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FARMACOLOGIA Gestação e Lactação . INTRODUÇÃO . ● Trata-se de um assunto profundamente importante. ● A relação entre fármacos e problemas ao longo da gestação é comum e alvo de muitos estudos. ● Diversos perigos trazidos a partir da exposição fetal a determinados fármacos fundamentam a necessidade de análises rigorosas diante dos medicamentos disponíveis hoje. ● O exemplo da talidomida é um clássico na história da indústria farmacêutica. ● As alterações fisiológicas causadas pela gestação são acompanhadas de alterações farmacocinéticas, que por sua vez, refletem diretamente no funcionamento da farmacoterapia. ● A placenta, apesar de ser uma importante barreira, ainda é considerada semipermeável ⇒ certos fármacos são capazes de atravessá-la, alcançando o feto. ● Em geral, os fármacos são utilizados como ação terapêutica na mãe, por algum motivo (muitas vezes da própria gestação). Porém, ainda, em certos casos, tem-se o uso de fármacos com objetivo terapêutico no próprio feto. ● Diversos fármacos já possuem ações tóxicas conhecidas e previsíveis no feto. . A GESTAÇÃO . ● Em relação à exposição fetal, a atenção deve ser dada a partir da relação entre a concentração do fármaco e o tempo de permanência deste na circulação materna. ● Ao mesmo tempo, alterando a relação farmacocinética dos medicamentos, dentre as diversas alterações fisiológicas da gestação, tem-se como principais: ● O AUMENTO DO VOLUME PLASMÁTICO (hipervolemia): hormônios (como o estrógeno) podem aumentar a secreção da renina (alterações no sistema renina-angiotensina-aldosterona), contribuindo para o aumento do volume plasmático ⇒ altera o volume de distribuição diante do fármaco (hidrossolúveis principalmente), interferindo na concentração plasmática deles. ● AUMENTO DO DÉBITO CARDÍACO (aumento do volume sistólico): aumento da frequência cardíaca e do fluxo de sangue para o útero, rins, pele e glândulas mamárias. Ainda, a porcentagem do débito cardíaco atribuído ao fluxo sanguíneo hepático é mais baixa durante a gravidez. ● REDUÇÃO DA ALBUMINA PLASMÁTICA: ao reduzir o nível de proteínas plasmáticas, reduz-se a frequência de ligação dos fármacos a essas proteínas, de modo que o complexo fármaco-proteína passa a ser menos presente. Ao ter-se menos complexos e mais fármaco na forma livre, observa-se maior facilidade dos fármacos de agirem diante do organismo - por estarem mais biodisponíveis -, afetando o equilíbrio necessário. ● PLACENTA: apesar da sua função de barreira, o fármaco pode atingir a corrente sanguínea fetal por meio de difusão passiva ou mesmo por meio de transportadores presentes na superfície da placenta. . TRANSFERÊNCIA PLACENTÁRIA . ● A capacidade do fármaco de ser transportado e atingir a circulação fetal, a partir de processos de difusão passiva ou transporte mediado, é influenciado por fatores como: ○ LIPOSSOLUBILIDADE: quanto mais lipossolúvel, mais facilidade o fármaco tem de atravessar a placenta ⇒ como por exemplo o tiopental. ○ PESO MOLECULAR: quanto maior o fármaco, mais difícil de conseguir atravessar a placenta⇒ como por exemplo a heparina, que tem alto peso molecular e, portanto, é considerada mais segura na utilização durante a gestação. ○ USO DE TRANSPORTADORES PLACENTÁRIOS: alguns fármacos são capazes de usar esses transportadores ao seu favor, outros são limitados graças ao bombeio inverso (da circulação fetal em direção a materna). ○ LIGAÇÃO PROTEICA: fármacos que são mais ou menos tendenciosos a se ligarem a proteínas plasmáticas, de modo que, quanto mais ligados, menos fármaco livre e, consequentemente, mais difícil a passagem deste pela barreira placentária. ○ GRAU DE IONIZAÇÃO: a forma não ionizada de um fármaco é a forma mais lipossolúvel, portanto, tem maior facilidade de atravessar a placenta. . FATORES DE PROTEÇÃO FETAL . PLACENTA: ● Ação de barreira semipermeável que limita o acesso de fármacos à circulação fetal. ● Capaz de fazer reações de oxidação que podem, por um lado, inativar fármacos e proteger o feto e, por outro, produzir metabólitos placentários tóxicos. FÍGADO FETAL: ● Uma vez que o fármaco atinge a circulação fetal, 40 a 60% do fluxo vai atingir o fígado fetal, de modo que esse fármaco pode ser parcialmente metabolizado. ● Esse processo, apesar de ser capaz de inativar alguns fármacos, também pode produzir metabólitos tóxicos e causar efeitos deletérios ao feto. . EFEITOS DOS FÁRMACOS NO FETO . ● Ao atingir a circulação fetal, o fármaco pode causar diferentes efeitos indesejados diretos no feto, entre eles: ● Defeitos letais⇒ abortivos ● Defeitos teratogênicos ⇒ morfológicos, bioquímicos e comportamentais. ● Defeitos não teratológicos ⇒ pode ser de aparecimento precoce ou tardio. . AÇÕES TERATOGÊNICAS . ● O chamado ‘agente teratogênico’ é aquele que, presente durante o período embrionário ou fetal, é capaz de afetar a estrutura e função de órgãos ou sistemas do indivíduo gerado. ● Eles, geralmente, possuem 3 características: ○ possuem seletividade para certos órgãos-alvo; ○ afetam um estágio particular do desenvolvimento fetal; ○ possuem efeitos que são dose-dependentes. PRINCIPAIS EFEITOS TERATOGÊNICOS: ● Malformações fetais ● Restrição do crescimento fetal ● Abortamento ● Natimortalidade ● Retardo neurocognitivo RELAÇÃO ENTRE IDADE GESTACIONAL E EFEITOS: ● No início do desenvolvimento embrionário, entre a 1° e a 2° semana, normalmente acontecem alterações incompatíveis com a vida ⇒ morte fetal. ● Nas semanas seguintes, é comum a formação de anormalidades mais graves. ● Por fim, no último trimestre, os efeitos teratogênicos são menos deletérios e causam, em geral, defeitos físicos e anormalidades morfológicas leves. MECANISMOS DE AÇÃO TERATOGÊNICA: ● ANTAGONISMO DO FOLATO: o folato é importante para a síntese de purina, pirimidinas, para a metilação do DNA, sendo essencial para o crescimento e desenvolvimento fetal. ○ Alguns fármacos que antagonizam a ação do folato (como por exemplo, inibidores competitivos da enzima DHFR - dihidrofolato redutase) afetam diretamente o desenvolvimento fetal. ○ Metotrexato: inibidor da DHFR; ○ Carbamazepina, ácido valpróico, fenitoína: não agem sobre a enzima, prejudicam a absorção e/ou aumentam a degradação do folato. ● LESÕES NA CRISTA NEURAL: os derivados retinóicos (isotretinoína) que, no próprio mecanismo de ação, tem efeito pró-apoptótico. ● A crista neural é essencial para a formação de diversos sistemas do indivíduo. ● Malformações craniofaciais. ● DESREGULADORES ENDÓCRINOS DOS HORMÔNIOS SEXUAIS: afetam o metabolismo (síntese, secreção, degradação e ligação) dos hormônios sexuais. ● Podem estar associados a anomalias principalmente da genitália externa. ● Fitalatos (presentes em revestimentos de certos medicamentos). ● ESTRESSE OXIDATIVO: maior produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) que podem causar lesões de macromoléculas, como o próprio DNA, lipídeos e proteínas. ● Essas lesões afetam diretamente processos de transcrição, transdução de sinais, expressões gênicas, entre outros. ● LESÃO VASCULAR: acontece quando o teratógeno afeta diretamente o fluxo sanguíneo placentário e/ou fetal. ● Antihipertensivos. ● LIGAÇÃO POR ENZIMA OU RECEPTOR ESPECÍFICO: efeito teratogênico dos inibidores da ECA e dos antagonistas dos receptores da angiotensina II. ● Esses fármacos podem causar um desequilíbrio no sistema renina-angiotensina-aldosterona fetal. ● Hipotensão fetal, redução do tônus vascular fetal e, ainda, lesões renais, por exemplo. . CATEGORIAS DE RISCO (FDA) . ● Fármacos divididos em categorias A, B, C, D e X. ● CATEGORIA A: Estudos controlados em mulheres não demonstraram risco para o feto no primeiro trimestre de gestação, e não há evidência de risco em trimestres posteriores. A possibilidade de dano fetal parece remota. ● CATEGORIA B: Estudos de reprodução animal não demonstraram risco fetal, mas inexiste estudo controlado em mulheres grávidas; ou estudos dereprodução animal mostraram algum efeito adverso no feto (que não seja diminuição de fertilidade), não confirmado em estudos controlados em mulheres durante o primeiro trimestre (e não há evidência de risco em trimestres posteriores). ● CATEGORIA C: Estudos em animais demonstraram efeitos adversos no feto (teratogenia, morte fetal ou outro) e não há estudos controlados em mulheres; ou estudos em mulheres e animais não estão disponíveis. Esses fármacos só devem ser administrados se o benefício justificar o risco potencial para o feto. ● CATEGORIA D: Há evidência positiva de risco fetal humano, mas os benefícios de uso em mulheres grávidas podem justificar o uso a despeito do risco (p. ex., se o fármaco é necessário em uma situação de risco à vida para uma doença grave, para a qual medicamentos mais seguros não podem ser usados ou não são eficazes). ● CATEGORIA X: Estudos em animais e seres humanos demonstraram anomalias fetais ou há evidência de risco fetal baseada em experiências em humanos, ou ambos, e o risco de uso do fármaco em mulheres grávidas está claramente acima do possível benefício. O fármaco é contraindicado em mulheres que estejam ou possam ficar grávidas. . A LACTAÇÃO . ● Da mesma forma que fármacos podem atravessar a barreira placentária, eles podem também atravessar membranas celulares e atingir o leite materno. ● Durante os primeiros dias de lactação, tem-se a produção do colostro. Durante esse período, as células alveolares estão menores e com maior espaço intercelular, o que potencializa a transferência de fármacos. ● Durante os primeiros dias pós parto, tem-se, portanto, essa preocupação com a facilidade da transferência dos fármacos, porém ao mesmo tempo, nessa fase, o recém nascido tende a ingerir um pequeno volume de leite, o que reduz em partes o contato indesejado dele com algum fármaco usado pela mãe. . TRANSFERÊNCIA AO LEITE MATERNO . ● Esse processo é influenciado por diversos fatores que envolvem as características do fármaco, da mãe e do lactente. FATORES RELACIONADOS À MÃE: ● COLOSTRO vs LEITE: A diferença entre o colostro (mais suscetível a transferências de fármacos) e o leite materno. ● O METABOLISMO MATERNO DE FÁRMACOS: algum problema hepático ou renal, por exemplo, pode aumentar a concentração do fármaco no corpo materno e potencializar a transferência. ● VIAS DE ADMINISTRAÇÃO: dependendo da via, tem-se diferentes concentrações plasmáticas. FATORES RELACIONADOS AO FÁRMACO: ● A maioria já foi discutida em relação à farmacologia na gestação. ● Incluem: peso molecular, grau de ionização, ligação às proteínas, lipossolubilidade, biodisponibilidade. ● Particularidade sobre a lipossolubilidade: leite maduro tem maior concentração de lipídeos e isso pode potencializar o acúmulo de fármacos lipossolúveis. Ex: sulfonamidas e cloranfenicol. ● Particularidade sobre a ionização: o leite materno é um pouco mais ácido do que o plasma. Fármacos que são bases fracas tendem a formar íons no leite, favorecendo maior concentração (acúmulo). Ex: betabloqueadores. ● OBSERVAÇÕES: pico sérico na mãe: muitas vezes é importante saber em que momento acontece o pico sérico do fármaco no organismo da mãe para, dessa forma, adequar o horário da amamentação buscando não coincidir. FATORES RELACIONADOS AO LACTENTE: ● IDADE: quanto menor a idade, menor a capacidade de metabolismo e, portanto, maior o efeito do fármaco. ● ABSORÇÃO DO FÁRMACO: associado também ao metabolismo e também ao volume de leite ingerido. ● VOLUME DE LEITE INGERIDO: lactentes que mamam um grande volume de leite estão mais expostos ao fármaco. ● METABOLISMO E SEGURANÇA DO FÁRMACO: escolha adequada do fármaco de acordo com a relação com a interação com o bebê. . CLASSIFICAÇÃO . ● COMPATÍVEIS: Sem relatos de efeitos adversos ao lactente. Fármacos com biodisponibilidade oral desprezível. ● PROVAVELMENTE COMPATÍVEIS: Sem estudos controlados. É possível a ocorrência de efeitos adversos ao lactente. Verificação se os benefícios justificam os riscos potenciais para a criança. ● POSSIVELMENTE PERIGOSOS: Existem evidências de risco. ● PERIGOSOS: Risco significativo ao lactente. O risco supera qualquer possível benefício. O aleitamento materno é contra-indicado.
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