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1 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica ATLAS Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Hilthon Alves João Victor Belo Nathália Martins 2 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica SUMÁRIO 1. ANATOMIA DO ORGÃO GENITAL FEMININO 1.1. Introdução 1.2. Vagina 1.3. Ovários 1.4. Tubas Uterinas 1.5. Útero 2. HISTOLOGIA E CITOLOGIA DA MUCOSA VAGINAL 2.1. Epitélio escamoso estratificado 2.2. JEC ou Junção escamosa 3. CITOLOGIA DA MUCOSA E ECTOCÉRVICE 3.1. Células Basais 3.2. Células Parabasais 3.3. Células Intermediárias 3.4. Células Superficiais 4. HISTOLOGIA E CITOLOGIA DA MUCOSA ENDOCERVICAL 4.1. Células Endocervicais 4.2. Células de Reserva Endocervicais 5. CÉLULAS METAPLÁSICAS 6. CÉLULAS ENDOMETRIAIS 7. CITOLOGIA INFLAMATÓRIA DO TRATO GENITAL FEMININO 7.1. Alterações citológicas gerais 7.1.1. Tipo e intensidade do exsudato 7.1.2. Alteração do padrão celular 7.1.3. Degeneração e necrose celular 7.1.4. Alterações reativas 7.2. Bacteriologia Vaginal 7.2.1. Gardenerella vaginalis 7.2.2. Cocos 7.2.3. Actionomyces 7.2.4. Leptothrix vaginalis 7.3. Micologia Vaginal 7.3.1. Trichomonas vaginalis 7.3.2. Vírus Herpes simplex genitalis 7.4. Cervicite Crônica Folicular 3 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica Figura 1: Genitália externa feminina 1.1. Introdução O sistema reprodutor feminino tem como função a produção de gametas, fertilização e desenvolvimento embrionário e fetal até o nascimento. E ainda tem função de produzir homônimos que controlam o sistema reprodutor e outros órgãos. Formado por: ovários, tubas uterinas, útero, vagina, clitóris e bulbo do vestíbulo; além de glândulas anexas (vestibulares maiores e menores). 1.2. Vagina É um canal de 8 a 10 cm, apresentando paredes elásticas, que liga o colo do útero aos genitais externos. A vagina é o local onde o pênis penetra na relação sexual e deposita os espermatozoides, possibilita a expulsão da menstruação e também, permite a saída do bebê no momento do parto. Ainda, na entrada da vagina, tem-se uma estrutura chamada hímen, que pode ser perfurado no centro e fecha parcialmente o canal vaginal. Esta estrutura é rompida nas primeiras relações sexuais da mulher. 1.3. Ovários São dois órgãos pequenos, ovais, achatados, localizados um de cada lado do útero. Mede cerca de 4 a 5 cm de comprimento, 2 cm de largura e 1 cm de espessura e tem um peso de 2 a 5g, cada. E é formado por uma parte central denominada medula e uma camada externa chamada de córtex. No córtex estão numerosos e minúsculos folículos, cada um contendo um oócito (célula germinativa feminina). Os oócitos são produzidos durante os primeiros cinco a seis meses de vida fetal. Os ovários têm funções de produzir, amadurecer e expulsar os óvulos e elaborar secreções internas ou hormônios. 1.4. Tubas Uterinas As tubas uterinas (trompas de Falópio) conduzem o oócito, que é liberado mensalmente de um ovário durante a vida fértil, da cavidade peritoneal periovariana para a cavidade uterina. Também são o local habitual de fertilização. 1.5. Útero Com cerca de 7, 5 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2 cm de espessura e pesando cerca de 90 g, é um órgão muscular oco, piriforme, com paredes espessas. O embrião e o feto se desenvolvem no útero. As paredes musculares adaptam-se ao crescimento do feto e garantem a força para sua expulsão durante o parto. É uma estrutura, onde, o tamanho se modifica ao longo das fases da vida. 1. ANATOMIA DO ORGÃO GENITAL FEMININO 4 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica Figura 3: Imagem real do colo do útero, por colposcopia Figura 2: Imagem real do colo do útero, por colposcopia O útero pode ser dividido em: Corpo do útero: Parte de maior volume, formado por 3 camadas: perimétrio, miométrio e endométrio. Fundo do útero: Parte arredondada situada superiormente aos óstios uterinos. Istmo do útero: É um segmento estreitado que separa o corpo do útero do colo. Colo do útero: Canal cervical, possui uma parte intravaginal visível ao exame citológico (ectocérvice ou exocérvice) e outra supravaginal. 5 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica Figura 4: Tipos celulares do colo uterino O colo uterino é representado pela ectocérvice e a endocérvice, que são revestidas por epitélio escamoso estratificado não queratinizado e por epitélio colunar simples, respectivamente. O ponto de união entre esses dois epitélios é chamado junção escamocolunar (JEC). 2.1 Epitélio escamoso estratificado No epitélio escamoso estratificado as células apresentam citoplasma mais abundante à medida que amadurecem. A maturação celular é resultante da atividade estrogênica. A superfície da endocérvice é revestida por epitélio colunar simples. Essas células são secretoras, sendo menos comum o tipo ciliado. 2.2 JEC ou junção escamosa A endocérvice inicia-se no orifício anatômico interno. O epitélio colunar endocervical termina no nível do orifício externo. O ectocérvice é revestido por epitélio escamoso estratificado não-queratinizado, que reveste o colo pelo lado de fora. Esta união de epitélio diferentes é chamada de Junção Escamo-Colunar (JEC). 2. HISTOLOGIA E CITOLOGIA DA MUCOSA VAGINAL Figura 5: Histologia HE, 400x. Epitélio escamoso estratificado não queratinizado. Observar as camadas basal, parabasal, intermediária e superficial. (ECTOCÉRVICE) Figura 6: Histologia, HE 100x. Epitélio colunar simples, mucossecretor endocervical. 6 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica Figura 7: Histologia da Junção Escamo-Colunar (JEC). A região da divisão entre endocérvice e ectocérvice. 7 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica O epitélio escamoso que reveste a vagina e a ectocérvice tem número variado de camadas, quando na fase reprodutiva da mulher, são quatro: basal (células cubóides pequenas), parabasal (arredondadas basofílicas maiores), intermediária (células bem maiores com núcleos redondos) e superficial (células aplanadas, citoplasma abundante e núcleos picnóticos). 3.1. Células Basais Este tipo celular é redondo ou oval, com citoplasma escasso corando intensamente em verde ou azul. Seus núcleos são redondos, de localização central, com cromatina uniformemente distribuída, às vezes com um pequeno nucléolo. Essas células descamam isoladamente ou representando agrupamentos. 3.2. Células Parabasais Predominam em condições fisiológicas associadas à deficiência estrogênica, como na infância, lactação e menopausa. Elas apresentam tamanho variado e são arredondadas. O citoplasma é geralmente basofílico (cianofílico), tonalidade menos intensa que nas células basais. O núcleo é redondo ou oval, um pouco menor em relação ao das células basais e com grânulos de cromatina. 3. CITOLOGIA DA MUCOSA E ECTOCÉRVICE Figura 9: Esquema representando as diferentes camadas do epitélio escamoso da ectocérvice e da vagina. Figura 8: Papanicolaou 40x – Células basais parabasais. Figura 10: Amostra cervical, citologia de meio líquido, 400x. Células escamosas parabasais, ao lado de células intermediárias (poligonais). 8 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica 3.3. Células Intermediárias Geralmente pregueadas e em grupos,encontradas principalmente na segunda fase do ciclo menstrual normal, pela ação progestogênica. o citoplasma é abundante, transparente, poligonal e cianofílico, coloração menos intensa do que nas células parabasais. Ver-se cromatina distribuída em grânulos finos e regulares. 3.4. Células Superficiais São poligonais, o citoplasma é transparente, eosinofílico, e apresentam núcleo picnótico. O núcleo picnótico é caracterizado pela condensação da cromatina, que se torna escura. Desde que a completa maturação do epitélio ocorre como resultado da atuação dos estrógenos, o predomínio de células escamosas maduras com núcleo picnótico representa uma evidência morfológica da atividade estrogênica. A diferenciação entre uma célula superficial e uma intermediária se é na análise da estrutura nuclear. Então, sendo o núcleo da célula superficial picnótico, enquanto que o da célula intermediária é vesicular. Figura 11: Amostra cervical, citologia de meio líquido 400x. Células intermediárias ao lado de uma célula superficial. O citoplasma se cora em azul ou verde (cianofílico), enquanto que as células superficiais geralmente coram em rosa (eusinofílicas). Figura 12: Amostra cervicovaginal, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 100x. Células superficiais e intermediárias. Figura 13: Figura 14 - Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 400x. Células superficiais. Elas são poligonais, com citoplasma amplo, eosinofílico, e os núcleos picnóticos. Em uma das células, há grânulos de querato-hialina intracitoplasmático 9 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica 4.1. Células Endocervicais Elemento característico dos esfregaços cervico-vaginais, as células endocervicais são usadas como marcadores de que a coleta foi bem realizada, tendo sido representada a área crítica da Junção Escamo-Colunar ou JEC, além da própria representação celular da mucosa glandular, sede de origem, ainda que com pequena porcentagem do total, de neoplasias malignas no colo uterino. São vistas em geral em belos arranjos, classicamente definido em “colmeia” ou “favo-de-mel” quando vistos de cima e em “paliçada” ou “cercas” quando visualizadas de lado. 4.2. Células de Reserva Endocervicais São de pequeno tamanho (menores que as células parabasais), com citoplasma escasso, cianofílico e finamente vacuolizado. O núcleo é redondo ou oval, centralmente localizado, com elevada relação nucleocitoplasmática, e a cromatina é fina uniformemente distribuída. As células de reserva são raramente vistas em esfregaços e quando isoladas são indistinguíveis de histiócitos e células do estroma endometrial superficial. Essas células são percussoras da metaplásia escamosa. 4. HISTOLOGIA E CITOLOGIA DA MUCOSA ENDOCERVICAL Figura 14: Células endocervicais. Estas células são vistas de frente representando conjunto em “favo de mel”. O citoplasma é claro e há manutenção da polaridade nuclear. Figura 15: Conjunto de células de reserva. Apresentam citoplasma escasso, delicado, núcleos redondos, com bordas regulares e cromatina finamente granular. Há também células escamosas superficiais. 10 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica Sob a influência dos estrógenos, a cérvix torna-se evertida para expor o epitélio colunar do canal cervical. O pH ácido da vagina estimula a substituição do epitélio colunar com epitélio escamoso por um processo de metaplasia escamosa. Nos estágios iniciais da metaplasia escamosa, células indiferenciadas multiplicam-se entre células colunares e a membrana basal. Mais tardio, as células se estratificam e o epitélio é reconhecidamente escamoso, eventualmente a maturação é indistinguível do epitélio escamoso original. Porém, o epitélio pode ser reconhecido como metaplásico por causa das criptas endocervicais serem vistas no estroma subjacente. Quando estimuladas pelo pH vaginal ácido, as células de reserva proliferam em múltiplas camadas (hiperplasia das células de reserva), representando a primeira etapa do processo de metaplasia escamosa. As células de reserva adquirem características escamosas, constituindo a chamada metaplasia imatura. Nesse ponto as células metaplásicas começam a se estratificar e a desenvolver uma camada basal bem definida, representando a última etapa do processo, a metaplasia madura. Com a evolução do processo, as células metaplásicas se tornam mais diferenciadas e finalmente se mostram idênticas às células escamosas originais. 5. CÉLULAS METAPLÁSICAS Figura 16: Ilustração Esquemática Representando as diferentes etapas da Metaplasia Escamosa Ocorrendo na Área de Ectopia (Eversão do Epitélio Endocervical) a. Única camada de células de reserva recoberta por células colunares endocervicais. b. Proliferação de células de reserva (hiperplasia), ainda recobertas por células colunares endocervicais. c. Metaplasia escamosa imatura. As células ganham mais citoplasma, começando a diferenciação escamosa. Observar a persistência da camada de células colunares endocervicais. d. Metaplasia escamosa em maturação. As células atingem um nível mais avançado de maturação, com citoplasma mais abundante adquirindo mais frequentemente a forma poligonal. Não mais se encontram células colunares na superfície. e. Metaplasia escamosa madura. O epitélio é idêntico ao epitélio escamoso original. 11 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica Na metaplasia escamosa imatura as células ganham mais citoplasma, começando a diferenciação escamosa e há uma persistência da camada de células colunares endocervicais. Na metaplasia escamosa em maturação as células apresentam citoplasma mais abundante adquirindo a forma poligonal, sem células colunares na superfície. Figura 17: Outra Representação Esquemática do Processo de Metaplasia Escamosa do Epitélio Endocervical a - Células colunares endocervicais. b - Hiperplasia de células de reserva. c - Metaplasia escamosa imatura. Figura 18: Esfregaço cervico vaginal, Papanicolaou, 400x. Células metaplásicas escamosas imaturas com prolongamentos citoplasmáticos, núcleos arredondados bordas regulares, cromatina finamente granular e alguns nucléolos ou cromo-centros Figura 18: Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Células metaplásicas escamosas em fase final de maturação exibindo coloração citoplasmática bifásica, com o ectoplasma corado em azul e o endoplasma em rosa (mostra microvacuolização refletindo alterações degenerativas). 12 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica Figura 19: Células metaplásicas escamosas maduras. Figura 20: Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Células metaplásicas escamosas maduras. Apresentam tamanho aproximado àquele das células intermediárias, mas o citoplasma das células metaplásicas, como observado nesta figura, é mais denso e polimorfo. Agrupamento das metaplásicas tipo mosaico. 13 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica Podem ser encontrados nos esfregaços cervico- vaginal células de origem endometrial tanto epitelial como do estroma, quer em colheitas feitas em colo ou vagina quer nas efetuadas com escovas. Habitualmente se considera sua presença normal durante o período de fluxo menstrual e em menor número também sem anormalidade até o 10º - 12º dias. Nos materiais obtidos com escovados endocervicais, pode-se perfeitamenteter células endometriais representadas, em geral da região de transição ou ístmica, sem se constituir em algo anômalo, principalmente se forem vistas de permeio às endocervicais, indicando efeito mecânico de colheita. 6. CÉLULAS ENDOMETRIAIS Figura 21: Células endometriais em fase proliferativa. Observe as células mais externas, arredondadas, do epitélio e outras fusiformes do estroma nesta fase. 14 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica 7.1. Alterações citológicas gerais A citologia contribui para o reconhecimento e a avaliação da intensidade dos processos inflamatórios do trato genital, em certos casos estabelecendo a natureza do agente causal. As causas dos processos inflamatórios compreendem trauma, substâncias tóxicas, diminuição ou interrupção do fluxo sanguíneo, agentes físicos como o calor e irradiação, além de micro-organismos patógenos 7.1.1. Tipo e intensidade do exsudato Pode ser representado pelo predomínio de leucócitos polimorfonucleares neutrófilos e piócitos nos processos inflamatórios agudos. Nos processos inflamatórios crônicos são frequentes os linfócitos, plasmócitos e histiócitos. Quando os neutrófilos e piócitos recobrem áreas extensas da amostra se sobrepondo às células epiteliais, pode impossibilitar o estudo oncológico (amostra insatisfatória para a avaliação). É importante observar que nem sempre os processos inflamatórios se acompanham de leucócitos no esfregaço citológico. Por outro lado, na segunda fase do ciclo menstrual (ação da progesterona) os neutrófilos podem ser numerosos mesmo sem inflamação. A presença de hemácias bem e mal conservadas pode se associar a processos inflamatórios severos e é mais comum em mulheres pós-menopausadas devido à atrofia do epitélio. 7.1.2. Alteração do padrão celular Consiste na mudança do tipo celular predominante no esfregaço, esperado para a idade da paciente. Mulheres na fase reprodutiva, quando portadoras de inflamação genital severa, podem mostrar um predomínio anormal de células escamosas parabasais, devido à erosão do epitélio (destruição das camadas superficiais). 7. CITOLOGIA INFLAMATÓRIA DO TRATO GENITAL FEMININO Figura 22: Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Exsudato purulento (numerosos neutrófilos e piócitos) recobrindo as células escamosas. Figura 23: Célula escamosa parabasal exibindo múltiplos vacúolos citoplasmáticos de natureza degenerativa. Este tipo de alteração é comum nos processos inflamatórios e se deve a distúrbios na troca de água entre os meios intra e extracelular. 15 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica 7.1.3. Degeneração e necrose celular Alterações celulares (citoplasmáticas e nucleares) são comuns nos processos inflamatórios. No citoplasma incluem vacuolização, halos perinucleares, anfofilia, pseudoeosinofilia, limites citoplasmáticos mal definidos, entre outros. Com relação ao núcleo pode ocorrer tumefação ou retração, perda da demarcação bem definida das suas bordas, perda dos detalhes de cromatina conferindo uma aparência homogênea ao núcleo, hipo ou hipercromasia. Como sinais de necrose podem ser vistos picnose (cromatina condensada), cariorrexe (fragmentação do núcleo) e cariólise (dissolução nuclear). 7.1.4. Alterações reativas Incluem hipercromasia, espessamento uniforme da borda nuclear, cromatina com granulação mais grossa, nucléolo às vezes proeminente, especialmente nas células endocervicais, e bi ou multinucleação também mais comum nas células endocervicais. Figura 24: Esfregaço cervicovaginal, Papanicolau, 400x. Em alguns processos inflamatórios intensos pode-se evidenciar necrose celular, nesta figura representada por cariorrexe (fragmentação dos núcleos em múltiplos pedaços). Figura 25: “Bala de canhão”. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Acúmulo de neutrófilos e piócitos sobre uma célula escamosa degenerada (“bala de canhão”) (seta). Acima, uma célula escamosa intermediária com anfofilia, coloração heterogênea do citoplasma e binucleação (seta dupla). A cromatina é finamente granular com cromocentros (massas esféricas de cromatina). À esquerda, célula escamosa com halo perinuclear. 16 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica 7.2. Bacteriologia Vaginal Lactobacillus vaginalis (bacilos de Doderlein) - É um bacilo que representa a flora bacteriana padrão, fisiológica. As enzimas do micro-organismo induzem à destruição proteolítica (citólise) das células epiteliais escamosas intermediárias ricas em glicogênio. Este é metabolizado com a produção de ácido lático, responsável pelo pH ácido da vagina. O padrão citológico característico da citólise é o aparecimento de fragmentos citoplasmáticos e núcleos desnudos. Ocorre predomínio de lactobacilos na fase luteínica do ciclo menstrual, na gravidez e no início da menopausa. 7.2.1. Gardnerella vaginalis Representa um cocobacilo que tem a propriedade de aderir ao citoplasma das células superficiais e intermediárias (células-guia). Os micro-organismos são mais facilmente identificados nas bordas citoplasmáticas. A Gardnerella é frequentemente associada a outras bactérias, constituindo o quadro conhecido como vaginose bacteriana. O esfregaço não contém bacilos de Döderlein e há escassez de neutrófilos. 7.2.2. Cocos Em 30% dos casos correspondem a estreptococos. Essas bactérias se desenvolvem em pH alcalino. 7.2.3. Actinomyces Esta bactéria é geralmente associada ao uso de DIU, numa frequência aproximada de 10%. No esfregaço, esses microrganismos se apresentam como estruturas filamentosas, ramificadas em ângulo agudo, basofílicas. Os filamentos se irradiam a partir de um centro denso e escuro. 7.2.4. Leptothrix vaginalis São bactérias filamentosas encurvadas em forma de S, U ou se apresentam enoveladas. Associam-se a Trichomonas em 75% a 80% dos casos. Figura 26: Alterações reativas em células endocervicais. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Células endocervicais multinucleadas podem se associar à inflamação. Figura 27: Citólise e lactobacilos. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. A citólise é demonstrada por restos citoplasmáticos e núcleos desnudos de células epiteliais escamosas do tipo intermediário. 17 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica Figura 28: Gardnerella vaginalis. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Células escamosas superficiais e intermediárias com alterações infl amatórias discretas. Figura 29: Gardnerella vaginalis. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. O “fundo” é rico em cocobacilos que se concentram em algumas áreas, conferindo um aspecto granular. Figura 30: Actinomyces sp. Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 400x. Bactérias de aspecto filamentoso, irradiadas a partir de um centro escuro, basofílico. Figura 31: Leptothrix vaginalis. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Bactérias cocoides e Leptothrix vaginalis, além de células escamosas. 18 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica 7.3. Micologia Vaginal O fungo mais comum nas infecções do trato genital inferior é a Candida sp. Este micro- organismo pode se associar ou não a sintomas como prurido e corrimento vaginal esbranquiçado, espesso. A Candida aparece nos esfregaços sob a forma de pseudo-hifas (septadas, às vezes com ramificação aguda) e esporos redondos ou ovais. As pseudo-hifas muitas vezes se dispõem abaixo de conjuntos de células epiteliais e são mais facilmente visualizadas quandose altera o foco do microscópio, exteriorizando-se na extremidade mais frouxa dos agrupamentos celulares. É conveniente também examinar as margens do esfregaço, já que podem exibir um certo grau de dessecação e consequentemente resultar no aumento artefatual especialmente dos esporos, facilitando a sua identificação. A infecção por Candida sp. é associada geralmente a concentrações de neutrófilos e piócitos. Habitualmente há alterações celulares degenerativas (pseudoeosinofilia, halos perinucleares e retração da borda nuclear) e reativas (tumefação nuclear). 7.3.1. Trichomonas vaginalis Trata-se de um protozoário que aparece nos esfregaços como estruturas redondas ou ovais. O citoplasma geralmente cora cinza- azulado e pode conter grânulos vermelho- amarronzados. O núcleo é excêntrico, semitransparente, levemente basofílico, mal definido. É importante visualizar o núcleo do parasita para diferenciá-lo principalmente de restos de citoplasma, muco e neutrófilos degenerados. Há alterações significativas nos esfregaços em associação com a infecção por Trichomonas vaginalis. Além do exsudato purulento difuso, é comum o encontro de acúmulos de neutrófilos se sobrepondo às células epiteliais degeneradas conhecidos como “balas de canhão”. As alterações celulares degenerativas consistem em pseudoeosinofilia, halos perinucleares e tumefação nuclear. Pode ocorrer necrose celular representada por cariorrexe e cariólise. Figura 32: Candida sp. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Pseudohifas septadas e esporos representando Candida sp. ao lado de células escamosas maduras. Figura 33: Trichomonas vaginalis. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Há vários Trichomonas vaginalis com núcleos elípticos corados fracamente pela hematoxilina. 19 Citologia fisiológica e inflamatória do trato genital feminino Citologia Clínica 7.3.2. Vírus Herpes simplex genitalis É um vírus que determina lesões cutâneas e mucosas sob a forma de pápulas ou vesículas que se rompem na sua evolução, com consequente desenvolvimento de erosões. Nos esfregaços há características celulares distintas. As alterações ocorrem nas células escamosas parabasais, metaplásicas imaturas e endocervicais. Provocam inicialmente citomegalia (aumento da célula como um todo) e cariomegalia (aumento nuclear). Depois o núcleo adquire um aspecto fosco, devido a alterações da estrutura cromatínica. A cromatina restante se amolda contra o folheto interno da membrana nuclear, determinando o espessamento da borda nuclear. Encontramos também multinucleação com amoldamento nuclear e às vezes inclusões intranucleares. O citoplasma das células acometidas é denso, opaco, devido a alterações do citoesqueleto e à necrose por coagulação. 7.4. Cervicite Crônica Folicular Representa uma condição inflamatória caracterizada pela proliferação de folículos linfoides com centros germinativos no estroma do colo uterino. Pode ocorrer em qualquer idade, porém é mais comum em mulheres pós- menopausadas. Aproximadamente metade dos casos é associada com infecção por Chlamydia trachomatis. A cervicite folicular é diagnosticada em cerca de 0,5% dos esfregaços cervicais. Nas amostras citológicas há linfócitos em diferentes estágios de maturação predominantemente inativados. Esses linfócitos podem apresentar ocasionais mitoses. Identificam-se ainda macrófagos de corpos tingíveis (contendo linfócitos degenerados intracitoplasmáticos) e às vezes capilares. Figura 34: Alterações citopáticas pelo herpes- vírus. Citologia cérvico vaginal, Papanicolaou, 400x. Células multinucleadas revelando amoldamento nuclear, rarefação da cromatina e inclusões intranucleares. Figura 35: Cervicite crônica folicular. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Esfregaço hemorrágico com numerosos linfócitos. Presença de células escamosas.
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