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Revista Brasileira de Brazilian Journal of Functional Nutrition NUTRIÇÃO FUNCIONAL ano 18. edição 73 www.vponline.com.br ISSN 2176-4522 Prevenção e tratamento da esteatose hepática pelos alimentos Efeitos do exercício nas respostas moleculares e hormonais que induzem a lipólise Série Agroecologia - Parte IV Água: Recurso finito vital à sobrevivência das populações e do planeta RECEITA Bolinho assado de grão-de-bico e especiarias 2 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Editorial Iniciando mais um ano de atualizações científicas, esta edição conta com temas relevantes para agregar mais conhecimento à prática clínica de nossos leitores. A esteatose hepática é um desequilíbrio que acomete centenas de pessoas todos os anos e está associada ao aumento da obesidade a estilos de vida não saudáveis. Trazemos, assim, uma importante revisão sobre o papel da nutrição nessa doença, ressaltando que por meio de alimentos ricos em vitaminas, minerais e compostos bioativos, é possível reduzir os riscos e auxiliar no seu tratamento. Os alimentos são as principais fontes dos nutrientes essenciais para a modulação e equilíbrio das funções orgânicas, sendo o principal objeto de trabalho do nutricionista. Na prática clínica, em alguns casos, de acordo com a individualidade bioquímica, a suplementação nutricional pode ser uma ferramenta complementar. Nesse contexto, apresentamos um artigo esclarecedor sobre os fatores que podem influenciar a efetividade da suplementação, reforçando a importância da prescrição de forma ética, responsável e segura. Na área de nutrição esportiva, apresentamos atualizações sobre a aplicação da dieta de FODMAPs em atletas e seus efeitos no sistema gastrointestinal e sobre os efeitos do exercício nas respostas moleculares e hormonais que induzem a lipólise, que trazem informações relevantes para o tratamento nutricional de atletas e praticantes de atividade física que buscam saúde e rendimento. No âmbito da agroecologia e sustentabilidade, trazemos dados importantes para o entendimento do papel do estresse ambiental no metabolismo secundário das plantas e como os sistemas de produção convencionais e naturais podem impactar na qualidade nutricional dos alimentos. Ainda nesse aspecto, nossa série de Agroecologia vem ao encontro do 8° Fórum Mundial da Água, fortalecendo o conceito da água como recurso finito vital à sobrevivência das populações e do planeta. Na gastronomia, uma nutritiva receita de bolinho assado de grão-de-bico e especiarias para dar mais sabor e vitalidade positiva à alimentação. Boa leitura! Dra. Valéria Paschoal Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional Dra. Paula Gandin Presidente do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional 3 w w w .v po nl in e. co m .b r Expediente Conselho Editorial Ana Cláudia Poletto Nutricionista pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2002) e mestre em Ciências, com ênfase em Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo (2006). Pesquisadora (doutoranda, desde 2007) do programa de Fisiologia Humana da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Fisiologia Endócrina, atuando nos temas: mecanismos transcricionais envolvidos na regulação da expressão do gene SLC2A4, sensibilidade à insulina, metabolismo lipídico, obesidade e diabetes mellitus. Ana Vládia Bandeira Moreira Nutricionista graduada pela Universidade Estadual do Ceará (1996), mestre em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (1999) e doutora em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (2003). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Viçosa (MG). Coordenadora do Laboratório de Análise de alimentos e coordenadora do Projeto de extensão pró-celíaco. Ministra as disciplinas de Técnica Dietética na Graduação e Dietética Aplicada no Mestrado e Doutorado e Gastronomia Funcional na especialização na UFV. Andréia Naves Nutricionista e Educadora Física. Diplomada pelo The Institute for Functional Medicine (USA) em 2007. Editora Científica da Revista Brasileira de Nutrição Funcional. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Docente convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Autora dos Livros “Nutrição Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Nutrição Clínica Funcional: Obesidade”, “Nutrição Clínica Funcional: Modulação Hormonal” e “Tratado de Nutrição Esportiva Funcional”. Colaboradora do livro “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”. Membro do The Institute for Functional Medicine – USA. Coordenadora científica dos cursos de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Revista Brasileira de Nutrição Funcional - 2018 - edição 73 Indexação: Sumários (www.sumarios.org) e ESALQ (http://dibd.esalq.usp.br) Diretoras Responsáveis Valéria Paschoal e Andréia Naves Coordenação Científica Ana Beatriz Baptistella consultoriacientifica@vponline.com.br Neiva dos Santos Souza neiva.souza@vponline.com.br Jornalista Responsável José Maria M. Filho MTB – 19.852 - josemaria@vponline.com.br Revisão Ortográfica Lemuel Cintra lcintra@gmail.com Capa, Ilustrações e Editoração Bárbara Feracin Meira Ctp e Impressão A.R. Fernandez Pré-Impressão e Gráfica www.arfernandez.com.br comercial@arfernandez.com.br Redação, Publicidade e Administração VP Centro de Nutrição Funcional Associação Atendimento ao Associado Paula Gimenez - contato@vponline.com.br Fone/ Fax: (11)3582-5600 As condutas nutricionais preconizadas na Revista Brasileira de Nutrição Funcional devem ser supervisionadas exclusivamente por nutricionistas ou médicos especializados. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos anúncios, matérias e artigos assinados. A reprodução total ou parcial desta publicação só será permitida mediante autorização prévia. VP Centro de Nutrição Funcional Fone/ Fax: (11)3582-5600 contato@vponline.com.br www.vponline.com.br Revi sta B rasil eira de Braz ilian Jour nal o f Fun ction al Nu tritio nNUT RIÇÃ O FUN CION AL ano 1 7. ed ição 7 0 www .vpon line.c om.b rISSN 2176 -452 2 O efe ito d a car quej a (Ba ccha ris tr imer a) na sí ndro me m etab ólica : estu do d e cas o Enve lheci men to sa udáv el, ex ercíc io fís ico, nutri ente s est imul ante s e a biog ênes e mit ocon drial Dieta Ceto gênic a : como colo car e m pr ática ? RECE ITA Barra de ce real f uncio nal Rev ista Bra sile ira de Bra zilia n Jo urn al o f Fu nct ion al N utr itio n NU TR IÇÃ O FUN CIO NA L ano 17. edi ção 71 ww w.v pon line .com .br ISS N 2 176 -45 22 Inte rpr eta ndo a dos age m d a vi tam ina B12 Nit rato : su ple me nta ção , fon tes die téti cas e e feit os n a pe rfo rma nce Sér ie A gro eco log ia: P arte II A im por tân cia das abe lhas par a a agr oec olo gia REC EIT A Tor tinh a de Leg um es c om Taio ba Coordenação e Autores 4 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Coordenação e Autores Anna Cecília Queiroz de Medeiros Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Experiência na área de Nutrição, com ênfase em Nutrição e metabolismo de nutrientes nos diversos estados fisiológicos. Fátima Aparecida Arantes Sardinha Nutricionista. Doutora em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas/USP. Mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP/EPM. Especialista em Nutrição e Saúde Pública pela UNIFESP/ EPM. Docente convidada do curso de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceriacom a Universidade Cruzeiro do Sul. Fernanda Serpa Diretora e Docente da Empresa Nutconsult. Nutricionista pela Universidade do Estado do RJ/UERJ. Título de residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Docente convidada dos cursos de pós-graduação e extensão da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Mestre em Clínica Médica - IPPMG/UFRJ. Nutricionista Militar do Corpo de Bombeiros do RJ. Nutricionista Municipal do Hospital Souza Aguiar. Gilberti Hübscher Nutricionista. Mestre e Doutora em Fisiologia Cardiovascular pela UFRGS. Especialista em Gestão e Saúde pela PUC-RS, Gestão em UAN pela UNISINOS e em Saúde da Família pela ULBRA (RS). Docente convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul e dos cursos de graduação em Nutrição e pós-graduação em Saúde e Trabalho da Feevale (RS). Membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Márcia Cristina Paiva Nutricionista, graduada na Universidade de Passo Fundo - RS. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e pós-graduanda em Fitoterapia Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Educadora em diabetes certificada pela empresa Medtronic Brasil de equipamentos médicos (Bombas de infusão de insulina). Atua em atendimento clínico em clínica de gastroenterologia em São José dos Campos - SP. Rosangela Passos de Jesus Professora Adjunta da Escola de Nutrição da UFBA (ENUFBA). Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da USP. Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Nutrição Clínica Funcional, coordenadora do Ambulatório de Nutrição e Hepatologia do Hospital Universitário Prof Edgard Santos. Sandra Matsudo Médica Especializada em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Doutorado e pós- doutorado em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Diretora Geral do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS. Coordenadora geral do Projeto Longitudinal de Envelhecimento e Aptidão Física de São Caetano do Sul. Coordenadora pela IUHPE dos Cursos de Atividade Física e Saúde Pública - Agita Mundo. Professora Titular do Curso de Educação Física do Centro Universitário FMU. Editora Executiva da Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Autora dos Livros: “Avaliação do Idoso - Física e Funcional”, “Envelhecimento e Atividade Física” e “Obesidade e Atividade Física”. Valéria Paschoal Nutricionista. Mestre na área de Nutrição e Pediatria pela UNIFESP – EPM. Editora Científica da Revista Brasileira de Nutrição Funcional. Coordenadora científica e docente convidada dos cursos de Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Autora dos Livros “Nutrição Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”, “Nutrição Clínica Funcional: câncer” "Tratado de Nutrição Esportiva Funcional" e "Nutrição & Sustentabilidade: alimentando um mundo saudável". Coordenadora da Comissão Científica do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Membro do The Institute for Functional Medicine – USA. Nutricionista do CSA Brasil (Community Supported Agriculture - Agricultura Sustentada pela Comunidade). Membro do conselho consultivo da CNTU (Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados). 5 w w w .v po nl in e. co m .b r Coordenação e Autores Lista de Autores Elisa de Almeida Jackix Nutricionista graduada pela PUC Campinas. Doutora em Nutrição Experimental Aplicada à Tecnologia dos Alimentos - UNICAMP. Mestre em Nutrição Experimental Aplicada à Tecnologia dos Alimentos - UNICAMP. Docente do curso de graduação da PUC-Campinas. Docente e supervisora de estágio na área de Nutrição Social e Educação Física da FAM, UNIMEP, METROCAMP. Docente convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da Universidade Cruzeiro do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Fernando Oliveira Catanho da Silva Bacharel em Treinamento Esportivo pela UNICAMP. Licenciado em Educação Física pela UNICAMP. Especialista em Bioquímica e Fisiologia do Exercício pela UNICAMP. Doutor em Biologia Funcional e Molecular pela UNICAMP. Professor Titular do Centro Universitário Adtalem/Devry/Metrocamp, Campinas/SP. Docente convidado no curso de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul. Isabela Pereira Gouveia Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo. Estagiária em Nutrição no departamento científico da VP Centro de Nutrição Funcional. Luis Gustavo Patricio Nunes Pinto Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (Unesp) de Bauru, integrante da Articulação Regional de Agroecologia (ARA); principais temas de pesquisa: Agroecologia, produção orgânica e biodinâmica, Agricultura familiar, sustentabilidade rural e ambiental. Maiara Cristina de Lima Nutricionista. Especialista em Nutrição Esportiva. Membro da Academia Brasileira de Nutrição Funcional. Docente convidada no curso de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Márcio Leandro Ribeiro de Souza Nutricionista. Doutorando e mestre em Saúde do Adulto pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduado em Nutrição Clínica Funcional, em Nutrição Esportiva Funcional e em Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Pós-graduado em Treinamento Desportivo. Docente convidado nos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional, Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Wagner Alessandro dos Reis Nutricionista formado pelo Centro Universitário Newton Paiva/BH. Especialista em Formação Pedagógica para Profissionais de Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduado em Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela VP Centro de Nutrição Funcional (UNICSUL). Docente convidado dos cursos de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional e em Fitoterapia Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional (UNICSUL). Nutricionista e diretor do Espaço Wagner dos Reis. Personal Nutrition Funcional. Ministra palestras e cursos de atualização em Nutrição Funcional. 6 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Índice 7 17 35 45 12 26 43 O papel do estresse ambiental no metabolismo secundário das plantas correlacionado aos sistemas convencionais e naturais de produção de alimentos Fatores que influenciam a efetividade dos suplementos nutricionais Série Agroecologia: Parte IV - Água: Recurso finito vital à sobrevivência das populações e do planeta Prevenção e tratamento da esteatose hepática pelos alimentos Receita: Bolinho assado de grão-de-bico e especiarias Short Communication: aplicação da dieta de FODMAPs em atletas e efeitos no sistema gastrointestinal Efeitos do exercício nas respostas moleculares e hormonais que induzem a lipólise 35 w w w .v po nl in e. co m .b r Márcio Leandro Ribeiro de Souza Fatores que inf uenciam a efetividade dos suplementos nutricionais Resumo O uso de suplementos alimentares vem crescendo bastante na atualidade, porém esse uso muitas vezes é feito de forma inadequada e sem orientação profissional.Os benefícios de uma suplementação não estão relacionados apenas com a sua ingestão. Diversos fatores podem interferir na biodisponibilidade e no aproveitamento de um nutriente e precisam ser levados em consideração quando um profissional de saúde prescreve uma suplementação. Fatores como formas químicas dos nutrientes, doses inadequadas, saúde gastrointestinal, sobrecarga de órgãos como fígado e rins, risco de contaminação e adulteração podem estar associados com a efetividade de uma suplementação. Sendo assim, a presente revisão bibliográfica pretende investigar e discutir fatores e situações clínicas que podem influenciar a efetividade de um suplemento alimentar. O uso dos suplementos alimentares é mais uma ferramenta que o nutricionista pode utilizar em sua prática clínica, desde que esse uso seja feito de forma ética, segura e responsável. Palavras-chave: Suplemento alimentar, riscos, contaminação, biodisponibilidade. Abstract The modern environment is replete with “clues” associated with foods that encourage people to eat, even in the absence of metabolic needs, which can result in overweight and obesity. This article intends to show how the environmental clues, such as food vision, smell, places where certain foods were consumed, specific food components (sugar and fat), as well as interceptive clues, like hunger, are able to guide the search for food and can trigger a motivational state resulting in the compulsive desire to eat. In this context, according to some authors, these clues can evoke craving for specific foods in a way that can be considered analogous to that provoked by craving in psychoactive drug addicts. In parallel, the article will provide information on what neurochemical changes occur in the reward system of those individuals and how they can be reversed by physical activity. Keywords: Dietary supplement, risks, contamination, bioavailability. Factors inf uencing the effectiveness of nutritional supplements l l 36 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Márcio Leandro Ribeiro de Souza O Introdução O uso de suplementos alimentares (SA) ganha destaque atualmente e vem crescendo em números expressivos. Com o propósito de complementar o que uma dieta habitual não forneceu, esse aumento do uso de suplementos tem como objetivo: saúde e bem-estar, energia, fortalecimento de sistema imunológico, prevenção de envelhecimento, saúde óssea e cardiovascular, estética, controle de peso e emagrecimento, performance no exercício, entre outros1. É um mercado lucrativo. Nos EUA, em 2013, esse mercado movimentou US$ 104 bilhões de dólares. Os suplementos mais consumidos são polivitamínicos e poliminerais, vitamina C, proteínas, aminoácidos, carboidratos, bebidas energéticas e fitoterápicos1,2. A prevalência de uso e o tipo de SA variam de acordo com a população estudada, sexo, idade, profissão, condições patológicas, indicação de um profissional ou prescrição por conta própria. Estima-se o uso de pelo menos um tipo de SA por aproximadamente 60% das pessoas3, valor percentual bem expressivo. Segundo Dwyer et al.4, aproximadamente 37% das crianças americanas consomem algum tipo de SA. Entre os atletas, a prevalência de uso também fica em torno de 60%, sendo esse consumo mais frequente entre atletas de elite do que não-elite e com pequena variação entre homens e mulheres2,3. Porém, o aproveitamento dos benefícios de um SA depende de alguns fatores e situações clínicas. De nada adianta fornecer um suplemento se o profissional prescritor não tiver certeza de que aquele nutriente vai chegar em seu alvo e exercer sua função. Assim, a presente revisão pretende descrever e exemplificar os principais fatores que influenciam na efetividade dos suplementos alimentares e que precisam receber atenção do profissional de saúde ao elaborar uma prescrição. Metodologia O presente estudo é uma revisão bibliográfica, realizada no período de setembro de 2017 a janeiro de 2018, com consulta às bases de dados LILACS, MEDLINE e SciELO. Utilizou-se como critério de busca o formulário básico com os seguintes descritores: suplemento alimentar, suplemento dietético, fitoterapia, prevalência, riscos, contaminação, adulteração, hepatotoxicidade. Foram selecionadas pesquisas em português, inglês e espanhol, prevalecendo publicações dos últimos 10 anos (2007 a 2017). Algumas publicações anteriores a 2007 foram utilizadas quando representavam estudos importantes sobre os temas. Eixo estômago-intestino e a biodisponi- bilidade dos nutrientes Aproveitar um suplemento não se restringe a apenas ingeri-lo. Nesse aspecto apresenta-se o conceito de biodisponibilidade do nutriente, ou seja, a fração de qualquer nutriente ingerido que tem o potencial para suprir demandas fisiológicas em tecidos-alvos. Nem tudo que é ingerido é utilizado: um nutriente ingerido vai ser ainda digerido, absorvido, transportado, chegar em seu órgão-alvo e exercer sua função, e o que não for aproveitado será excretado5. A chance de perdas de um nutriente ao longo desse trajeto é enorme, e o profissional que se propõe indicar um suplemento precisa conhecer todos os aspectos que podem influenciar essa utilização e esse aproveitamento. Alguns fatores influenciam a biodisponibilidade, como o tipo de nutriente, o tipo de ligação molecular, a quantidade consumida, a matriz onde ele é incorporado, fatores que atenuam ou favorecem a absorção e bioconversão, o estado nutricional do hospedeiro, fatores genéticos e interações entre nutrientes, entre nutrientes e medicamentos, ou mesmo entre nutrientes e excipientes das formulações5. Estômago e intestino são órgãos que influenciam muito a biodisponibilidade de um nutriente, e, portanto, um profissional de saúde precisa garantir uma integridade e saúde do trato gastrointestinal para aproveitar melhor os benefícios da suplementação proposta. Esses dois órgãos participam do processo de absorção tanto de macronutrientes quanto micronutrientes6. Pensando na absorção dos macronutrientes 37 w w w .v po nl in e. co m .b r Fatores que inf uenciam a efetividade dos suplementos nutricionaisl (carboidratos, proteínas e lipídios), sabe-se que, de uma maneira geral, a absorção é mínima da boca até o estômago, sendo a maior parte desses nutrientes absorvida no duodeno e nas partes superiores do jejuno, e, em menores quantidades, nas partes inferiores do jejuno, e, menos ainda, no íleo. Curiosamente, essa absorção é praticamente inversa e proporcional à quantidade de bactérias presentes na região, o que é explicado fisiologicamente e evolutivamente, afinal grandes quantidades de bactérias iriam competir pelos nutrientes naquela região6. Esse controle bacteriano tem, normalmente, duas barreiras importantes. A primeira é a produção de ácido clorídrico no estômago, que ajuda no controle do crescimento bacteriano, mas que, dentre outras funções, é importante para a digestão de nutrientes, como, por exemplo, proteínas6. A redução da produção desse ácido pelas células parietais no estômago vai comprometer a digestão e a absorção de nutrientes como os minerais, principalmente nas formas de sais orgânicos e inorgânicos, vitamina B12, entre outros, que dependem da acidez para a ionização das suas formas. Nessa situação, algumas situações clínicas precisam ser levadas em consideração ao indicar um suplemento, como quadros de hipocloridria, gastrite ou infecção por Helicobacter pylori, indivíduos submetidos a cirurgia bariátrica ou em uso de medicamentos que reduzem a liberação de ácido, como os inibidores de bombas de prótons, além de pacientes idosos, que apresentam atrofia das células parietais do estômago7,8,9. Todos esses fatores relacionados ao estômago podem comprometer a efetividade de um SA. E o intestino também tem um destaque nesse processo. A segunda barreira para o controle do crescimento bacteriano descontrolado é o peristaltismointestinal, que é mais vigoroso nas porções superiores do intestino delgado e que vai ficando menos vigoroso na porção final do íleo – com isso, a quantidade de bactérias cresce. O problema é que, além da falta de ácido no estômago, se o peristaltismo estiver reduzido nas porções superiores do intestino pode ocorrer o que conhecemos como SIBO (supercrescimento bacteriano no intestino delgado), que vai comprometer ainda mais a absorção dos nutrientes na região6. Com isso, percebe-se que a indicação de um SA precisa ser feita com cautela, principalmente para indivíduos com alterações gastrointestinais. Um exemplo disso é a L-carnitina, aminoácido bastante utilizando para o emagrecimento em função da sua ação mitocondrial, contribuindo para a entrada de ácido graxo dentro da mitocôndria para sofrer beta-oxidação. Alguns autores discutem que o uso de L-carnitina, principalmente por indivíduos com disbiose intestinal, deve ser feito com cautela, uma vez que a microbiota patogênica metaboliza essa L-carnitina em trimetilamina, que no fígado sofre ação da flavina monoxidase, formando o óxido de trimetilamina (TMAO), que pode ter relação com aterosclerose, doenças cardiovasculares, obesidade, trombose, inflamação, acidente vascular cerebral e diabetes10,11. Garantir uma saúde intestinal é, portanto, fundamental antes de indicar a suplementação com L-carnitina. Observa-se, com esse exemplo, que uma atenção também será necessária com outros suplementos que dependem do funcionamento correto desse eixo estômago-intestino para o seu aproveitamento. Composição do produto Entender a composição do produto que será indicado ao paciente é uma etapa importante na prescrição nutricional. Ler corretamente um rótulo é dever do profissional de saúde que se propõe a indicar um suplemento e deve fazer parte de uma educação nutricional com os seus clientes/pacientes. A forma química do nutriente e os aditivos alimentares presentes em um suplemento interferem diretamente no aproveitamento nutricional. Os nutrientes estão presentes em formas químicas diversas. Os minerais, por exemplo, são encontrados como sais inorgânicos, sais orgânicos e como minerais quelados, normalmente quelados com aminoácidos. Essa forma química está diretamente relacionada com a biodisponibilidade, sendo os minerais quelados mais biodisponíveis que os sais, uma vez que não 38 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Márcio Leandro Ribeiro de Souza dependem de ácido clorídrico no estômago para fazer a dissociação ou ionização e não competem com outros minerais por receptores no intestino quando pelo menos um deles está nessa forma química. Já os sais orgânicos e inorgânicos dependem dessa saúde gastrointestinal para seu aproveitamento e, portanto, são um pouco menos biodisponíveis que os quelados5. Assim, pensando na biodisponibilidade, reforça-se a importância de ler rótulos e trabalhar com o paciente a composição dos produtos. Suplementos com nutrientes nas formas inorgânicas podem não ser adequados para qualquer paciente, como, por exemplo, um paciente submetido a uma cirurgia bariátrica. Para avaliar o impacto da diferença na forma química em suplementos, o estudo de Rabovsky et al.12 comparou dois polivitamínicos e poliminerais produzidos com os mesmos excipientes e as mesmas doses de todos os nutrientes, sendo a forma química dos minerais (quelados ou sais inorgânicos) a única diferença entre os grupos avaliados. O objetivo do estudo era avaliar se a presença de metais de transição, como cobre e ferro, como sais inorgânicos aumentaria a oxidação de compostos antioxidantes. Como resultado, os autores observaram que a taxa de oxidação e a formação de radicais livres foram maiores quando os minerais estavam presentes como sais inorgânicos, reforçando a importância de escolher formas químicas adequadas12. As pessoas consomem esses suplementos polivitamínicos e poliminerais para compensar a falta de alguns alimentos na alimentação, como frutas e vegetais, mas nem sempre isso corrige uma deficiência, e uma das causas pode estar associada com o fato de que, ao consumir esse tipo de suplemento, algumas pessoas se permitem reduzir o consumo de alimentos importantes, tanto que alguns estudos13,14 demonstraram que o consumo desses suplementos pode diminuir a prevalência de inadequação de consumo para alguns nutrientes que normalmente apresentam consumo alimentar baixo, como vitaminas D e E, mas, para a maioria dos nutrientes, a redução na inadequação é muito pequena em valores percentuais13,14. Interpretar um rótulo também não se restringe a observar apenas essas formas químicas dos nutrientes. Os aditivos alimentares que são incorporados aos suplementos também podem impactar negativamente a eficácia de um produto. Hoje em dia, o uso de aditivos, como corantes, edulcorantes, aromatizantes, emulsificantes, conservantes, entre outros, cresce muito, pois a indústria busca formas de melhorar a estabilidade e a palatabilidade de um produto. Mas nem sempre isso pode ser benéfico para o consumidor de um suplemento alimentar: é comum observar suplementos polivitamínicos e poliminerais repletos de croscarmelose sódica, corante inorgânico dióxido de titânio, corante artificial amarelo crepúsculo, emulsificante polissorbato 80, como alguns exemplos. Ou, então, encontrar suplementos de proteína do leite com farinha de trigo, açúcar invertido, edulcorantes e corantes sintéticos. E o impacto desses xenobióticos na saúde do consumidor, na eficácia do suplemento e no aproveitamento dos nutrientes? O uso, por exemplo, de agentes emulsificantes como o polissorbato 80 pode contribuir para a obesidade relacionada à inflamação intestinal e a progressão de disfunção hepática, além de causar alteração da microbiota15. Já foi discutida anteriormente a importância do intestino para a eficácia dos SA, e na sequência será abordado o fígado. Essa interferência intestinal não é restrita aos emulsificantes: xenobióticos podem comprometer o funcionamento intestinal, o sistema imunológico e prejudicar também a cascata de hormônios. Como exemplos de xenobióticos com essas propriedades temos antibióticos, metais pesados, pesticidas, migrantes de embalagens, fitalatos, melamina, álcool e, claro, também os aditivos alimentares, como corantes, edulcorantes, emulsificantes15–20. Risco de contaminação e adulteração Outro fator a ser considerado na prescrição nutricional é buscar marcas e empresas comprometidas com a qualidade e a saúde, uma vez que o risco de contaminação em alguns suplementos é grande, o que irá diminuir sua efetividade e pode, ainda, trazer sérias consequências para o paciente, cliente ou atleta. 39 w w w .v po nl in e. co m .b r Fatores que inf uenciam a efetividade dos suplementos nutricionaisl No estudo de Neves e Caldas21 foram analisadas 213 amostras de 52 suplementos que não são registrados no Brasil e que foram apreendidos pela Polícia Federal. Dessas amostras, 109 declaravam no rótulo a quantidade de cafeína no produto. Ao analisá-las, perceberam que 26,6% dessas amostras continham mais de 120% da quantidade declarada. Além disso, nesses suplementos termogênicos foram encontrados medicamentos como sibutramina, fenolftaleína, anfepramona e Femproporex, medicamentos com ação laxativa, anorexígena, inibidora de apetite, entre outros21. Outro estudo22 dessas mesmas autoras avaliou a presença de esteroides anabolizantes em suplementos. Em 29,4% desses suplementos foram encontrados esteroides anabólicos não declarados, e alguns deles continham metandrostenolona em níveis semelhantes aos medicamentos22. Em um indivíduo normal, isso pode trazer consequências como desregulação hormonal e sobrecarga hepática, que será discutida na sequência. Em um atleta, isso pode representar doping. As principais adulterações observadas nos SA foram a presença de drogasnão declaradas, como esteroides nos moduladores hormonais ou anorexígenos em termogênicos, a presença de drogas de outras classes terapêuticas, formulações incompletas, ausência de ingredientes ativos, como aminoácidos que só continham amido, e, ainda, troca de uma substância declarada por substâncias estruturalmente semelhantes23. Conforme citado anteriormente, estima-se que 60% dos atletas consumam suplementos alimentares, embora esse número possa ser ainda maior. Segundo Deldicque et al.2, 90% dos suplementos esportivos em seu estudo apresentaram traços de disruptores endócrinos estrogênicos, sendo 25% deles com alta atividade estrogênica. Além disso, 50% dos suplementos estavam contaminados com melamina, que é uma multi-amina usada como adulterante, pois é uma fonte não-proteica de nitrogênio, o que aumentaria falsamente a quantidade de proteína do produto2,24. Infelizmente não foram encontrados estudos no Brasil avaliando se a melamina está sendo usada para essas falsificações no país, mas uma atenção maior ao produto que um profissional indica ao seu cliente/paciente precisa ser dada. Essa melamina é associada com doenças renais e prejuízo da fertilidade, pois gera estresse oxidativo e inflamação24. O objetivo deste artigo não é desencorajar o uso desses suplementos, mas apenas reforçar a importância de que suplementar não é só indicar um produto ou ingeri-lo. O uso inadequado de um suplemento pode trazer consequências mais sérias para um paciente do que o benefício proposto. Risco de sobrecarga de órgãos Conforme discutido, a presença de contaminantes e adulterantes pode sobrecarregar alguns órgãos como os rins, porém, nesse sentido, pode-se incluir nesta revisão também uma discussão sobre o fígado, órgão importante no processo de metabolização e que pode sofrer danos a partir de uma suplementação inadequada. Segundo Navarro et al.25, o dano hepático causado por suplementos herbais e dietéticos quase triplicou entre 2004 e 2014. Aproximadamente 20% dos casos de danos hepáticos em 2014 foram induzidos pelo uso de suplementos. Dentre os grupos de suplementos relacionados com o dano hepático incluem-se os suplementos usados no bodybuilding, focados no ganho de massa muscular, que muitas vezes são produtos que contêm esteroides como contaminação ou adicionados propositalmente. Na sequência encontram-se os suplementos para perda de peso, como os termogênicos, seguidos de suplementos para depressão, performance sexual, transtornos gastrointestinais, suporte imunológico, problemas articulares, plantas chinesas, entre outros25. É necessário investigar as causas desse dano hepático antes de afirmar que essa sobrecarga foi provocada pelo uso de suplementos, já que situações como hepatite viral, dano causado pelo álcool, doenças hepáticas autoimunes, câncer ou uso de medicamentos, entre outros, podem estar associados com essa situação25. Quando o dano é provocado pelo uso de suplementos herbais e nutricionais, os principais fatores causais são adulteração do produto, ingredientes não 40 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Márcio Leandro Ribeiro de Souza descritos na embalagem e os contaminantes, já discutidos25,26. Porém pode ter relação também com doses excessivas observadas em alguns produtos ou prescritas por profissionais de saúde, ou, ainda, com a combinação de diversos suplementos ao mesmo tempo, o que contribui para aumentar essa sobrecarga hepática27. Doses excessivas Em relação às dosagens, o profissional de saúde que indica um suplemento precisa estar atento às doses de cada nutriente presente em um suplemento. Alguns produtos podem ter doses muito baixas, em função do registro em órgãos reguladores como a Anvisa, mas também são encontrados produtos com doses aumentadas para alguns nutrientes ou ingeridos de forma inadequada, o que pode impactar a efetividade do suplemento e o resultado pretendido, conforme exemplos a seguir. Para exemplificar essa questão, pode-se citar a leucina, bastante discutida e utilizada devido à sua ação no estímulo de síntese proteica, embora o seu uso isolado para hipertrofia seja discutível atualmente28. Porém, na prática, o consumo de leucina é muito grande. Além do uso próximo da atividade física, suplementos contendo leucina acabam sendo utilizados em preparações alimentares, como bolos, mousses, biscoitos, o que contribui para um consumo exagerado desse nutriente, e é nesse excesso que pode estar o problema. Existem evidências mostrando que o excesso de leucina pode causar esteatose29, diabetes e resistência à insulina30, ou, ainda, aumento do colesterol31, portanto seu uso precisa ser feito com orientação profissional. Em Nutrição, deficiências nutricionais não são recomendadas, assim como excesso de um nutriente pode não ser interessante para uma pessoa. O mineral cobre em excesso, por exemplo, pode estar associado com melasma32, descontrole da pressão arterial na gestação33 e com distúrbios de cognição34,35. O estudo de Meramat et al.34 feito com 317 indivíduos com mais de 60 anos observou que níveis altos de cobre e chumbo podem aumentar o estresse oxidativo e são associados com danos ao DNA, o que pode, por sua vez, estar associado com déficit cognitivo. O estudo de Morris et al.35 feito com 3.718 participantes também observou que alta ingestão de cobre associada com uma dieta rica em gorduras saturadas e trans também pode estar associada com declínio da cognição. Esses autores perceberam essa relação com doses acima de 1,6 mg por dia, e hoje em dia é possível encontrar, por exemplo, suplementos polivitamínicos e poliminerais para gestantes com doses de 2 mg de cobre por comprimido. Isso reforça ainda mais a importância de avaliar bem a indicação de um suplemento, levando em conta o quanto de um nutriente está presente no produto e o quanto o indivíduo receberá através da alimentação. Uma suplementação não deve ser feita de forma isolada, pois deve estar inserida em um planejamento alimentar. E isso também acontece com outros nutrientes, como o excesso de ferro causando aumento de estresse oxidativo e peroxidação lipídica36; o excesso de ácido fólico reduzindo a absorção de zinco e sendo associado com neurotoxicidade e reações de hipersensibilidades37; ou, então, o excesso de cálcio como carbonato de cálcio reduzindo em 83% a biodisponibilidade do licopeno em humanos38. O equilíbrio de doses e possíveis interações precisam ser levados em consideração quando o objetivo é a eficácia de um suplemento alimentar. Ainda em doses altas, existem estudos que demonstraram que o excesso de um nutriente pode comprometer diferentes situações, como, por exemplo, interferência em exames bioquímicos. Isso é o que acontece com a biotina, por exemplo. Altas doses desse nutriente, comumente usadas no tratamento de alopecia, podem prejudicar imunoensaios da tireoide, causando variações falsamente positivas ou negativas de TSH, T4, T3, cortisol e outros hormônios. Isso pode levar a um falso diagnóstico de doença de Graves ou outra doença da tireoide, e, com isso, a um tratamento desnecessário39. Outros estudos40,41 também demonstraram essa interferência nos exames. Vale reforçar que não é um prejuízo da tireoide, e, sim, um prejuízo no resultado do exame, uma vez que a biotina se liga a um anticorpo específico para o que está sendo 41 w w w .v po nl in e. co m .b r Fatores que inf uenciam a efetividade dos suplementos nutricionaisl testado, e a retirada por 24h-48h antes do exame já é suficiente para evitar essa interferência39-41. Forma de utilização do SA Dentre os fatores que podem influenciar a efetividade de um SA, é preciso levar em consideração a forma de utilização desse suplemento. Já foram discutidos biodisponibilidade, formas químicas e possíveis interações, porém os nutrientes podem, ainda, sofrer interferência de fatores ambientais,como temperatura, luz e umidade. Baseado nisso, é importante entender qual nutriente está presente em um suplemento e como deve ser a forma farmacêutica a ser administrada. Nutrientes fotossensíveis, como vitamina C, riboflavina, fitoquímicos e outros antioxidantes42, podem se perder quando colocados em cápsulas transparentes, por exemplo. O mesmo acontece com a temperatura: suplementos armazenados e transportados de forma inadequada podem não apresentar a quantidade descrita do nutriente. Para exemplificar, sabe-se, hoje em dia, que a atividade antioxidante de antocianinas reduz- se muito quando submetidas a um tratamento isotérmico a 90 graus Celsius43. Em alguns alimentos, como o açaí ou a uva, cujo teor de antocianinas é elevado, mesmo com essa perda devido ao aquecimento a quantidade de antocianinas restantes pode ser consideravelmente boa. Porém, em suplementos que apresentam doses menores, essa perda nutricional pode representar um prejuízo na eficácia esperada e proposta, reforçando a importância de entender a suplementação como algo complexo e que precisa ser feita de forma orientada e segura. Considerações Finais A utilização de suplementos alimentares pode trazer benefícios para os pacientes quando é feita de maneira adequada. Esta revisão não pretende desencorajar o uso desses suplementos, mas, sim, destacar, por meio dos exemplos apresentados, algumas situações e condições que precisam ser levadas em consideração para que a eficácia e a efetividade desses produtos sejam garantidas. Atitudes simples como a leitura criteriosa de um rótulo ou garantir um estômago e intestino saudáveis podem representar um melhor aproveitamento dos benefícios da suplementação. É importante reforçar que o alimento é a fonte primária dos nutrientes, e uma dieta bem elaborada pelo profissional nutricionista já pode suprir várias demandas do organismo, usando os suplementos apenas para complementar o que a dieta não supriu. Os suplementos alimentares são ferramentas que podem contribuir bastante para a prática do profissional nutricionista, desde que o seu uso seja realizado de forma séria, ética e segura. Referências 1. BROWN, A.C. An overview of herb and dietary supplement efficacy, safety and government regulations in the United States with suggested improvements. Part 1 of 5 series. Food Chem Toxicol; 107 (Pt A): 449-471, 2017. 2. DELDICQUE, L.; FRANCAUX, M. Potential harmful effects of dietary supplements in sports medicine. Curr Opin Clin Nutr Metab Care; 19 (6): 439-445, 2016. 3. 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