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RELATÓRIO DE ANÁLISES REALIZADAS NO LEITE Segundo a FAO (1985), o conceito de qualidade do leite envolve os seguintes requisitos gerais, válidos para todos os produtos lácteos: • baixa contagem microbiana; • isento de microrganismos patogênicos; • ter composição normal; • ter acidez baixa; • isento de materiais estranhos, antibióticos, pesticidas, detergentes e desinfetantes; • deve ser resfriado ou processado o mais rápido possível após a ordenha; • boas características organolépticas. Antes do uso e no momento da recepção o leite deverá ser submetido a um ou mais testes de triagem, selecionando o de melhor qualidade e resistência. Teste do Alizarol É forma rotineira e rápida de avaliar a acidez do leite, executado no ato de recebimento do leite pelas indústrias de laticínios. Seu objetivo é verificar se o leite testado nos fornece a segurança se o mesmo poderá ou não ser pasteurizado (aquecido), pois o leite ácido tende a “talhar” quando submetido ao calor. Seu método consiste em medir em um tubo de ensaio ou qualquer recipiente 5 ml da solução de alizarol e 5 ml do leite a ser testado, misturá-los e interpretar o resultado. Leite normal: coloração rosa-lilás e sem grumos. Leite ácido: coloração amarela ou com pequena coagulação (leite talhado com pequenos grumos). Leite alcalino: coloração arroxeada ou violeta (pode ser um indicativo da presença de água, leite originário de vacas com mamite ou leite adicionado de redutores como bicarbonato de sódio). Acidez Titulável (Dornic) A determinação da acidez do leite é uma das medidas mais usadas no controle da matéria-prima pela indústria leiteira. O teste é usado para classificar o leite e também como um guia para controle da manufatura de produtos como o queijo. A acidez titulável é expressa em graus Dornic (oD) ou em porcentagem (%) de ácido láctico. Seu método consiste em adicionar 10 ml de leite e 3 a 4 gotas de fenolftaleína a um tubo de ensaio ou recipiente devidamente higienizado. E medir rigorosamente 1,8 ml de solução dornic e juntar à mistura do leite e fenolftaleína. Logo após deve-se agitar vigorosamente. Deve ser interpretado da seguinte forma: O leite deve estar entre 15 a 18 graus dornic): Coloração branca: acidez do leite está acima de 18 graus dornic. Discretamente rósea: acidez na faixa de 18 graus. Coloração rósea: acidez entre 16 a 17 graus dornic. Avermelhada: acidez abaixo de 15 graus dornic. Deve-se ficar atento ao fato de se a coloração estiver avermelhada, o leite poderá estar fraudado com água ou alcalinos, ser proveniente de vacas com mamite ou simplesmente o leite está com pH alcalino e portanto impróprio para processamento. Tabela 1. Interpretação de resultados de valores de pH e da acidez do leite pH Acidez Dornic (oD) Interpretação dos resultados 6,6 – 6,8 15 – 18 Leite normal (fresco) ≥ 6,9 < 15 Leite típico alcalino: leite de vaca com mastite, leite do final da lactação, leite de retenção, leite fraudado com água 6,5 – 6,6 19 – 20 Leite ligeiramente ácido: leite do princípio da lactação, leite com colostro, leite em início de processo de fermentação 6,4 ± 20 Leite que não resiste ao aquecimento a 110 oC 6,3 22 Leite que não resiste ao aquecimento a 100oC 6,1 ≥ 24 Leite que não resiste a pasteurização a 72 oC 5,2 55 – 60 Leite que começa a flocular à temperatura ambiente 6,5 9 – 13 Soro de queijo Fonte: Rodrigues et al. (1995) Determinação da Densidade A densidade do leite é uma relação entre seu peso e volume e é normalmente medida a 15oC ou corrigida para essa temperatura. A densidade do leite é, em média, 1,032 g/mL, podendo variar entre 1,023 e 1,040 g/mL. A densidade da gordura do leite é aproximadamente 0,927 e a do leite desnatado, cerca de 1,035. Assim, um leite com 3,0% de gordura deverá ter uma densidade em torno de 1,0295, enquanto um com 4,5% deverá ter uma densidade de 1,0277. A determinação da densidade é feita com um aparelho, o termolactodensímetro. A densidade abaixo do mínimo fornece uma indicação de adição de água no leite e, eventualmente, poderá indicar também problemas de saúde da vaca, ou mesmo problemas nutricionais. Contudo, a densidade depende também do conteúdo de gordura e de sólidos não-gordurosos, porque a gordura do leite tem densidade menor que a da água, enquanto que os sólidos não-gordurosos têm densidade maior. O teste indicará claramente alteração da densidade somente quando mais que 5 a 10% de água for adicionada ao leite. Densidade acima do normal pode indicar que houve desnatamento ou, ainda, que qualquer outro produto corretivo foi adicionado. Seu método consiste em: - Transferir cerca de 500 mL de leite para uma proveta evitando a incorporação de ar e formação de espuma. -Introduzir o termolactodesímetro perfeitamente limpo e seco na amostra, deixar flutuar sem que este encoste à parede da proveta. Observar a densidade aproximada, erguer cuidadosamente o termolactodesímetro e enxugar sua haste com papel absorvente, retornando o aparelho a posição anteriormente observada. -Deixar em repouso de 1 a 2 minutos e fazer a leitura da densidade na cúspide do menisco. Deve-se observar a temperatura sempre que possível e fazer a leitura da densidade a 15°C. Pode-se fazer a correção para 15 °C acrescentando à leitura 0,0002 para cada grau acima de 15°C ou subtraindo 0,0002 para cada grau abaixo. De qualquer forma não se faz leituras de amostras com temperatura inferior a 10°C ou superior a 20°C. Para calibração do lasctodesímetro é necessário: -Dessecar cloreto de sódio (NaCl) p.a em forno murfla a 300°C por 2 horas ou em estufa a 105°C por 24 horas. -Pesar rápida e exatamente 44g de cloreto de sódio. -Dissolver e transferir para balão volumétrico de 1000 mL, completando o volume com água destilada. Esta solução apresenta densidade de 1,030g/mL a 20°C. E introduzir o lactodesímetro na solução a 20°C e calcular a correção de acordo com a fórmula: C = D-L. Onde, C é o fator de correção; D é a densidade da solução preparada (1,030g/mL); L= leitura do lactodesímetro. Sendo assim, se a solução de cloreto de sódio apresentar leitura igual a 1,030g/mL a 20°C o fator de correção é zero, não existindo correção do instrumento. Determinação do teor de gordura pelo método de Gerber O método tradicional de determinação do conteúdo de gordura do leite é o de Gerber. Baseia-se no tratamento de um determinado volume de leite com ácido sulfúrico e álcool amílico, no butirômetro de Gerber. O princípio do método é a destruição das micelas de gordura e a dissolução da caseína, facilitando a separação da gordura. Existem diversos métodos para avaliação do conteúdo de proteínas. Os métodos tradicionais são os de Kjeldahl e Micro-Kjeldahl. Atualmente existem equipamentos modernos de análise, como os baseados na absorção de radiação infravermelha, em comprimentos de onda específicos para cada componente, que permitem a avaliação simultânea da gordura, proteína, lactose e sólidos totais. Esses aparelhos são rápidos (equipamentos mais modernos fazem uma análise em 20 segundos) e precisos, desde que calibrados com padrões de referência. Permitem analisar muitas amostras por hora e alguns são acoplados ao de contagem de células somáticas, fornecendo todos os resultados ao mesmo tempo. Pode ser feito do seguinte método: Colocar no butirômetro Gerber 10 mL de ácido sulfúrico (d20=1,825 g/L), em seguida adicionar 11 mL de leite, utilizando uma pipeta volumétrica, e, por fim, pode ser acrescentado 1 mL do álcool amílico (R d20=811 g/L). O butirômetro é tampado com uma rolha de borracha e é agitado vigorosamente envolvido com um pano. Após a agitação coloca-se o butirômetro em centrífuga (MACALÉ 8BTF) e centrifuga-se por quatro a cinco minutos a uma rotação de 1200 a 1400 r.p.m. Depois foi deixado por dois a três minutos em banho-maria (MACALÉ 30E Nº DB113) em temperatura de 65 a 66 ºC. A leitura pode ser feita na própria escala do butirômetro que já é dada em % (SILVA et al., 2001). O valor mínimo para o resultado de gordura é de 3,0% (BRASIL, 2002). Extrato SecoTotal O leite é uma combinação de diversos elementos sólidos em água. Os elementos sólidos representam aproximadamente 12 a 13% do leite e a água, aproximadamente 87%. Os principais elementos sólidos do leite são lipídios (gordura), carboidratos, proteínas, sais minerais e vitaminas. Esses elementos, suas distribuições e interações são determinantes para a estrutura, propriedades funcionais e aptidão do leite para processamento. As micelas de caseína e os glóbulos de gordura são responsáveis pela maior parte das características físicas (estrutura e cor) encontradas nos produtos lácteos. Os termos sólidos totais (ST) ou extrato seco total (EST) englobam todos os componentes do leite exceto a água. Este conhecimento é a base para os testes que são realizados com o objetivo de apontar a ocorrência de problemas que alteram a composição do leite. Uma redução substancial da concentração de lactose ou dos sólidos totais poderia levantar suspeitas de adição fraudulenta de água, após a ordenha. Nesse caso, ocorrem alterações das propriedades físicas do leite, facilmente detectáveis em laboratório. De acordo com o Regulamento da Inspeção Sanitária e Industrial para Leites e seus derivados, resolução n° 065/2005 o leite deve conter extrato seco total mínimo de 11,4% (onze e quatro décimos por cento). Na determinação do extrato seco total (EST) pode-se utilizar o método indireto, que consiste na aplicação de fórmula matemática de Furtado, a qual correlaciona valor de densidade e teor de gordura da amostra (SILVA et al., 2001). % ES = 1,2 x Gd + 0,25 x D + 0,25 É importante destacar que resultado mínimo para que o leite cru seja aceito é de 8,4% de ESD (extrato seco desengordura), resultado da subtração do teor de gordura em relação ao extrato seco total (BRASIL, 2002). Extrato seco desengordurado Por sólidos não-gordurosos (SNG) ou extrato seco desengordurado (ESD) compreendem-se todos os elementos do leite, menos a água e a gordura. O percentual de Extrato Seco Desengordurado (ESD) também pode variar em função do tipo de alimentação fornecida aos animais; porém, o nível de variação é muito menor do que a observação em relação ao teor de gordura. Esta variação parece estar relacionada, principalmente, com o nível de energia, uma vez que o aumento deste valor na dieta de vacas de alta produção pode conduzir a um aumento de até 0,2% no percentual de ESD. É importante destacar que a variação no ESD é decorrer, sobretudo, da variação do nível de proteína do leite, o que evidencia a importância deste parâmetro para a avaliação do rendimento industrial o produto utilizado como matéria-prima. O percentual de ESD diminui progressivamente com a idade do animal. Dentro de um ciclo de lactação, o ESD apresenta uma variação inversa à curva de produção de leite, ou seja: no primeiro mês o ESD é alto, diminuindo no segundo mês quando há o pico de produção de leite e voltando a aumentar no final da lactação, à medida que a produção decresce. A prenhez, por outro lado, determina um leve aumento no ESD, ocasionado pelo fato de haver uma pequena queda na produção de leite após a concepção (HARRIS & BACHMAN,1988). A ocorrência de enfermidades, sobretudo de mastites, pode causar alterações significativas na composição do leite. Animais acometidos de mastite clínica, ou mesmo subclínica, apresentam uma diminuição percentuais de gordura e de ESD, visto que há uma redução nos teores de lactose e, em alguns casos, de proteína. Determinação do índice crioscópico O índice crioscópico é um dos parâmetros analíticos utilizados para determinar a qualidade do leite, tanto “in natura”, como industrializado. É proporcional ao extrato seco (matéria seca) do leite, mais especificamente em relação a presença da lactose e cloretos (TRONCO, 1997). O índice crioscópico do leite é tido como uma propriedade física que apresenta uma variação muito pequena, mas é possível ocorrer mediante modificações na dieta alimentar do rebanho leiteiro, período de lactação, estação do ano, entre outros fatores, bem como a fraude, ou seja, a adição intencional de água ao mesmo. Como mecanismo de fraude, a adição de água ao leite para aumento do volume, altera os valores do índice crioscópico. Em virtude disto este parâmetro é utilizado como um dos critérios de desclassificação de leite para consumo humano (TRONCO, 1997). Pode ser realizada no crioscópio digital microprocessado -M90/BR série 395x da LAKTRON. Após a devida calibração do aparelho com as soluções padrão (-0,422 e -0,623 LAKTRON), coloca-se no tubo de ensaio do aparelho 2,5 mL de amostra. O aparelho mostra o resultado da temperatura de congelamento do leite em graus Hortvet e o teor de água presente em % (SILVA et al, 1997). Os valores normais são os que estiverem bem próximos de -0,530 ºH (BRASIL,2002).
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