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-O surgimento do behaviorismo Por volta do século XIX, a Psicologia começa a constituir-se como ciência independente. Essencial ao surgimento e desenvolvimento de uma ciência é a definição do seu objeto de estudo e do seu método. Na época, difundiu-se a ideia de que o objeto de estudo da Psicologia era a consciência e o método eleito, a introspecção experimental. É nesse contexto que John Watson publicou o que viria a ser o Manifesto Behaviorista. Watson argumenta que o uso da introspecção experimental como método falhou em estabelecer a Psicologia como uma ciência natural. A crítica baseava-se na falta de replicabilidade dos resultados. Watson também salientou outro problema com relação à introspecção experimental: a “culpa” das diferenças entre os resultados obtidos era atribuída aos sujeitos e não ao método ou às condições experimentais. A introspecção trata-se da observação correta de seus estados mentais. Para Watson, a psicologia deveria seguir o exemplo da física e da química, que atribuíam as falhas em suas pesquisas aos instrumentos e métodos utilizados em seus estudos, o que levaria a psicologia a um patamar equivalente de conhecimento do seu objeto de estudo. Watson propôs como principais objetivos da psicologia a previsão e o controle do comportamento. O comportamento observável por mais de um observador seria o objeto de investigação a partir do método experimental, no qual se manipulam características do ambiente e verifica-se o efeito de tais manipulações sobre o comportamento do sujeito. Embora o comportamento humano fosse o principal interesse, o comportamento animal também deveria ser estudado. -O behaviorismo radical de B. F. Skinner Quando falamos de Behaviorismo, estamos discutindo questões filosóficas, que orientam a forma como entendemos o mundo, estamos falando de uma visão de mundo. Behaviorismo e as vicissitudes do sistema skinneriano: A proposta de Skinner pode ser dividida em dois momentos distintos: de 1930 a 1938 e de 1980 a 1990. O primeiro Skinner é marcado por uma forte influência das ciências físicas. Já o segundo Skinner mostra-se mais comprometido com o modelo causal que embasa as ciências biológicas. Já em 1938, Skinner apresentava uma ruptura com o modelo causal mecanicista. Pode-se citar como exemplo a definição de reflexo, entendido à época como uma ligação direta entre estímulos e respostas, e reinterpretado por Skinner como uma correlação entre dois eventos observáveis. Skinner substitui a noção de causalidade mecânica pela noção de relações fundamentais. A ciência tem substituído o termo causa pelo termo “relação funcional”, pois o primeiro remete a forças e mecanismos que “ligam” dois eventos, já o segundo apenas estabelece regularidade entre dois (ou mais) eventos. A publicação do artigo Análise operacional de termos psicológicos é considerado o nascimento do behaviorismo radical. No Behaviorismo radical, há o reconhecimento de que eventos psicológicos privados devem fazer parte do objeto de estudo de uma ciência do comportamento e podem ser estudados com o mesmo rigor científico que eventos públicos. Os eventos privados são tão físicos quanto os eventos públicos, sendo assim da mesma natureza. A distinção entre o público e privado não é a mesma que a distinção entre físico e mental. Enquanto o behaviorismo radical pode considerar eventos privados, o operacionalismo metodológico se colocou em uma posição quem que não pode. O Behaviorismo Radical ● É monista (entende eventos privados e públicos como sendo da mesma natureza); ● Tem como critério de verdade a efetividade e não a concordância entre observadores; ● Toma os eventos privados como legítimos objetos de estudo, resgatando a introspecção e o estudo da consciência como comportamentos em seu próprio direito. Uma mudança importante foi a transição de um modelo explicativo menos influenciado pela física e mais voltado para o modelo das ciências biológicas. Skinner formaliza um modelo explicativo do Behaviorismo Radical: o modelo de seleção pelas consequências. Dizer que o ambiente selecionou uma característica é o mesmo que dizer que ela tornou-se mais frequente. Skinner afirma que o processo de seleção natural é apenas o primeiro nível da seleção pelas consequências, que nos explicaria a origem de diferentes espécies. “O comportamento funcionava apropriadamente apenas sob condições relativamente similares àquelas sob as quais foram selecionadas. A reprodução sob uma ampla gama de condições tornou-se possível com a evolução de dois processos por meio dos quais organismos individuais adquirem comportamentos apropriados a novos ambientes. Por meio do condicionamento respondente (pavloviano), respostas preparadas previamente pela seleção natural poderiam ficar sob o controle de novos estímulos. Por meio do condicionamento operante, novas respostas poderia ser fortalecidas por eventos que imediatamente as seguissem” A aprendizagem de interações novas com o ambiente ocorrem de duas maneiras: ● Condicionamento respondente; ● Condicionamento operante: segundo tipo de seleção pelas consequências. A psicologia, de maneira geral, ocupa-se dos fenômenos relacionados com este segundo nível de seleção pelas consequências. Entendendo como os processos de variabilidade e seleção operam neste segundo nível, nos tornamos capazes de explicar como a personalidade é formada. A seleção natural nos ajuda a entender a origem das diferenças entre as espécies; a seleção operante, nos ajuda a entender a origem das diferenças comportamentais entre os indivíduos. Segundo Skinner, a musculatura vocal ficou sob controle operante, deixando a vocalização sensível às suas consequências, passando a ter sua probabilidade de voltar a ocorrer aumentada ou diminuída de acordo com o ambiente. O surgimento da linguagem possibilitou o aparecimento de ambientes sociais cada vez mais complexos, tornando possível o rápido desenvolvimento da cultura. O modelo de seleção pelas consequências explica as origens e as diferenças entre espécies, e explica a origem e as diferenças dos comportamentos individuais, também explica as origens e as diferenças entre as culturas. ● Nível filogenético: a variabilidade nas características entre membros de uma mesma espécie possibilita a seleção de novas características que passam a ser mais adequadas. ● Nível ontogenético: a variabilidade nos comportamentos individuais faz com que novos comportamentos sejam selecionados pelo ambiente. ● Nível cultural: a variabilidade nas práticas culturais de um grupo permite o surgimento de novas práticas culturais, a mudança na cultura. Causalidade e explicação no behaviorismo radical: Explicar significa apontar as causas de alguma coisa. Existem diversas abordagens em psicologia e cada uma aponta diferentes causas para os comportamentos. Por que os organismos se comportam? Skinner aborda causas gerais utilizadas para explicar o comportamento, apontando alguns problemas em se utilizar tais causas. Nenhum tipo de causa deve ser descartada de imediato, “qualquer condição que tenha algum efeito demonstrável sobre o comportamento deve ser considerado”. Uma causa comumente utilizada pelas pessoas para explicar o comportamento é a hereditariedade. Entretanto, explicar as diferenças de comportamento de uma mesma espécie a partir da hereditariedade pode constituir um equívoco. “Hereditário é o que não consigo provar que é aprendido”. Devemos reconhecer que a hereditariedade pode explicar parte do comportamento de uma pessoa, mas devemos apostar mais na aprendizagem e na interação do que na hereditariedade. Skinner aponta outro conjunto de causas equivocadas do comportamento, que ele chamou de causas internas: ● Causas neurais ● Causas internas psíquicas ● Causas internas conceituais. A primeira diz respeito ao fato de que condições específicas do nosso sistema nervoso não são as causas de um lado comportamental, são parte do comportamento do indivíduo. O segundo problema em se atribuir causas neurais ao comportamento é de ordem prática. Os dois outros tiposde causas internas (psíquicas e conceituais) podem ser agrupados em um único tipo: problemas circulares. Explicações circulares do comportamento: São explicações que contém erro lógico inerente a ele: causa e efeito não podem ser a mesma coisa, o mesmo evento. Ex: Ana fuma demais porque tem o vício do fumo. Dizer que alguém tem o vício do fumo significa apenas dizer que alguém fuma demais, mas nada nos explica sobre a origem do fumar demais. O problema com agentes internos que causam comportamento: A explicação do comportamento a partir de agentes internos como o eu, a consciência. Quando alguém diz “fiz o que minha consciência mandou” significa que sua consciência causou seu comportamento, ou seja, ela é a explicação do comportamento, sendo uma explicação incompleta. Consiste em atribuir ao cérebro capacidades ou ações que só fazem sentido quando atribuídas a um indivíduo íntegro, como um todo, e não partes do indivíduo. A concepção de homem “Os homens agem sobre o mundo, modificando-o, e, por sua vez, são modificados pelas consequências de sua ação”. Essa citação ilustra a concepção de homem do Behaviorismo Radical, denotando o caráter relacional entre o homem e o mundo em que vive. Para o behaviorismo radical, o homem é um ser ativo em seu mundo. 1. Os homens agem sobre o mundo 2. Os homens modificam seu mundo 3. Os homens são modificados pelas consequências de suas ações. Cada homem é capaz de construir-se como homem, a partir de suas próprias ações. Essa concepção não considera o homem uma “vítima” de motivações inconscientes. É no turbilhão de interações com o mundo que o homem aprende a ser quem é. Mesmo de maneiras diferentes, a consequência do comportamento, seu ou de um colega, influencia comportamentos futuros, há uma ação no mesmo sobre o mundo, modificando-o, e foram modificados pelas consequências de suas ações. Uma mesma consequência influencia de maneiras diferentes comportamentos de diferentes pessoas. O homem aprende com suas interações com o mundo, muda seus comportamentos em função das modificações que produz nesse mundo: processo de variação e seleção no nível ontogenético. Essa aprendizagem se dá pela mediação com outras pessoas. A similaridade entre os comportamentos de indivíduos de um mesmo grupo é chamada de cultura, e é transmitida por gerações. Portanto, diz-se que o homem é um ser social e histórico. A proposta de uma ciência do comportamento O Behaviorismo Radical é uma filosofia que embasa uma Ciência do Comportamento. Essa ciência é chamada Análise do Comportamento. Behaviorismo Radical e análise do Comportamento tratam do ser humano e de seus comportamentos, mas abordam esses assuntos de maneiras diferentes. O objeto de estudo da análise do comportamento: Para a Análise do Comportamento, a psicologia deve ter como objeto de estudo as interações dos organismos vivos com seu mundo. Para a Análise do Comportamento, devemos estudar interações comportamento-ambiente. O que o indivíduo faz, fala, pensa ou sente deve ser contextualizado. Não são todas as interações que interessam à psicologia. Os fenômenos que estão na fronteira são estudados por áreas de interface, como a psicobiologia. A unidade básica de análise: O objeto de estudo da Análise do Comportamento são as interações de ações do organismo com seu ambiente. A unidade básica de análise que descreve e relaciona esses eventos chama-se contingência, que pode ser definida como uma descrição de relações entre eventos. O trabalho do psicólogo é encontrar e modificar tais relações. Chamamos de análise funcional a identificação dessas relações entre indivíduo e ambiente. Se quisermos mudar o comportamento, mudar a contingência de reforçamento (relação entre o ato e a consequência) pode ser a chave. Se tivermos o controle sobre as consequências poderemos mudá-las e ver se a conduta também mudará. Esta é a essência da análise de contingência: ● identificar o comportamento e as consequências; ● alterar as consequências; ● ver se o comportamento muda. É um procedimento ativo que acontece também no mundo cotidiano. Se a análise for correta, mudanças nas contingências mudarão a conduta. Previsão e controle -Previsão do comportamento Quando estudamos o comportamento para tentar prevê-lo, estamos tentando identificar que fatores o influenciam, que fatores alteram sua probabilidade de ocorrência. Só é possível prever o comportamento porque existe certa ordem na maneira como as pessoas se comportam. Todos nós somos hábeis em prever o comportamento das pessoas que conhecemos e o nosso próprio comportamento. A ciência apenas aperfeiçoa nossa capacidade de prever o comportamento, de tornar as uniformidades explícitas. Para fazer uma previsão, devemos nos basear em algo. Geralmente, nos baseamos na ocorrência de um evento para prever outro, só somos capazes de prever porque observamos essa relação, identificando uma regularidade. Nem sempre acertamos nossas previsões, de maneira geral, o que nos permite prever melhor certos eventos é o conhecimento que se tem sobre as variáveis que influenciam. Cada fenômeno é muitas vezes influenciado por muitas variáveis, e quase sempre o psicólogo não conhece todas as variáveis que são responsáveis por produzir um determinado fenômeno. Controle do comportamento: Controle aqui deve ser entendido como influência. Estamos o tempo todo influenciando o comportamento dos outros, e os outros estão exercendo controle sobre nosso comportamento. Quando encontramos as variáveis das quais um comportamento é função, tornamo-nos mais capazes de controlar esse comportamento alterando as variáveis que o controlam. É assim, segundo a Análise do Comportamento, que o psicólogo se torna capaz de lidar eficazmente com distúrbios. Geralmente, o comportamento é multideterminado. Diferentes variáveis podem controlar de formas diferentes comportamentos diferentes de diferentes pessoas, pois o controle de que uma determinada variável exerce hoje sobre o comportamento de alguém só pode ser entendida se conhecermos a história desse indivíduo com essa variável ao longo de sua vida. O método de pesquisa É a maneira como a abordagem produz conhecimento. Já sabemos que eventos que ocorrem antes e depois de nossos comportamentos podem exercer alguma influência sobre eles. Mas é necessário determinar o que de fato é importante para entendermos determinado comportamento. Para isso, é necessário criar situações mais simples para estudarmos o comportamento e suas interações com os eventos que o cercam. Há várias maneiras de determinar as possíveis variáveis que influenciam os comportamentos, essas maneiras são chamadas de delineamentos de pesquisa. A mais utilizada em Análise do Comportamento é o delineamento de sujeito como seu próprio controle. Uma das maiores fontes de variabilidade é o próprio sujeito. Se você fizer a pesquisa com o mesmo sujeito em condições experimentais diferentes, muitas das variáveis ficam controladas. As pesquisas nas quais se manipulam as variáveis são chamadas de pesquisas experimentais. Pesquisas com animais não-humanos O que aprendemos ao estudarmos o comportamento de animais não humanos pode ser usado para explicarmos o comportamento humano. O comportamento de animais é mais simples que o dos seres humanos, e para a ciência é importante partir do mais simples. Não são todos os comportamentos que são de interesse para o psicólogo, mas sim os princípios comportamentais. Um dos princípios comportamentais mais básicos é o de que certas consequências aumentam a probabilidade do comportamento que a produziu.
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