0 INSTITUTUM SAPIENTIAE ORDINIS CANONICORUM REGULARIUM SANCTAE CRUCIS CURSUS PHILOSOFIAE GABRIEL HUDSON SOUZA DE OLIVEIRA SUMA TEOLÓGICA, PARTE I, QUESTÃO 87, ARTIGO 3: O INTELECTO CONHECE O PROPRIO ATO? ANÁPOLIS – GO 2020 1 INSTITUTUM SAPIENTIAE ORDINIS CANONICORUM REGULARIUM SANCTAE CRUCIS CURSUS PHILOSOFIAE GABRIEL HUDSON SOUZA DE OLIVEIRA SUMA TEOLÓGICA, PARTE I, QUESTÃO 87, ARTIGO 3: O INTELECTO CONHECE O PROPRIO ATO? Seminário de Filosofia antropológica, apresentado ao Professor Padre Doutor, Titus Keninger para obtenção de nota parcial na disciplina. 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 3 2 SÃO TOMÁS DE AQUINO E A SUMA TEOLÓGICA ................................................... 4 2.1 A SUMA TEOLÓGICA E O PENSAMENTO HUMANO ............................................. 5 3 I PARTE, QUESTÃO 87, ARTIGO 3 ................................................................................. 7 3.1 Sed Contra ........................................................................................................................ 8 3.2 Corpo do Artigo ................................................................................................................ 9 3.2.1 Tipos de Intelecto ................................................................................................... 11 3.3 Objeções e Respostas ...................................................................................................... 13 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 16 REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 18 3 1 INTRODUÇÃO Se alguém sai de Anápolis com destino a Goiânia, precisará fazer um trajeto que leva cerca de 30 a 40 minutos de viagem. É a passagem de um ponto A, a um ponto B. De igual modo, o nosso conhecimento é a passagem do objeto não conhecido (A) ao conhecimento do objeto através da abstração (B). O presente trabalho fundamenta-se na questão 87 da primeira parte da Suma Teológica de Tomás de Aquino, artigo 3, que nos apresenta a seguinte questão: O intelecto conhece seu próprio ato? Quando a pessoa do supracitado exemplo chegar a Goiânia, estará consciente de que fez um caminho até aquele lugar. Será que o intelecto é capaz de conhecer o caminho pelo qual um objeto desconhecido tornou-se presente a ele de modo essencial? Em outras palavras, o intelecto conhece a operação que há entre o objeto desconhecido (A) e o objeto agora conhecido (B)? De início fazemos um breve relato histórico de Santo Tomás de Aquino e de sua Magnum opus a Suma Teológica. Nosso enfoque dentro da Suma é o conhecimento, a faculdade do intelecto, por isso apresentamos de modo superficial alguns conceitos importantes na filosofia epistemológica do doutor angélico, antes de nos aprofundarmos na primeira parte da Suma, conquanto trata do homem, especificamente a questão 87, artigo 3. A análise que fazemos do artigo parte da compreensão da questão levantada pelo aquinate, passa pelo sed contra à luz da doutrina de Santo Agostinho que é retomada na Suma e clarificada. O corpus do artigo é explicitado minuciosamente e faz-se uma divisão acerca do conhecimento nos diferentes tipos de intelecto. Por fim, apresentamos as objeções junto de suas respectivas respostas, o caminho pedagógico de Tomás de Aquino que conduz à plena verdade os errantes das mais diversas margens do conhecimento. 4 2 SÃO TOMÁS DE AQUINO E A SUMA TEOLÓGICA À biografia de Santo Tomás de Aquino não está feita justiça se a encontramos somente em brochuras e panegíricos, Sertillanges em sua obra intitulada “As Grandes Teses da Filosofia Tomista” aponta tal injustiça feita ao santo mas dá causa de sua existência, A vida de Santo Tomás de Aquino está na sua doutrina, anda encarnada nas suas ideias; por conseguinte, se lhe dominarmos as suas ideias, dominamos o homem todo, mesmo o homem adormecido, porque Santo Tomás até dormindo ditava. Pensa; pensa continuamente.1 Assim, é breve o relato de cunho biográfico que fazemos por ocasião deste trabalho, para que melhor possamos nos atentar e dedicar à doutrina do grande doutor angélico. Tomás de Aquino, filho de Landolfo e de Teodora, nasceu em Roccasecca, no Sul de Lácio no ano de 1221. Em Nápoles, na universidade, Tomás teve contato com a ordem dos dominicanos, da qual foi um dos primeiros membros, sua motivação foram as novas formas de vida religiosa livres de interesses mundanos. Apesar da oposição de sua família, sua decisão de ingresso na ordem permaneceu firme. Seu grande potencial intelectual, apesar de sua postura reservada e silenciosa, foi logo descoberto e aclamado. Tomás foi indicado por seu mestre Alberto Magno à carreira acadêmica em 1252, na Universidade de Paris, desde então, fez grandes progressos intelectuais e foi se destacando dentro da Ordem Dominicana e perante a Santa Igreja, de modo que sempre era solicitado para combater doutrinas heréticas. Sua postura sempre foi de admissão da própria pequenez, não se vangloriava de suas obras, isto fica claro no diálogo descrito por Giovanni Reale e Dario Antiseri, em sua obra “História da Filosofia, vol. 2”2, obra que fundamenta esta breve biografia, Tomás dizia a seu fiel amigo e secretário Reginaldo de Piperno “Raynalde, non possum, quia omnia quae scripsi videntur mihi paleae3” e como persistisse seu assistente para que prosseguisse com a composição da Suma Teológica, Tomas dizia ainda: “Videntur mihi paleae respectu eorum quae vidi et revelata sunt mihi4”. 1 SERTILLANGES, Antonin-Dalmace. As Grandes Teses da Filosofia Tomista. Tradução: L. G. Ferreira da Silva. Braga: Livraria Cruz, 1951, n. 8. 2 Cf. ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da filosofia: patrística e escolástica, v. 2. São Paulo: Paulus, 2003, p. 212. 3 “Reginaldo, não posso, porque todas as coisas que escrevi me parecem inépcias”. 4 “Parecem-me inépcias em relação às coisas que vi e que me foram reveladas”. 5 A morte o surpreendeu sem que pudesse concluir sua obra. Tomás de Aquino faleceu em 7 de março de 1274, quando passava pelo mosteiro cisterciense de Fossanova, em direção a um Concílio para o qual havia sido convocado pelo Papa Gregório X. 2.1 A SUMA TEOLÓGICA E O PENSAMENTO HUMANO Tomás expõe já no prologo de sua Suma Teológica o que com a obra pretende, expor a doutrina cristã de acordo com a “ordem da disciplina”, essa é a interpretação do que diz Chenu na tradução feita por Carlos Arthur Ribeiro do Nascimento, para a Universidade Federal de Uberlândia, há segundo Nascimento uma tríplice característica: expor concisa e abreviadamente o conjunto de um domínio cientifico; temas organizados sistematicamente; fazer uma obra que esteja adaptada aos estudantes; destes três intentos, o que se tem na Suma Teológica é uma obra enciclopédica, sinteticamente ordenada e de alcance pedagógico5. A Suma Teológica é dividida em três partes, seja por sua grande extensão, seja pela divisão temática desejada por Tomás, é uma obra de grande dimensão e os números impressionam, são 38 tratados, 512 questões, 2.669 artigos que são compostos por mais de 10.000 ideias6. Uma das características mais impressionantes é o avanço da obra, respondia às questões do tempo de sua composição e permanece respondendo novos questionamentos que são levantados ainda hoje. Por ocasião deste trabalho, damos enfoque às tratativas que o doutor angélico faz acerca do