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Módulo 1 - Orçamento Público conceitos e fundamentos.pdf Orçamento Público Orçamento Público: Conceitos e Fundamentos1 M ód ul o 2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2019 Enap Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Educação Continuada SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Presidente Diogo Godinho Ramos Costa Diretor de Educação Continuada Paulo Marques Coordenador-Geral de Educação a Distância Carlos Eduardo dos Santos Conteudista/s Fernanda Costa Bernardes (Conteudista revisora, 2018). Curso produzido em Brasília 2019. 3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação .................................................................................. 5 1. Conceito de Orçamento Público .................................................... 5 1.1 Intervenção do governo na economia ..............................................................6 1.2 O orçamento público e a política fiscal .............................................................8 2. Breve histórico do Orçamento Público .......................................... 9 3. Técnicas orçamentárias ................................................................. 9 4. Funções orçamentárias ............................................................... 12 5. Princípios orçamentários ............................................................ 13 5.1 Princípios orçamentários clássicos .................................................................14 5.2 Princípios orçamentários modernos ...............................................................15 6. Fundamentos legais do Orçamento Público Brasileiro ................. 16 6.1 As leis orçamentárias na Constituição Federal de 1988 .................................17 6.2 O novo regime fiscal .......................................................................................19 7. Revisão ....................................................................................... 27 8. Referências ................................................................................ 28 Sumário 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação Olá! Desejamos boas-vindas ao curso Orçamento Público. É um prazer ter você como participante e auxiliar na construção do seu conhecimento acerca desse importante tema. Este curso visa contribuir para a melhoria da qualidade dos orçamentos elaborados pelos diversos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), trazendo reflexos positivos para a qualidade do gasto público, bem como para o fortalecimento do controle social. Serão abordados temas introdutórios fundamentais ao estudo do Orçamento Público. Você navegará por todo o conteúdo e atividades em sequência, podendo avançar e/ou retornar sempre que achar necessário. Sugerimos que você leia o conteúdo e responda as questões na ordem em que estão dispostos. Mas, você é livre para fazer isso quando e na ordem em que achar melhor - dentro do período de duração do curso. Só não deixe de garantir que fez tudo, para não ter problemas com a obtenção do certificado ao final do curso! Desejamos um excelente estudo! 1. Conceito de Orçamento Público Ao longo da sua vida, você já deve ter refletido, inúmeras vezes, a respeito da importância de planejar os gastos que serão realizados por você durante um determinado período. É provável também que você já tenha se perguntado sobre o que é feito do dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos de nosso país. Diante dessa dúvida, podem surgir outros questionamentos, tais como: Como o governo organiza as contas públicas? Como ele planeja as suas ações e os seus investimentos? É possível reduzir as suas despesas? Como surgiu o orçamento no contexto da Administração Pública e qual a sua importância para um país, estado ou município? Essas reflexões nos permitem concluir que tanto o orçamento pessoal quanto o Orçamento Público envolvem a tarefa de adequar vontades, por exemplo, desejos de consumo ou planos de investimento, aos recursos disponíveis. Portanto, a elaboração de um orçamento busca equalizar necessidades a recursos limitados. Sendo assim, o objetivo aqui é apresentar o conceito de Orçamento Público e sua importância para a sociedade. Para isso, é importante, inicialmente, entendermos qual é o papel do Estado na sociedade moderna. M ód ul o Orçamento Público: Conceitos e Fundamentos1 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1.1 Intervenção do governo na economia De acordo com Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), a teoria das finanças públicas, ao tratar dos fundamentos do Estado e das funções do governo, encontra justificativa para a intervenção do Estado na economia como forma de buscar a correção das imperfeições do mercado e, assim, melhorar o bem-estar da sociedade por meio da satisfação das necessidades coletivas, da manutenção da estabilidade econômica, da promoção do crescimento econômico e da melhoria da distribuição de renda (REZENDE, 2001). Falhas de mercado consistem em situações em que o mercado competitivo não é capaz de alocar recursos com eficiência. Giacomoni (2010) cita como falhas de mercado: • Existência de bens públicos A sociedade possui a necessidade de acesso a determinados bens cujo consumo é indivisível (todos tem o mesmo acesso ao bem), não excludente (não é possível impedir o consumo por um indivíduo) e não rival (o uso por alguém não reduz a quantidade disponível para consumo de outro indivíduo), como no caso de segurança pública, defesa nacional e iluminação pública. Assim, tendo em vista que o mercado não teria interesse em oferecer tais bens, a sua oferta pelo Estado seria justificada. • Monopólios naturais Surge quando apenas uma empresa consegue ofertar um bem ou serviço a um mercado inteiro a um custo menor do que ocorreria se existisse plena concorrência. Diante dessa situação, a intervenção do Estado impedindo a cobrança de preços abusivos, como ocorre na oferta de distribuição de água ou energia, seria justificada. • Existência de externalidades Essa falha de mercado ocorre quando as ações de um agente econômico impactam, positiva ou negativamente, o bem-estar de outras que não tomam parte da ação. Assim, estaria justificada a intervenção do Estado com o fim de estimular ações que geram externalidades positivas (concessão de subsídios para a agricultura, por exemplo) ou desestimular ações que causam externalidades negativas (cobrança de impostos "pigouvianos" sobre a venda de bens como cigarros). • Mercados incompletos Em algumas situações, o mercado não está disposto a oferecer alguns bens e serviços devido ao alto custo ou risco de provisão, apesar de haver demanda para ele. Com isso, caberia ao Estado ofertar tais bens e serviços, como ocorre na concessão de crédito de longo prazo por um Banco de Desenvolvimento do Governo. 7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Assimetria de informação Essa falha ocorre quando o mercado não fornece dados suficientes para todos os indivíduos, de modo que a informação não é disponibilizada igualmente a todos, prejudicando a tomada de decisão racional. Diante disso, caberia ao Estado intervir garantindo maior transparência, por meio, por exemplo, de uma legislação que obrigue maior transparência do mercado. • Ocorrência de desemprego e inflação É uma falha de mercado na alocação dos recursos humanos disponíveis ou no equilíbrio da economia. Tendo em vista que o mercado por si só não garante a solução de altos níveis de desemprego e inflação, a intervenção do Estado por meio da implementação de políticas que visem gerar crescimento econômico, postos de trabalho e o controle dos preços seria de extrema importância. Nesse sentido, Giacomoni (2010) observa que uma das características mais marcantes da economia é o crescente aumento das despesas públicas que, no Brasil, segundo o autor, teve início mais tarde, sobretudo a partir do término da Segunda Guerra Mundial, em razão das crescentes demandas por bem-estar social, nas áreas de educação e saúde, do desejo por serviços públicos melhores e do crescimento das funções administrativas exercidas pelos governos. Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), com base em estudos da área econômica, afirmam que tal contexto demanda do Estado a adoção de mecanismos de correção que levem à construção de uma sociedade mais harmoniosa. Nesse sentido, destacam que a intervenção estatal na economia se realiza por intermédio das seguintes políticas: Regulatória Realiza-se por meio da edição de atos normativos junto ao setor privado, com o objetivo de mitigar as imperfeições relacionadas, sobretudo, à formação de monopólios1 ou àquelas que inviabilizem a universalização da oferta de bens e serviços públicos. Exemplo: a criação de agências reguladoras em setores como energia elétrica, telecomunicações e aviação civil. 1. Conceito que descreve uma condição em que um único vendedor domina o mercado, tendo controle total da oferta de determinado produto ou serviço. Monetária Abrange o controle da oferta de moeda, da taxa de juros e do crédito em geral e tem o objetivo de garantir a estabilidade do poder de compra da moeda. Exemplo: definição da taxa de juros realizada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a qual tem impactos em outras taxas praticadas no mercado, tais como as de créditos a consumidores e a empresas, e no nível de demanda de bens e serviços, afetando também o nível de investimentos na economia. 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Fiscal Abrange a administração das receitas e despesas contidas no Orçamento Público, assim como dos ativos e passivos do governo. No processo de arrecadar receitas e executar despesas, o governo realiza intervenções no mercado, promovendo impactos sobre os níveis de emprego, a distribuição da renda, a oferta e a procura de bens e serviços com reflexos em diversos setores da economia. Exemplo: a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país, contribuindo para o seu desenvolvimento e gerando emprego. 1.2 O orçamento público e a política fiscal É no contexto da política fiscal2 que o Orçamento Público se caracteriza como um instrumento fundamental para a atuação do Estado, no sentido de alcançar resultados que promovam a estabilidade e sustentabilidade econômica e uma maior qualidade de vida à população. Importante Dentre os conceitos observados na literatura, destacamos o conceito apresentado por Baleeiro (1998), que define o Orçamento Público como o ato pelo qual o Poder Executivo prevê e o Poder Legislativo lhe autoriza, por certo período de tempo, a execução das despesas destinadas ao funcionamento dos serviços públicos e outros fins adotados pela política econômica ou geral do país, assim como a arrecadação das receitas já criadas em lei. Vale a pena fazer uma análise dos principais elementos contidos nesse conceito: • “Ato pelo qual o Poder Executivo prevê (...)” - O orçamento é um ato de iniciativa exclusiva do chefe do Poder Executivo. Apesar de cada Poder elaborar sua própria proposta orçamentária, o Poder Executivo é o responsável por sua consolidação e envio ao Poder Legislativo. • “(...) e o Poder Legislativo lhe autoriza” - Apesar da iniciativa do orçamento ser exclusiva do Poder Executivo, é o Poder Legislativo, enquanto representante do povo, que o autoriza. Não há obrigatoriedade de se executar o orçamento aprovado pelo Legislativo, sendo ele apenas uma condição necessária para que se possa realizar o que nele está previsto, conforme a discricionariedade do administrador. 2_ Conjunto de medidas adotadas pelo governo, dentro do orçamento do Estado, que visa obter as rendas indispensáveis à satisfação das despesas públicas. Envolve a definição e a aplicação da carga tributária exercida sobre os agentes econômicos e a definição dos gastos do governo com base nos tributos arrecadados. 9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • “(...) por certo período de tempo (...)” - O orçamento refere-se a um determinado período de tempo que chamamos de exercício financeiro. • “(...) a execução de despesas ao funcionamento dos serviços públicos e outros fins adotados pela política econômica ou geral do país (...)” - O orçamento traz a previsão de despesas do ente federado e deve conter todas as despesas, sejam elas destinadas à prestação de serviços públicos ou para a execução da política econômica do país. • “(...) a arrecadação das receitas já criadas em lei. ” - Assim como o orçamento traz a previsão de despesas, deve também prever a arrecadação das receitas, necessárias para o custeio das despesas autorizadas, as quais já devem ter sido previamente criadas por lei. Pascoal (2005) apresenta uma interessante abordagem relacionada ao conceito de Orçamento Público, a qual se desenvolve por meio dos seguintes aspectos: • Político O parlamento, formado por representantes do povo, autoriza o gasto público, na medida em que vota a Lei Orçamentária, levando em conta as necessidades coletivas. • Econômico Instrumento de atuação do Estado, no domínio econômico, por meio do aumento e/ ou redução, por exemplo, dos gastos públicos. • Técnico Relaciona-se à obrigatoriedade de observância da técnica orçamentária, sobretudo, em relação à classificação clara, metódica e racional da receita e da despesa. 2. Breve histórico do Orçamento Público Do período imperial aos dias de hoje, o orçamento público é uma das mais importantes ferramentas de planejamento e administração do Estado Brasileiro. Acompanhe, no vídeo abaixo, uma breve história do orçamento público no Brasil com o professor James Giacomoni. https://www.youtube.com/watch?v=2jxW4UFD5vk&feature=emb_title 3. Técnicas orçamentárias Conforme relatam Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), à medida que evoluíram as técnicas de planejamento e de intervenção do Estado na economia, novas funções foram incorporadas ao orçamento. Com isso, distintas técnicas de orçamento foram desenvolvidas. 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Desde a formação do instrumento Orçamento Público com a Carta Magna da Grã-Bretanha, foram desenvolvidas muitas técnicas orçamentárias, fazendo frente às exigências e necessidades dos novos arranjos entre o Estado e a sociedade. Muito embora se possa reconhecer uma trajetória de avanços em matéria de Orçamento Público, não é comum verificarmos uma ruptura completa entre o modelo tradicional e o atual no processo de elaboração dos orçamentos. O que se observa é que as novas técnicas foram sendo desenvolvidas e incorporadas paulatinamente ao modelo tradicional. A seguir apresentaremos os tipos de técnicas orçamentárias, que são: • Orçamento Clássico ou Tradicional De acordo com Giacomoni (2010), sua principal função é propiciar o controle político sobre as finanças públicas, buscando o equilíbrio entre receitas e despesas e evitar a expansão descontrolada dos gastos. Por isso, o Orçamento Clássico dá ênfase no objeto de gasto, classificado por itens de despesa e unidades administrativas responsáveis por sua execução, o que permite o controle da despesa. Entretanto, essa excessiva preocupação com o controle contábil, refletido no obsessivo detalhamento da despesa, deixa em segundo plano a preocupação com o atendimento das necessidades da sociedade ou da própria administração, bem como os objetivos econômicos e sociais que motivam a elaboração do orçamento. Dessa forma, segundo Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), a ausência de referência a um programa de governo ou um conjunto de objetivos a atingir é a principal deficiência do modelo. No Orçamento Tradicional, pode-se também observar um viés inercial (ou incremental3) em sua elaboração. Ao adotar essa prática, a distribuição dos recursos para unidades orçamentárias se dá com base na proporção dos recursos gastos em exercícios anteriores (série histórica) e não em função do programa de trabalho que pretendem realizar. Nesse caso, as distorções são inevitáveis, promovendo um ciclo vicioso, baseado no incentivo ao gasto indiscriminado, apenas para garantir maior “fatia” nos orçamentos seguintes. • Orçamento de Desempenho ou de Realizações A evolução do Orçamento Clássico trouxe um novo enfoque na elaboração da peça orçamentária. Evidenciar as “coisas que o governo compra” passa a ser menos importante em relação às “coisas que o governo faz”. Assim, saber a que se destina as aquisições da Administração Pública se tornou mais importante do que o que ela compra. 3_ Orçamento elaborado através de ajustes marginais nos seus itens de receita e despesa, baseado na série histórica orçamentária. Repetição do orçamento anterior acrescido da variação de preços ocorrida no período. Sua utilização como prática está associada ao Orçamento Clássico ou Tradicional. 11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O Orçamento de Desempenho, embora já ligado aos objetivos, não pode ainda ser considerado um Orçamento-Programa, visto que lhe falta uma característica essencial, que é a vinculação ao Sistema de Planejamento. • Orçamento-Programa Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008) discorrem que a ênfase desta técnica está nos programas de governo, nas realizações almejadas, isto é, o orçamento passa a considerar os objetivos que o governo pretende alcançar durante um determinado período. Assim, o Orçamento-Programa constitui peça intimamente associada ao planejamento, traduzindo amplamente o plano de trabalho do governo, com a indicação dos programas e das ações a serem realizadas, bem como dos montantes e das fontes de recursos a serem utilizadas em sua execução. Com base nos estudos de alguns autores, a referida técnica tem como principais características: a integração planejamento-orçamento; a quantificação de objetivos e a fixação de metas; maior ênfase na relação insumo-produto; o acompanhamento físico-financeiro das ações orçamentárias; a contínua avaliação de resultados e uma gestão voltada para o alcance de objetivos. Essa técnica orçamentária foi consagrada na esfera federal pelo Decreto-Lei 200, de 23 de fevereiro de 1967, mas foi apenas com a Portaria nº 9, de 28 de janeiro de 1974, que foi instituída a classificação funcional-programática, que vigorou até sua revogação pela Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999. Essa portaria alterou significativamente a estrutura de classificação funcional-programática até então em voga, ao instituir uma classificação funcional e remeter a estrutura programática aos Planos Plurianuais (PPA) de cada ente da Federação. • Orçamento Base Zero Constitui uma técnica para elaboração do orçamento, desenvolvida nos Estados Unidos pela Texas Instruments Inc., durante o ano de 1969, e adotada pelo Estado da Georgia no governo Jimmy Carter, tendo como principais características: análise, revisão e avaliação de todas as despesas propostas e não apenas das solicitações que ultrapassam o nível de gasto já existente e apresentação de justificativas para todos os programas cada vez que se inicia um novo ciclo orçamentário. É possível, então, depreender que o Orçamento Base-Zero não é um método de organizar ou apresentar o orçamento, mas destinado à avaliação e à tomada de decisão sobre as despesas (GIACOMONI, 2010). Entretanto, verificou-se que há importantes obstáculos na implementação da técnica, os quais não devem ser minimizados. Entre eles, Giacomoni (2010) destaca a resistência interposta pela burocracia diante da avaliação da eficácia de seus programas. Ademais, recomenda o seu uso de forma intensiva apenas no caso de determinados programas ou nos níveis superiores de gerência de programas. 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Orçamento Participativo O Orçamento Participativo é uma técnica que possibilita uma participação direta e efetiva da população na elaboração da proposta orçamentária do governo. Esse tipo de orçamento é adotado por decisão do governo, no qual a sociedade civil é consultada quando da definição de metas e programas prioritários. Dessa forma, representa um progresso na busca da democratização da Gestão Pública. Ressalta-se que essa técnica vem apresentando resultados positivos, sobretudo no âmbito da esfera municipal, e caracteriza-se como um estímulo ao exercício da cidadania e à corresponsabilização entre governo e sociedade sobre a gestão da coisa pública. O chefe do Poder Executivo não é obrigado a seguir estritamente as sugestões colhidas junto à população, uma vez que no Brasil temos um modelo orçamentário autorizativo e não impositivo. Entre as cidades que utilizam o Orçamento Participativo no Brasil, podemos destacar, por exemplo: Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Brasília. 4. Funções orçamentárias Podemos reconhecer que o Orçamento Público não é apenas uma lei que autoriza a arrecadação de receitas e a execução de despesas, mas um instrumento que apresenta múltiplas funções. Nessa direção, o objetivo é apresentar de forma mais detalhada quais são suas múltiplas funções, dentre elas as principais funções orçamentárias existentes e como elas são aplicadas. Musgrave (1976), em sua abordagem, informa sobre a existência de várias funções separadas, embora inter-relacionadas, e propõe uma classificação, baseada na determinação de políticas orçamentárias em um Estado imaginário, no qual prevaleçam padrões eficientes de planejamento fiscal. Tal perspectiva demonstra a complexidade do orçamento e a sua influência na economia, com impactos na vida de cada cidadão. Dessa forma, segundo o autor, a política orçamentária é determinada como sendo o resultado de três funções interdependentes: alocativa, distributiva e estabilizadora, cada qual envolvendo diferentes objetivos e princípios de ação, tendo em vista a obtenção de um planejamento orçamentário eficiente. Vamos conhecê-las! 13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Função alocativa Com esta função, o governo busca atender a necessidades meritórias4 e sociais em áreas da economia em que as forças do mercado não conseguem assegurar resultados ótimos. Assim, por meio da alocação orçamentária o governo pode intervir para que haja uma alocação mais eficiente de recursos. 4. São necessidades satisfeitas por meio do Orçamento Público, além daquilo que já é provido, paralelamente, pelo mercado e pago pelos consumidores. Exemplo: merenda escolar; subsídio para casas de baixo custo, educação gratuita. Função distributiva Essa função está relacionada ao ajustamento da distribuição da renda das pessoas e empresas para assegurar uma situação considerada socialmente justa e que cause o menor dano possível ao funcionamento eficiente da economia. É por intermédio dela que o Governo deve combater os desequilíbrios regionais e sociais, promovendo o desenvolvimento das regiões e classes menos favorecidas. Assim, ela é de fundamental importância para o crescimento equilibrado do país. Função estabilizadora A função estabilizadora tem como finalidade principal a manutenção de um alto nível de utilização de recursos econômicos e de um valor estável da moeda. Assim, está relacionada às escolhas orçamentárias na busca do pleno emprego dos recursos econômicos; da estabilidade de preços; do equilíbrio da balança de pagamentos e das taxas de câmbio, tudo isso visando ao crescimento econômico em bases sustentáveis. 5. Princípios orçamentários Com o objetivo de conferir racionalidade, eficiência e transparência aos processos de elaboração, execução, avaliação e controle do Orçamento Público, foram estabelecidos, ao longo da evolução do orçamento, alguns princípios que, apesar de não terem caráter absoluto ou dogmático – antes constituem categorias históricas, estando sujeitos a transformações em seu conceito e significação, possuem utilidade conceitual (GIACOMONI, 2010). Os princípios orçamentários são estabelecidos e disciplinados tanto por normas constitucionais e infraconstitucionais quanto pela doutrina. Muitos autores reconhecem que vários princípios orçamentários tradicionais estão acolhidos na ordem jurídica brasileira, seja de modo mais ou menos explícito. 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5.1 Princípios orçamentários clássicos Dizemos que são princípios clássicos, ou tradicionais, aqueles que se consolidaram ao longo do desenvolvimento histórico do orçamento com a finalidade de fortalecer o controle do Poder Legislativo sobre o Executivo, tido como função clássica do orçamento (SANCHES, 2004). A seguir temos dois vídeos que tratam dos princípios orçamentários clássicos: https://www.youtube.com/watch?v=thqF1ZBhQls&feature=emb_title https://www.youtube.com/watch?v=ildV6AacTm8 • Anualidade De acordo com o Princípio da Anualidade, o orçamento deve ter vigência limitada a um exercício financeiro. Conforme a legislação brasileira, o exercício financeiro precisa coincidir com o ano civil (1º de janeiro a 31 de dezembro). A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) vem reforçar este princípio ao estabelecer que as obrigações assumidas no exercício sejam compatíveis com os recursos financeiros obtidos no mesmo exercício. • Clareza Pelo Princípio da Clareza, o orçamento deve ser claro e de fácil compreensão a qualquer indivíduo. • Equilíbrio No que diz respeito ao Princípio do Equilíbrio, fica evidente que os valores autorizados para a realização das despesas no exercício deverão ser compatíveis com os valores previstos para a arrecadação das receitas. O Princípio do Equilíbrio passa a ser parâmetro para o acompanhamento da execução orçamentária. A execução das despesas sem a correspondente arrecadação no mesmo período acarretará, invariavelmente, resultados negativos, comprometedores para o cumprimento das metas fiscais, que serão vistas mais adiante. • Exclusividade Verifica-se que a Lei Orçamentária não poderá conter matéria estranha à fixação das despesas e à previsão das receitas. A CF/1988 estabelece como exceções: autorização para abertura de créditos e para a contratação de operações de crédito. • Legalidade Esse princípio deve ser observado em dois sentidos: (i) pela legalidade aplicável aos atos da Administração Pública, segundo a qual só é permitido ao administrador fazer o que está autorizado em lei; e (ii) pela reserva legal, segundo a qual o orçamento se realiza por meio de leis (PPA, LDO e LOA), que seguem as regras impostas legalmente para sua edição. Vale destacar que a abertura de crédito extraordinário, por meio 15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública de Medida Provisória, nos casos previstos na Constituição, não configura exceção ao princípio da legalidade, uma vez que esta é instrumento de mesma hierarquia de lei. • Não afetação das Receitas Segundo esse princípio, nenhuma parcela da receita poderá ser reservada ou comprometida para atender a certos ou determinados gastos. Trata-se de dotar o administrador público de margem de manobra para alocar os recursos de acordo com as prioridades do seu governo. No Brasil, esse princípio aplica-se apenas a impostos. • Publicidade Diz respeito à garantia da transparência e pleno acesso a qualquer interessado às informações necessárias ao exercício da fiscalização sobre a utilização dos recursos arrecadados dos contribuintes. • Unidade Orçamentária Diz que o orçamento é uno, isto é, cada unidade governamental deve possuir apenas um orçamento. Todas as receitas e despesas devem estar contidas numa só lei orçamentária. • Uniformidade Para a obediência a esse princípio, os dados apresentados devem ser homogêneos nos exercícios, no que se refere à classificação e demais aspectos envolvidos na metodologia de elaboração do orçamento, permitindo comparações ao longo do tempo. • Universalidade Todas as receitas e todas as despesas devem constar da Lei Orçamentária, não podendo haver omissão. • Especificação ou Discriminação/Especialização As receitas e as despesas devem aparecer no orçamento de maneira discriminada, de tal forma que se possa saber, pormenorizadamente, a origem dos recursos e sua aplicação. • Orçamento Bruto Determina que todas as receitas e despesas devem constar na peça orçamentária com somente seus valores brutos, não envolvendo assim os seus valores líquidos. Dessa forma, devem constar valores totais, sendo vedadas quaisquer deduções. 5.2 Princípios orçamentários modernos Os princípios orçamentários modernos são aqueles que foram delineados na era moderna, em que o Orçamento Público passou a ser caracterizado não apenas como um instrumento político legal, mas também como um instrumento de planejamento e de administração, damos o nome de princípios modernos (SANCHES, 2004). 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Descentralização É preferível que a execução das ações ocorra no nível mais próximo de seus beneficiários. Com essa prática, a cobrança dos resultados tende a ser favorecida, dada a proximidade entre o cidadão, beneficiário da ação, e a unidade administrativa que a executa. • Responsabilização Conforme o Princípio da Responsabilização, os gerentes/administradores devem assumir, de forma personalizada, a responsabilidade pelo desenvolvimento de um programa, buscando a solução ou o encaminhamento de um problema. • Simplificação Pelo Princípio da Simplificação, o planejamento e o orçamento devem se basear em elementos de fácil compreensão. No âmbito do Governo Federal observam-se iniciativas como a publicação da Revista Orçamento Federal ao Alcance de Todos. • Programação O orçamento deve relacionar os programas de trabalho do governo, enfatizando as metas e os objetivos a serem alcançados. 6. Fundamentos legais do Orçamento Público Brasileiro O Orçamento Público, além de ser uma lei, é também um instrumento de gestão utilizado para organizar os recursos financeiros e, para isso, se baseia em regras, apro vadas pelo Poder Legislativo, que devem ser cumpridas pelos gestores públicos, tendo em vista o Princípio da Legalidade, e acompanhadas pela sociedade. Essas regras são os fundamentos legais que o embasam. Aqui, apresentaremos quais são os fundamentos legais do Orçamento Público brasileiro, destacando a importância de cada um deles dentro do contexto orçamentário. Para iniciarmos, vamos definir o que são fundamentos. A palavra “fundamento” pode ser entendida como: alicerce, base, apoio, entre outros significados. O termo legal refere-se à lei, norma ou conjunto de regras aprovadas pelo Poder Legislativo, que devem ser obedecidas pela sociedade e devem estar de acordo com a CF/88. Infralegais são as normas que estão abaixo de lei, como portarias. Assim, nessa perspectiva podemos exemplificar que os fundamentos legais são as leis e os infralegais são os decretos e portarias que organizam e regulamentam o Orçamento Público no Brasil. Essas leis e normas estabelecem as “regras do jogo” e existem para garantir que as despesas e receitas públicas sejam planejadas e executadas pelos administradores públicos de forma sistematizada, democrática e transparente. 17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A partir das definições apresentadas, que tal conhecer quais são os fundamentos legais que dão base ao Orçamento Público brasileiro? Acompanhe! Importante • Constituição Federal da República de 1988. • Lei 4.320/1964. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm) • Decreto-Lei 200/1967. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ del0200.htm) • Lei Complementar 101/2000. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ lcp/lcp101.htm) • Lei Complementar 131/2009. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ lcp/lcp131.htm) • Lei 10.180/2001. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/ L10180.htm) 6.1 As leis orçamentárias na Constituição Federal de 1988 A princípio, cabe frisar a supremacia da Constituição Federal, que é a Lei Maior do nosso país, em relação às demais normas do ordenamento jurídico nacional, de modo que todas as outras leis, inclusive as relacionadas ao Orçamento Público, devem estar com ela em harmonia. A Constituição Federal de 1988 dedicou especial atenção ao Orçamento Público, separando o Título VI, Capítulo II, Seção II, para o tema “Dos Orçamentos”. Em seus artigos 165 a 169, dispõe sobre as normas gerais do Orçamento Público brasileiro, delineando o modelo atual do processo orçamentário no Brasil, fundamentado em três leis, cuja iniciativa é de prerrogativa do Poder Executivo: Plano Plurianual – PPA; Lei de Diretrizes Orçamentária – LDO e Lei Orçamentária Anual - LOA. Giacomoni (2010) salienta que a Constituição de 1988 trouxe importantes novidades relacionadas ao tema, tais como a devolução ao Legislativo da prerrogativa de propor emendas ao Projeto de Lei Orçamentária e a explicitação de universalidade orçamentária, na qual todas as receitas e despesas devem constar do Orçamento Público, necessitando aprovação legislativa. Ademais, outra importante inovação foi a exigência de, anualmente, o Poder Executivo encaminhar ao Legislativo projeto de lei das diretrizes orçamentárias com o objetivo de orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual. Além disso, segundo o autor, a Constituição de 1988 reforçou a concepção que associa planejamento e orçamento como elos de um mesmo sistema ao tornar obrigatória a elaboração 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública de planos plurianuais abrangendo as despesas de capital e demais programas de duração continuada. O texto constitucional prevê, ainda, a criação de Lei Complementar, em substituição à atual lei de finanças vigente, que data de 1964, para dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual. Essa lei deve, ainda, estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta, bem como condições para a instituição e funcionamento de fundos. Porém, as propostas sobre a referida lei ainda estão em discussão no âmbito do Congresso Nacional. Diante da demora da aprovação da Lei Complementar, prevista no §9º do art. 1650 da Constituição, a Lei de Diretrizes Orçamentárias tem sido progressivamente utilizada como veículo de instruções e regras a serem cumpridas na execução orçamentária, suprindo a impossibilidade de a própria Lei Orçamentária, em face do princípio da exclusividade, de disciplinar temas estranhos à previsão da receita e à fixação da despesa. Você sabia que a Constituição Federal de 1988 , em seu artigo 167, estabeleceu algumas vedações a serem aplicadas no processo orçamentário? Seguem elas: I. início de programas ou projetos não incluídos na Lei Orçamentária Anual; II. realização de despesas ou assunção de obrigações diretas que sejam maiores que os valores constantes da LOA ou de seus créditos adicionais; III. realização de operações de créditos que excedam o total das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais (regra de ouro); IV. vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas as transferências por repartição de receitas a Estados, Distrito Federal e Municípios, a destinação de recursos para a saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino, para realização de atividades da administração tributária e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita; V. abertura de crédito suplementar ou especial sem autorização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes; VI. transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem autorização legislativa; 19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública VII. concessão ou utilização de créditos ilimitados5; VIII. utilização, sem autorização legislativa específica6, de recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social (conceitos a serem vistos no próximo módulo) para cobrir necessidade ou déficit de empresas, fundações e fundos; IX. instituição de fundos de qualquer natureza, sem autorização legislativa; X. transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos, pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; XI. utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais da previdência social em despesas distintas ao pagamento de benefícios do regime geral de previdência social; XII. investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão. Uma recente inovação constitucional relacionada ao tema orçamentário foi o Novo Regime Fiscal, instituído em 2016, por meio da Emenda Constitucional nº 95, que incluiu os artigos 106 a 114 no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT. 6.2 O novo regime fiscal Com a finalidade de limitar o crescimento das despesas primárias da União por um período de 20 anos, foi criado o Novo Regime Fiscal, que estabeleceu limites máximos para as despesas primárias pagas em cada exercício financeiro, para o Poder Executivo e cada órgão dos Poderes Legislativo e Judiciário, Ministério Público da União e Defensoria Pública da União. Esses limites, calculados a partir da despesa primária paga em 2016, corrigida pelo IPCA, abrangem, além dos órgãos mencionados, fundos, autarquias e fundações integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, além das demais operações que afetam o resultado primário do Governo Federal. 5_ Despesas orçamentárias sem valores precisos; em aberto. 6_ Lei aprovada pelo Poder Legislativo autorizando a execução de despesas orçamentárias e as receitas que as financiarão. 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Importante O resultado primário refere-se à economia feita pelo governo para o pagamento de juros sobre sua dívida, isto é, é a diferença entre receitas e despesas do governo em determinado exercício financeiro, excluindo-se as receitas e despesas financeiras (receitas e despesas com juros). Assim, quando falamos em superávit primário, dizemos que o governo conseguiu economizar valor superior ao valor dos juros no período, de modo que poderá pagar não apenas os juros, mas também parte de sua dívida. Já quando falamos em déficit primário, dizemos que a economia é insuficiente para pagar os juros, de modo que essa diferença será somada ao principal da dívida. Dessa forma, se esse comportamento for mantido ao longo do tempo, a dívida crescerá como uma bola de neve, caminhando para a inadimplência. Outro ponto importante é que, de forma inovadora, estabeleceu-se no § 2º do artigo 107 do ADCT, resguardada a independência e autonomia financeira de cada um dos Poderes, que os limites com despesa de pessoal dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, bem como do Ministério Público da União e da Defensoria Pública da União, que a Constituição Federal remetia para serem estipulados na LDO, não poderão ser superiores aos estabelecidos pelo NRF. Ademais, vale ressaltar que o NRF alterou o cálculo dos valores mínimos a serem aplicados em Ações e Serviços Públicos de Saúde (ASPS) e a Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE) durante sua vigência, que, a partir de 2018, passou a ser calculado a partir das aplicações mínimas de 2017, corrigidas pela variação do IPCA. Regra semelhante foi definida para as Emendas Individuais Impositivas, previstas nos §§ 9º e 11 do art. 166 da Carta Magna. A seguir, temos mais fundamentos legais que dão base ao Orçamento Público brasileiro: Lei nº 4.320 de 1964 Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Essa lei estabelece as normas gerais de Direito Financeiro para a elaboração e controle dos orçamentos e dos balanços da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. De acordo com Giacomoni (2010), a lei foi aprovada com o compromisso de consolidar a padronização dos procedimentos orçamentários para os diversos níveis de governo. O autor ainda destaca que a lei desce a particularidades, especialmente na adoção de plano de contas único para as três esferas, apesar de sua ementa se referir a “normas gerais de direito financeiro”. Apesar de ter sido elaborada em 1964, essa lei foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, ou seja, boa parte de seus dispositivos são aplicados na elaboração, na execução e no controle 21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública dos orçamentos até os dias atuais, uma vez que a Magna Carta prevê uma Lei Complementar ainda não aprovada. Tal lei deverá substituir a Lei nº 4.320. Enquanto isso não ocorre, o processo orçamentário mescla a aplicação da Constituição e os instrumentos por ela estabelecidos (PPA, LDO e LOA) com a Lei de 1964. Decreto-Lei nº 200 de 1967 Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Esse Decreto dispõe sobre a organização da Administração Pública. Estabeleceu diretrizes para a reforma administrativa, ampliou a autonomia administrativa, reduziu a burocracia e aumentou a capacidade administrativa do Estado brasileiro. Definiu que a ação governamental deveria promover o desenvolvimento econômico-social do país. (ALBUQUERQUE; MEDEIROS; FEIJÓ, 2008). Giacomoni (2010) afirma que esse ato define o planejamento como um dos princípios fundamentais de orientação às atividades da Administração Federal, sendo o orçamento- programa anual entendido como um de seus instrumentos básicos, conforme dispõe seu art. 16: “Art. 16. Em cada ano, será elaborado um orçamento- programa, que pormenorizará a etapa do programa plurianual a ser realizada no exercício seguinte e que servirá de roteiro à execução coordenada do programa anual”. Lei complementar nº 101 de 2000 Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008) descrevem os antecedentes à publicação da Lei Complementar nº 101, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), período entre o início da década de 1980 e metade da década de 1990, como uma fase de intensa instabilidade na Economia brasileira. Tal período foi marcado por elevados índices inflacionários, planos econômicos inconsistentes e por desequilíbrios expressivos nas finanças públicas dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal). Além disso, afirmam que a conjuntura política brasileira, na década de 80, serviu 22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública de incentivo para que a sociedade ampliasse suas demandas sobre os gastos do governo que, especialmente a partir da Constituição de 1988, elevou o volume das transferências de receitas da União para os demais entes federativos e ampliou direitos com fortes impactos nas finanças do Estado. Os autores destacam que, entre os instrumentos de financiamento do setor público, eram amplamente utilizados artifícios tais como: atrasos de pagamentos a fornecedores e servidores públicos, tomada de recursos junto a bancos oficiais, realização de operações de antecipação de receitas orçamentárias, emissão de títulos públicos e outras operações que transferiam para as gerações futuras o pagamento de suas ações correntes. Diante desse contexto, surgiu a necessidade da criação de mecanismos para a melhoria da gestão fiscal. Para sanear as finanças e melhorar os mecanismos de gestão das contas públicas, os autores informam que diversas iniciativas foram adotadas, partindo-se dos programas desenvolvidos para o equacionamento das dívidas de Estados e Municípios. Adicionalmente, para estabelecer mecanismos estruturais que permitissem prevenir futuros desajustes, foi editada a Lei de Responsabilidade Fiscal. Importante A referida lei configura-se como um código de conduta para os gestores públicos do país e tem sua aplicação com abrangência nos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e nas três esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal). De acordo com essa lei, todos os governantes devem obedecer a determinadas normas e limites para administrar as finanças, devendo prestar contas sobre a utilização dos recursos públicos. Em síntese, o foco da Lei de Responsabilidade Fiscal é a prevenção dos desequilíbrios fiscais. Nesse sentido, Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008) salientam que a motivação para edição da referida lei foi a necessidade de condicionar a ação dos governantes aos limites estritos de sua efetiva capacidade de gasto, de forma a prevenir déficits fiscais e o consequente descontrole das contas públicas. Os autores salientam que o ordenamento institucional da LRF se apoia em quatro eixos: 23Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A LRF prevê, em seu texto, as chamadas Sanções Institucionais, as quais são sanções de natureza político-administrativa impostas aos entes federativos que incorrem no descumprimento de determinadas regras estabelecidas na lei. Como exemplo dessas sanções, podem ser mencionadas a proibição de receber transferências voluntárias, de contratar operações de crédito e de obter garantias de outro ente. Por fim, a LRF fortalece a transparência e eficiência das finanças públicas ao introduzir no setor público brasileiro mecanismos e práticas de gestão saudáveis das contas públicas. Lei complementar nº 131 de 2009 Acrescenta dispositivos à Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) institui mecanismos que permitem maior transparência e a consequente ampliação do controle social na gestão dos recursos públicos. O art. 48 da LRF trata da transparência na gestão fiscal, mediante a divulgação dos planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias e relatórios específicos. Nesse sentido, para acrescentar dispositivos que promovessem maior participação popular no acompanhamento das contas públicas, foi aprovada a Lei Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009. 24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Assim, tal lei foi criada com a finalidade de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Lei nº 10.180 de 2001 Organiza e disciplina os Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, de Administração Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder Executivo Federal, e dá outras providências. Conforme observa Giacomoni (2010), no estudo do orçamento público, tão importante quanto às questões conceituais e de estrutura são os aspectos ligados ao seu processo, à sua dinâmica. Assim, a função orçamentária compreende um sistema orçamentário e um processo orçamentário que se complementam. A lei nº 10.180 de 2001 organiza e disciplina o Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, que compreende o conjunto de estruturas com funções próprias que atuam, de forma integrada, na Administração Pública Federal, no sentido de viabilizar o desenvolvimento de ações e a tomada de decisões relativas às atividades de elaboração, acompanhamento e avaliação de planos, programas e orçamentos e da realização de estudos e pesquisas socioeconômicas (ALBUQUERQUE; MEDEIROS; SILVA, 2008). Conforme versa o art. 2º da Lei nº 10.180/01, o Sistema tem por finalidade: "I - formular o planejamento estratégico nacional;" "II - formular planos nacionais, setoriais e regionais de desenvolvimento econômico e social;" "III - formular o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais;" "IV - gerenciar o processo de planejamento e orçamento federal;" "V - promover a articulação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, visando a compatibilização de normas e tarefas afins aos diversos Sistemas, nos planos federal, estadual, distrital e municipal." Para isso, compreende as atividades de elaboração, acompanhamento e avaliação de planos, programas e orçamentos e de realização de estudos e pesquisas socioeconômicas, sendo composto, de acordo com o art. 4º, por: 25Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública "I - o Ministério da Economia, como órgão central;" "II - órgãos setoriais;" "III - órgãos específicos." O Sistema de Planejamento e de Orçamento abrange todos os órgãos da Administração Direta da União, garantindo maior efetividade das atividades de planejamento e orçamento. É importante destacar que as unidades de planejamento e orçamento vinculadas aos órgãos setoriais, apesar de não integrarem o Sistema previsto no caput do art. 4º da Lei nº 10.180/01, também ficam sujeitas à orientação normativa e à supervisão técnica do órgão central, bem como do respectivo órgão setorial. Da mesma forma, as unidades responsáveis pelos orçamentos dos órgãos dos outros Poderes, apesar de possuírem autonomia orçamentária garantida constitucionalmente, também ficam sujeitos à orientação normativa do órgão central do Sistema. Assim, tem-se que são agentes do Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal todos os responsáveis por atividades orçamentárias da União, os quais podem ser divididos em: • Órgão Central O Ministério da Economia é responsável pela coordenação do sistema e processos de planejamento e orçamento, inclusive pelo de elaboração do PLOA. Sua função é desempenhada por suas Secretarias de Orçamento Federal (SOF), de Planejamento e Assuntos Econômicos (SEPLAN) e de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST). Compete à SOF consolidar e supervisionar a elaboração da Proposta Orçamentária da União, compreendendo os Orçamentos, Fiscal e da Seguridade Social, em articulação com Secretaria de Planejamento e Assuntos Econômicos (SEPLAN), a quem compete a elaboração da proposta de planejamento governamental. No tocante às empresas estatais, também há articulação com a Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST). • Órgãos Setoriais São as unidades de planejamento e orçamento dos Ministérios, da Advocacia- Geral da União, da Vice-Presidência e da Casa Civil da Presidência da República, responsáveis pela articulação com o órgão central nas questões envolvidas no processo. • Unidades Orçamentárias São vinculadas aos respectivos órgãos setoriais, sendo responsáveis pela programação e execução orçamentária. Saiba que o número de unidades orçamentárias pode variar de acordo com a estrutura e missão de cada órgão ao qual estão vinculadas. 26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A figura a seguir apresenta um modelo sintético da organização do sistema de Planejamento e Orçamento Federal: Com o intuito de facilitar a operacionalização das atividades do Sistema, foi criado o Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (SIOP), um sistema informatizado que suporta os processos orçamentários do governo federal em tempo real. Por meio do acesso à internet, os usuários dos diversos órgãos setoriais e unidades orçamentárias integrantes do Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, bem como de outros sistemas automatizados, registram suas operações e efetuam suas consultas online, que também podem ser realizadas pelos cidadãos, por meio do Painel do Orçamento Federal. Painel do Orçamento Federal O Painel do Orçamento Federal é uma ferramenta disponível pelo Siop por meio do qual qualquer cidadão, sem necessidade de possuir login, tem acesso às informações de execução orçamentária em tempo real. Para acesso ao manual de utilização da ferramenta, acesse: https://www1.siop. planejamento.gov.br/siopdoc/doku.php/acesso_publico:painel_orcamento Lei Complementar nº 131 de 2009 Acrescenta dispositivos à Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp131.htm 27Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Lei Complementar nº 101 de 2000 Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm Decreto-Lei 200 de 1967 Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Acessa: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del0200.htm Lei nº4.320 de 1964 Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e contrôle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Acesse: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm 7. Revisão O Orçamento Público se caracteriza como um instrumento da política fiscal fundamental para a atuação do Estado, no sentido de alcançar resultados que promovam a estabilidade e sustentabilidade econômica e uma maior qualidade de vida à população. Conhecemos um breve histórico e entendemos que a origem dos orçamentos públicos está relacionada ao desenvolvimento da democracia, em oposição ao Estado antigo, no qual o monarca considerava-se soberano e detentor do patrimônio originário da coletividade. Aprendemos ainda que, ao longo da evolução histórica do orçamento, foram desenvolvidas diferentes técnicas orçamentárias (Orçamento Tradicional, Orçamento de Desempenho, Orçamento-Programa, Orçamento Base-Zero, Orçamento Participativo), as quais demonstram que o orçamento não se restringe apenas a prever receitas e despesas em um determinado período, possuindo diversas funções. Essa multiplicidade de funções pode ser classificada em três grupos de funções (alocativa, distributiva e estabilizadora), as quais devem, segundo Musgrave (1976), ser combinadas para se alcançar maior eficiência do planejamento fiscal. Conhecemos também que, ao longo da evolução orçamentária, surgiram diversos princípios com a finalidade de conferir racionalidade, eficiência e transparência aos processos de elaboração, execução, avaliação e controle do orçamento público, os quais podem ser agrupados em: • Princípios orçamentários clássicos: Anualidade, Clareza, Equilíbrio, Exclusividade, Legalidade, Não Afetação das Receitas, Publicidade, Unidade Orçamentária, Uniformidade, Universalidade, Especificação e Orçamento Bruto. 28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Princípios orçamentários modernos: Descentralização, Responsabilização, Simplificação e Programação. Por fim, abordamos os fundamentos legais que dão base ao Orçamento Público na esfera federal: Constituição Federal de 1988, Lei nº 4.320 de 1964, Decreto-lei nº 200 de 1967, Lei Complementar nº 101 de 2000, Lei Complementar nº 131 de 2009 e a Lei nº 10.180 de 2001. • A Constituição Federal de 1988 é a lei máxima na qual todas as outras leis relacionadas ao Orçamento Público e todos os processos orçamentários devem estar em harmonia. • A Lei nº 4.320/64 estabelece as normas gerais de Direito Financeiro para a elaboração e controle dos orçamentos e dos balanços da União, Estados, Distrito Federal e dos Municípios. • O Decreto Lei nº 200/67 enfatiza a importância do planejamento, promovendo as bases para a implantação do Orçamento-Programa. • A Lei Complementar nº 101/2000, denominada Lei de Responsabilidade Fiscal, criou mecanismos para a adoção de uma gestão fiscal mais equilibrada, responsável e transparente. • A Lei Complementar nº 131/09 foi criada para acrescentar dispositivos na LRF que promovessem maior participação popular no acompanhamento das contas públicas. • A Lei nº 10.180/01 organiza e disciplina o Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, que compreende o conjunto de estruturas com funções próprias que atuam, de forma integrada, na Administração Pública federal. 8. Referências ALBUQUERQUE, C. M.; MEDEIROS, M. B.; SILVA, P. H. F. Gestão de Finanças Públicas. 2ª edição. Brasília, 2008. BALEEIRO, A. Uma introdução à Ciência das Finanças. 15ª edição, Rio de Janeiro, 1998. BURKHEAD, J. Orçamento Público. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Varga, s, 1971. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998. BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 02 mar. 2020. 29Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Lei Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009. Acrescenta dispositivos à Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm. Acesso em: 02 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para a elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm. Acesso em: 02 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 10.180, de 6 de fevereiro de 2001. Organiza e disciplina os Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, de Administração Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder Executivo Federal, e dá outras providências. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10180.htm. Acesso em: 02 mar. 2020. BRASIL. Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm. Acesso em 02 mar. 2020. BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional–Glossário. Disponível em: https:// www.tesouro.fazenda.gov.br/glossario?b=A. Acesso em: 02 mar. 2020. BRASIL. Senado Federal. Portal Orçamento - Glossário. http://www12.senado.gov.br/orcamento/ glossario. Acesso: mar. 2020. BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Secretaria de Orçamento Federal – Manual Técnico de Orçamento. Disponível em: https://www1.siop.planejamento.gov. br/siopdoc/doku.php/mto:mto_inicial. Acesso em: 02 mar. 2020. CASTRO, R. G. Finanças Públicas. 4ª edição. Brasília: Vestcon, 2000. GIACOMONI, J. Orçamento Público. 15ª edição. São Paulo: Atlas, 2010. LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. 15ª edição. São Paulo: Saraiva, 2011. MUSGRAVE, R. Teoria das Finanças Públicas. São Paulo: Atlas, 1976.Volume 1 e 2. MACHADO JUNIOR, J.T. Classificação das contas públicas. 1ª Ed.Rio de Janeiro: FGV, 1967. PASCOAL, V. F. Direito financeiro e controle externo: teoria, jurisprudência e 370 questões. 4ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. SANCHES, Osvaldo Maldonado. Dicionário de orçamento, planejamento e áreas afins. 2. ed. atual. e ampl. Brasília: OMS, 2004. Módulo 2 - Instrumentos do Processo Orçamentário Brasileiro.pdf Orçamento Público Instrumentos do Processo Orçamentário Brasileiro2 M ód ul o 2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2019 Enap Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Educação Continuada SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Presidente Diogo Godinho Ramos Costa Diretor de Educação Continuada Paulo Marques Coordenador-Geral de Educação a Distância Carlos Eduardo dos Santos Conteudista/s Fernanda Costa Bernardes (Conteudista revisora, 2018). Curso produzido em Brasília 2019. 3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação .................................................................................. 5 1. Modelo orçamentário brasileiro ................................................... 5 2. Instrumentos do processo orçamentário brasileiro ....................... 6 2.1 O Plano Plurianual (PPA) ...................................................................................7 2.2 Entendendo o PPA ............................................................................................8 2.3 Estrutura do PPA .............................................................................................10 2.4 Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ...........................................................16 2.5 Entendendo a LDO ..........................................................................................16 2.6 Lei Orçamentária Anual (LOA) ........................................................................21 3. O Ciclo de Planejamento e Orçamento ........................................ 24 3.1 O Ciclo de Planejamento e Orçamento no Brasil ............................................26 3.2 Planejamento Plurianual ................................................................................27 3.3 Apreciação e adequação do plano pelo Legislativo ........................................29 3.4 Proposição de metas e prioridades e da política alocativa pelo executivo ....30 3.5 Apreciação e adequação da LDO pelo Legislativo ..........................................31 3.6 Elaboração da proposta de orçamento pelo Executivo ..................................31 3.7 Apreciação, adequação e autorização legislativa ...........................................36 3.8 Execução dos orçamentos aprovados .............................................................37 3.9 Avaliação da execução e julgamento das contas ............................................38 4. Revisão do Módulo ..................................................................... 39 5. Referências ................................................................................ 40 Sumário 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Apresentação Olá! Desejamos boas-vindas ao Módulo 2 do curso Orçamento Público! Neste módulo serão apresentadas informações relevantes para a compreensão do modelo orçamentário brasileiro e de seus principais instrumentos: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). Esperamos que o conteúdo abordado proporcione a você um sólido conhecimento sobre esses instrumentos que são de suma importância para o entendimento do orçamento no Brasil. Bons estudos! 1. Modelo orçamentário brasileiro O Orçamento Público é o ato pelo qual o Poder Executivo prevê e o Poder Legislativo autoriza, por certo período de tempo, a execução das despesas e a arrecadação das receitas, com o objetivo precípuo de atender as necessidades da população, procurando reduzir as desigualdades sociais e priorizando recursos em setores fundamentais, como saúde, educação e infraestrutura. Para uma melhor compreensão do Orçamento Público, tão importante quanto as questões conceituais, são os aspectos relacionados à estrutura e ao processo. Assim, é necessário compreender como o orçamento se estrutura e organiza, bem como os processos, etapas e atividades necessárias para que ele seja implementado, buscando o alcance de seus objetivos. Portanto, o objetivo aqui é apresentar o modelo orçamentário brasileiro, que compreende um sistema orçamentário e um processo orçamentário que se complementam. O modelo orçamentário brasileiro A Constituição Federal de 1988, nos artigos destinados a tratar da matéria orçamentária, criou as bases para a instituição do atual modelo orçamentário brasileiro, que busca integrar o orçamento ao planejamento das ações de governo. Assim, o orçamento deve ser visto hoje como parte de um sistema maior, integrado por planos e programas de onde saem as definições e os elementos que vão possibilitar a própria elaboração orçamentária. Com isso, o país começou a trabalhar formalmente com o conceito de ciclo orçamentário ampliado, que não se restringe à elaboração da peça orçamentária que fixa as receitas e autoriza M ód ul o Instrumentos do Processo Orçamentário Brasileiro2 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública as despesas de um determinado exercício financeiro, denominada Lei Orçamentária Anual (LOA), englobando outros dois instrumentos previstos na Constituição Federal: a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Plano Plurianual (PPA). 2. Instrumentos do processo orçamentário brasileiro O Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) são os principais instrumentos que concretizam o sistema orçamentário, conforme estabelecido no artigo 165 da Constituição Federal de 1988, os quais devem ser adotados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. "Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:" "I - o plano plurianual;" "II - as diretrizes orçamentárias;" "III - os orçamentos anuais." Importante Além dos instrumentos citados, a Constituição também faz menção a planos e programas nacionais, regionais e setoriais, os quais devem ser elaborados em consonância com o Plano Plurianual e a leis de créditos adicionais, que nada mais são que alterações dos orçamentos anuais vigentes, seja por meio da inclusão de novas despesas ou da suplementação/redução de valores para despesas já previstas. Essas três leis (PPA, LDO e LOA) são estritamente ligadas entre si, compatíveis e harmônicas, formando um sistema integrado de planejamento e orçamento, o qual busca concretizar as políticas públicas e os programas de governo1. 1_ Políticas públicas são programas de ação governamental com vistas a coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas, para o alcance de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados (Bucci, 1996). 7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Relação dos instrumentos orçamentários Você talvez esteja se perguntando: Qual a relação entre o PPA, a LDO e a LOA? Para responder tal pergunta, devemos recordar que, atualmente, o orçamento não é mais visto apenas como um instrumento de controle do Poder Legislativo sobre o Executivo, ele desempenha também função de destaque no planejamento e gestão da ação pública estatal. É nesse contexto que esses três instrumentos se relacionam, viabilizando a integração entre orçamento e planejamento no Brasil. O PPA, estabelece o planejamento governamental de médio prazo, estabelecendo as diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública Federal, enquanto a LOA fixa o planejamento de curto prazo, ou seja, materializa anualmente o que foi planejado pelo PPA, por meio das ações e programas a serem executados. À LDO, por sua vez, cabe o papel de estabelecer a ligação entre esses dois instrumentos, destacando do PPA as metas e prioridades que deverão compor a LOA, além de definir as regras e normas que orientam a elaboração da lei orçamentária que irá vigorar no exercício seguinte ao da edição da LDO. Assim, apesar de não haver uma hierarquia entre os atos normativos orçamentários do ponto de vista jurídico, há uma hierarquização ente os instrumentos do ponto de vista da matéria orçamentária, em função da necessidade de vinculação entre planejamento e execução. Dessa forma, depreende-se que a concepção do processo de planejamento e orçamento no Brasil confere ao PPA, à LDO e à LOA uma atuação integrada. 2.1 O Plano Plurianual (PPA) Você já ouviu falar que, a cada novo governo, o Poder Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos) elabora o seu planejamento de trabalho para um período de quatro anos? Esse planejamento é denominado de Plano Plurianual, conhecido pela sigla PPA. De acordo com o site da Economia, o planejamento pode ser entendido como o exercício de escolha consciente de ações que aumentem as chances de obter um resultado específico. É uma atividade dinâmica que se opõe ao improviso total, buscando orientar as decisões a partir das informações disponíveis. Ainda segundo o referido site, o planejamento governamental acrescenta ao conceito as características da esfera pública, tornando a atividade ainda mais complexa. Para realizá-la, é preciso conhecimento aprofundado sobre as razões do estágio de desenvolvimento nacional, as formas de operação do Estado e as circunstâncias e possibilidades políticas de atuação. Ao realizar a leitura do PPA, em qualquer esfera federativa, é possível identificar os objetivos que o governo pretende alcançar em diversas áreas, como a área de saúde: construção de postos de saúde, ampliação de leitos, redução da ocorrência de determinadas doenças, etc. 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Ao definir esses objetivos, o governo busca organizar a sua atuação, de forma a obter maior eficiência na implementação das políticas públicas. Além disso, você pode acompanhar com maior clareza a realização dessas ações, o que favorece o fortalecimento do exercício da cidadania e da democracia. 2.2 Entendendo o PPA O PPA pode ser entendido como um planejamento das ações que o governo pretende realizar nos próximos quatro anos. Para melhor compreensão, podemos fazer uma analogia com a sua vida pessoal, onde ele seria um planejamento por meio do qual você talvez planeje viagens, estudos, férias, comprar uma casa; além da manutenção do pagamento das despesas cotidianas, tais como aluguel, supermercado e plano de saúde. De acordo com Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), o Plano Plurianual é o instrumento legal de planejamento de maior alcance temporal no estabelecimento de prioridades e no direcionamento das ações do governo. Estabelece para a Administração Pública, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas que orientarão a aplicação dos recursos públicos para um período de quatro anos. Segundo os autores, o referido instrumento explicita o modo como o governo enxerga e procura construir o desenvolvimento do Estado. Nesse sentido, traduz, de um lado, o compromisso com estratégias e a visão de futuro, e, de outro, a previsão de alocação dos recursos orçamentários nas funções de Estado, nos programas de governo e junto aos órgãos públicos. O Plano Plurianual é uma lei de iniciativa do Poder Executivo, sendo um instrumento previsto no artigo 165 da Constituição Federal, conforme descrito a seguir: "§ 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública Federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada." Para uma melhor compreensão acerca do PPA, cabem alguns comentários sobre pontos específicos do dispositivo em questão: • Regionalização Orienta a atuação do governo para a consideração das diversidades regionais e redução das desigualdades existentes e promove maior transparência à sociedade. A regionalização está em harmonia com o objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, previsto no inciso III do art. 3º da Carta Magna, qual seja, “erradicar a pobreza e marginalidade e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. 9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Diretrizes Orienta a atividade financeira do Estado por um determinado período, norteando a captação, gestão e dispêndio de recursos financeiros, com vistas a alcançar determinados objetivos. • Objetivos Descreve e discrimina os resultados pretendidos pela ação governamental, a partir de situações a serem alteradas, sendo o objetivo a resolução ou a minimização dos seus efeitos de um problema. • Metas Mensura quantitativa e/ou qualitativamente os objetivos, demonstrando as mudanças alcançadas na resolução ou minimizações dos efeitos dos problemas. • Despesas de capital De forma geral, representam os investimentos do governo nos diversos setores da economia, implicando a ampliação da atuação do Estado e acréscimos ao patrimônio público, isto é, são despesas que contribuem diretamente para aquisição de um bem de capital. Exemplo A construção de um hospital, para a criação de 500 novos leitos para a população de determinada localidade, implica em despesas com a realização de obras e com a compra de equipamentos médicos. Já as outras despesas dela decorrentes se referem àquelas relacionadas à manutenção dos investimentos realizados, que se dão por meio de despesa corrente, as quais ocorrerão ainda dentro do período de vigência do PPA. Exemplo Após construído um novo hospital, ele precisará de funcionários e de manutenção, que serão despesas correntes “decorrentes da despesa de capital” que foi a construção do hospital. Despesas correntes são aquelas que não contribuem diretamente para a formação ou aquisição de um bem de capital. • Programas de duração continuada Referem-se ao conjunto de ações governamentais com duração superior a um exercício financeiro, que não se confundem com os investimentos, empreendidas para alcançar determinados objetivos, que abrangem a manutenção de bens e serviços ofertados pelo governo à população. Entretanto, tendo em vista a finalidade do PPA como instrumento de planejamento, estes se restringem às ações finalísticas, não sendo considerados aqueles relacionados às atividades-meio da Administração Pública. Entre os programas de duração continuada no PPA 2016-2019, podemos citar os programas Farmácia Popular, Ciências sem Fronteiras e Bolsa Família. Programa é 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública um instrumento de organização da ação governamental empreendida para alcançar determinados objetivos, monitorados por meio de indicadores para avaliar os resultados da atuação do governo. 2.3 Estrutura do PPA O Plano Plurianual, com vistas a cumprir seu papel de declarar as escolhas do governo e da sociedade, bem como de indicar os meios para a implementação das políticas públicas, e orientar taticamente a ação do Estado para a consecução dos objetivos pretendidos, se estrutura em três dimensões, conforme abaixo: 1. Dimensão Estratégica Precede e orienta a elaboração dos Programas Temáticos, traduzindo as principais linhas estratégicas definidas pelo governo para a implantação de políticas públicas no período de quatro anos. É composta por uma Visão de Futuro, Eixos e Diretrizes Estratégicas, que orientam a elaboração da estrutura programática, principalmente dos Programas Temáticos, que compõem a Dimensão Tática, ao lado dos Programas de Gestão, Manutenção e Serviços ao Estado. Importante A Visão de Futuro é como a declaração de um desejo coletivo factível, que oriente, no geral, o planejamento do destino da Nação e da ação governamental em particular. Os Eixos Estratégicos definem as principais linhas da atuação governamental para o período de implementação do Plano, tendo como referência a Visão de Futuro. Eles são traduzidos pelo conjunto das Diretrizes Estratégicas que norteiam as principais agendas para os próximos quatro anos. São as diretrizes que ditam o alinhamento estratégico necessário à elaboração dos Programas Temáticos e são elaboradas por meio de discussões no âmbito do governo com a participação da sociedade. Eixos Estratégicos do PPA 2016-2019: 11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Fonte: Plano Plurianual 2016-2019 - Mensagem Presidencial. Brasília, 2015. 2. Dimensão Tática Define caminhos exequíveis para o alcance dos objetivos e das transformações definidas na dimensão estratégica, considerando as variáveis inerentes à política pública tratada. A Dimensão Tática do PPA 2016-2019 é expressa nos Programas Temáticos, que retratam as agendas de governo, e nos Programas de Gestão, Manutenção e Serviços ao Estado, que classificam um conjunto de ações destinadas ao apoio, à gestão e à manutenção da atuação governamental, abordando as entregas de bens e serviços pelo Estado à sociedade. A estrutura programática do PPA será tratada mais detalhadamente no próximo tópico deste módulo. 3. Dimensão Operacional Relaciona-se com a otimização na aplicação dos recursos disponíveis e a qualidade dos produtos entregues, sendo especialmente tratada no Orçamento. Assim, é possível observar a forte interação entre planejamento e orçamento no modelo de orçamento-programa adotado pelo Brasil, onde, a partir de uma dimensão estratégica definidora de visão de futuro, eixos e diretrizes estratégicas, são estabelecidos objetivos e programas governamentais, desdobrados na dimensão operacional em ações governamentais, às quais são destinados, anualmente recursos para sua implementação. 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Estrutura Programática do PPA A dimensão tática do PPA é estruturada em Programas - instrumentos de organização da ação governamental, que podem ser classificados em programas temáticos e em programas de gestão, manutenção e serviços ao Estado - com declarações e compromissos orientadores do orçamento Os Programas Temáticos, além de revelarem as transversalidades e multissetorialidades das políticas públicas, contribuindo para a compreensão das suas estratégias de implementação e arranjos de gestão, também representam os desafios e orientam a gestão do Plano, no que diz respeito ao monitoramento e avaliação da dimensão tática, por meio de seu desdobramento em Objetivos, Metas e Indicadores. Importante As informações contidas no PPA podem, de forma alternativa, serem organizadas de acordo com as Agendas Transversais e Temáticas, permitindo uma visão sistematizada das ações do governo para públicos ou temas específicos, ou com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), refletindo a relação das políticas públicas federais consolidadas no PPA com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Tendo em vista as características e finalidades do programa temático, esse é composto pelos seguintes elementos de planejamento: 13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Indicadores Os indicadores2 são o conjunto de parâmetros que permitem acompanhar a evolução do programa temático. Cada indicador permite identificar, mensurar e comunicar, de forma simples, a evolução de determinado aspecto da intervenção proposta pelo programa. • Objetivos Os Objetivos expressam as escolhas de políticas
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