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Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 1 Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução Luana Rocha Vale - Medicina - UNIFACS Processos Celulares e Moleculares - Biologia Celular O DOGMA CENTRAL DA BIOLOGIA MOLECULAR → Em 1958, o cientista Francis Crick postulou um modelo que ele chamou de "o dogma central da biologia molecular"; nele, Francis explica como acontece o fluxo da informação do código genético, desde a molécula de DNA até a proteína. → Esse modelo é chamado de dogma porque tem regras: ele mostra que uma sequência de um ácido nucleico pode formar uma proteína, mas, uma proteína não pode formar um ácido nucleico. Existe uma ordem a ser seguida e, segundo esse dogma, o fluxo da informação genética deve seguir o seguinte sentido: DNA → RNA� PROTEÍNAS. Algumas mudanças já foram feitas no modelo proposto originalmente. Isso ocorreu em razão de hoje se saber, por exemplo, que algumas enzimas são capazes de utilizar o RNA para produzir DNA. Esse dogma atualizado pode ser resumido e representado da seguinte maneira: → → Esse fluxo da informação gênica tem 2 mecanismos principais, que são a transcrição e a tradução e eles acontecem de acordo com a função e a necessidade da célula. Pode-se transcrever por conta da divisão ou por conta do momento celular; dependendo da necessidade pode aumentar ou diminuir a transcrição do gene. Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 2 DIFERENÇA ENTRE AS MOLÉCULAS DE DNA E RNA O DNA e o RNA são ácidos nucleicos compostos por uma pentose, bases nitrogenadas e fosfato; porém existem algumas diferenças entre os dois: → A pentose do RNA é a ribose, enquanto do DNA é a desoxirribose; → O RNA possui a base nitrogenada Uracila ao invés da Timina, no caso do DNA. → O RNA possui uma fita única e simples e o DNA possui uma fita dupla. → O RNA é produzido pela enzima RNA polimerase, e o DNA pela DNA polimerase e as duas possuem a mesma função: ligam um nucleotídeo a outro por meio de ligações fosfodiésters, no sentido 5’ → 3’, porém a RNA polimerase não precisa de iniciador (primer). → Além disso, existem vários tipos de RNA como: RNA mensageiro, transportador, ribossômico e outros com diversas funções (estrutural, catalítica e reguladora) e o DNA é apenas 1. Enzima RNA Polimerase: Tipos de RNA's: Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 3 TRANSCRIÇÃO A Transcrição é a primeira etapa do fluxo da informação gênica e consiste na síntese de RNA a partir de DNA, ou seja, é o processo de cópia da sequência do DNA de um gene para um alfabeto semelhante do RNA. → Ocorre no núcleo da célula e necessita de várias proteínas que são denominadas de fatores gerais da transcrição e auxiliam a RNA polimerase no reconhecimento da região a ser transcrita, na ativação da RNA polimerase e na separação das duas fitas de DNA → Diferente da síntese do DNA, a enzima RNA polimerase só vai só vai transcrever um gene e um local específico da fita molde e é necessário saber o local exato onde ele fica, por isso é um processo muito mais específico e controlado: cada gene é transcrito separadamente em seu genoma. Existem 3 diferentes RNA's polimerases que transcrevem genes específicos: A transcrição corre em três estágios: iniciação, alongamento e término. INICIAÇÃO → Para iniciar a transcrição de um gene, as proteínas auxiliares (fatores de transcrição) se ligam a uma região denominada promotor, auxiliando a RNA polimerase em suas células a obter um ponto de apoio no DNA. → Basicamente, o promotor informa à elas onde a Polimerase deve "se sentar" no DNA e começar a transcrever. → Muitos promotores eucarióticos possuem uma sequência chamada de TATA box. Essa sequência é reconhecida por um dos fatores gerais de transcrição TFIID - TBP, permitindo que outros fatores de transcrição e eventualmente a RNA polimerase se liguem. Ele também contém muitos As e Ts, o que torna mais fácil de separar as fitas de DNA. Fatores gerais da transcrição Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 4 → Cada gene tem seu próprio promotor. Um promotor contém sequências de DNA que deixam a RNA polimerase ou as suas proteínas auxiliares se ligarem ao DNA onde as fitas são fáceis de separar devido as diversas Adeninas e Timinas (pois se ligam entre si apenas com duas ligações de hidrogênio, em vez das três ligações de hidrogênio entre Guaninha e Citosina). → A RNA polimerase II se acopla ao DNA e é fosforilada pela TFIIH, que modifica sua conformação de modo que ela possa iniciar a fase de alongamento. Então, a TFIIH abre a fita para que o RNA mensageiro seja produzido pela polimerase. ALONGAMENTO → Basicamente, o alongamento é a fase que a sequência de RNA fica mais longa, graças à adição de novos nucleotídeos. → Durante o alongamento, a RNA polimerase "caminha" ao longo de uma fita de DNA, conhecida como fita molde, da 3' para 5'. Para cada nucleotídeo no molde, a RNA polimerase adiciona um nucleotídeo de RNA correspondente (complementar) à extremidade 3' da fita do RNA. → O RNA transcrito é quase idêntico à fita de DNA não molde ou codificante. Contudo, cada T da fita codificante é substituído por um U no transcrito de RNA. A figura ao lado mostra o DNA sendo transcrito por muitas RNA polimerases ao mesmo tempo, cada uma com uma "cauda" de RNA atrás dela. → Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 5 Na fase final do alongamento, o processamento do RNA envolve mais 3 momentos importantes que ocorrem nessa sequência: capeamento, splicing e poliadenilação. - Capeamento: O capeamento é a adição do CAP (em inglês, boné), uma estrutura composta por 7-metil- guanosina que tem como funções: identificar e sinalizar a região 5’ revestir e proteger a "ponta" da fita de RNA estabilizar a molécula - Splicing: Após o capeamento, é feito o splicing, que é a retirada dos íntrons (regiões não codificantes) - realizado por um conjunto de enzimas (spliceossomo) que cortam as partes não codificantes e ligam as regiões codificantes (éxons) umas as outras. Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 6 Obs¹.: O splicing alternativo também tira éxons porque em algumas células há proteínas formadas de uma maneira diferente. Ex: A miosina do músculo estriado esquelético e do liso são diferentes devido ao rearranjo diferente que sofreram no splicing. Obs².: Após os íntrons serem removidos eles são reciclados. Obs³.: Há mais íntrons do que éxons para a proteção da informação e será mais fácil ocorrer mutações nos íntrons do que nos éxons. → Existe também o splicing alternativo, que é realizado por 90% dos genes humanos: consiste em diferentes arranjos entre éxons, levando a produção de proteínas diferentes; isso triplica a diversidade de proteínas expressas e confere flexibilidade evolutiva aos eucariotos. - Poliadenilação: A Poliadenilação é a adição de uma cauda de poli-A (cerca de 50 a 250 Adeninas) pela enzima poli-A polimerase na extremidade 3’. → Assim como o CAP, a poli-A funciona para conferir estabilidade à molécula. → O sinal para a poliadenilação é a sequência AAUAAA e situa-se a 30 ribonucleotídeos do sítio de clivagem. Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 7 Após a poliadenilação o RNA se torna maduro, pronto para migrar para o citosol. TERMINAÇÃO → A RNA polimerase vai continuar transcrevendo até encontrar sinais para parar. Isso acontece quando a polimerase encontra uma sequência de parada e o sinal é reconhecido por uma enzima que corta o RNA transcrito, liberando-o da RNA polimerase. → Apósa terminação, a transcrição está concluída. Um RNA transcrito que está pronto para ser utilizado na tradução é chamado de RNA mensageiro RNAm). A migração do RNAm recém sintetizado para o citosol, em direção à tradução, acontece através da sua passagem pelos poros nucleares, com o auxílio de um complexo de proteínas de exportação, como é mostrado nas imagens ao lado. → TRADUÇÃO → A tradução ocorre no citoplasma após a exportação do RNAm pelo núcleo através do complexo de poro nuclear. → Durante a tradução, a célula "lê" a instrução no RNA mensageiro RNAm) e a usa para construir uma proteína. A síntese proteica é chamada de tradução porque você muda/traduz a linguagem: ela deixa de ser nucleotídica e passa a ser peptídica. Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 8 → Em um RNAm, as instruções para a construção de um polipeptídio são nucleotídeos de RNA Adenina, Uracila, Citosina e Guanina) lidos em grupos de três. Esses grupos de três são chamados de códons ("códigos/codificadores"). → 1 Códon é formado por 3 nucleotídeos que correspondem a um Aminoácido ← Veja no tabela as diferentes combinações de códons: → Observe que existem apenas 20 tipos de aminoácidos, mas 61 trincas diferentes que os codificam. → É comum dizermos que o código genético é "degenerado", isso porque um mesmo aminoácido pode ser codificado por diferentes códons, mas cada códon só pode ser codificar um aminoácido. Essa característica faz com que o código genético seja considerado degenerado ou redundante. → A glicina, por exemplo, é codificada pelas trincas GGU, GGC, GGA e GGG. → Existe um códon, AUG, que especifica o aminoácido metionina e também age como códon de iniciação para sinalizar o começo da construção de uma proteína. → Existem mais 3 códons que não especificam aminoácidos. Esses são os códons de parada: UAA, UAG e UGA, e eles informam à célula quando um polipeptídeo está completo. → Em conjunto, essas relações entre códons e aminoácidos são chamadas de código genético, porque permitem que as células "decodifiquem" o RNAm em uma cadeia de aminoácidos. Os dois tipos de moléculas que são fundamentais para a tradução são: o RNA transportador e os ribossomos. - RNA Transportador: O RNAt transporta os aminoácidos para o processo de tradução e conectam eles aos códons que os codificam. Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 9 Obs.: cada RNAt é específico para um aminoácido – tipo chave-fechadura. Em uma das extremidades de cada RNAt há uma sequência de três nucleotídeos denominada anticódon que pode se ligar a códons específicos do RNAm. A outra extremidade do RNAt transporta o aminoácido especificado pelos códons. - Ribossomos: Ribossomos são as estruturas nas quais os polipeptídeos (proteínas) são construídos. Eles são feitos de proteínas e RNA (RNA ribossômico ou RNAr). → Cada ribossomo tem duas subunidades, uma grande e outra pequena, que se reúnem ao redor de um RNAm - como se fossem as duas metades de um pão de hambúrguer ao redor da carne. → O ribossomo proporciona um conjunto prático de compartimentos onde os RNAt podem encontrar seus códons correspondentes no molde de RNAm e entregar seus aminoácidos. Esses compartimentos são chamados de sítios A, P e E. → Não apenas isso, mas o ribossomo também atua como uma enzima, catalisando a reação química que une os aminoácidos para formar uma cadeia. Ao lado, o modelo tridimensional de ribossomo. Proteínas estão representadas em azul, enquanto cadeias de RNAr estão representadas em laranja e pêssego. O ponto verde marca o sítio ativo, que catalisa a reação que liga aminoácidos para fazer uma proteína. → Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 10 A tradução também é divida nas mesmas 3 etapas da transcrição: iniciação (começo), alongamento (aumento da cadeia de proteína) e terminação (fim). INICIAÇÃO → Na iniciação, o ribossomo se reúne em torno do RNAm a ser lido e, logo após, chega o primeiro RNAt (o qual transporta o aminoácido metionina que corresponde ao primeiro códon, AUG). → Essa configuração, chamada de complexo de iniciação, ou complexo ternário é necessária para que a tradução tenha início. → Após o primeiro RNAt depositar o códon metionina, ela se liga ao seu anticódon na subunidade ribossômica pequena no sítio P. Já próximos RNA’s transportadores, obrigatoriamente, entrarão no sítio A, uma vez que o P sempre estará ocupado e o sítio A estará sempre "vago", pois será sempre o "desembarque" para o próximo RNAt, aquele cujo anticódon é o correspondente perfeito (complementar) do códon em exposição. → Há um movimento de translocação: O que está no sítio P passa para o sítio E e o que está no sítio A passa para o sítio P. ALONGAMENTO → E assim começa a fase de alongamento: novos RNAt começam a chegar, um a um, sempre pelo sítio A. o RNAm é lido um códon por vez e o aminoácido que corresponde a cada códon é adicionado à cadeia de proteína crescente. → A iniciação depende de proteínas especializadas "auxiliares" chamadas de fatores de iniciação. A função delas é ajudar as subunidades ribossômicas, RNAt, e RNAm a se encontrarem de maneira ordenada e previsível. → Além disso, movimentar esses ingredientes da iniciação requer energia. A energia é proporcionada pela célula na forma de GTP. → Durante o alongamento, os RNAt se movem através dos sítios A, P e E do ribossomo como representado ao lado. Esse processo se repete por muitas vezes à medida que novos códons são lidos e novos aminoácidos são adicionados à cadeia. O RNAm é puxado para frente no ribossomo por exatamente um códon no sentido 5’ Modelo computacional do Complexo de Iniciação. Fluxo da informação genética - Transcrição e Tradução 11 → 3. Esse deslocamento permite que o primeiro RNAt, agora vazio, saia através do sítio E (do inglês "exit"). Isso também faz com que um novo códon fique exposto no sítio A, para que todo ciclo se repita. A cada vez que um códon é exposto: Um RNAt correspondente se liga ao códon A cadeia de aminoácidos existente (polipeptídeo) é ligada ao aminoácido do RNAt através de reação química. O RNAm é deslocado em um códon no ribossomo, expondo um novo códon para ser lido. TERMINAÇÃO → A terminação acontece quando um códon de parada no RNAm UAA, UAG ou UGA entra no sítio A. Sequências moleculares de ácidos nucleicos identificam a área de terminação, para que esse processo termine. Onde eles foram identificados, são ligados fatores de liberação nessa região, bloqueando o processo de alongamento da cadeia polipeptídica. O fator de liberação ERF3, que é uma proteína que se liga a GTP, age conjuntamente com o ERF1, funcionando como uma tesoura molecular, a qual cliva de forma que a cadeia polipeptídica seja liberada, desconectada do ribossomo. Outros fatores de liberação adicionais promovem a dissociação dos ribossomos, liberação das subunidades, o RNAm e RNAt terminal. → A proteína, apesar de ainda não ser funcional, está pronta e os RNAt e ribossomos são reaproveitados em outros mecanismos de tradução. → Depois da terminação, a proteína pode precisar dobrar-se na forma 3D correta através do processamento, com a ajuda das proteínas chaperonas, ser enviado para o lugar certo na célula, ou se combinar com outros polipeptídeos antes que possa atuar como uma proteína funcional. Estrutura das proteínas:
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