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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO CAMPUS XVII BARCARENA. LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA. "A ETNOCARTOGRAFIA COMO SUPORTE À AGRICULTURA FAMILIAR - A PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA; NA COMUNIDADE DO ALTO GUAJARÁ DE BEJA" EDILZA SILVA DE LIMA THALITA ISABELLE DIAS DE MORAES ABAETETUBA - PA 31.05.2021 0 EDILZA SILVA DE LIMA THALITA ISABELLE DIAS DE MORAES "A ETNOCARTOGRAFIA COMO SUPORTE À AGRICULTURA FAMILIAR - A PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA; NA COMUNIDADE DO ALTO GUAJARÁ DE BEJA" Trabalho apresentado para a disciplina, Geoprocessamento e interpretação de imagem solicitado pela Profº. Alcione Santos de Souza. ABAETETUBA - PA 31.05.2021 1 RESUMO A etnocartografia é elaborada através de uma metodologia participativa, e difere da cartografia convencional por destacar a importância dos saberes das populações tradicionais sobre a natureza e o espaço, valorizando o conhecimento etnoecológico para o adequado manejo dos recursos naturais; O objetivo desse trabalho é apresentar esse mapeamento participativo realizado com lavradores da comunidade do Alto Guajará de Beja no município de Abaetetuba, buscando valorizar seu conhecimento etnocartográfico A área de pesquisa está inserida na região que tem como principal fonte de renda, a agricultura familiar na produção artesanal da farinha de mandioca. Os procedimentos metodológicos utilizados para este trabalho envolveram: a) aplicação de entrevistas com os lavradores da comunidade pesquisada; b) realização de trabalho de campo para mapeamento das áreas com plantações de maniva; c) obtenção de imagens de satélite do software Google Earth Pro e elaboração de mapas temáticos em ambiente SIG. Os resultados revelam um conhecimento etnocartográfico utilizados pelos lavradores no que se refere ao sistema de plantação e colheita da raiz para a produção da farinha de mandioca. O cultivo dessa raiz que tem grande importância cultural e econômica para a comunidade pesquisada. PALAVRAS - CHAVES [Comunidade; agricultura familiar; mapeamento; etnocartografia; conhecimento; cultura; plantação; mandioca] 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................... 2.JUSTIFICATIVA…………...………………………………………….. 3. OBJETIVOS ........................................................................................... 3.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................. 3. 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................... 4. METODOLOGIA……………………………………………………….. 5. HIPÓTESES…………………………..…………………………………. 6. REFERENCIAL TEÓRICO…..……………………………........................ 7. DESENVOLVIMENTO…………………………………………………... 8- CONSIDERAÇÕES……………………………………………………... 9. REFERÊNCIAS..……………………………………………………….. 3 1- INTRODUÇÃO Também conhecida como Mapeamento Cultural Colaborativo, Mapeamento participativo, Cartografia Social, Etnomapeamento entre outras denominações, a Etnocartografia é a arte de produzir cartas por uma população ou grupo social onde são destacados elementos culturais e históricos. Esse tipo de cartografia social permite às comunidades desenhar, com a ajuda de profissionais, mapas dos territórios que ocupam. Em vez de informações técnicas, os mapas sociais são construídos de forma participativa e apresentam o cotidiano de uma comunidade em linguagem simples e acessível. Neles, são colocados espaços de roça, rios, lagos, casas, equipamentos sociais como unidades de saúde e escolas e outros elementos que as populações envolvidas consideram importantes. Para Ataíde e Martins (2005) esse tipo de conhecimento é chamado de "Etnocartografia", que é a arte de produzir cartas por uma população ou grupo social, onde são destacados elementos culturais e históricos. Difere da cartografia convencional por destacar a importância dos saberes das populações tradicionais sobre a natureza, valorizando o conhecimento etnoecológico para o adequado manejo dos recursos naturais. Desde os tempos mais remotos, o céu tem sido usado como mapa, calendário ou relógio. Sua observação tem servido para orientar navegantes, organizar colheitas e prever fenômenos naturais e, ao observar o céu, cada povo tende a perceber aspectos de sua própria cultura. Sendo assim, esta pesquisa abordará esse conhecimento etnocartográfico através desse mapeamento participativo na comunidade do Alto Guajará de Beja, demonstrando como esses lavradores utilizam esse tipo de conhecimento, como suporte à agricultura familiar, na produção de farinha de mandioca. 2. JUSTIFICATIVA A presente pesquisa, consiste na importância de elucidar como os lavradores da comunidade do Alto Guajará de Beja, utilizam a etnocartografia como suporte em seu trabalho na produção da farinha de mandioca. A ideia surgiu na curiosidade de entender 4 como a etnocartografia auxilia o trabalho dos lavradores dando suporte à agricultura familiar da comunidade. Estabelecer essa relação entre o saber científico e o conhecimento tradicional é um desafio fundamental, para que se possa adquirir bons resultados em um planejamento que vem envolver povos tradicionais. Por isso o uso da etnocartografia traz uma grande importância, valorizando o conhecimento dos lavradores e ajudando na produção da farinha. 3. OBJETIVOS 3. 1 OBJETIVO GERAL O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar um conjunto de reflexões teóricas e práticas acerca dos mapeamentos participativos, desenvolvido com o apoio de comunidades tradicionais locais, para a gestão territorial e manejo de recursos naturais; e como os lavradores utilizam seus conhecimentos etnocartográficos como suporte à agricultura familiar. 3. 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ● Analisar o conhecimento etnocartográfico dos lavradores da região, através do mapeamento participativo comunitário. ● Demonstrar como os lavradores dessa comunidade utilizam seus conhecimentos etnocartografico como suporte no cultivo sustentável de farinha de mandioca. 4. METODOLOGIA Para esta pesquisa foram utilizados procedimentos metodológicos como: A aplicação de entrevistas com os lavradores da comunidade pesquisada; A realização de trabalho de campo para mapeamento, através de croquis, das áreas com plantações de maniva; e a Obtenção de imagens de satélite do software Google Earth Pro, para mapear a região. 5. HIPÓTESES 5 Até onde a etnocartografia pode auxiliar na agricultura familiar de uma comunidade? O mapeamento participativo é o retrato de um território e uma variação de elementos culturais. Nesse sentido a etnocartografia contribuí com o enriquecimento de informações, a partir da descrição do uso tradicional dos elementos naturais da área e das histórias ligadas à eles. Portanto também é um incentivo para mostrar sua realidade cultural, possibilitando os lavradores e moradores da comunidade reviver histórias, localidades antigas e costumes de seu povo. Isso permite que os lavradores construam uma base de dados própria, que poderá ser utilizado para o manejo da farinha de mandioca e auxiliará na agricultura familiar da comunidade. 6. REFERENCIAL TEÓRICO Nossa pesquisa está embasada nos autores ● Ataide e Martins (2005) - A etnocartografia como ferramenta de Gestão. ● Linhares e Santos (2014) - A casa de farinha é a minha morada. ● Claudino (2020) - A divisão social do trabalho familiar nas atividades de produção de farinha de mandioca na Amazônia. ● Afonso (2018) - Mitos e Estações no céu Tupi-Guarani / O céu dos indios do Brasil. 7. DESENVOLVIMENTO Ao longo de séculos, povos indígenas de todo mundo construíram um grande legado sobre o céu, utilizado como base para rituais religiosos, políticos, agrícolas e de fertilidade. As populações nativas criaram seu próprio campo de estudo para se localizar no tempo e no espaço, e essa tradição vem se perpetuando ao longo do tempo, embasando outras culturas, 6 como por exemplo a Comunidade do AltoGuajará de Beja. Assim como os indígenas, os guajaraenses mais antigos, sempre valorizaram o papel da mitologia em sua cultura, a começar pela relação com o sol, que para os indígenas é tido como Deus Maior e marca o início do ano-novo guarani. "Para nos, o ano-novo começa entre julho e setembro, quando é o início de tudo, quando o Sol se alinha com a Terra e nos iniciamos o trabalho com a semente para a agricultura". Afirma Natalino Baía, filho de um dos homens mais antigos da comunidade, que faleceu a uns anos atrás, aos 102 anos de idade. Segundo relata o morador da comunidade, os guajaraenses mais antigos se baseavam na "Agenda celeste", para se localizarem no tempo e no espaço; salienta o lavrador: "Todo final de tarde, meu pai e meus irmãos saiamos á observar o céu, para ver como as estrelas estavam posicionadas, na ansiedade de vê o homem velho aparecer!" Segundo relatos mais antigos, os moradores da comunidade guiavam-se pelas constelações, que os ajudavam a identificar as estações do ano. Para esses povos, a aparição da figura do "Homem Velho'' marcava o início do Verão, período mais apropriado para as plantações. As constelações eram usadas durante todo o ano, pelos moradores mais antigos da comunidade, elas serviam, principalmente, como calendário agrícola; as flutuações sazonais indicadas pelas constelações influenciavam no período da pesca, caça, plantio e colheita. Segundo Germano Afonso, pós-doutor em etnoastronomia e que já mapeou mais de 100 constelações indígenas Tupi-Guarani, cada imagem formada no céu permitia aos índios identificar que uma nova estação do ano estava por vir. (Afonso 2014). O astrônomo explica que, ao saberem do inverno, os indígenas poderiam garantir sobrevivência das crianças indígenas e dos índios mais vulneráveis. As tribos planejavam qual era o melhor momento para plantar, caçar, pescar e até para engravidar. Afinal, uma criança que nascesse no inverno (Constelação da Ema) teria poucas chances de vencer as 7 adversidades climáticas e diferente das constelações ocidentais, os povos indígenas utilizam tanto as manchas escuras quanto as estrelas para formar os desenhos das constelações no céu e sempre a associam com algum mito. Já Chapin & Threlkeld (2001), definem etnocartografia como uma disciplina de âmbito etnocientífico que estuda a representação pelos indígenas de seu espaço e o sistema cartográfico das culturas não ocidentais, Ou seja, esse conhecimento tradicional surgiu há muitos anos atrás, representado pelos indígenas, com o propósito de gerenciar seu território e manejar seus recursos naturais, com este embasamento, trouxemos esse conhecimento popular indígena, como suporte à agricultura familiar; na produção de farinha de mandioca. A agricultura familiar é um tipo de agricultura desenvolvida em pequenas propriedades rurais. Recebe esse nome, pois é realizada por grupos de famílias (pequenos agricultores e alguns empregados). A colheita dos produtos serve de alimentos para eles e ainda, para o consumo de parte da população. Ainda que seja uma atividade muito importante para o sustento de diversas famílias que vivem na zona rural, dados apontam que cerca de 70% dos alimentos consumidos no Brasil são produtos da agricultura familiar. Vale frisar que, nesse processo, de produção, as técnicas de cultivo e extrativismo, englobam apenas suas práticas tradicionais e seus conhecimentos populares (étnicos). A principal característica da agricultura familiar está associada à policultura, ou seja, o plantio de diversos tipos de produtos, dentre estes, destacam-se as frutas, legumes, verduras e animais, sendo que os principais são o milho, café, mandioca, feijão, arroz, trigo, leite, carne suína, bovina e de aves. Segundo a Emater, a região Norte é a maior produtora de mandioca do Brasil, e o Pará responde por 70% dessa produção, sendo que 96% da mandioca produzida no Pará, vem da agricultura familiar; sua produção está presente nos 144 municípios paraenses não servindo apenas como subsistência, mais como fonte de renda para milhares de pequenos produtores rurais. 8 Em Abaetetuba, no nordeste do estado do Pará, o cultivo de mandioca é predominantemente tradicional na agricultura familiar, e o consumo de seus derivados, especialmente farinhas, definem diversos hábitos alimentares e processos de decisão familiar. Como afirmam Linhares e Santos (2014,p.54), “Fazer farinha não representa apenas um meio de trabalho para garantir o sustento da família, representa de sobremaneira parte do modo de vida e o exercício de uma cultura, repassada de geração para geração com suas transformações e permanências marcadas pelo tempo”. Na comunidade do Alto Guajará de Beja, zona rural de Abaetetuba - PA, o dia começa cedo para seu Miguel Pereira dos Santos e Natalino Baía da Silva; pequenos agricultores e chefes de família da comunidade, eles são o retrato de uma tradição que vem se perpetuando por gerações e garantindo na mesa dos paraenses o produto que é a base alimentar do Estado. Do plantio ao beneficiamento, os lavradores herdaram de seus pais a cultura que hoje é a principal fonte de renda da comunidade, onde vivem cerca de 75 famílias. “Mandioca é pop, mandioca é tudo”! Brinca seu Miguel. E ele está certo! Os produtos derivados da planta são diversos e ajudam a compor alguns dos pratos típicos mais conhecidos da região. Quase onipresente na mesa do paraense, a farinha é, muitas vezes, o alimento principal, nos sete dias da semana. Mas para chegar até as nossas casas, é preciso muito esforço e dedicação. “Começamos na segunda-feira e, na quinta, estamos finalizando tudo; farinha, goma e tucupi!" Diz dona Estelina dos Santos, enquanto prensa a mandioca em seu tipiti que mantêm, rusticamente, no fundo de seu quintal. Ainda hoje, é um desafio unir a prática empírica do homem do campo; repassada por gerações; ao conhecimento científico, com novas tecnologias e técnicas de plantio, que 9 resultam em mais qualidade e maior produtividade. Na comunidade pesquisada, os lavradores utilizam somente sua força de trabalho e seus conhecimentos étnicos como suporte à produção de farinha de mandioca, desde o plantio até a colheita. Comumente, a família inteira participa das atividades, havendo divisão sexual do trabalho e por gênero, de maneira similar ao identificado no trabalho de Claudino (2020), "Dependendo do grupo familiar em questão. Há também uma dinâmica de mutirões bem frequente, correspondendo às estratégias de organização do trabalho em comunidades quilombolas ou agricultores familiares de base camponesa" O cultivo da mandioca inicia-se com a escolha do tempo e o preparo do solo. Primeiramente, os agricultores identificam o período de a melhor área para plantar e em seguida fazem o mapeamento comunitário do perímetro a ser utilizado, Preferencialmente, eles escolhem a capoeira baixa (mato fino que cresceu onde foi derrubada), depois o capoeirão (mato que estar se transformando em grandes árvores); em média a área é de 5 a 10 hectares, segundo os agricultores. Esse mapeamento comunitário é feito sem trena ou qualquer outro objeto de medida; perguntei ao seu Miguel; Como eles sabiam mapear corretamente a área sem usar medidas! Ele levantou, esticou os braços, e disse: _ "Isso aqui pra gente, é a medida de uma braça! (Risos) nós marcamos nossa área de plantio assim! Por exemplo, pegamos um pedaço de pau que dê mais ou menos esse tamanho e marcamos 30 vezes; 30 ripas dessas equivalem à 30 braças, ou seja, 66 metros, e 66 metros tarefa! 10 Segundo os lavradores, a unidade básica da tarefa é a BRAÇA. Uma braça é uma medida de comprimento de 2,20m (dois metros e vinte centímetros, mais ou menos), e é a medida de um homem de altura média em pé com o braço estirado para cima, ou para os lados. Uma braça quadrada, ou seja, um quadrado em que os lados medem uma braça, é chamada de bracinha (2.20m x 2.20m). Trinta bracinhas dá uma braça quadrada., ou seja, uma medida de umafatia de terra de largura uma braça e comprimento 30 braças (ou equivalente, por exemplo 5 braças por 6 braças dá uma braça quadrada, porque contem 30 bracinhas). Uma tarefa são 30 braças. Resumindo: uma bracinha é a medida de uma braça quadrada (2,20m x 2,20m). Uma braça quadrada são 30 bracinhas. Uma tarefa são 30 braças ou 30 x 30 = 900 bracinhas, se uma bracinha é 2,20m, logo temos, 900 x 2 = 1.800 m de terras, ou seja, quase 2 hectares de terra. Após a escolha da área, procede a roçagem, que leva em torno de uns três dias, dependendo do número de pessoas envolvidas nesta etapa. As ferramentas utilizadas para realizar esses processos são o terçado, foice, machado e motosserra. Após a primeira etapa, deixa-se secar o mato, que dependerá do período em que se realizará o plantio, se forem roçadas no período do verão, duram aproximadamente oito 11 dias, porém, se for no período do inverno leva-se aproximadamente 15 dias. Passado este tempo é realizada a queima, e no dia seguinte estará pronta para a limpeza. Depois de limpa ,vem o processo de arar á terra; a aração é o ato de descompactar e preparar o terreno para que as sementes cresçam com raízes mais fortes. Quando a terra é revolvida, ela fica mais fofa e permeável, beneficiando a troca de nutrientes presentes nos adubos; nesse processo curiosamente os lavradores utilizam apenas um facão, dando cortes simples no solo; sobre esse processo ressalta seu Natalino: _" A terra tem que respirar". começa-se o plantio das manivas, extraídas do caule da planta de mandioca, que são cortadas no tamanho de 15 à 20 centímetros de comprimento; sendo medidos apenas com as mãos (a principal forma de reprodução é vegetativa). Estas são colocadas em covas de 15 á 20 centímetros, utilizando ferramentas como os suportes de ferro ou enxada. Os espaços entre as covas variam de 50 a 60 centímetros. Todo esse processo de medição ocorre sem ferramentas de medidas tradicionais, apenas métodos antigos herdados da cultura indígena. Após dois meses do plantio é feita a primeira capina (limpeza da área plantada) e, pos- teriormente é feita uma segunda capina. As ferramentas usadas neste processo são o facão, a enxada e o terçado. Para a colheita também são usados os seguintes instrumentos de trabalhos: fação, terçado, aturar, sacas e paneiro. Neste processo, os agricultores se dividem para realizar o trabalho 12 de ensacamento (chamado de sacação) da mandioca tirada do pé, onde é feita a separação do caule da raiz. Após esse processo de ensacar, a mandioca e carregar até o poço de água, para que amoleça de forma eficaz. Esse processo leva em torno de quatro a cinco dias. Após o período de hidratação na cova (macerar, até que as raízes fi quem amolecidas), 4-5 dias, a mandioca é descascada e levada até a casa de farinha/retiro onde é colocada numa tábua de madeira (material que é confeccionado retirando miolo da madeira. Terminadas as etapas de colheita e, estando já no retiro, a mandioca é amassada e em seguida colocada no tipiti (equipamento confeccionado com a tala da palmeira do miritizeiro, utilizado para espremer a massa), depois de exprimida a massa é coada em uma peneira tecida com tala de arumã (Ischnosiphon Ovatus), tendo como suporte uma caixa de madeira, posteriormente, a massa e retirada com uma cuia e jogada no forno de cobre ou de ferro, com auxílio de um rodo (feito de madeira). Cada fornada da produção da farinha leva em torno de uma hora para ser torrada, mexendo-se sem parar. 13 8. CONSIDERAÇÕES O conhecimento empírico, deve ser tão valorizado quanto o científico, na comunidade pesquisada percebeu-se que através do seu próprio conhecimento, adquirido ao longo da vida, os agricultores, conseguem se localizar no tempo e no espaço,no que tange ao processo de agricultura, sabem perfeitamente o momento certo de plantar e colher , e como plantar; utilizando, apenas a natureza. "Enquanto houver respeito e preservação da identidade cultural dos povos indígenas, a mitologia não morrerá. Ela é valiosa para o modo de vida, as visões de mundo e os rituais importantes da vida das pessoas e comunidades", conclui, o morador da comunidade. 9. . REFERÊNCIAS ATAIDE, Marcos Sebastião; MARTINS, Ayrton Luiz U. A Etnocartografia Como Ferramenta de Gestão. In: XXII Congresso Brasileiro de Cartografia. Anai Pesquisa 2005. LINHARES, A. da S.; SANTOS, C. V. “A casa de farinha é a minha morada”: transformação e permanências na produção de farinha em uma comunidade rural na região do Baixo Tocantins-PA. Revista Agricultura Familiar: Pesquisa, Formação e Desenvolvimento, n. 10, 2014. CLAUDINO, L. S. D. A divisão social do trabalho familiar nas atividades de produção de 14 farinha de mandioca na comunidade Santa Ana, nordeste Paraense, Amazônia brasileira. Contribuciones a las Ciencias Sociales, mar., 2020. AFONSO, Germano Bruno. O céu dos índios do Brasil. Anais da 66ª reunião anual da SBPC – Rio Branco, AC – julho/2014 <http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252012000400023>. Acesso em: 08 nov. de 2018. AFONSO, Germano Bruno. Mitos e Estações no céu Tupi-Guarani. Scientific American Brasil. Disponível em: <https://bit.ly/1zsrDQo>. Acesso em: 08 nov. de 2018. Para conhecer mais sobre a cosmologia indígena, detalhamos a Constelação do Homem Velho (Verão), do q (Outono), Anta do Norte e Colibri (Primavera) e, por último, a da Ema (Inverno). Todas são relacionadas aos Tupi-Guarani.. 15
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