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Lucas Gustavo Novaes Gonçalves Tratamento da pancreatite aguda Tratamento da pancreatite aguda (analgesia, nutrição reposição volêmica) Só para relembrar as formas clínicas, pois estas influenciam totalmente a abordagem terapêutica da pancreatite aguda... Forma leve: - Menos do que três critérios de Ranson positivos e APACHE II < 8. - Ausência de complicações orgânicas sistêmicas. Forma Grave: - Escore de Ranson > 3. - APACHE > 8. - Presença de complicações orgânicas sistêmicas. - Presença de complicações locais como necrose, abscesso e pseudocisto. Como abordar inicialmente um quadro de pancreatite aguda? 1- Reposição volêmica, analgesia e dieta zero. 2- Definir se é a forma leve ou a forma grave de doença (só é possível após 48 horas). 3- Na forma grave, orientar a conduta posterior pelo resultado da TC contrastada (observar se existe necrose > 30% do pâncreas). 4- Observar o surgimento de complicações tardias. 5- Recomeçar a dieta enteral no momento adequado. Tratamento da Forma Leve A forma leve não indica internação em serviço de Terapia Intensiva – O paciente pode ser internado em uma unidade intermediária, permanecer em dieta zero até a melhora do quadro clínico (principalmente a dor) e até que haja peristalse audível. A realimentação oral em geral é possível com 3-5 dias de evolução na forma leve. Os melhores critérios para iniciarmos dieta são a melhora da dor abdominal, o retorno da peristalse, a ausência de vômitos e o paciente manifestar desejo de alimentar-se. O tratamento de suporte nesses casos se resume a: (1) Analgesia – meperidina ou outros opiáceos. Algumas referências mais antigas recomendam evitar o uso de morfina pelo fato desta medicação poder aumentar o tônus do esfíncter de Oddi... Até hoje nunca foi confirmado que o controle álgico com morfina exerce impacto efetivamente negativo na evolução da pancreatite aguda. Logo, se necessário, PODEMOS usar morfina no paciente! (2) Hidratação venosa para reposição volêmica (perdas para o terceiro espaço e pelos vômitos). (3) Controle eletrolítico e ácido-básico – dosagem de eletrólitos diariamente nas primeiras 24h (ex.: hipocalemia e alcalose metabólica devido aos vômitos e hipocalcemia, hipomagnesemia, comum na pancreatite alcoólica...). A forma leve geralmente é a manifestação da pancreatite intersticial (edematosa) e nesses casos a TC não é necessária (exceto se houver alguma complicação tardia). Tratamento Clínico da Forma Grave Os casos graves podem evoluir com complicações orgânicas sistêmicas importantes, como choque misto, insuficiência renal, queda do sensório, insuficiência cardíaca congestiva e Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Estas devem ser agressivamente tratadas. Às vezes, é necessária intubação traqueal com ventilação mecânica e a monitorização hemodinâmica completa (cateter de PAM e cateter de Swan-Ganz). Precisa de INTERNAÇÃO EM UTI!! Vamos descrever alguns tópicos especiais no tratamento da pancreatite aguda grave: (1) Analgesia - Deve ser feita com opiáceos, pois a dor em geral é de forte intensidade. Se for possível o controle com a Meperidina, essa deve ser o opiáceo de escolha. Caso ainda assim a dor seja de forte intensidade, é possível o uso de morfina... O grande problema da Meperidina é que pode haver acúmulo de metabólitos tóxicos, com irritação neuromuscular e, raramente, convulsões. (2) Hidratação Venosa (A medida mais importante!!!) - Deve ser feita visando uma reposição volêmica vigorosa, com os objetivos Lucas Gustavo Novaes Gonçalves principais de normalizar a diurese, a pressão arterial, a frequência cardíaca e a pressão venosa central. Estes pacientes perdem uma grande quantidade de líquido para o retroperitônio. Na pancreatite grave, pelo menos 6 litros de cristaloide devem ser repostos nas primeiras 24h. O fluido de escolha pode ser o Ringer lactato ou o soro fisiológico, com alguns autores preferindo o primeiro, devido ao fato de conter cálcio. Coloides sintéticos devem ser evitados, pois podem aumentar o risco de SDRA na PA grave. A estimativa da perda volêmica é feita pelo exame clínico, pelo hematócrito inicial (na admissão pode estar aumentado pela hemoconcentração), pela queda do hematócrito após 48h de reposição volêmica (uma queda maior que 10% indica uma grande hemoconcentração prévia) e pelo balanço hídrico (quando muito positivo nas primeiras 48h, significa que o organismo precisou de mais líquido para repor as perdas). Nos casos graves ou refratários ou nos pacientes com problema cardíaco prévio devemos guiar a nossa reposição volêmica pela PCP (Pressão Capilar Pulmonar), estimada pelo cateter de Swan- Ganz. Devemos mantê-la em torno de 18 mmHg. (3) Suporte Nutricional - Estes pacientes ficarão em dieta oral zero por períodos prolongados, tornando necessário outro tipo de suporte nutricional, que deve ser iniciado de preferência nas primeiras 48h, devido ao estado hipercatabólico da pancreatite grave. A nutrição enteral jejunal (por cateter nasojejunal instalado por via endoscópica) é a mais indicada atualmente. A dieta deve ser rica em proteínas e pobre em lipídeos. Estudos demonstraram que essa alimentação é segura e pode reduzir o risco de infecção pancreática por diminuir a translocação bacteriana pela mucosa intestinal. A Nutrição Parenteral Total (NPT) é indicada nos poucos pacientes que não toleram a dieta enteral ou naqueles em que as necessidades calóricas não são atingidas após o segundo ao quarto dia de dieta. Esta dieta possui risco de sepse pelo cateter venoso profundo, além de ser mais cara e menos efetiva que a enteral. Estudos recentes comparando a nutrição nasojejunal com a nasogástrica, a princípio, não encontraram piores resultados com a segunda (teoricamente, o gotejamento de nutrientes antes do duodeno poderia agravar o estímulo ao pâncreas inflamado, piorando a pancreatite). Mais estudos são necessários a fim de esclarecer melhor se a nutrição nasogástrica é realmente segura e equivalente à nasojejunal... Aminas Vasopressoras A noradrenalina (associada ou não à dobutamina), em veia profunda, deve ser utilizada nos casos de choque refratário à reposição volêmica vigorosa. Antibiótico Profilático Até pouco tempo atrás, recomendava-se antibioticoprofilaxia para portadores de pancreatite aguda grave com > 30% de necrose do pâncreas... No entanto, estudos recentes sugeriram NÃO haver qualquer benefício com essa conduta, pelo contrário: ela parece aumentar a incidência de superinfecções fúngicas (candidíase sistêmica)!! Importantes livros de referência (ex.: Harrison e Cecil) afirmam que NÃO HÁ LUGAR para a antibioticoprofilaxia em pancreatite aguda, seja ela grave (necro-hemorrágica) ou não... O fato é que alguns autores ainda defendem este procedimento (ex.: Associação Italiana para o Estudo do Pâncreas) enquanto outros ainda não o descartaram por completo, pelo menos em casos selecionados (ex.: a AGA, ou Associação Americana de Gastroenterologia, aceita seu uso em portadores de necroses extensas, desde que o ATB não seja mantido por mais de 14 dias). Que orientação devo guardar para o dia da prova??? Em vista das recomendações das principais referências de prova, sugerimos acatar suas orientações claramente expressas e NÃO INDICAR ATB PROFILÁTICO EM CASOS DE NECROSE PANCREÁTICA ESTÉRIL (isto é, só se deve fazer ATB se a necrose estiver comprovadamente infectada).
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