Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TEÓRICOS DO RESTAURO I: JOHN RUSKIN E E. E. VIOLLET-LE-DUC A partir da Revolução Industrial, teve início um processo acelerado de crescimento urbano, especialmente em cidades que concentravam as novas indústrias; Infelizmente esse crescimento aconteceu sem controle, gerando sérios problemas de saúde pública e também, em muitos casos, às custas do patrimônio arquitetônico existente. John Ruskin e o Movimento Conservacionista (ou “Anti-Restauro”) O movimento “anti-restauro”, ao condenar os arquitetos restauradores pela destruição da autenticidade histórica das edificações, pregava a adoção de medidas que focassem na proteção, na manutenção e na conservação dos monumentos. *Intervencionistas: defensores do restauro. *Anti- intervencionista: defensores da conservação. Para Ruskin, toda obra de arte – incluindo as edificações - representava uma criação única, genuína, impossível de ser repetida ou recriada. Os avanços da Revolução Industrial, na visão de Ruskin, conduziam os homens a um processo de “desnaturação e desenraizamento”, contribuindo para degradar sua condição moral, o seu bem- estar e o próprio “espírito” do ser humano. Conforme Ruskin, não fazia sentido falar da arte fora de um contexto moral e social, onde tudo vinha enquadrado em “um sistema orgânico de absoluta recusa à industrialização”, definida por ele como como opressiva, alienante e desumanizante (ou seja, contrária à própria arte); Seu pensamento, portanto, segue os mesmos princípios dos Movimentos Arts & Crafts e Art Nouveau. As Sete Lâmpadas da Arquitetura - sacrifício, verdade, potência, beleza, vida, memória e obediência. A LÂMPADA DA MEMÓRA A paisagem, em sua obra, é entendida enquanto relação natureza-cultura, natureza-arte ou ainda natureza- arquitetura. Ou seja, Ruskin entende que as obras arquitetônicas – as intervenções do homem sobre a paisagem -, com o passar tempo, passam a ser parte integrante e inseparável da própria paisagem. A arquitetura, portanto, vista como reflexo do caráter dos homens: homens virtuosos produzem, naturalmente, uma arquitetura de qualidade. A importância da durabilidade das construções: o homem deve construir pensando nas futuras gerações! Ou seja, não deixa de ser uma visão “moderna” da arquitetura, resgatada hoje pelo conceito da sustentabilidade! *A tríade Vitruviana: durabilidade, funcionalidade e beleza. A importância da manifestação artística (os ornamentos) como forma de “expressar de modo simbólico ou literal tudo quanto é digno de ser conhecido sobre os sentimentos e realizações de uma nação. Ou seja como parte de um patrimônio cultural das nações. O restauro entendido como a “mais total destruição que um edifício possa sofrer: uma destruição no fim da qual não resta nem ao menos um resto autêntico a ser recolhido. *A restauração sempre será uma hipótese. - Caso haja uma restauração é preferível demolir o edifício e reconstruí-lo. “O princípio vigente hoje (...) consiste primeiro em negligenciar o edifício para depois proceder ao seu restauro. Tomai atentamente cuidado com os vossos monumentos e não tereis nenhuma necessidade de restaurá-los”. Willian Morris: Anti-Restauro Defensor da produção manual de produtos (em oposição à excessiva industrialização). Princípios básicos da SPAB: “reparo conservador” e prevenção contra “a deterioração através do cuidado diário”. *Sociedade anti-restauro. Contudo, para muitos casos, a “conservação” já era tarde demais. Além disso, era muito difícil para a sociedade em geral aceitar a “morte” de belíssimas construções.. Viollet-Le-Duc e o Restauro Estilístico França – 1830-1850 A França teve proeminência no campo da teoria do restauro em função dos graves prejuízos ao patrimônio cultural (especialmente arquitetônico) ocorridos durante as sucessivas revoluções ocorridas no país a partir de 1789. Percebendo perdendo que o país estava um patrimônio importante – inclusive do ponto de vista econômico – e muitas vezes público (propriedades da nobreza e da igreja foram assumidas pelos obrigadas urgente governos revolucionários), as autoridades foram a e garantir a sua tomar medidas enérgicas para proteção. Em 1830, cria-se o cargo de Inspetor Geral dos Monumentos Históricos com o objetivo de coordenar os estudos avaliações e os relatórios de científicos, as proteção dos monumentos históricos, orientar as autoridades de cada região, bem como supervisionar as eventuais obras de restauro. Em 1843, Mérimée apresenta algumas das primeiras normas oficiais referentes ao restauro. Exemplo: “Quando não houver traço algum do elemento original, o artista deverá redobrar os esforços (...) e estudo através da consulta a monumentos do mesmo período, do mesmo estilo, do mesmo país, e deverá reproduzir esses tipos sob as mesmas circunstâncias e proporções” Comissão dos Edifícios Religiosos que, no ano seguinte (1849), lança o guia Instrução para a conservação, manutenção e restauro de edificações religiosos, baseado num relatório escrito por Eugène E. Viollet-le-Duc e Mérimée. CONCEITO DO RESTAURO: A palavra e a coisa são modernas. Restaurar um edifício não é conserva-lo, repara-lo ou refazê-lo, é restituí-lo a um estado completo que pode jamais ter existido em um dado momento. CONCEITO DE ESTILO: O estilo é a ilustração de um ideal baseado em um princípio. Para Viollet-le-Duc, as formas arquitetônicas são consequência lógica dos princípios estruturais que, por sua vez, dependem dos materiais, dos programas, das necessidades etc. Avaliação das Fases Históricas: - O arquiteto deveria conhecer profundamente não apenas os métodos de trabalho antigos, mas também todas as suas “escolas”. - Cada edifício (ou parte dele) deveria ser restaurado no estilo que lhe era próprio, não apenas “como aparência”, mas também “como estrutura”. Problematização 1 – Situação em que um edifício, ao ser reformado no passado, novos elementos que a uma importante incorporou atendiam necessidade (ex.: calhas). Num contemporâneo, restauro retirar deve- se estes elementos? Seria possível “reproduzir” estes elementos num estilo que imitasse o período anterior? (1): NÃO, pois além de ser funcionais (as calhas), é muito provável que não existissem no período anterior. Como não seria lógico “inventar” uma calha de um século em que ela não existia, mantém-se a que existe, com as características do período em que foi acrescentada. 2 – Elementos estruturais (ex.: abóbadas de uma nave), danificados por um motivo qualquer, foram refeitos séculos depois seguindo um novo padrão. Num restauro contemporâneo, é correto tentar “restaurar” a solução original? 2a - Mas e se estes elementos forem “notavelmente belos” e se harmonizam com o todo, formando um conjunto de grande valor? (2): para a primeira pergunta, SIM, pois é certo que as abóbadas foram refeitas de acordo com o estilo e as técnicas de um período em que, certamente, o assunto não foi estudado como devia. Ou seja, consertou-se a abóbada do jeito que era feito naquela época. No momento atual, faz sentido eliminar a abóbada mais recente (quando arruinada) e “há que se considerar restituir ao edifício a sua unidade”. (2a): para a segunda pergunta, contudo, a resposta seria NÃO pois não faria sentido, nesse caso, eliminar o que foi acrescentado com grande benefício para a edificação, às vezes até melhorando a sua funcionalidade. 3 – Situação em que antigos pilares estão sendo esmagados por terem sido produzidos com um material muito frágil. No passado, alguns deles já foram refeitos com outras seções. Num restauro atual, deve-se copiar estas seções variadas? 3a – Mas e se estas diferentes seções representarem um testemunho de importantes mudanças no progresso da arquitetura? (3): “Não; reproduziremos para todos os pilares a seção primitiva, e os elementos em grandes blocos para prevenir o retorno dos acidentes que são a causa de nossa operação”. (3a), “nós os reproduziremos em sua forma modificada, pois essas modificações podem esclarecer um ponto da história da arte”. (VIOLLET- LE-DUC) 4- O que fazerquando, por necessidade estruturais ou mesmo para estruturais ou completar uma obra “mutilada”, é necessário refazer partes de monumentos dos quais não restam mais vestígios? Promove-se a sua recomposição? (4): SIM, mas após um domínio absoluto sobre o período em que foi criado o monumento (estilo, materiais, técnicas etc.) e respeitando sempre a sua escala (relação entre os acréscimos e os vestígios originais). Recomendações gerais: (1)– As partes novas devem ser de melhor qualidade e mais duráveis que as substituídas: “É necessário que (...) o edifício restaurado passe ao futuro com uma duração maior do que a que teve até então”. (2)– Todo monumento sofre com as reformas, o que torna aconselhável prever o reforço estrutural como parte importante do projeto de restauro. (3)– O arquiteto deve conhecer a fundo o edifício antes de proceder com a intervenção: seu(s) estilo(s) (e suas variáveis), o sistema estrutural, o seu “temperamento” etc. (4)– O arquiteto deve ter sempre algumas alternativas prontas, pois os imprevistos são frequentes. (5)– Prevenir acidentes é fundamental. Com um bom planejamento, evitam-se as situações de pânico, os atrasos etc. (6)– O arquiteto deve estar sempre em contato próximo com os operários, inspirando-lhes confiança e respeito: “O amor- próprio é o estímulo mais forte entre esses homens dedicados a um trabalho manual, e, dirigindo- se à sua inteligência, à sua razão, pode-se obter tudo deles”. (7) – O projeto de restauro já deve prever uma utilização para o edifício após as obras: “(...) o de conservar um edifício é melhor meio encontrar-lhe uma plenamente à destinação e satisfazer necessidades que esta destinação impõe”. Anastilose: “Técnica de reconstrução ou reintegração de um monumento em ruínas, a partir do estudo das peças ou fragmentos que o compõem, eventualmente com novos materiais a complementarem as peças originais”. (8) – O uso de materiais “modernos” é aceitável, desde que respeite as soluções originais e que não sobrecarregue a estrutura, pondo o imóvel em risco. (9)– O uso da fotografia “jamais será excessivo” num projeto de restauro. (10)– Toda obra de restauro deve ser precedida de cuidadosas escavações para a recuperação daqueles fragmentos que, dentro do possível, devem ser reintegrados ao monumento. Analisando a posição exata de cada peça, é possível recorrer à anastilose. (11) – As adaptações dos monumentos às necessidades contemporâneas: O Restauro de Notre-Dame de Paris Em 1831, a população saqueou e destruiu toda a antiga sacristia da catedral, evento inclusive registrado por Viollet-le-Duc em um croquis. 1 – Solução utilizada para as janelas da nave: 2 – Torres foram projetadas por Viollet-le- Duc, mas nunca construídas, por objeção de Lassus: 3 – Construção da flecha sobre o transepto: 4 – A entrada principal, executada com base em um desenho do século XVIII tido como “confiável”: 5 – Novas estátuas dos antigos reis da Judéia na fachada oeste: 6 – Os vitrais, parcialmente substituídos por “modelos” copiados de outras igrejas: 7 – Quase todas as gárgulas e quimeras foram invenções de Viollet-le-Duc e do escultor Victor Pyanet:
Compartilhar