamentoso: • Antidepressivos (fluoxetina – 1a escolha, sertralina, citalopram); • Evitar bupropriona e IMAO; • Anticonvulsivantes (topiramato); • Outros (ansiolíticos, sintomáticos, de comorbidades). Hospitalização. • Indivíduos com transtorno de compulsão alimentar se engajam em compulsão alimentar recorrente durante a qual ingerem uma quantidade anormalmente grande de comida em um curto período de tempo; • Diferentemente da bulimia nervosa, pacientes com esse transtorno não têm comportamento compensatório inapropriado após um episódio de compulsão alimentar (p. ex., uso de laxante); • Os episódios de compulsão alimentar com frequência ocorrem privadamente, em geral incluem alimentos com denso conteúdo calórico, e, ao acontecerem, a pessoa sente que não consegue controlar sua ingestão. EPIDEMIOLOGIA: • É o transtorno mais comum; • 25% dos pacientes com obesidade e 50 a 75% daqueles com obesidade grave; • É mais comum em mulheres. ETIOLOGIA: • Personalidade impulsiva e extrovertida; • Pode ocorrer em períodos de estresse; • Pode ser usada para reduzir a ansiedade ou aliviar humor deprimido. DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: • Os episódios de compulsão alimentar devem ser caracterizados por quatro aspectos: 1. Comer de modo mais rápido do que o normal e até se sentir desconfortavelmente saturado; 2. Comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome; 3. Comer sozinho; 4. Sentir-se culpado ou desgostoso com o episódio. • Esses episódios devem ocorrer ao menos uma vez por semana durante três meses; • Aproximadamente metade dos indivíduos com transtorno de compulsão alimentar é obesa; Transtorno de Compulsão Alimentar Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 • Indivíduos obesos com transtorno de compulsão alimentar têm um início mais precoce de obesidade do que aqueles sem o transtorno; • Existe maior probabilidade de pacientes com esse transtorno terem uma história de peso instável com episódios frequentes de oscilação do peso (ganho ou perda de mais de 10 kg); • O transtorno pode estar associado a insônia, menarca precoce, dor no pescoço ou no ombro e na região lombar, dor muscular crônica e transtornos metabólicos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: • Bulimia nervosa: os pcts com transtorno de compulsão alimentar não reportam comportamento compensatório recorrente; • Anorexia nervosa: os pcts com transtorno de compulsão alimentar não exibem um ímpeto excessivo por magreza e têm peso normal ou são obesos; • Indivíduos obesos com transtorno de compulsão alimentar têm maior ingestão calórica durante episódios de compulsão e não compulsão, maior patologia do transtorno alimentar (i.e., mais ingestão emocional, hábitos alimentares caóticos) e taxas mais altas de transtornos psiquiátricos comórbidos. CURSO E PROGNÓSTICO: • Pouco se sabe sobre o curso desse transtorno; • Obesidade grave é um efeito de longo prazo em mais de 3% dos indivíduos. TRATAMENTO: Psicoterápico: • TCC; • Diário alimentar; • Mindful Eating: Mindful Eating ou comer com atenção plena é estar no momento presente, é estar consciente do corpo, dos pensamentos e das sensações, é sentir os aromas, texturas e sabores dos alimentos sem julgamentos e críticas. → OBSERVAR/SABOREAR/ESTAR PRESENTE/NÃO JULGAMENTO Acompanhamento nutricional. Exercício físico. Medicamentoso: • Antidepressivos (fluoxetina, sertralina, citalopram); • Anticonvulsivantes (topiramato); • Outros (lisdexanfetamina – aprovação recente). Maria Beatriz Valença Saúde Mental 2 • Essa categoria diagnóstica pode ser usada para condições alimentares que podem causar sofrimento, mas que não satisfazem plenamente os critérios para um transtorno alimentar classificado; • Inclui a síndrome do comer noturno, o transtorno de purgação e formas abaixo do limiar da anorexia nervosa, da bulimia nervosa e do transtorno de compulsão alimentar. SÍNDROME DO COMER NOTURNO • Caracterizada pelo consumo excessivo de alimentos depois de uma refeição noturna. O indivíduo em geral tem pouco apetite durante o dia e sofre de insônia; • Ocorre em aproximadamente 2% da população em geral; • Tem prevalência mais elevada entre pacientes com insônia, obesidade (10 a 15%), transtornos alimentares e outros transtornos psiquiátricos; • Em geral, tem início na idade adulta; • Os pacientes com a síndrome têm probabilidade cinco vezes maior de ter um parente em primeiro grau com a mesma condição;• O diagnóstico da síndrome do comer noturno inclui episódios recorrentes de hiperfagia ou ingestão noturna, falta de desejo por comida pela manhã e insônia; • Os sintomas devem persistir por pelo menos três meses e não podem ser secundários a outra condição clínica ou mental; • Pacientes com a síndrome do comer noturno em geral consomem uma grande porção de sua ingestão calórica diária após a refeição da noite. Eles também têm maior probabilidade de acordar durante a noite e de comer ao acordar. A ingestão noturna tende a ocorrer durante o sono não REM e costuma ser de curta duração; • Os pacientes também têm tendência a baixa eficiência do sono e acreditam que só conseguem dormir se comerem. Humor deprimido é comum entre eles, especialmente durante a noite e a madrugada; • Tem curso duradouro, com períodos de remissão com o tratamento; • Pacientes que experimentam pobre qualidade de sono têm mais probabilidade de desenvolver diabetes, obesidade, hipertensão e doença cardiovascular; • Tratamento: ISRSs + topiramato e TCC. TRANSTORNO DE PURGAÇÃO • É caracterizado pelo comportamento recorrente de purgação depois de consumir uma pequena quantidade de alimento em pessoas de peso normal que têm uma visão distorcida de seu peso ou de sua imagem corporal; • O comportamento de purgação inclui vômito autoinduzido e abuso de laxantes, enemas e diuréticos. Para fazer o diagnóstico, o comportamento não deve estar associado com anorexia nervosa. OUTRO TRANSTORNO ALIMENTAR ESPECIFICADO
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