Buscar

Etnocartografia na Agricultura Familiar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
CAMPUS XVII BARCARENA.
LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA.
"A ETNOCARTOGRAFIA COMO SUPORTE À AGRICULTURA FAMILIAR - A
PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA; NA COMUNIDADE DO ALTO GUAJARÁ DE
BEJA"
EDILZA SILVA DE LIMA
THALITA ISABELLE DIAS DE MORAES
ABAETETUBA - PA
31.05.2021
0
EDILZA SILVA DE LIMA
THALITA ISABELLE DIAS DE MORAES
"A ETNOCARTOGRAFIA COMO SUPORTE À AGRICULTURA FAMILIAR - A
PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA; NA COMUNIDADE DO ALTO GUAJARÁ DE
BEJA"
Trabalho apresentado para a disciplina, Geoprocessamento e interpretação de imagem
solicitado pela Profº. Alcione Santos de Souza.
ABAETETUBA - PA
31.05.2021
1
RESUMO
A etnocartografia é elaborada através de uma metodologia participativa, e difere da
cartografia convencional por destacar a importância dos saberes das populações
tradicionais sobre a natureza e o espaço, valorizando o conhecimento etnoecológico para o
adequado manejo dos recursos naturais; O objetivo desse trabalho é apresentar esse
mapeamento participativo realizado com lavradores da comunidade do Alto Guajará de Beja no
município de Abaetetuba, buscando valorizar seu conhecimento etnocartográfico A área de
pesquisa está inserida na região que tem como principal fonte de renda, a agricultura familiar na
produção artesanal da farinha de mandioca. Os procedimentos metodológicos utilizados para este
trabalho envolveram:
a) aplicação de entrevistas com os lavradores da comunidade pesquisada;
b) realização de trabalho de campo para mapeamento das áreas com plantações de maniva;
c) obtenção de imagens de satélite do software Google Earth Pro e elaboração de mapas
temáticos em ambiente SIG.
Os resultados revelam um conhecimento etnocartográfico utilizados pelos lavradores no que se
refere ao sistema de plantação e colheita da raiz para a produção da farinha de mandioca. O
cultivo dessa raiz que tem grande importância cultural e econômica para a comunidade
pesquisada.
PALAVRAS - CHAVES
[Comunidade; agricultura familiar; mapeamento; etnocartografia;
conhecimento; cultura; plantação; mandioca]
2
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................
2.JUSTIFICATIVA…………...…………………………………………..
3. OBJETIVOS ...........................................................................................
3.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................
3. 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.....................................................................
4. METODOLOGIA………………………………………………………..
5. HIPÓTESES…………………………..………………………………….
6. REFERENCIAL TEÓRICO…..……………………………........................
7. DESENVOLVIMENTO…………………………………………………...
8- CONSIDERAÇÕES……………………………………………………...
9. REFERÊNCIAS..………………………………………………………..
3
1- INTRODUÇÃO
Também conhecida como Mapeamento Cultural Colaborativo, Mapeamento participativo,
Cartografia Social, Etnomapeamento entre outras denominações, a Etnocartografia é a
arte de produzir cartas por uma população ou grupo social onde são destacados elementos
culturais e históricos. Esse tipo de cartografia social permite às comunidades desenhar, com
a ajuda de profissionais, mapas dos territórios que ocupam. Em vez de informações
técnicas, os mapas sociais são construídos de forma participativa e apresentam o cotidiano
de uma comunidade em linguagem simples e acessível. Neles, são colocados espaços de roça,
rios, lagos, casas, equipamentos sociais como unidades de saúde e escolas e outros
elementos que as populações envolvidas consideram importantes.
Para Ataíde e Martins (2005) esse tipo de conhecimento é chamado de "Etnocartografia",
que é a arte de produzir cartas por uma população ou grupo social, onde são destacados
elementos culturais e históricos. Difere da cartografia convencional por destacar a
importância dos saberes das populações tradicionais sobre a natureza, valorizando o
conhecimento etnoecológico para o adequado manejo dos recursos naturais.
Desde os tempos mais remotos, o céu tem sido usado como mapa, calendário ou relógio. Sua
observação tem servido para orientar navegantes, organizar colheitas e prever fenômenos
naturais e, ao observar o céu, cada povo tende a perceber aspectos de sua própria cultura.
Sendo assim, esta pesquisa abordará esse conhecimento etnocartográfico através desse
mapeamento participativo na comunidade do Alto Guajará de Beja, demonstrando como
esses lavradores utilizam esse tipo de conhecimento, como suporte à agricultura familiar,
na produção de farinha de mandioca.
2. JUSTIFICATIVA
A presente pesquisa, consiste na importância de elucidar como os lavradores da
comunidade do Alto Guajará de Beja, utilizam a etnocartografia como suporte em seu
trabalho na produção da farinha de mandioca. A ideia surgiu na curiosidade de entender
4
como a etnocartografia auxilia o trabalho dos lavradores dando suporte à agricultura
familiar da comunidade.
Estabelecer essa relação entre o saber científico e o conhecimento tradicional é um desafio
fundamental, para que se possa adquirir bons resultados em um planejamento que vem
envolver povos tradicionais. Por isso o uso da etnocartografia traz uma grande
importância, valorizando o conhecimento dos lavradores e ajudando na produção da
farinha.
3. OBJETIVOS
3. 1 OBJETIVO GERAL
O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar um conjunto de reflexões
teóricas e práticas acerca dos mapeamentos participativos, desenvolvido com o apoio de
comunidades tradicionais locais, para a gestão territorial e manejo de recursos naturais; e
como os lavradores utilizam seus conhecimentos etnocartográficos como suporte à
agricultura familiar.
3. 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
● Analisar o conhecimento etnocartográfico dos lavradores da região, através do
mapeamento participativo comunitário.
● Demonstrar como os lavradores dessa comunidade utilizam seus conhecimentos
etnocartografico como suporte no cultivo sustentável de farinha de mandioca.
4. METODOLOGIA
Para esta pesquisa foram utilizados procedimentos metodológicos como: A aplicação de
entrevistas com os lavradores da comunidade pesquisada; A realização de trabalho de
campo para mapeamento, através de croquis, das áreas com plantações de maniva; e a
Obtenção de imagens de satélite do software Google Earth Pro, para mapear a região.
5. HIPÓTESES
5
Até onde a etnocartografia pode auxiliar na agricultura familiar de uma comunidade?
O mapeamento participativo é o retrato de um território e uma variação de elementos
culturais. Nesse sentido a etnocartografia contribuí com o enriquecimento de informações,
a partir da descrição do uso tradicional dos elementos naturais da área e das histórias
ligadas à eles. Portanto também é um incentivo para mostrar sua realidade cultural,
possibilitando os lavradores e moradores da comunidade reviver histórias, localidades
antigas e costumes de seu povo.
Isso permite que os lavradores construam uma base de dados própria, que poderá ser
utilizado para o manejo da farinha de mandioca e auxiliará na agricultura familiar da
comunidade.
6. REFERENCIAL TEÓRICO
Nossa pesquisa está embasada nos autores
● Ataide e Martins (2005) - A etnocartografia como ferramenta de Gestão.
● Linhares e Santos (2014) - A casa de farinha é a minha morada.
● Claudino (2020) - A divisão social do trabalho familiar nas atividades de produção de
farinha de mandioca na Amazônia.
● Afonso (2018) - Mitos e Estações no céu Tupi-Guarani / O céu dos indios do Brasil.
7. DESENVOLVIMENTO
Ao longo de séculos, povos indígenas de todo mundo construíram um grande legado sobre o
céu, utilizado como base para rituais religiosos, políticos, agrícolas e de fertilidade. As
populações nativas criaram seu próprio campo de estudo para se localizar no tempo e no
espaço, e essa tradição vem se perpetuando ao longo do tempo, embasando outras culturas,
6
como por exemplo a Comunidade do AltoGuajará de Beja.
Assim como os indígenas, os guajaraenses mais antigos, sempre valorizaram o papel da
mitologia em sua cultura, a começar pela relação com o sol, que para os indígenas é tido
como Deus Maior e marca o início do ano-novo guarani.
"Para nos, o ano-novo começa entre julho e setembro, quando é o início de tudo, quando o
Sol se alinha com a Terra e nos iniciamos o trabalho com a semente para a agricultura".
Afirma Natalino Baía, filho de um dos homens mais antigos da comunidade, que faleceu a
uns anos atrás, aos 102 anos de idade. Segundo relata o morador da comunidade, os
guajaraenses mais antigos se baseavam na "Agenda celeste", para se localizarem no tempo
e no espaço; salienta o lavrador:
"Todo final de tarde, meu pai e meus irmãos saiamos á observar o céu, para ver como as
estrelas estavam posicionadas, na ansiedade de vê o homem velho aparecer!"
Segundo relatos mais antigos, os moradores da comunidade guiavam-se pelas constelações,
que os ajudavam a identificar as estações do ano. Para esses povos, a aparição da figura do
"Homem Velho'' marcava o início do Verão, período mais apropriado para as plantações.
As constelações eram usadas durante todo o ano, pelos moradores mais antigos da
comunidade, elas serviam, principalmente, como calendário agrícola; as flutuações
sazonais indicadas pelas constelações influenciavam no período da pesca, caça, plantio e
colheita.
Segundo Germano Afonso, pós-doutor em etnoastronomia e que já mapeou mais de 100
constelações indígenas Tupi-Guarani, cada imagem formada no céu permitia aos índios
identificar que uma nova estação do ano estava por vir. (Afonso 2014).
O astrônomo explica que, ao saberem do inverno, os indígenas poderiam garantir
sobrevivência das crianças indígenas e dos índios mais vulneráveis. As tribos planejavam
qual era o melhor momento para plantar, caçar, pescar e até para engravidar. Afinal, uma
criança que nascesse no inverno (Constelação da Ema) teria poucas chances de vencer as
7
adversidades climáticas e diferente das constelações ocidentais, os povos indígenas utilizam
tanto as manchas escuras quanto as estrelas para formar os desenhos das constelações no
céu e sempre a associam com algum mito.
Já Chapin & Threlkeld (2001), definem etnocartografia como uma disciplina de âmbito
etnocientífico que estuda a representação pelos indígenas de seu espaço e o sistema
cartográfico das culturas não ocidentais,
Ou seja, esse conhecimento tradicional surgiu há muitos anos atrás, representado pelos
indígenas, com o propósito de gerenciar seu território e manejar seus recursos naturais,
com este embasamento, trouxemos esse conhecimento popular indígena, como suporte à
agricultura familiar; na produção de farinha de mandioca.
A agricultura familiar é um tipo de agricultura desenvolvida em pequenas propriedades
rurais. Recebe esse nome, pois é realizada por grupos de famílias (pequenos agricultores e
alguns empregados).
A colheita dos produtos serve de alimentos para eles e ainda, para o consumo de parte da
população. Ainda que seja uma atividade muito importante para o sustento de diversas
famílias que vivem na zona rural, dados apontam que cerca de 70% dos alimentos
consumidos no Brasil são produtos da agricultura familiar.
Vale frisar que, nesse processo, de produção, as técnicas de cultivo e extrativismo,
englobam apenas suas práticas tradicionais e seus conhecimentos populares (étnicos).
A principal característica da agricultura familiar está associada à policultura, ou seja, o
plantio de diversos tipos de produtos, dentre estes, destacam-se as frutas, legumes,
verduras e animais, sendo que os principais são o milho, café, mandioca, feijão, arroz,
trigo, leite, carne suína, bovina e de aves. Segundo a Emater, a região Norte é a maior
produtora de mandioca do Brasil, e o Pará responde por 70% dessa produção, sendo que
96% da mandioca produzida no Pará, vem da agricultura familiar; sua produção está
presente nos 144 municípios paraenses não servindo apenas como subsistência, mais como
fonte de renda para milhares de pequenos produtores rurais.
8
Em Abaetetuba, no nordeste do estado do Pará, o cultivo de mandioca é
predominantemente tradicional na agricultura familiar, e o consumo de seus derivados,
especialmente farinhas, definem diversos hábitos alimentares e processos de decisão
familiar. Como afirmam Linhares e Santos (2014,p.54),
“Fazer farinha não representa apenas um meio de trabalho para garantir o sustento da
família, representa de sobremaneira parte do modo de vida e o exercício de uma cultura,
repassada de geração para geração com suas transformações e permanências marcadas pelo
tempo”.
Na comunidade do Alto Guajará de Beja, zona rural de Abaetetuba - PA, o dia começa
cedo para seu Miguel Pereira dos Santos e Natalino Baía da Silva; pequenos agricultores e
chefes de família da comunidade, eles são o retrato de uma tradição que vem se
perpetuando por gerações e garantindo na mesa dos paraenses o produto que é a base
alimentar do Estado. Do plantio ao beneficiamento, os lavradores herdaram de seus pais a
cultura que hoje é a principal fonte de renda da comunidade, onde vivem cerca de 75
famílias.
“Mandioca é pop, mandioca é tudo”!
Brinca seu Miguel. E ele está certo! Os produtos derivados da planta são diversos e ajudam
a compor alguns dos pratos típicos mais conhecidos da região. Quase onipresente na mesa
do paraense, a farinha é, muitas vezes, o alimento principal, nos sete dias da semana. Mas
para chegar até as nossas casas, é preciso muito esforço e dedicação.
“Começamos na segunda-feira e, na quinta, estamos finalizando tudo; farinha, goma e
tucupi!"
Diz dona Estelina dos Santos, enquanto prensa a mandioca em seu tipiti que mantêm,
rusticamente, no fundo de seu quintal.
Ainda hoje, é um desafio unir a prática empírica do homem do campo; repassada por
gerações; ao conhecimento científico, com novas tecnologias e técnicas de plantio, que
9
resultam em mais qualidade e maior produtividade.
Na comunidade pesquisada, os lavradores utilizam somente sua força de trabalho e seus
conhecimentos étnicos como suporte à produção de farinha de mandioca, desde o plantio
até a colheita. Comumente, a família inteira participa das atividades, havendo divisão
sexual do trabalho e por gênero, de maneira similar ao identificado no trabalho de
Claudino (2020),
"Dependendo do grupo familiar em questão. Há também uma dinâmica de mutirões bem
frequente, correspondendo às estratégias de organização do trabalho em comunidades
quilombolas ou agricultores familiares de base camponesa"
O cultivo da mandioca inicia-se com a escolha do tempo e o preparo do solo.
Primeiramente, os agricultores identificam o período de a melhor área para plantar e em
seguida fazem o mapeamento comunitário do perímetro a ser utilizado, Preferencialmente,
eles escolhem a capoeira baixa (mato fino que cresceu onde foi derrubada), depois o
capoeirão (mato que estar se transformando em grandes árvores); em média a área é de 5 a
10 hectares, segundo os agricultores.
Esse mapeamento comunitário é feito sem trena ou qualquer outro objeto de medida;
perguntei ao seu Miguel; Como eles sabiam mapear corretamente a área sem usar
medidas! Ele levantou, esticou os braços, e disse:
_ "Isso aqui pra gente, é a medida de uma braça! (Risos) nós marcamos nossa área de plantio
assim! Por exemplo, pegamos um pedaço de pau que dê mais ou menos esse tamanho e
marcamos 30 vezes; 30 ripas dessas equivalem à 30 braças, ou seja, 66 metros, e 66 metros
tarefa!
10
Segundo os lavradores, a unidade básica da tarefa é a BRAÇA. Uma braça é uma medida
de comprimento de 2,20m (dois metros e vinte centímetros, mais ou menos), e é a medida de
um homem de altura média em pé com o braço estirado para cima, ou para os lados. Uma
braça quadrada, ou seja, um quadrado em que os lados medem uma braça, é chamada de
bracinha (2.20m x 2.20m). Trinta bracinhas dá uma braça quadrada., ou seja, uma medida
de umafatia de terra de largura uma braça e comprimento 30 braças (ou equivalente, por
exemplo 5 braças por 6 braças dá uma braça quadrada, porque contem 30 bracinhas).
Uma tarefa são 30 braças. Resumindo: uma bracinha é a medida de uma braça quadrada
(2,20m x 2,20m). Uma braça quadrada são 30 bracinhas. Uma tarefa são 30 braças ou 30 x
30 = 900 bracinhas, se uma bracinha é 2,20m, logo temos, 900 x 2 = 1.800 m de terras, ou
seja, quase 2 hectares de terra.
Após a escolha da área, procede a roçagem, que leva em torno de uns três dias, dependendo
do número de pessoas envolvidas nesta etapa. As ferramentas utilizadas para realizar esses
processos são o terçado, foice, machado e motosserra.
Após a primeira etapa, deixa-se secar o mato, que dependerá do período em que se
realizará o plantio, se forem roçadas no período do verão, duram aproximadamente oito
11
dias, porém, se for no período do inverno leva-se aproximadamente 15 dias. Passado este
tempo é realizada a queima, e no dia seguinte estará pronta para a limpeza.
Depois de limpa ,vem o processo de arar á terra; a aração é o ato de descompactar e
preparar o terreno para que as sementes cresçam com raízes mais fortes. Quando a terra é
revolvida, ela fica mais fofa e permeável, beneficiando a troca de nutrientes presentes nos
adubos; nesse processo curiosamente os lavradores utilizam apenas um facão, dando cortes
simples no solo; sobre esse processo ressalta seu Natalino:
_" A terra tem que respirar".
começa-se o plantio das manivas, extraídas do caule da planta de mandioca, que são
cortadas no tamanho de 15 à 20 centímetros de comprimento; sendo medidos apenas com
as mãos (a principal forma de reprodução é vegetativa). Estas são colocadas em covas de
15 á 20 centímetros, utilizando ferramentas como os suportes de ferro ou enxada. Os
espaços entre as covas variam de 50 a 60 centímetros. Todo esse processo de medição
ocorre sem ferramentas de medidas tradicionais, apenas métodos antigos herdados da
cultura indígena.
Após dois meses do plantio é feita a primeira capina (limpeza da área plantada) e, pos-
teriormente é feita uma segunda capina. As ferramentas usadas neste processo são o facão,
a
enxada e o terçado.
Para a colheita também são usados os seguintes instrumentos de trabalhos: fação, terçado,
aturar, sacas e paneiro. Neste processo, os agricultores se dividem para realizar o trabalho
12
de ensacamento (chamado de sacação) da mandioca tirada do pé, onde é feita a separação
do caule da raiz.
Após esse processo de ensacar, a mandioca e carregar até o poço de água, para que
amoleça de forma eficaz. Esse processo leva em torno de quatro a cinco dias.
Após o período de hidratação na cova (macerar, até que as raízes fi quem amolecidas),
4-5 dias, a mandioca é descascada e levada até a casa de farinha/retiro onde é colocada
numa
tábua de madeira (material que é confeccionado retirando miolo da madeira. Terminadas
as etapas de colheita e, estando já no retiro, a mandioca é amassada e em seguida colocada
no tipiti (equipamento confeccionado com a tala da palmeira do miritizeiro, utilizado para
espremer a massa), depois de exprimida a massa é coada em uma peneira tecida com tala
de arumã (Ischnosiphon Ovatus), tendo como suporte uma caixa de madeira,
posteriormente, a massa e retirada com uma cuia e jogada no forno de cobre ou de ferro,
com auxílio de um rodo (feito de madeira). Cada fornada da produção da farinha leva em
torno de uma hora para ser torrada, mexendo-se sem parar.
13
8. CONSIDERAÇÕES
O conhecimento empírico, deve ser tão valorizado quanto o científico, na comunidade
pesquisada percebeu-se que através do seu próprio conhecimento, adquirido ao longo da
vida, os agricultores, conseguem se localizar no tempo e no espaço,no que tange ao processo
de agricultura, sabem perfeitamente o momento certo de plantar e colher , e como plantar;
utilizando, apenas a natureza.
"Enquanto houver respeito e preservação da identidade cultural dos povos indígenas, a mitologia não
morrerá. Ela é valiosa para o modo de vida, as visões de mundo e os rituais importantes da vida das
pessoas e comunidades", conclui, o morador da comunidade.
9. . REFERÊNCIAS
ATAIDE, Marcos Sebastião; MARTINS, Ayrton Luiz U. A Etnocartografia Como
Ferramenta de Gestão. In: XXII Congresso Brasileiro de Cartografia. Anai Pesquisa 2005.
LINHARES, A. da S.; SANTOS, C. V. “A casa de farinha é a minha morada”:
transformação e permanências na produção de farinha em uma comunidade rural na
região do Baixo Tocantins-PA. Revista Agricultura Familiar: Pesquisa, Formação e
Desenvolvimento, n. 10, 2014.
CLAUDINO, L. S. D. A divisão social do trabalho familiar nas atividades de produção de
14
farinha de mandioca na comunidade Santa Ana, nordeste Paraense, Amazônia brasileira.
Contribuciones a las Ciencias Sociales, mar., 2020.
AFONSO, Germano Bruno. O céu dos índios do Brasil. Anais da 66ª reunião anual da
SBPC – Rio Branco, AC – julho/2014
<http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252012000400023>. Acesso em: 08 nov. de 2018.
AFONSO, Germano Bruno. Mitos e Estações no céu Tupi-Guarani. Scientific American
Brasil. Disponível em: <https://bit.ly/1zsrDQo>. Acesso em: 08 nov. de 2018.
Para conhecer mais sobre a cosmologia indígena, detalhamos a Constelação do Homem Velho (Verão), do
q (Outono), Anta do Norte e Colibri (Primavera) e, por último, a da Ema (Inverno). Todas são
relacionadas aos Tupi-Guarani..
15

Outros materiais