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Transtornos alimentares-convertido

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Maria Beatriz Valença 
Saúde Mental 2 
• Comportamento alimentar disfuncional; 
 
• Preocupações envolvendo medo de engordar e/ou distorção 
da imagem corporal; 
 
• Preocupação extrema com comida/alimentação; 
 
• Fatores de risco: 
1. Ambientais: 
✓ Culturas e contextos que valorizam a magreza; 
✓ Ocupações que exijam e valorizem a forma física 
(modelos, atletas, bailarinas, nutricionais...) 
✓ Relações familiares conflituosas; 
✓ Abuso sexual ou físico na infância. 
 
2. Temperamentais: 
✓ Transtornos de ansiedade; 
✓ Sintomas depressivos; 
✓ Fobia social; 
✓ Baixa autoestima; 
✓ Afeto negativo; 
✓ Preocupações com o peso. 
 
3. Genéticos e fisiológicos: 
✓ Gêmeos monozigóticos; 
✓ Parentes de primeiro grau; 
✓ Parentes com transtorno do humor; 
✓ Obesidade infantil; 
✓ Maturação puberal precoce. 
 
• Síndrome caracterizada por 3 critérios essenciais: 
1. Inanição eutoinduzida até um grau significativo – 
um comportamento; 
2. Busca incessante por magreza ou medo mórbido de 
engordar – uma psicopatologia; 
3. Presença de sinais e sintomas resultantes da 
inanição – uma sintomatologia fisiológica. 
 
• Com frequência, está associada a distúrbios da imagem 
corporal, à percepção do indivíduo de que ele é 
angustiantemente grande apesar da inanição médica óbvia. 
Essa distorção é perturbadora quando presente, mas não 
patognomônica, invariável ou necessária para o diagnóstico; 
 
• Há dois subtipos: a restritiva e a compulsão alimentar 
purgativa. O tema em ambos é a ênfase altamente 
desproporcional colocada na magreza como uma fonte vital, 
às vezes a única fonte, de autoestima, sendo o peso e, até 
certo ponto, a forma física transformados na preocupação 
principal e desgastante que toma conta dos pensamentos, 
humor e comportamentos durante o dia inteiro; 
 
• Aproximadamente metade das pessoas anoréxicas irá 
perder peso reduzindo de forma drástica sua ingestão 
alimentar. A outra metade não só fará dieta como também 
se envolverá com regularidade em compulsão alimentar 
seguida de comportamentos purgativos; 
 
• Mais prevalente em mulheres e em geral tem início na 
adolescência; 
 
• As hipóteses de um transtorno psicológico subjacente em 
mulheres jovens com a síndrome incluem conflitos em torno 
da transição da juventude para a idade adulta. Questões 
psicológicas relacionadas a sentimentos de desamparo e 
dificuldade em estabelecer autonomia também foram 
sugeridas como contribuintes para o desenvolvimento da 
condição; 
 
• Podem ocorrer sintomas bulímicos como um transtorno 
separado ou como parte da anorexia nervosa. As pessoas 
com um dos transtornos são excessivamente preocupadas 
com o peso, alimentos e a forma do corpo; 
 
• O desfecho da anorexia nervosa varia de uma recuperação 
espontânea a um curso com aumento e diminuição na 
intensidade até a morte. 
 
EPIDEMIOLOGIA: 
• Durante as últimas décadas, houve aumento dos relatos do 
transtorno em meninas e meninos pré-púberes; 
 
• A época mais comum de início é na metade da adolescência, 
mas até 5% dos pcts anoréxicos têm o início do transtorno 
no começo da década dos 20 anos. A idade mais comum de 
início é entre 14 e 18 ano; 
 
• 0,5 a 1% das meninas adolescentes; 
 
• 10 a 20 vezes mais frequente em mulheres; 
Transtornos Alimentares 
Anorexia Nervosa 
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Saúde Mental 2 
 
• A prevalência de mulheres jovens com alguns sintomas de 
anorexia nervosa que não preenchem os critérios 
diagnósticos é estimada em cerca de 5%; 
 
• Parece ser mais frequente em países desenvolvidos e pode 
ser mais observado entre mulheres jovens em profissões 
que requerem magreza, como modelo ou bailarina. 
 
COMORBIDADE: 
• Depressão: 65% dos casos; → Pessoas com anorexia 
nervosa têm altas taxas de transtorno depressivo maior 
comórbido; foi relatado transtorno depressivo maior ou 
transtorno distímico em até 50% dos pacientes com 
anorexia nervosa. 
• Fobia social: 35% dos casos; 
• TOC: 25% dos casos. 
 
ETIOLOGIA: 
• Fatores biológicos, sociais e psicológicos; 
• Algumas evidências apontam para taxas mais elevadas de 
concordância nos gêmeos homozigóticos do que nos gêmeos 
dizigóticos; 
• Irmãs de pacientes com anorexia nervosa têm probabilidade 
de ser afetadas, porém essa associação pode refletir 
influências sociais mais do que fatores genéticos; 
• Transtornos do humor mais graves são mais comuns em 
membros da família do que na população em geral; 
• Neuroquimicamente, turnover e atividade reduzida da 
norepinefrina são sugeridos pelos níveis reduzidos de 3-
metóxi-4-hidroxifenilglicol (MHPG) na urina e no 
líquidocerebrospinal (LCS) de alguns pacientes com 
anorexia nervosa. Uma relação inversa é vista entre MHPG 
e depressão nesses pacientes; um aumento no MHPG está 
associado a uma redução na depressão. 
Fatores biológicos: 
• Opioides endógenos podem contribuir para a negação da 
fome em indivíduos com anorexia nervosa. Estudos 
preliminares mostram ganho de peso substancial em alguns 
pacientes que recebem antagonistas opiáceos; 
 
• Hipercortisolemia e não supressão pela dexametasona, 
também presentes na depressão; 
 
• A função da tireoide também é suprimida; 
 
• A inanição pode produzir amenorreia, que reflete a redução 
nos níveis hormonais (hormônios luteinizante, folículo-
estimulante e liberador de gonadotrofina). Algumas 
pacientes, no entanto, se tornam amenorreicas antes de 
uma perda de peso significativa; 
 
• Estudos de TC revelam espaços aumentados com LCS 
(sulcos e ventrículos aumentados) em pcts anoréxicos 
durante a inanição, um acho que é revertido pelo ganho de 
peso; 
 
• Tomografia por emissão de pósitrons (PET): o metabolismo 
do núcleo caudado era mais alto no estado anoréxico do que 
depois da retroalimentação; 
 
• Disfunção no eixo hipotalâmico-hipofisário 
(neuroendócrina); 
 
• Disfunção na serotonina, dopamina e norepinefrina, três 
neurotransmissores envolvidos na regulação do 
comportamento de alimentação no núcleo paraventricular 
do hipotálamo; 
 
• Outros fatores humorais que podem estar envolvidos 
incluem o fator liberador de corticotrofina (CRH), o 
neuropeptídeo Y, o hormômio liberador de gonadotrofina e o 
hormônio estimulador da tireoide. 
Fatores sociais: 
• Apoio na ênfase que a sociedade coloca na magreza e no 
exercício; 
 
• Estudos indicam que esses indivíduos têm relações 
próximas, mas problemáticas, com seus pais; 
 
• As famílias de crianças que apresentam transtornos 
alimentares, especialmente os subtipos de compulsão 
alimentar purgativa, podem exibir hostilidade, caos e 
isolamento e baixos níveis de conforto e empatia; 
 
• Um adolescente com um transtorno alimentar grave pode 
tender a desviar sua atenção de relações conjugais tensas; 
 
• Em mulheres jovens, a participação em escolas de ballet 
rigorosas aumenta a possibilidade de desenvolvimento de 
anorexia nervosa em pelo menos sete vezes; 
 
• Em meninos do ensino médio, a luta está associada a uma 
prevalência de 17% para síndromes de transtorno alimentar 
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completo ou parcial durante a temporada de lutas, com uma 
minoria desenvolvendo um transtorno alimentar e não 
melhorando de maneira espontânea no fim do treinamento; 
 
• Homossexualidade em homens é um fator predisponente 
comprovado. 
Obs.: uma orientação lésbica pode ser um pouco mais protetora 
porque as comunidades lésbicas são mais tolerantes quanto a 
pesos mais elevados e a uma distribuição natural mais normativa 
da forma corporal do que suas contrapartidas heterossexuais 
femininas. 
Fatores psicológicos e psicodinâmicos: 
A anorexia nervosa parece ser uma reação à demanda 
de que os adolescentes se comportem de forma mais 
independente e aumentem seu funcionamento social e sexual. 
Indivíduos com o transtorno substituem as preocupações 
adolescentes normais por outras preocupações, quesão 
semelhantes a obsessões, com a alimentação e o ganho de peso. 
Esses indivíduos carecem de um senso de autonomia e 
individualidade. 
Muitos deles experimentam seu corpo como, de certa 
forma, sob o controle de seus pais, de modo que sua autoinanição 
pode ser um esforço para obter validação como uma pessoa 
única e especial. Somente por meio de atos de extraordinária 
autodisciplina é que um indivíduo anoréxico pode desenvolver um 
senso de autonomia e individualidade. 
DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: 
• O início do transtorno costuma ocorrer entre 10 e 30 anos 
de idade; 
• Está presente quando: 
1. O indivíduo voluntariamente reduz e mantém um grau 
doentio de perda de peso ou não consegue ganhar peso 
proporcional ao crescimento; 
2. O indivíduo experimenta um medo intenso d engordar, 
tem uma busca incessante por magreza apesar da 
inanição médica óbvia, ou ambos; 
3. O indivíduo experimenta sintomatologia médica 
significativa relacionada à inanição, de forma 
frequente, mas não exclusiva, funcionamento anormal 
do hormônio reprodutivo, mas também hipotermia, 
bradicardia, ortostase e reservas de gordura corporal 
severamente reduzidas; 
4. Os comportamentos e a psicopatologia estão presentes 
por pelo menos três meses. 
 
• Medo intenso de ganhar peso e ficar obeso está 
presente em todos os indivíduos com o transtorno; 
 
• Um comportamento mais aberrante direcionado para a 
perda de peso ocorre em segredo; 
 
• Em geral, pessoas com esse transtorno se recusam a 
fazer refeições com sua família ou em lugares públicos; 
 
• Perdem peso reduzindo drasticamente sua ingestão 
alimentar total, com diminuição desproporcional dos 
alimentos com alto teor de carboidratos e gordura; 
 
• Alguns não conseguem controlar de forma contínua sua 
restrição voluntária da ingestão alimentar e, por isso, 
têm ataques de compulsão alimentar. Esses ataques, 
via de regra, ocorrem em segredo e em geral à noite e 
com frequência são seguidos de vômito autoinduzido. 
Os pacientes abusam de laxantes e diuréticos para 
perder peso, e exercícios ritualísticos, andar de 
bicicleta, caminhar e correr excessivamente são 
atividades comuns; 
 
• Exibem comportamento peculiar em relação à comida. 
Por exemplo: Escondem comida por toda a casa e 
frequentemente carregam grandes quantidades de 
doces nos bolsos e em bolsas; 
 
• Comportamento obsessivo-compulsivo, depressão e 
ansiedade são outros sintomas psiquiátricos de 
anorexia nervosa observados clinicamente de forma 
mais frequente; 
 
• Os pacientes tendem a ser rígidos e perfeccionistas, e 
queixas somáticas, sobretudo desconforto epigástrico, 
são comuns; 
 
• Pode ocorrer roubo compulsivo, em geral de doces e 
laxantes, mas ocasionalmente de roupas ou outros 
itens; 
 
• Um pobre ajustamento sexual é com frequência 
descrito em pacientes com o transtorno. Muitos 
adolescentes com anorexia nervosa têm seu 
desenvolvimento psicossocial atrasado; em adultos, 
interesse por sexo acentuadamente reduzido costuma 
acompanhar o início do problema. Uma minoria dos 
pacientes anoréxicos tem história pré-mórbida de 
promiscuidade, abuso de substância ou ambos, mas 
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durante o transtorno apresentam redução no interesse 
por sexo; 
 
• À medida que a perda de peso de torna profunda 
aparecem sinais físicos: hipotermia, edema 
dependente, bradicardia, hipotensão e lanugem, bem 
como uma variedade de alterações metabólicas; 
 
• Amenorreia; 
 
• Alcalose hipocalêmica → devido à indução de vômito 
ou abuso de purgativos e diuréticos; 
 
• Também pode ser observado prejuízo na eliminação de 
água (diurese); 
 
• Alterações ECG: achatamento ou inversão da onda T, 
depressão do segmento ST e prolongamento do 
intervalo QT → observadas no estágio emaciado da 
anorexia nervosa. Essas alterações também podem 
resultar da perda de potássio, o que pode levar à morte; 
 
• Dilatação gástrica é uma complicação rara desse 
transtorno; 
 
• Em alguns pacientes, a aortografia apresentou uma 
síndrome da artéria mesentérica superior. 
 
SUBTIPOS: 
Restrição alimentar: 
• Presente em cerca de 50% dos casos; 
 
• Ingestão alimentar restrita. Em geral, com tentativa de 
consumir menos de 300 a 500 calorias por dia e nenhum 
grama de gordura; 
 
• O paciente pode ser incansável e compulsivamente 
hiperativo, com lesões esportivas por esforço excessivo; 
 
• As pessoas que apresentam anorexia nervosa restritiva 
costumam ter traços obsessivo-compulsivos em relação a 
comida e outros assuntos. 
Purgação: 
• Os indivíduos alternam tentativas de dieta rigorosa com 
compulsão intermitente ou episódios de purgação; 
 
• A purgação representa uma compensação secundária para 
as calorias indesejadas, muitas vezes realizada por meio de 
vômito autoinduzido, com frequência por uso de laxantes, 
menos frequentemente por diuréticos, e algumas vezes com 
eméticos; 
 
• Existem casos de purgação repetitiva sem compulsão 
alimentar prévia, após a ingestão de bem poucas calorias; 
 
• Ambos os tipos podem ser socialmente isolados e com 
sintomas de transtorno depressivo e diminuição do 
interesse sexual; 
 
• Exercício em excesso e traços perfeccionistas também são 
comuns em ambos os tipos. 
Obs.: Transtorno de compulsão alimentar: caracterizado por 
ataques episódicos com a ingestão de quantidades 
excessivas de comida, mas sem purgação ou 
comportamento compensatório similar. 
• Compulsão alimentar-purgação: maior taxa de suicídio 
em comparação a taxa entre aqueles pcts com anorexia 
nervosa do tipo restritivo. Pessoas com compulsão 
alimentar-purgação têm maior probabilidade de estar 
associadas a abuso de substância, transtorno do controle 
de impulsos e transtorno de personalidade; 
 
• Algumas pessoas com anorexia nervosa podem purgar, mas 
não têm compulsão. 
 
PATOLOGIA E EXAMES LABORATORIAIS: 
• Hemograma: leucopenia com linfocitose relativa em 
paciente emaciadas com anorexia nervosa; 
 
• Se estiver presente compulsão alimentar e purgação, a 
determinação dos eletrólitos séricos revela alcalose 
hipocalêmica; 
 
• ECG: alterações no segmento ST e na onda T, que são, em 
geral, secundárias a distúrbios eletrolíticos; 
 
• Pacientes emaciadas têm hipotensão e bradicardia; 
 
• Garotas jovens podem ter um nível alto de colesterol sérico; 
 
• Alterações endócrinas, como: amenorreia, hipotireoidismo 
leve e hipersecreção do hormônio liberador da 
corticotrofina. 
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DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: 
• Condições clínicas que possam justificar a perda de peso, 
como, p. ex., tumor cerebral ou câncer; 
• Transtornos depressivos; 
• Transtornos de sintomas somáticos; 
• Bulimia nervosa; 
• São encontradas condições raras de etiologia desconhecida 
nas quais a hiperatividade do nervo vago causa alterações 
nos padrões alimentares que estão associadas com perda 
de peso, às vezes em grau elevado. Em tais casos, são 
observados bradicardia, hipotensão e outros sinais e 
sintomas parassimpatomiméticos. Visto que o nervo vago 
está relacionado ao sistema nervoso entérico, comer pode 
estar associado a desconforto gástrico, como náusea ou 
inchaço. Os pacientes geralmente não perdem o apetite. 
 
CURSO E PROGNÓSTICO: 
• O curso da anorexia nervosa varia enormemente – 
recuperação espontânea sem tratamento, recuperação 
depois de uma variedade de tratamentos, um curso flutuante 
de ganhos de peso seguido por recaída e um curso de 
deterioração gradual resultando em morte causada por 
complicações da inanição; 
 
• Pacientes com o transtorno do tipo restritivo parecem ter 
menos probabilidade de se recuperar do que as com o tipo 
compulsão alimentar-purgação; 
 
• Em geral, o prognóstico não é bom; 
 
• Taxas de mortalidade variam de 5 a 18%; 
 
• Fatores relacionados a bom prognóstico: admissão da fome, 
redução danegação e imaturidade e melhora na autoestima; 
 
• Fatores relacionados a mau prognóstico: neuroticismo 
infantil, conflito parental, bulimia nervosa, vômitos, abuso de 
laxativos e várias manifestações comportamentais (p. ex., 
sintomas obsessivo-compulsivos, histéricos, depressivos, 
psicossomáticos, neuróticos e de negação). 
TRATAMENTO: 
 
Psicoterápico: 
• TCC; 
• Terapia de apoio familiar. 
Psicologia Nutrição
Nutrologia Psiquiatria
Acompanhamento 
Multidisciplinar
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Cuidados gerais: 
• Acompanhamento clínico; 
• Correção das alterações; 
• Acompanhamento nutricional; 
• Reposição calórica. 
Medicamentoso: 
• Antidepressivos (ISRS: fluoxetina); 
• Orexígenos (ciproeptadina); 
• Antipsicóticos (olanzapina, risperidona); 
• Outros (ansiolíticos); 
• Sintomáticos e das comorbidades. 
Hospitalização. 
 
• Caracterizada por episódios de compulsão alimentar 
combinados com formas inapropriadas de interromper 
o ganho de peso; 
 
• O desconforto físico – por exemplo, dor abdominal ou 
náusea – interrompe a compulsão alimentar, que é 
frequentemente acompanhada de sentimento de culpa, 
depressão ou autoindignação; 
 
• Diferentemente das pacientes com anorexia nervosa, 
aquelas com bulimia nervosa em geral mantêm um peso 
corporal normal; 
 
• Independentemente da razão, a compulsão alimentar 
provoca pânico quando os indivíduos percebem que sua 
ingestão alimentar está fora de controle; 
 
• A compulsão alimentar indesejada leva a tentativas 
secundárias de evitar o ganho de peso temido por meio de 
uma variedade de comportamentos compensatórios, como 
purgação ou exercícios em excesso. 
EPIDEMIOLOGIA: 
• É mais prevalente do que anorexia nervosa; 
 
• 1 a 4% em mulheres jovens; 
 
• É mais comum em mulheres; 
 
• Seu início costuma ser mais no fim da adolescência, podendo 
ocorrer também no começo da idade adulta; 
 
• Embora a bulimia esteja frequentemente presente em 
mulheres jovens com peso normal, elas por vezes têm uma 
história de obesidade; 
 
• Em países industrializados, a prevalência é de cerca de 1% 
na população em geral. 
ETIOLOGIA: 
Fatores biológicos: 
• Como os antidepressivos frequentemente beneficiam 
pacientes com bulimia nervosa, e como a serotonina foi 
associada à saciedade, a serotonina e a norepinefrina foram 
implicadas; 
 
• Visto que os níveis plasmáticos de endorfina são elevados 
em algumas pacientes com bulimia nervosa que vomitam, o 
sentimento de bem-estar após o vômito que algumas delas 
experimentam pode ser mediado pela elevação dos níveis de 
endorfina; 
 
• É encontrada frequência aumentada de bulimia nervosa em 
parentes em primeiro grau de pessoas com o transtorno; 
 
• Pesquisas recentes usando exame de imagem por 
ressonância magnética (RM) sugerem que o comer 
excessivo na bulimia nervos pode resultar de uma 
percepção exagerada dos sinais de fome relacionados ao 
gosto doce mediados pela região insular anterior direita do 
cérebro. 
Fatores sociais: 
• Pacientes com esse transtorno tendem a ser pessoas com 
alto desempenho e a responder às pressões sociais de ser 
esbeltas; 
 
• Muitas são deprimidos e têm maior depressão familiar, mas 
as famílias das que têm bulimia são em geral menos 
próximas e com mais conflitos do que as daquelas com 
anorexia. As que sofrem com bulimia descrevem seus pais 
como negligentes ou rejeitadores. 
Fatores psicológicos: 
• Pacientes com bulimia nervosa, assim como aquelas com 
anorexia nervosa, têm dificuldades com as demandas da 
adolescência, mas as com bulimia nervosa são mais 
extrovertidas, irritadas e impulsivas do que aquelas com 
anorexia; 
 
Bulimia Nervosa 
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• Dependência de álcool, furtos em lojas e labilidade 
emocional (incluindo tentativas de suicídio) estão 
associados com bulimia; 
 
• Pacientes com bulimia nervosa carecem do controle do 
superego e da força de ego das suas contrapartidas com 
anorexia nervosa. Suas dificuldades no controle dos 
impulsos são com frequência manifestadas por dependência 
de substância e relações sexuais autodestrutivas, além de 
pela compulsão alimentar e purga que caracterizam o 
transtorno; 
 
• Muitas pacientes com bulimia nervosa têm história de 
dificuldades de separação dos cuidadores, manifestadas 
pela ausência de objetos transicionais durante seus 
primeiros anos na infância. 
DIAGNÓSTICO E CARACTTERÍSTICAS CLÍNICAS: 
• A bulimia nervosa está presente quando: 
1. Episódios de compulsão alimentar ocorrem com 
relativa frequência (uma vez por semana ou mais) 
por pelo menos três meses; 
2. São praticados comportamentos compensatórios 
depois da compulsão alimentar para impedir o 
ganho de peso, sobretudo vômito induzido, abuso de 
laxativos, diuréticos, enemas, abuso de eméticos 
(80% dos casos) e, menos comumente, dieta 
severa com exercícios extenuantes (20% dos 
casos); 
3. O peso não é reduzido de forma drástica como na 
anorexia nervosa; 
4. A paciente tem um medo mórbido de obesidade, um 
ímpeto incessante pela magreza, ou ambos, e uma 
autoavaliação desproporcional que depende do 
peso e da forma corporal. 
 
• Ao fazer um diagnóstico de bulimia nervosa, os clínicos 
devem explorar a possibilidade de que a paciente tenha 
passado por um episódio anterior breve ou prolongado de 
anorexia nervosa, que está presente em aproximadamente 
metade daquelas com bulimia nervosa; 
 
• A compulsão alimentar em geral precede o comportamento 
de vomitar em cerca de um ano; 
 
• Os vômitos são comuns e costumam ser induzidos pela 
inserção de um dedo no fundo da garganta, embora algumas 
pacientes consigam vomitar quando querem; 
 
• O vômito reduz a dor abdominal e a sensação de inchaço e 
permite que continuem a comer sem medo de ganhar peso; 
 
• O conteúdo ácido do vômito pode causar danos ao esmalte 
dos dentes, um achado nada incomum em pessoas com o 
transtorno; 
 
• Depressão, por vezes denominada angústia pós-compulsão, 
frequentemente se segue ao episódio; 
 
• Durante os episódios de compulsão alimentar, as pacientes 
comem doces, alimentos com alto teor calórico e, em geral, 
macios ou texturizados, como bolos e massas. Algumas 
preferem alimentos volumosos sem levar em conta o sabor; 
 
• O alimento é comido rapidamente às escondidas e às vezes 
nem mesmo é mastigado; 
 
• A maioria das pacientes com bulimia nervosa está em sua 
variação normal de peso, mas algumas podem estar abaixo 
do peso ou com sobrepeso; 
 
• Essas pacientes são preocupadas com sua imagem corporal 
e aparência, com a forma como os outros as veem e com 
sua atratividade sexual. A maioria é sexualmente ativa, em 
comparação com as pacientes que apresentam anorexia 
nervosa, que não são interessadas em sexo; 
 
• Pica e discussões durante as refeições são por vezes 
reveladas nas histórias de pacientes com bulimia nervosa; 
 
• A bulimia nervosa ocorre em pessoas com altas taxas de 
transtornos do humor e transtornos do controle de 
impulsos. Também é reportada a ocorrência de bulimia 
naquelas em risco de transtornos relacionados ao uso de 
substância e a uma variedade de transtornos da 
personalidade. Pacientes com essa condição também têm 
taxas mais elevadas de transtornos de ansiedade, 
transtorno bipolar I, transtornos dissociativos e história de 
abuso sexual. 
GRAVIDADE: 
• Leve: 1 a 3 episódios de comportamentos 
compensatórios inapropriados por semana; 
• Moderada: 4 a 7 episódios por semana; 
• Grave – 8 a 13 episódios por semana; 
• Extrema – 14 ou mais episódios por semana. 
 
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SUBTIPOS: 
Tipo purgativo: 
• As pacientes regularmente se engajam em vômito 
autoinduzido ou no uso de laxantes ou diuréticos; 
• Risco para certas complicações médicas, como: hipocalemia 
por vômito ou abuso de laxativos e alcalose hipoclorêmica; 
• Aquelas que vomitam repetidamenteestão em risco de 
rupturas gástricas ou esofágicas, embora essas 
complicações sejam raras. 
 
Tipo não purgativo: 
• Usam dieta restritiva, jejum ou exercícios vigorosos, mas 
não se engajam com regularidade em purga; 
• Tendem a ter menor perturbação da imagem corporal e 
menos ansiedade em relação à alimentação; 
• Tendem a ser obesas. 
 
PATOLOGIA E EXAMES LABORATORIAIS: 
• Pode resultar em anormalidades eletrolíticas e graus 
variados de inanição, ainda que isso possa não ser tão óbvio 
quando em pacientes de baixo peso com anorexia. Portanto, 
mesmo pacientes de peso normal com bulimia nervosa 
devem se submeter a estudos laboratoriais de eletrólitos e 
metabolismo; 
 
• Em geral, a função da tireoide permanece intacta na bulimia 
nervosa, mas as pacientes podem apresentar não 
supressão em um teste de supressão da dexametasona; 
• Desidratação e distúrbios eletrolíticos; 
 
• Hipomagnesemia e hiperamilasemia; 
 
• Embora não seja uma característica diagnóstica central, 
muitas pacientes com esse transtorno têm distúrbios 
menstruais; 
 
• Hipotensão e bradicardia ocorrem em alguns casos. 
 
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: 
• O diagnóstico de bulimia nervosa não pode ser feito se os 
comportamentos de compulsão alimentar e purgação 
ocorrerem exclusivamente durante episódios de anorexia 
nervosa. Em tais casos, o diagnóstico será anorexia 
nervosa, tipo compulsão alimentar purgativa; 
 
• Os clínicos devem se certificar de que as pacientes não têm 
doença neurológica, como convulsões equivalentes a 
epilepsia, tumores do sistema nervoso central, síndrome de 
Klüver-Bucy ou síndrome de Kleine-Levin; 
 
• Pacientes com bulimia nervosa que têm transtorno afetivo 
sazonal concomitante e padrões de depressão atípica (com 
ingestão excessiva e sono excessivo em meses com pouca 
luz) podem manifestar piora sazonal com características de 
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bulimia nervosa e depressivas. Nesses casos, os ataques 
costumam ser muito mais graves durante os meses do 
inverno; 
 
• Algumas pacientes com bulimia nervosa – talvez 15% – 
apresentam múltiplos comportamentos compulsivos 
comórbidos, incluindo abuso de substância, e falta de 
capacidade de se controlar em áreas diversas, como na 
administração do próprio dinheiro (resultando em compras 
impulsivas e compulsivas) e em relações sexuais (muitas 
vezes resultando em vínculos passionais breves e 
promiscuidade). Elas exibem automutilação, emoções 
caóticas e padrões de sono caóticos; 
 
• Com frequência, satisfazem os critérios para transtorno da 
personalidade borderline e outros transtornos mistos da 
personalidade e, não raramente, transtorno bipolar II. 
CURSO E PROGNÓSTICO: 
• Taxas mais elevadas de recuperação parcial de completa em 
comparação com a anorexia nervosa; 
 
• As pacientes que são tratadas apresentam melhores 
resultados do que as que não o são. Estas últimas tendem a 
permanecer crônicas ou, com o tempo, podem apresentar 
pequenos graus de melhora, mas em geral inexpressivos; 
 
• A taxa de mortalidade é estimada em 2% por década. 
 
TRATAMENTO: 
Psicoterápico: 
• TCC; 
• Terapia de apoio; 
• Psicodinâmico; 
• Familiar. 
Acompanhamento nutricional: diário alimentar. 
Cuidados gerais: acompanhamento clínico, correção das 
alterações; 
Medicamentoso: 
• Antidepressivos (fluoxetina – 1a escolha, sertralina, 
citalopram); 
• Evitar bupropriona e IMAO; 
• Anticonvulsivantes (topiramato); 
• Outros (ansiolíticos, sintomáticos, de comorbidades). 
Hospitalização. 
• Indivíduos com transtorno de compulsão alimentar se 
engajam em compulsão alimentar recorrente durante a 
qual ingerem uma quantidade anormalmente grande de 
comida em um curto período de tempo; 
 
• Diferentemente da bulimia nervosa, pacientes com esse 
transtorno não têm comportamento compensatório 
inapropriado após um episódio de compulsão alimentar 
(p. ex., uso de laxante); 
 
• Os episódios de compulsão alimentar com frequência 
ocorrem privadamente, em geral incluem alimentos 
com denso conteúdo calórico, e, ao acontecerem, a 
pessoa sente que não consegue controlar sua ingestão. 
 
EPIDEMIOLOGIA: 
• É o transtorno mais comum; 
• 25% dos pacientes com obesidade e 50 a 75% daqueles com 
obesidade grave; 
• É mais comum em mulheres. 
ETIOLOGIA: 
• Personalidade impulsiva e extrovertida; 
• Pode ocorrer em períodos de estresse; 
• Pode ser usada para reduzir a ansiedade ou aliviar humor 
deprimido. 
 
DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: 
• Os episódios de compulsão alimentar devem ser 
caracterizados por quatro aspectos: 
1. Comer de modo mais rápido do que o normal e até 
se sentir desconfortavelmente saturado; 
2. Comer grandes quantidades de alimento na 
ausência da sensação física de fome; 
3. Comer sozinho; 
4. Sentir-se culpado ou desgostoso com o episódio. 
 
• Esses episódios devem ocorrer ao menos uma vez por 
semana durante três meses; 
 
• Aproximadamente metade dos indivíduos com transtorno de 
compulsão alimentar é obesa; 
 
Transtorno de Compulsão Alimentar 
Maria Beatriz Valença 
Saúde Mental 2 
• Indivíduos obesos com transtorno de compulsão alimentar 
têm um início mais precoce de obesidade do que aqueles 
sem o transtorno; 
 
• Existe maior probabilidade de pacientes com esse 
transtorno terem uma história de peso instável com 
episódios frequentes de oscilação do peso (ganho ou perda 
de mais de 10 kg); 
 
• O transtorno pode estar associado a insônia, menarca 
precoce, dor no pescoço ou no ombro e na região lombar, 
dor muscular crônica e transtornos metabólicos. 
 
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: 
• Bulimia nervosa: os pcts com transtorno de compulsão 
alimentar não reportam comportamento compensatório 
recorrente; 
 
• Anorexia nervosa: os pcts com transtorno de compulsão 
alimentar não exibem um ímpeto excessivo por magreza e 
têm peso normal ou são obesos; 
 
• Indivíduos obesos com transtorno de compulsão alimentar 
têm maior ingestão calórica durante episódios de 
compulsão e não compulsão, maior patologia do transtorno 
alimentar (i.e., mais ingestão emocional, hábitos alimentares 
caóticos) e taxas mais altas de transtornos psiquiátricos 
comórbidos. 
 
CURSO E PROGNÓSTICO: 
• Pouco se sabe sobre o curso desse transtorno; 
• Obesidade grave é um efeito de longo prazo em mais de 3% 
dos indivíduos. 
 
TRATAMENTO: 
Psicoterápico: 
• TCC; 
• Diário alimentar; 
• Mindful Eating: Mindful Eating ou comer com atenção plena é 
estar no momento presente, é estar consciente do corpo, 
dos pensamentos e das sensações, é sentir os aromas, 
texturas e sabores dos alimentos sem julgamentos e 
críticas. → OBSERVAR/SABOREAR/ESTAR 
PRESENTE/NÃO JULGAMENTO 
 
Acompanhamento nutricional. 
Exercício físico. 
Medicamentoso: 
• Antidepressivos (fluoxetina, sertralina, citalopram); 
• Anticonvulsivantes (topiramato); 
• Outros (lisdexanfetamina – aprovação recente). 
 
 
 
 
Maria Beatriz Valença 
Saúde Mental 2 
• Essa categoria diagnóstica pode ser usada para condições 
alimentares que podem causar sofrimento, mas que não 
satisfazem plenamente os critérios para um transtorno 
alimentar classificado; 
 
• Inclui a síndrome do comer noturno, o transtorno de 
purgação e formas abaixo do limiar da anorexia nervosa, da 
bulimia nervosa e do transtorno de compulsão alimentar. 
 
SÍNDROME DO COMER NOTURNO 
• Caracterizada pelo consumo excessivo de alimentos 
depois de uma refeição noturna. O indivíduo em geral 
tem pouco apetite durante o dia e sofre de insônia; 
 
• Ocorre em aproximadamente 2% da população em geral; 
 
• Tem prevalência mais elevada entre pacientes com insônia, 
obesidade (10 a 15%), transtornos alimentares e outros 
transtornos psiquiátricos; 
 
• Em geral, tem início na idade adulta; 
 
• Os pacientes com a síndrome têm probabilidade cinco vezes 
maior de ter um parente em primeiro grau com a mesma 
condição;• O diagnóstico da síndrome do comer noturno inclui 
episódios recorrentes de hiperfagia ou ingestão 
noturna, falta de desejo por comida pela manhã e 
insônia; 
 
• Os sintomas devem persistir por pelo menos três 
meses e não podem ser secundários a outra condição 
clínica ou mental; 
 
• Pacientes com a síndrome do comer noturno em geral 
consomem uma grande porção de sua ingestão calórica 
diária após a refeição da noite. Eles também têm maior 
probabilidade de acordar durante a noite e de comer ao 
acordar. A ingestão noturna tende a ocorrer durante o sono 
não REM e costuma ser de curta duração; 
 
• Os pacientes também têm tendência a baixa eficiência do 
sono e acreditam que só conseguem dormir se comerem. 
Humor deprimido é comum entre eles, especialmente 
durante a noite e a madrugada; 
 
• Tem curso duradouro, com períodos de remissão com o 
tratamento; 
 
• Pacientes que experimentam pobre qualidade de sono têm 
mais probabilidade de desenvolver diabetes, obesidade, 
hipertensão e doença cardiovascular; 
 
• Tratamento: ISRSs + topiramato e TCC. 
 
TRANSTORNO DE PURGAÇÃO 
• É caracterizado pelo comportamento recorrente de 
purgação depois de consumir uma pequena quantidade 
de alimento em pessoas de peso normal que têm uma 
visão distorcida de seu peso ou de sua imagem 
corporal; 
 
• O comportamento de purgação inclui vômito 
autoinduzido e abuso de laxantes, enemas e diuréticos. 
Para fazer o diagnóstico, o comportamento não deve 
estar associado com anorexia nervosa. 
 
OUTRO TRANSTORNO ALIMENTAR ESPECIFICADO

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