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Livro_Instrumentalidade do Servico Social

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INSTRUMENTALIDADE DO 
SERVIÇO SOCIAL
Ariadna de Jesus Evangelista 
Cristiane Gonçalves de Souza
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Curitiba
2020
Instrumentalidade 
do Serviço Social
Ariadna de Jesus Evangelista 
Cristiane Gonçalves de Souza
Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael.
E92i Evangelista, Ariadna de Jesus
Instrumentalidade do serviço social / Ariadna de Jesus Evangelista, 
Cristiane Gonçalves de Souza. – Curitiba: Fael, 2020.
242 p. il.
ISBN 978-65-86557-19-0
1. Serviço social I. Souza, Cristiane Gonçalves de II. Título
CDD 361.981
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca
Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/ Viktoria Kurpas
Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. Instrumentalidade como categoria 
constitutiva do Serviço Social | 7
2. Articulando as dimensões teórico-metodológicas, ético-
políticas e técnico-operativas do serviço social | 29
3. Instrumentalidade como mediação na 
prática do assistente social | 49
4. Planejamento social e sua aplicabilidade 
na prática do assistente social | 71
5. Metodologias de ação: os instrumentos e 
técnicas do Serviço Social | 91
6. Ações profissionais, procedimentos e instrumentos 
de caráter administrativo-organizacional | 119
7. Ações profissionais, procedimentos e 
instrumentos de caráter de formação profissional, 
de capacitação e de pesquisa | 135
8. Indicadores sociais no cotidiano 
profissional do Serviço Social | 157
9. Os espaços sócio-ocupacionais da(o) 
Assistente Social | 175
10. Condições éticas e técnicas do exercício profissional da(o) 
Assistente Social – Resolução CFESS n. 493/2006 | 195
Gabarito | 215
Referências | 231
Prezado(a) aluno(a),
O objetivo dessa obra é contextualizar diversas possibilidades 
de intervenção profissional do Serviço Social, bem como pontuar 
procedimentos que o(a) assistente social deve se apropriar, tendo 
em vista o desenvolvimento de um exercício profissional compro-
metido com o projeto ético-político do Serviço Social.
O(a) aluno(a) irá perceber que, no cotidiano profissio-
nal, o(a) assistente social não realiza sua intervenção de forma 
aleatória, ao contrário, tal ação é pautada por um conjunto de 
conhecimentos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-
-operativos, os quais fornecem subsídios para direcionamento 
das decisões profissionais, que devem ser comprometidas com 
a perspectiva da qualidade dos serviços prestados à população 
atendida, nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais.
Carta ao Aluno
1
Instrumentalidade 
como categoria 
constitutiva do 
Serviço Social 
Neste capítulo, objetiva-se compreender o termo instrumen-
talidade do Serviço Social, entendendo-o para além do arsenal de 
instrumentos e técnicas utilizados pelo assistente social em seu 
agir profissional. Para isso, busca-se refletir sobre a capacidade 
de atuação do assistente social diante das expressões da questão 
social, estabelecendo intencionalidade nas respostas às deman-
das apresentadas pela classe trabalhadora e pela classe burguesa, 
visto que o Serviço Social, como profissão, atua na relação con-
flituosa desses interesses, que são extremamente divergentes, 
dado que a burguesia sobrevive da geração de capital e mais-
-valia extraída da exploração da força de trabalho.
É comum entre os estudantes de Serviço Social, ou mesmo 
por parte de alguns profissionais, fazer uso da palavra instrumen-
talidade, vinculando-a aos instrumentos e técnicas da profissão, 
como o parecer, o laudo social, a visita institucional, a entrevista, 
entre outros. Entretanto, é importante compreender que a instru-
mentalidade não se limita a essas técnicas, mas também não pode 
deixá-las de lado.
Instrumentalidade do Serviço Social
– 8 –
A instrumentalidade do Serviço Social articula e mobiliza as dimen-
sões: teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política, a fim de 
alcançar objetivos profissionais e sociais. Em outras palavras, para que a 
efetiva prática profissional se realize, o assistente social precisa conhecer 
e lançar mão dessas três dimensões. É com uma atuação crítica, cons-
ciente e dialética que o profissional estará fazendo uso da instrumenta-
lidade. Portanto, este não é um conceito neutro, ele se refere às escolhas 
profissionais e à capacidade de estabelecer projetos individuais e coletivos 
que envolvem toda a sociedade (GUERRA, 2012).
Para compreender como se dá a atuação profissional com finalidades 
preestabelecidas, fez-se necessário analisar, preliminarmente, o conceito 
marxista de trabalho, que se baseia na relação do ser social com a natu-
reza. Assim, o primeiro tópico deste capítulo abordará a atuação do assis-
tente social entendida com base na definição da categoria trabalho, pois é 
esta apreensão que permite analisar como o profissional pode estabelecer 
uma ação proposital e com objetivos delineados.
Em seguida, com o objetivo de continuar o desenvolvimento do estudo 
e facilitar a compreensão da instrumentalidade como categoria constitutiva 
do Serviço Social, o capítulo foi dividido em mais dois tópicos, nos quais 
se utilizam orientações teóricas sobre a instrumentalidade enquanto proprie-
dade/habilidade que o Serviço Social vai adquirindo em face dos objetivos 
alcançados pela profissão; e direcionamentos acerca da instrumentalidade 
como condição para o reconhecimento social da profissão.
1.1 A prática do assistente social como trabalho 
e a intencionalidade na atuação profissional
Abordar a prática do assistente social como trabalho requer, indispen-
savelmente, entender o que se compreende nesta obra acerca da terminolo-
gia trabalho. A noção de trabalho adotada neste escrito está fundamentada 
na obra O capital (1867, Livro I, cap. V), do pensador alemão Karl Marx, 
quando ele descreve que, “Antes de tudo, o trabalho é um processo entre 
o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria 
ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza” (MARX, 
1996, p. 297).
– 9 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
Portanto, fez-se necessário analisar a relação do ser social com a 
natureza, ou seja, compreender a categoria trabalho, a fim de possibilitar a 
apreensão da prática profissional como trabalho e justificar como se dá a 
intencionalidade na atuação do profissional de Serviço Social.
Para Marx (1996), o trabalho é o que diferencia o ser social dos ani-
mais, pois quando o indivíduo entra em contato com a natureza, ele a 
modifica a partir de uma ação consciente, com o objetivo de promover 
alterações na realidade para satisfazer necessidades humanas, sejam elas 
próprias ou de outrem. Contrariamente, quando um animal realiza altera-
ções na natureza, isso é feito de modo impensado, não há intencionalidade 
ou projeção.
É importante salientar que todo animal que entra em contato com a 
natureza realiza alterações para sua sobrevivência. Contudo, na análise 
da categoria trabalho, não se leva em consideração as ações do homem 
primitivo, que realizava alterações na natureza de forma instintiva, 
compreende-se apenas a relação com a natureza pelo ser social, aquele 
que age de maneira racional e com uma finalidade predefinida.
Desse modo, pode-se afirmar que a categoria trabalho é fundante do 
ser social, uma vez que esta se justifica pela capacidade teleológica exclu-
siva do ser social. Logo, o ser social é o único que consegue pensar antes 
de executar uma ação. Previamente à criação do objeto, ele já havia sido 
planejado em seu consciente, com formas, tamanhos e finalidade. É essa 
interferência intencional na realidadeque se denomina teleologia.
Para que o propósito definido pelo ser social, quando em contato com 
a natureza, possa ser alcançado, o trabalho exige que haja uma matéria-
-prima ou objeto sobre o qual será realizada a ação, também com a utiliza-
ção de alguns instrumentos.
A fim de explicitar essa compreensão, tomemos por referência o tra-
balho de um carpinteiro, que tem como seu objeto de trabalho a madeira e, 
para transformá-la em valor de uso, utiliza instrumentos que vão possibi-
litar realizar as alterações, tais como régua, martelo, serrote, cola, prego, 
entre outros. Assim, pode-se obter daquela madeira o que este trabalha-
dor planejar em sua mente, como, por exemplo, camas, cadeiras e mesas, 
dando finalidade e objetividade ao seu trabalho (EVANGELISTA, 2015).
Instrumentalidade do Serviço Social
– 10 –
O trabalho, considerado uma atividade exclusivamente do ser social, 
não se limita às ações materiais, mas estende-se também ao campo espi-
ritual, referindo-se aos valores éticos e morais, aos hábitos, costumes e 
comportamentos de grupos e de indivíduos, conforme Guerra (2000). 
Além disso, o trabalho acaba por fazer surgir outras necessidades, uma 
vez que para efetivar a transformação de determinadas matérias ou obje-
tos em valor de uso, é necessária a utilização de instrumentos, os quais 
também precisaram ser criados pelo ser social na relação com a natureza.
Por intermédio da capacidade de agir consciente, o indivíduo realiza 
transformações não só na matéria ou no objeto, mas modifica também a si 
próprio, ao passo que a ação racional permite que sejam percebidas possi-
bilidades de aprimoramento do que fora ou será transformado, revelando 
outras qualidades humanas.
A compreensão de trabalho e ser social explicitada neste tópico visa 
orientar o entendimento acerca do Serviço Social como trabalho e as alte-
rações feitas pelo assistente social em seu cotidiano. Para isso, é preciso 
compreender que o assistente social, na condição de trabalhador social, 
possui um objeto de trabalho sobre o qual busca realizar transformações.
A profissão de Serviço Social surge no Brasil demandada pelo Estado 
para mediar as relações entre os sujeitos sociais e os capitalistas, diante 
de demandas postas pela classe trabalhadora, a partir do surgimento das 
expressões da questão social. Nesse aspecto, a profissão se insere na divi-
são sociotécnica do trabalho, e o assistente social assume as características 
de trabalhador assalariado.
Assim como o trabalho é fundante do ser social, a questão social é 
da profissão de Serviço Social. Por questão social compreende-se, con-
forme Iamamoto (2013), todas as formas de expressão das desigualdades 
sociais existentes na sociedade capitalista madura, que é fruto da expan-
são da produção social, ou seja, o trabalho é realizado por um número de 
pessoas cada vez maior, que, como consequência desse trabalho, gera a 
riqueza socialmente produzida, contudo, esta é centralizada por poucos, 
mantendo-se monopolizada pelos capitalistas.
Por ser elementar ao Serviço Social enquanto profissão, a questão 
social traduz-se como o objeto de trabalho do assistente social, visto que 
– 11 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
esse profissional atua diretamete nas inúmeras expressões da questão 
social quando busca dar respostas às demandas apresentadas pelo público 
com o qual trabalha, seja atendendo e orientando uma mulher no enfren-
tamento da violência de gênero; seja realizando análises socioeconômicas 
para concessão de benefícios assistenciais, a fim de suplantar as desigual-
dades postas pelo desemprego; ou, ainda, realizando trabalhos na assistên-
cia, na saúde, entre outros.
Analisar a categoria trabalho abrange não apenas a relação do ser 
social com a natureza, por meio das alterações feitas no objeto ou na maté-
ria-prima, mas aborda também a noção de instrumentos e produto. No 
âmbito do Serviço Social, foi dito que a questão social é o seu objeto de 
trabalho. Contudo, interessa saber quais são os instrumentos para o traba-
lho do assistente social, bem como o que o Serviço Social produz como 
resultado de seu trabalho.
Vale ressaltar, mais uma vez, que a ideia de instrumentos adotada 
neste tópico não diz respeito às técnicas profissionais, como parecer, entre-
vistas, relatório, etc. O entendimento de instrumentos aqui diz respeito ao 
conhecimento, habilidades e capacidades que o assistente social utiliza 
em sua atuação para realizar transformações em seu objeto de trabalho, ou 
seja, para alcançar seus objetivos.
Em relação a saber quais são os instrumentos para o trabalho do assis-
tente social, Sara Granemann (1999) diz que não existe um instrumento 
único que possa orientar os processos de trabalho desse profissional, por-
que, segundo a autora, como existem processos de trabalho no Serviço 
Social, existem também objetos de trabalho, não apenas um, demandando 
assim instrumentos específicos para cada tipo de objeto.
Para Granemann (1999), como a questão social se expressa das mais 
diversas maneiras, não existe um único objeto ou matéria na qual o assis-
tente social irá atuar. Ou seja, se esse profissional atua na concessão de 
benefícios assistenciais, seu objeto de trabalho serão os benefícios; se atua 
na avaliação de políticas públicas, seu objeto serão as políticas públicas, 
e assim por diante.
Quando se trata do objeto de trabalho do assistente social, é possível 
encontrar opiniões divergentes entre os autores que discutem o Serviço 
Instrumentalidade do Serviço Social
– 12 –
Social enquanto profissão, assim como há dissensão no debate em qual-
quer área do estudo. Entretanto, é importante frisar que o objeto de tra-
balho do assistente apresentado e defendido aqui é a questão social, uma 
vez que independentemente do espaço sócio-ocupacional ocupado pelo 
profissional, ou das expressões da questão social em que ele atua, essas 
são ramificações de uma única questão social.
Logo, as políticas públicas também estão vinculadas à existência da 
questão social, uma vez que elas surgem na relação conflituosa entre o 
capital e o trabalho, e são implementadas a fim de reparar ou superar desi-
gualdades postas pelo sistema de produção capitalista.
Desse modo, a concepção de instrumento, aqui apresentada para pen-
sar a atuação intencional do assistente social, considera também, conforme 
Iamamoto (2013), a apreensão da dimensão teórico-metológica, como fer-
ramenta que possibilita ao assistente social investigar e compreender a 
realidade; a dimensão técnico-operativa, que possibilita ao profissional 
pensar e operacionalizar sua intervenção; e a ético-política, que orienta 
a atuação profissional com base em princípios de liberdade, emancipação 
dos indivíduos, defesa intransigente dos direitos humanos, entre outros, a 
fim de que a prática nos diversos espaços ocupacionais esteja comprome-
tida com a ampliação do acesso a bens e serviços relativos a programas e 
políticas sociais.
A referida autora diz ainda que os conhecimentos adquiridos pelo 
profissional em sua formação podem ser entendidos como parte dos seus 
meios de trabalho. Contudo, é importante analisar que, apesar de o Serviço 
Social estar regulamentado como profissão liberal, os assistentes sociais 
não dispõem de todos os instrumentos necessários para efetivar sua prá-
tica. Ou seja, dependem sempre que os recursos materiais, financeiros, 
organizacionais e até mesmo humanos sejam fornecidos pelas instituições 
que contratam o seu serviço, a sua mão de obra especializada (IAMA-
MOTO, 2013).
Isso pode ser explicado ao entender como se dá a inserção do Ser-
viço Social como profissão na sociedade capitalista, ao passo que o tra-
balho dos assistentes sociais é demandado pelo Estado, que o emprega na 
condição de trabalhador, o qual, assim como os outros, possui uma carga 
– 13 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
horária, funções estabelecidas e um salário definido e pago em trocados 
serviços prestados. Assim, os processos de trabalho desse profissional 
são ordenados pelas instituições que o contratam e, além de serem as 
detentoras da maior parte dos instrumentos de trabalho, interferem no 
cotidiano do trabalho profissional. Por isso, não se pode dizer que o assis-
tente social possui autonomia total na efetivação da sua prática, mas, sim, 
uma relativa autonomia.
Tendo em vista que o assistente social é um trabalhador assalariado, 
sua força de trabalho especializada «[...] é mera capacidade. Ela só se 
transforma em trabalho quando consumida ou acionada [...] ” (IAMA-
MOTO, 2013, p. 64), ou seja, há a necessidade de requisição por aqueles 
que demandam o seu trabalho. Portanto, para compreender o que o profis-
sional de Serviço Social produz, é necessário revisitar os estudos marxis-
tas sobre a categoria trabalho em uma perscpectiva de trabalho concreto e 
trabalho abstrato. 
Trabalho concreto refere-se às características materiais do trabalho 
de torná-lo útil, de transformá-lo em valor de uso. E trabalho abstrato é 
a possibilidade de se abstrair do produto a noção de quanto se despendeu 
de força e energia humana, física ou intelectual na materialização da mer-
cadoria, independentemente da forma útil que ela adquire. A abstração do 
tempo e das particularidades do trabalho gasto na produção das mercado-
rias é o que possibilita pensar em valor de troca, ou seja, é o que permite 
pensar o quanto de mercadoria X é necessário para trocar por uma deter-
minada quantidade de mercadoria Y.
Compreende-se que na relação do ser social com a natureza é neces-
sário que haja um objeto ou matéria sobre a qual a ação humana incidirá 
transformação. Além disso, nota-se a presença de instrumentos e, por fim, 
o resultado dessa ação será um produto, inicialmente com característi-
cas de valor de uso e, após a abstração do tempo de trabalho socialmente 
necessário para sua produção, tem-se o valor de troca dessa mercadoria.
No que tange à profissão de Serviço Social como trabalho, esta tam-
bém possui um objeto sobre o qual os/as assistentes sociais atuam, que, 
nesta obra, entendeu-se ser a questão social. Em relação aos instrumentos, 
identificou-se que não há apenas um, coadunando em parte com o entendi-
Instrumentalidade do Serviço Social
– 14 –
mento da autora Sara Granemann, de que o profissional não possui domí-
nio sobre todos. Contudo, temos as dimensões teórico-metodológicas, 
técnico-operativas e ético-políticas como um dos instrumentos do Serviço 
Social que possibilitam ao assistente social escolher o caminho de atuação 
para responder às demandas sociais.
Porém, resta ainda saber qual o produto do Serviço Social na sociedade 
capitalista. Como dito anteriormente, a profissão surge no bojo das mani-
festações da questão social diante das desigualdades postas pelo sistema 
capitalista. Inicialmente, os assistentes sociais atuavam de modo a mediar 
os conflitos entre a classe trabalhadora e a burguesia (empregadores), entre-
tanto, a partir do processo de reconceituação da profissão e da escolha por 
um projeto ético-político, o Serviço Social assumiu o compromisso profis-
sional com a defesa intransigente dos direitos da classe trabalhadora.
É nesse trabalho firmado com a classe trabalhadora que o/a assistente 
social produz resultados na sociedade capitalista. Nesse sentido, faz-se 
necessário pensar o caráter contraditório da profissão, pois, mesmo tendo 
o Serviço Social feito a escolha de atuar em defesa da classe trabalhadora, 
contribui para a reprodução material e social da força de trabalho na 
sociedade capitalista.
Na relação de produção e reprodução social na sociedade capitalista, 
os trabalhadores vendem sua força de trabalho aos burgueses, que dela 
extraem a mais-valia, uma vez que o trabalhador exerce sua função até 
gerar trabalho excedente, que, por conseguinte, é o que dá lucro aos capi-
talistas. Em outras palavras, em uma parte da carga horária, o trabalhador 
produz o necessário para que seu salário seja pago e para que seu empre-
gador tenha lucro, e na outra parte da sua jornada, gera o que será apenas 
lucro para aquele que contrata os seus serviços, ou seja, gera a mais-valia.
Para que o trabalhador continue reproduzindo força de trabalho, é 
preciso que sua sobrevivência seja garantida. Dessa maneira, o assistente 
social é requisitado a atuar na viabilização do atendimento às necessidades 
materiais e sociais do trabalhador, seja no campo previdenciário ou nas 
áreas de saúde, assistência, habitação, educação, entre outras.
Nesse sentido, a atuação profissional contribui para a sobrevivência 
da classe trabalhadora, que, por conseguinte, irá gerar a riqueza social 
– 15 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
na sociedade capitalista. Porém, o assistente social colabora, em alguma 
medida, com a redistribuição da riqueza socialmente produzida, ao passo 
que atua na elaboração, implementação, avaliação e execução dos progra-
mas de redistribuição de renda.
Além disso, e apesar do caráter contraditório da profissão, o assis-
tente social atua produzindo efeitos que não são apenas materiais, mas que 
têm um objetivo social, na medida em que sua ação intenciona interferir 
na cultura, no comportamento, nos valores, no conhecimento.
Exemplo mais nítido da produção profissional em forma de servi-
ços é a atuação dos assistentes sociais na educação não formal, ou seja, 
aquela que se dá fora do ambiente escolar, mobilizando comunidades; 
nos conselhos municipais, estaduais e nacionais de políticas sociais e de 
direitos, como Conselho da Criança e do Adolescente, Conselho do Idoso, 
Conselho da Pessoa com Deficiência, entre outros. Essa atuação possui o 
objetivo de colaborar com a criação e/ou fortalecimento de uma cultura de 
participação popular nos mecanismos de controle social e de respeito aos 
direitos humanos, a fim de gerar consenso social a partir dos interesses da 
classe trabalhadora (IAMAMOTO, 2013).
Portanto, faz-se necessário que o assistente social tenha clareza de 
seu papel profissional, com uma atuação pedagógica permanente1, com-
prometida com a classe trabalhadora, conforme firmado no projeto ético-
-político da profissão e nos princípios fundamentais do Código de Ética de 
1993, objetivando orientar os indivíduos sociais na busca por mecanismos 
de fortalecimento da coletividade e engajamento na luta pela efetivação de 
seus direitos enquanto cidadãos livres.
É importante que na atuação profissional o assistente social assuma a 
posição de intelectual orgânico2, ou seja, aquele profissional que é capaz 
1 O uso do termo “atuação pedagógica permanente” está vinculado à influência do pensa-
mento de Gramsci no Serviço Social, compreendendo que a luta pela hegemonia – enten-
dida enquanto direção adotada pela classe subalterna na construção de uma nova socieda-
de, desvinculada do Estado e da classe burguesa dominante – traduz-se em um processo 
pedagógico. Desse modo, a luta pela hegemonia precisa estar presente na ação política de 
maneira contínua/permanente (NEVES, 2017).
2 Por intelectual orgânico compreende-se o profissional capaz de estabelecer uma atua-
ção vinculada aos interesses da classe trabalhadora. Abreu (2008), com base em Gramsci, 
Instrumentalidade do Serviço Social
– 16 –
de desenvolver ações comprometidas com a classe pela qual escolheu tra-
balhar, nesse caso, os trabalhadores, tendo em vista o projeto ético-político 
profissional do Serviço Social. Além disso, pensar a atuação do assistente 
social orientada pela dimensão pedagógica e orgânica exige reconhecer 
a capacidade que os sujeitos sociais têm de encontrar soluções para seus 
problemas coletivos.
Assim, para que esse agir profissional se efetive, é necessário que o 
assistente social se aproprie da instrumentalidade da profissão em todos 
os seus aspectos, para que sua atuação tenha finalidade, uma vez que esse 
conceito se traduz também como habilidade que a profissão possui e que a 
possibilitaalcançar seus objetivos.
1.2 A instrumentalidade enquanto 
capacidade do Serviço Social em alcançar 
objetivos profissionais e sociais
A instrumentalidade do Serviço Social diz respeito à habilidade que 
a profissão vai adquirindo em face dos objetivos alcançados. Ou seja, 
refere-se à capacidade de atuação do assistente social em estabelecer uma 
intencionalidade nas suas respostas profissionais.
A autora Yolanda Guerra (2000, p. 1) chama atenção para o fato de 
que “[...] o termo instrumentalidade nos faria perceber que o sufixo ‘idade’ 
tem a ver com a capacidade, qualidade ou propriedade de algo”. Portanto, 
a instrumentalidade, como dito anteriormente, refere-se “a uma determi-
nada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão, construída e 
reconstruída no processo sócio-histórico”.
Nesse sentido, instrumentalidade diz respeito ao modo de ser que a 
profissão de Serviço Social adquire no interior das relações sociais, na 
medida em que busca articular as condições objetivas e subjetivas de atu-
ação profissional. Segundo Guerra (2000), a instrumentalidade é condição 
aponta a necessidade de uma reforma intelectual e moral que direcione a atuação do inte-
lectual para uma relação de capacitação e formação das classes subalternas, objetivando 
elevar o desenvolvimento intelectual e cultural desses indivíduos para a construção de uma 
nova cultura e sociedade (ABREU, 2008).
– 17 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
intrínseca ao trabalho, pois diz respeito à capacidade do ser social em 
construir meios de satisfação das suas necessidades, sejam elas, parafra-
seando o pensador Karl Marx, advindas do estômago ou da fantasia. As 
necessidades do estômago são chamadas também de necessidades mate-
riais, e estão relacionadas ao ato indispensável de comer, dormir, beber; 
e as necessidades da fantasia são tratadas como necessidades espirituais, 
relativas ao intelecto, ao espírito, à mente.
Assim, quando o ser social realiza transformações para o alcance de 
uma determinada finalidade, tem nas suas ações a instrumentalidade pre-
sente, pois, conforme Guerra (2000, p. 2), “[...] a instrumentalidade é tanto 
condição necessária de todo trabalho social quanto categoria constitutiva, 
um modo de ser, de todo trabalho”.
No tocante ao Serviço Social, a instrumentalidade enquanto capaci-
dade que a profissão vai adquirindo para concretizar objetivos, com base 
em uma leitura sócio-histórica e da construção e reconstrução da pro-
fissão, permite aos assistentes sociais projetar intencionalidade em suas 
ações, transformando-as em respostas profissionais.
Além disso, a instrumentalidade possibilita que os profissionais ana-
lisem as condições objetivas e materiais existentes na sociedade e nos 
espaços sócio-ocupacionais em que atuam, e confrontem-nas com as con-
dições subjetivas, a fim de criar, adequar e transformar tais condições em 
meios para o alcance das suas intencionalidades.
Por condições objetivas compreendem-se aquelas que são materiais 
dentro da sociedade, como o domínio dos meios de produção; os espaços 
sócio-ocupacionais que se apresentam ao profissional, diante também de 
uma conjuntura e contexto histórico; os recursos necessários para a atua-
ção, a exemplo da sala, dos arquivos para a garantia do sigilo profissional; 
entre outros.
Como condições subjetivas entende-se a preparação do sujeito, 
ou seja, do indivíduo assistente social, suas escolhas, qualificação 
e competência profissional, a partir do aprimoramento intelectual, 
apreensão das dimensões teórico-metodológicas, técnico-operativas e 
ético-políticas do Serviço Social, e sua ação dialógica com os usuá-
rios do serviço.
Instrumentalidade do Serviço Social
– 18 –
Figura 1.1 – Condições objetivas e subjetivas no cotidiano do assistente social 
Condições objetivas no 
cotidiano do assistente social
Condições subjetivas no 
cotidiano do assistente social
Grau de qualificação; aprimora-
mento intelectual.
Recursos materiais: sala; arquivo. Competência profissional; capaci-dade de mobilizar as três dimensões.
Conjuntura; contexto histórico. Ação intencional, comprometida e dialógica com os sujeitos sociais.
Fonte: elaborada pelo autor.
No exercício de entender a importância e necessidade de utilizar 
a instrumentalidade profissional em sua atuação, o assistente social 
passa a visualizar as condições materiais que estão dadas e busca arti-
culá-las com as condições que são relativas aos sujeitos, ou seja, que 
dizem respeito às suas escolhas profissionais e competências em atuar 
de modo objetivo, proposital, crítico e comprometido com as deman-
das da classe trabalhadora.
É importante salientar que, por ser condição constitutiva do traba-
lho, conforme Yolanda Guerra, a instrumentalidade é também constitutiva 
do Serviço Social, visto que esta profissão se insere na sociedade como 
trabalho especializado. Além disso, ao incorporar a instrumentalidade ao 
Serviço Social, é preciso entender que ela diz respeito à capacidade do 
assistente social em mobilizar as dimensões teórico-metodológica, téc-
nico-operativa e ético-política.
Portanto, para que a instrumentalidade se concretize no âmbito do 
Serviço Social, as três dimensões da profissão não podem ser utilizadas 
separadamente, visto que o agir profissional intencional e como práxis 
só é possível quando essas dimensões estão articuladas. Do contrário, a 
prática profissional incorrerá em tecnicismo, teoricismo e em uma ação 
psicologizante, ou seja, implicará a supervalorização de uma categoria em 
detrimento de outras, e em achar que apenas uma dá conta de tratar a 
realidade, além de individualizar os problemas sociais por meio da psico-
logização dos sujeitos sociais.
– 19 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
Essas questões serão retomadas de maneira detalhada no capítulo 2 
desta obra, em que serão abordadas as dimensões da profissão e sua indis-
sociabilidade; e no capítulo 3, no qual será trabalhada a importância da 
tríade singularidade-universalidade-particularidade para uma ação dialé-
tica e que possibilite analisar os fenômenos sociais em sua essência e não 
na aparência.
Por hora, neste tópico, interessa-nos compreender como a instrumen-
talidade torna-se propriedade/capacidade adquirida pelo Serviço Social 
por meio da atuação profissional. Para isso, importa analisar a história e 
trajetória do Serviço Social brasileiro, pela qual é possível perceber que 
essa profissão passa por diversas mudanças em seu modo de ser e em sua 
atuação na sociedade.
O Serviço Social surge no Brasil na década de 1930, no bojo da Igreja 
Católica, com a atuação das “damas de caridade”, e norteado por um cará-
ter assistencialista e filantrópico. Na década de 1940, o Serviço Social é 
regulamentado como profissão, contudo, as ações profissionais buscavam 
mediar os conflitos entre a classe trabalhadora e a burguesia, de modo 
a disciplinar o comportamento dos trabalhadores para a manutenção da 
ordem burguesa, com uma atuação psicologizante3, e que compreendia 
a questão social como problema individual e não como consequência do 
modo de produção capitalista.
Com o aprofundamento das discussões teóricas, especialmente a par-
tir da aproximação do Serviço Social com as teorias marxistas – ainda que 
em um primeiro momento esta apreensão do marxismo tenha sido feita 
sem o recurso do pensamento de Karl Marx –, a profissão passa a ques-
tionar sua prática profissional e a perceber que a atuação do assistente não 
é neutra, fazendo assim a escolha político-ideológica firmada no compro-
misso com a classe proletária.
3 Pelo termo psicologizante compreende-se a atuação do Serviço Social orientado pela 
Igreja Católica, na qual a questão social era vista como uma questão moral, um problema 
individual das pessoas que vivenciavam suas expressões e que precisavam ter seus com-
portamentos disciplinados, por serem considerados inadequados à ordem vigente. Ver mais 
em: YAZBEK, Maria Carmelita.O significado sócio-histórico da profissão. In: CFESS; 
ABEPSS (Org.). Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília: 
CFESS; ABEPSS, 2009. p. 125-141.
Instrumentalidade do Serviço Social
– 20 –
O marco de ruptura do Serviço Social com o conservadorismo da 
profissão se deu a partir do Movimento de Reconceituação, que teve iní-
cio na década de 1960, em um momento histórico em que havia um forte 
movimento político-cultural composto por intelectuais, trabalhadores, 
segmentos médios e classes populares na luta pela defesa de projetos de 
transformação social.
O período histórico em que ocorre o Movimento de Reconceitua-
ção do Serviço Social é de extrema relevância e demonstra com nitidez 
o compromisso assumido pela profissão em atuar com as demandas da 
classe trabalhadora, pois se trata do contexto político em que o Brasil 
vivia a ditadura militar, com fortes repressões aos trabalhadores e às 
reivindicações sociais, e com ações duramente violentas e de ataques 
aos direitos humanos.
O final da década de 1980 e início dos anos 1990 são de grande 
representatividade popular na arena política e na implementação da 
democracia no Brasil, pois é a partir da pressão e atuação popular nos 
mecanismos de controle social que ocorre a promulgação da Constitui-
ção Federal Brasileira, em 1988, a qual traz grandes avanços sociais e 
econômicos aos trabalhadores. No tocante à matéria do Serviço Social, a 
Carta Magna institui a Seguridade Social no Brasil, alicerçada pelo tripé: 
saúde, previdência e assistência.
No primeiro ano da década de 1990, os brasileiros assistem à criação 
do Sistema Único de Saúde pela Lei n. 8.080, que representa uma impor-
tante luta popular na garantia de acesso à saúde de maneira gratuita e uni-
versal. No âmbito da profissão de Serviço Social, os anos 1990 apontam 
avanços significativos e importantes referentes aos elementos norteadores 
da prática profissional, por meio da implementação do Código de Ética de 
1993 e da Lei de Regulamentação da Profissão n. 8.662, de 1993.
Além disso, a profissão é atravessada por componentes: históricos, 
teóricos e metodológicos, que possibilitam ao assistente social compre-
ender a realidade e atuar de forma investigativa; técnicos e operativos, os 
quais proporcionam ao profissional utilizar instrumentos e técnicas para 
intervir na realidade; e éticos e políticos, ligados diretamente ao objetivo 
que se pretende alcançar com a prática profissional.
– 21 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
É importante salientar que o Código de Ética Profissional, a Lei 
de Regulamentação da profissão de Serviço Social, e a articulação das 
dimensões da profissão são princípios para a concretização do projeto 
ético-político profissional. Além disso, vale ressaltar que o projeto da 
profissão não diz respeito a um documento, algo palpável ou um escrito que 
pode ser consultado, lido e relido. Refere-se a uma grandeza ideopolítica 
que orienta o agir profissional e deve ser internalizada pelos assistentes 
sociais, com o compromisso de construção de uma nova ordem societária.
Mas o que vem a ser a construção de uma nova ordem societária? 
Quer dizer que os assistentes sociais irão se unir enquanto categoria pro-
fissional, derrubar o capitalismo e criar uma nova forma de economia? Ou 
o Serviço Social irá articular uma revolução?
Não se trata de nenhuma das questões apontadas, até porque, ainda 
que fosse possível articular e unir todos os profissionais de Serviço Social, 
esses representariam apenas uma pequena parcela da sociedade. Ademais, 
não é possível que uma categoria consiga estabelecer transformações tão 
profundas e definitivas em uma sociedade, pois seu trabalho é permeado 
por limitações e pela correlação de forças no capitalismo.
Quando se fala em lutar pela construção de uma nova ordem socie-
tária, diz-se da capacidade que o assistente social tem de utilizar a ins-
trumentalidade do Serviço Social para imprimir intencionalidade em seu 
agir, ou seja, para incutir objetividade em sua atuação e conferir resultados 
efetivos do seu trabalho na vida dos usuários.
No tópico 1.1 deste capítulo, falou-se sobre a capacidade teleológica 
que é exclusiva do ser social, e que este, ao transformar a natureza, trans-
forma também a si mesmo, pois essa ação racional descortina outras qua-
lidades humanas. Do mesmo modo, teceu-se a discussão sobre o trabalho 
do assistente social ter um objetivo que é social, aquele que está atrelado 
às interferências profissionais no comportamento, nos valores, na cul-
tura e na educação, com o objetivo de criar consenso de classe, tendo em 
vista os interesses dos trabalhadores, e a atuação com eles, percebendo-os 
enquanto protagonistas na sociedade.
Logo, essa análise permite responder à pergunta sobre como se dá 
o compromisso e a luta dos profissionais de Serviço Social em criar uma 
Instrumentalidade do Serviço Social
– 22 –
nova ordem societária. Além disso, a noção de educação popular4 de Car-
los Hurtado (1993) demonstra-se muito enriquecedora para se pensar a 
prática do assistente social dotada de instrumentalidade e intencionalidade 
na atuação com a classe trabalhadora, pois, de acordo com o autor, a edu-
cação popular diz respeito a um processo de formação, capacitação e orga-
nização política das classes subalternas, com o objetivo de construir uma 
sociedade que atenda aos seus interesses.
Nesse sentido, e ainda de acordo com Hurtado (1993), o ponto-chave 
da educação popular, e que a torna efetiva no trabalho com os indivíduos 
que não detêm os meios de produção, é o seu caráter político e seu com-
promisso de classe, além da relação orgânica que estabelece com o movi-
mento popular. A educação popular pauta-se também no desenvolvimento 
de uma consciência social crítica, coadunando o caráter do Serviço Social 
em produzir efeitos que não são apenas materiais, mas também sociais.
O amadurecimento da profissão, com base na análise da sua trajetória 
e dos avanços profissionais, possibilita dizer que a instrumentalidade é 
uma propriedade que o Serviço Social adquire diante dos objetivos alcan-
çados, pois essa profissão aprende a utilizar a capacidade que fora cons-
truída historicamente para dar respostas efetivas às demandas postas pelas 
classes que requisitam sua atuação, em especial, para agir de acordo com 
os interesses da classe trabalhadora em uma perspectiva de emancipação 
social e de construção de uma nova ordem societária.
Por meio da produção de efeitos materiais e sociais na sociedade, da 
mobilização das três dimensões da profissão, do confronto das condições 
objetivas e subjetivas, e de uma prática pedagógica e orgânica, os assis-
tentes sociais contribuem para que a instrumentalidade torne-se condição 
de reconhecimento social da profissão, ou seja, criam meios para o alcance 
da visibilidade coletiva, institucional e social que tanto desejam para o 
Serviço Social.
4 De acordo com o autor, a educação popular possui caráter político, concepção e compro-
misso de classe, e preocupa-se com a transmissão de conhecimento que resulte no desen-
volvimento de uma consciência crítica (HURTADO, 1993).
– 23 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
1.3 Instrumentalidade como condição para o 
reconhecimento/identificação da profissão
A instrumentalidade constitui-se como condição de reconhecimento 
da profissão na medida em que, enquanto propriedade/habilidade que o 
Serviço Social adquire de maneira sócio-histórica, possibilita aos assis-
tentes sociais responder às demandas postas pelas classes antagônicas 
(burguesia x proletariado) e alcançar objetivos profissionais e sociais 
(GUERRA, 2000).
Como propriedade do Serviço Social e condição para o seu reconhe-
cimento, a instrumentalidade fundamenta-se na apreensão da prática pro-
fissional como trabalho, ao passo que o assistente social, enquanto ser 
social, realiza modificações na natureza, planeja e projeta na consciênciaa finalidade do seu agir. Dessa maneira, nota-se que a realidade social não 
é estática, não está finalizada e é sempre passível de mudanças. Logo, a 
atuação profissional deve estar firmada na noção de práxis social, ou seja, 
pautada em uma ação transformadora.
A instrumentalidade é categoria constitutiva de todo trabalho, con-
forme Guerra (2000), ela possibilita que o assistente social estabeleça pro-
jetos sociais e profissionais com intencionalidade e finalidade alinhadas 
para atender às necessidades da profissão e da classe com as quais firmou 
compromisso social no projeto ético-político. Portanto, ao lançar mão das 
dimensões teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético-políticas, 
o profissional de Serviço Social está realizando a instrumentalidade e 
fazendo com que haja a visibilidade social da profissão, o seu reconheci-
mento como modo de ser e agir dentro da sociedade.
Conforme Yolanda Guerra (1995), o modo de ser do Serviço Social, 
ou seja, a maneira como a profissão é reconhecida socialmente, se dá a 
partir do seu fazer profissional e é construído e reconstruído durante todo 
o processo sócio-histórico da profissão, em um movimento contraditório, 
uma vez que ocorre na relação conflituosa entre as classes sociais com as 
quais o profissional atua realizando sua intervenção.
Instrumentalidade do Serviço Social
– 24 –
A realidade social não é inerte, ela é construída e reconstruída dialetica-
mente em um movimento em espiral, por meio da ação transformadora, por-
tanto, apesar da instrumentalidade ser condição tangível de reconhecimento 
da profissão, é necessário pautar o agir profissional de maneira dialética, a 
fim de perceber que a profissão está em constante reconstrução, tornando-se 
indispensável uma atuação intencional não apenas no sentido de alcançar 
objetivos profissionais e sociais, mas também de possibilitar o constante 
reconhecimento da profissão de maneira institucional, social e coletiva.
E como se dá o reconhecimento do significado social da profissão 
por parte daqueles que representam as classes antagônicas (instituição/
empregadores, coletivo, usuários do serviço e sociedade como um todo)?
Anteriormente, foi dito que o assistente social não detém todos os 
instrumentos para a sua prática, tendo em vista que os processos de tra-
balho são variados e que esse profissional depende de que o empregador 
lhe forneça instrumentos, como recursos materiais, humanos, etc., uma 
vez que as instituições obtêm a maior parte dos instrumentos de trabalho 
necessários para a atuação profissional.
Contudo, apesar de o profissional de Serviço Social não possuir auto-
nomia total dos processos de trabalho, detém a relativa autonomia que é 
acionada e colocada em prática, ao passo que a instituição viabiliza aos 
usuários o acesso ao assistente social, e este realiza uma leitura crítica e 
dinâmica da realidade, para, com os aportes teóricos, éticos e técnicos, 
escolher a melhor forma de atuação, objetivando responder às demandas 
apresentadas pelas classes com as quais trabalha.
Isso significa que, apesar de os processos de trabalho na maioria das 
vezes estarem definidos pela instituição requisitante da atuação do assis-
tente social, a forma de atuar diante dessas solicitações será delineada pelo 
profissional, com base em sua capacidade teleológica enquanto trabalha-
dor, de operar intencionalidade, criando em seu consciente a finalidade/
objetivo da ação, e fazendo uso da instrumentalidade, que permite ao pro-
fissional um raciocínio crítico da realidade, despindo-se da alienação, que 
é uma condição posta pelo capitalismo ao trabalhador.
De acordo com a fala da professora Yolanda Guerra, na conferên-
cia realizada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), em 15 maio 
– 25 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
de 2012, sobre o tema “A instrumentalidade do exercício profissional do 
assistente social”, a alienação é uma característica intrínseca a todo tra-
balhador, visto que esse, por sua condição de venda da força de trabalho 
na produção de algo a que não tem acesso, não consegue visualizar todo 
o processo de produção. Logo, a alienação configura-se como um “fenô-
meno da consciência humana” de todo trabalhador assalariado.
Nessa perspectiva, em virtude da profissão de Serviço Social inse-
rir-se na divisão social e técnica do trabalho, o assistente social assume 
características de trabalhador assalariado e, portanto, é afetado também 
pelo processo de alienação. Como classe trabalhadora, esse profissional 
precisa estabelecer meios de subsistência humana, que ocorre por meio da 
produção e reprodução da força de trabalho.
Contudo, quando o assistente social faz uso da relativa autonomia 
profissional em seu cotidiano, e pratica o exercício de confrontar as condi-
ções objetivas e subjetivas, bem como realiza a apreensão da instrumenta-
lidade como condição do trabalho, como modo de ser do Serviço Social na 
sociedade, em face da propriedade que é adquirida a partir dos objetivos 
alcançados, esse profissional corrobora o reconhecimento, por parte das 
instituições em que atua, do significado social da profissão, por meio de 
uma cultura profissional que se baseia na capacidade de se organizar no 
contexto sócio-histórico e fazer uso da sua intencionalidade no alcance de 
finalidades e objetivos profissionais e sociais.
A instrumentalidade como reconhecimento da profissão por parte dos 
usuários do Serviço Social acontece quando essa parcela da população 
busca o assistente social, e a esse profissional apresenta suas demandas 
sociais, seja do âmbito econômico, de saúde, educacional ou outro. Eles 
buscam a intervenção do assistente social por acreditar que a atuação desse 
profissional é capaz de orientá-los a compreender e inferir mudanças obje-
tivas nas expressões da questão social que se manifestam em suas vidas, 
como forma de desemprego, de questões habitacionais, ou de qualquer 
outra necessidade de sobrevivência humana.
Refere-se ainda à capacidade que os assistentes sociais têm de agir 
dialogicamente, em uma perspectiva pedagógica e orgânica5 com a classe 
5 Consultar as notas de rodapé 1 e 2.
Instrumentalidade do Serviço Social
– 26 –
popular, conforme os ideais de emancipação do filósofo Antônio Gramsci, 
e à habilidade que eles têm de estabelecer vínculos com os usuários, os 
quais acreditam no potencial de reposta profissional. Portanto, torna-se 
imprescindível que o profissional de Serviço Social reflita criticamente 
o seu cotidiano, desvelando a realidade e valendo-se do aporte teórico, 
técnico e ético-político da profissão, acreditando no seu papel profissional 
de agente transformador da realidade social e na emancipação social dos 
indivíduos, por meio da expansão dos direitos humanos e da liberdade.
No que diz respeito ao reconhecimento da profissão por parte do cole-
tivo e da sociedade, este se pauta na maneira como o Serviço Social é visto 
socialmente, como a profissão se apresenta socialmente, na medida em 
que a coletividade compreende o que faz o assistente social, a que classe 
busca atender e colaborar no processo de transformações societárias.
É evidente que a instituição, os usuários que o assistente social atende, 
o coletivo e a sociedade não têm o conhecimento minucioso do que é a 
instrumentalidade como está sendo apresentada nesta obra, com base na 
leitura de autoras como Yolanda Guerra e Marilda Iamamoto, até porque 
as dimensões do Serviço Social, bem como o contexto sócio-histórico em 
que se desenvolve a profissão no Brasil, são peculiaridades profissionais 
que fazem parte do processo formativo dos assistentes sociais.
Porém, isso não quer dizer que não seja possível demonstrar a capa-
cidade que o Serviço Social possui e o modo de ser da profissão às classes 
que demandam a atuação do assistente social. Nesse sentido, há a inten-
ção de possibilitar ao leitor a compreensão da instrumentalidade enquanto 
propriedade que o Serviço Social vai adquirindodiante dos objetivos 
alcançados, a partir da atuação intencional do assistente social, e como a 
instrumentalidade organiza-se como condição fundamental de reconheci-
mento social da profissão.
É papel ético-político do assistente social colaborar com a criação 
de um reconhecimento profissional coeso dentro da sociedade como um 
todo. Isso porque, apesar de ter ocorrido o Movimento de Reconceituação 
da profissão, que rompe com o caráter conservador do Serviço Social – e 
embora haja a consolidação de princípios, direitos e deveres ao assistente 
social, com base no que está posto no Código de Ética Profissional, bem 
– 27 –
Instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social 
como as atribuições profissionais definidas pela Lei de Regulamentação 
da profissão –, ainda é necessário, especialmente em vista da dicotomia da 
profissão, demonstrar a quem o Serviço Social serve dentro da sociedade 
capitalista, o que essa profissão produz e qual o seu objetivo.
Portanto, faz-se necessário compreender a importância da instrumen-
talidade como mediação na prática do assistente social, pois, de acordo 
com Guerra (2000, p. 12), “significa tomar o Serviço Social como tota-
lidade constituída de múltiplas dimensões: técnico-instrumental, teórico-
-intelectual, ético-política e formativa [...]”. Ou seja, compreende a liga-
ção das metodologias de ação com as demais competências do Serviço 
Social, a fim de possibilitar a atuação profissional pautada na razão dialé-
tica, que envolve a universalidade das relações sociais, suas contradições, 
movimentos e singularidade, buscando apreender os fenômenos sociais 
em sua essência, traduzindo a medição em respostas profissionais objeti-
vas e eficazes.
Como forma de concluir o estudo traçado neste capítulo, acerca da 
instrumentalidade como categoria constitutiva do Serviço Social, vale 
relembrar que, preliminarmente, tornou-se necessário delimitar qual com-
preensão pretendia-se de instrumentalidade, entendendo-a para além do 
uso de técnicas e instrumentos no agir profissional, e ampliando a sua 
compreensão enquanto capacidade que a profissão adquire na construção 
e reconstrução do processo histórico (GUERRA, 2000).
Essa capacidade adquirida pelo Serviço Social ocorrerá a partir da 
prática profissional como trabalho, ao passo que o assistente social pla-
neja, projeta e executa suas ações com intencionalidade definida, tendo em 
vista sua capacidade teleológica, que busca alcançar objetivos sociais e 
profissionais. Todo esse processo de construção e reconstrução social, por 
meio do processo sócio-histórico, e da atuação pautada no compromisso 
com a classe trabalhadora, torna-se também, como visto neste escrito, 
condição para o reconhecimento social da profissão.
A realidade sócio-histórica está sempre em constante mudança, e há 
nuances que ora apontam avanços, ora retrocessos. Nesse sentido, o assis-
tente social precisa pautar sua ação na indissociabilidade das dimensões 
do Serviço Social, pois cada uma delas tem importante função social e 
Instrumentalidade do Serviço Social
– 28 –
profissional, mas que, se tratadas de maneira individual, realizam atendi-
mento de modo psicologizante e imediatista, sendo que, ao contrário, as 
necessidades que a classe trabalhadora transforma em demanda ao Ser-
viço Social são atravessadas pelas expressões da questão social, expres-
sões essas que se referem a um nível de problema coletivo, fruto do pro-
cesso de produção capitalista.
Portanto, a atuação do assistente, para ser dotada de instrumentali-
dade, precisa articular de maneira coerente as dimensões teórico-metodo-
lógica, técnico-operativa e ético-política, objetivando uma atuação pro-
fissional coerente e eficaz no processo de construção de uma nova ordem 
societária, que vislumbre a superação das desigualdades sociais, a amplia-
ção da liberdade e a redistribuição da riqueza socialmente produzida.
Atividades
1. De acordo com o que foi exposto neste capítulo, qual o objeto de 
trabalho do Serviço Social?
2. Qual o entendimento que o texto aborda sobre os instrumentos 
que possibilitam a ação profissional?
3. O que o Serviço Social produz enquanto trabalho?
4. O que é a instrumentalidade do Serviço Social?
2
Articulando as 
dimensões teórico-
metodológicas, 
ético-políticas e 
técnico-operativas 
do serviço social 
A compreensão acerca da relação entre as três dimensões 
do Serviço Social na atuação profissional torna-se imprescindí-
vel quando se deseja realizar uma prática profissional crítica e 
que esteja em consonância com o Projeto Ético-Político e com o 
Código de Ética Profissional. Dessa maneira, o agir profissional 
deve estar comprometido com as demandas da classe trabalha-
dora e com a construção de uma nova ordem societária.
Este capítulo objetiva explanar as especificidades e a defi-
nição das dimensões técnico-operativas, teórico-metodológicas e 
ético-políticas, entendendo a importância de particularizá-las, a 
fim de que se possa compreender como devem ser articuladas nas 
ações profissionais, visto que representam condições distintas de 
apreensão dos componentes da profissão.
Instrumentalidade do Serviço Social
– 30 –
Por outro lado, torna-se indispensável entender que essas dimensões 
apesar de terem peculiaridades próprias, não possuem relação de superio-
ridade ou hierarquia e, se utilizadas individualmente, não são capazes de 
produzir os efeitos que a profissão tanto almeja, pelo contrário, implicam 
ações baseadas no tecnicismo, teoricismo e politicismo, que remetem ao 
conservadorismo da profissão. Logo, é preciso apreender e debruçar-se 
sobre as questões que apontam para a indissociabilidade dessas dimen-
sões, a fim de se alcançar a instrumentalidade do Serviço Social e os 
rumos éticos da profissão.
Nesse sentido, a obra abrange, também, a compreensão acerca do 
Projeto Ético-Político Profissional enquanto idealizador de conduta e 
comportamento, a partir da construção de uma imagem profissional base-
ada em valores éticos, teóricos, investigativos, interventivos, comprometi-
dos com a expansão da liberdade, com a emancipação dos sujeitos sociais, 
com a defesa dos direitos humanos e com um projeto de sociedade livre de 
preconceitos, desigualdades e discriminação.
2.1 Especificidade e definição das dimensões 
teórico-metodológicas, ético-políticas e 
técnico-operativas do Serviço Social
Para compreender as particularidades de cada dimensão do Serviço 
Social, é necessário, primeiramente, retomarmos o entendimento sobre o 
que foi o Movimento de Reconceituação do Serviço Social e sua impor-
tância na trajetória sócio-histórica da profissão.
O Movimento de Reconceituação ou de Renovação do Serviço Social, 
como alguns autores denominam, foi um marco histórico importantíssimo 
para a profissão, que não pode deixar de ser abordado quando se deseja 
falar sobre o Serviço Social na contemporaneidade ou sobre as dimen-
sões que constituem a profissão, visto que essas competências refletem o 
arcabouço histórico, teórico, metodológico, técnico e operativo, ético e 
político, os quais, a partir da aproximação com as teorias marxistas, dire-
cionam o Serviço Social para o rompimento com as bases conservadoras 
e predominantes até a década de 1980 e possibilitam pensar o significado 
– 31 –
Articulando as dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas 
e técnico-operativas do serviço social 
social do Serviço Social e a construção de uma identidade de um profis-
sional crítico e comprometido com o Projeto Ético-Político Profissional.
O projeto da profissão está intimamente atrelado ao projeto de socie-
dade1 que se buscava construir no Brasil a partir da década de 1960, quando 
uma parcela da população, composta por intelectuais, trabalhadores, entre 
outros, lutava contra o regime ditatorial e empenhava-se na construção 
de uma democracia2. Nesse sentido, além do projeto profissional pautar 
a liberdade dos sujeitos e a defesa intransigente dos direitos humanos, 
inseridos Códigode Ética Profissional de 1993, regulamentar a profissão 
quanto às suas atribuições, indica, também, um aprimoramento no que diz 
respeito ao processo formativo dos assistentes sociais, com a elaboração 
das Diretrizes Curriculares para o Curso de Serviço Social de 1996.
As Diretrizes Curriculares do Serviço Social, aprovadas em Assem-
bleia Geral Extraordinária de 08 de novembro de 1996 pela ABESS 
(Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social, atualmente deno-
minada Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 
– ABEPSS), orientam e direcionam o processo formativo do assistente 
social para a construção de um perfil profissional constituído de “capaci-
tação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa” (ABEPSS, 
1996, p. 7). Estão estruturadas com base em núcleos temáticos, os quais 
articulam uma gama de conhecimentos considerados indispensáveis à 
formação profissional. Esses núcleos temáticos estão divididos em: 1. 
núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social; 2. núcleo de 
fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da sociedade 
brasileira; 3. núcleo de fundamentos do trabalho profissional.
Apesar dos núcleos temáticos estarem divididos em três, eles não têm 
ligação direta com as três dimensões da profissão, como se cada núcleo 
fizesse referência a uma dimensão. Eles são a totalidade de conhecimen-
tos da formação profissional, contextualizados historicamente e revelados 
em suas particularidades. Contudo, “não são autônomos nem subsequen-
1 Abordado no Capítulo 1, será aprofundado no Capítulo 3 desta obra.
2 Democracia é quando a população exerce poder de maneira superior. Ou seja, quando o povo 
participa do processo de decisão, inserindo suas vontades, e as vê representadas na Constituição 
Federal – Carta Magna – de seu país; e nas demais legislações e políticas públicas.
Instrumentalidade do Serviço Social
– 32 –
tes, expressando, ao contrário, níveis diferenciados de apreensão da reali-
dade social e profissional, subsidiando a intervenção do Serviço Social.” 
(ABEPSS, 1996, p. 7)
O primeiro núcleo (fundamentos teórico-metodológicos da vida social), 
de acordo com Iamamoto (2013), refere-se à necessidade de o assistente 
social ter domínio dos fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos 
a fim de analisar o ser social e a vida em sociedade. Em outras palavras, 
diz respeito aos recursos metodológicos que possibilitam que o profissional 
compreenda a dinâmica da vida social na sociedade capitalista.
O segundo núcleo (fundamentos da particularidade da formação 
sócio-histórica da sociedade brasileira) está atrelado à compreensão da 
sociedade brasileira, a partir das particularidades históricas e sociais da 
sua formação, observando o seu desenvolvimento urbano e rural, bem 
como as diversidades regionais. A apreensão desse núcleo por parte dos 
assistentes sociais torna-se extremamente relevante, tendo em vista que 
as expressões da questão social se manifestam de maneira diferente na 
sociedade, a depender do contexto regional e local.
Já o terceiro núcleo (fundamentos do trabalho profissional) diz res-
peito aos elementos constitutivos do Serviço Social enquanto trabalho 
especializado. Isso significa que abrange a trajetória da profissão em 
aspectos históricos, teóricos, metodológicos, técnicos, éticos e políticos; 
compreende, ainda, a pesquisa, o estágio supervisionado, a administração 
e o planejamento em Serviço Social, a fim de que esses elementos possam 
orientar e capacitar os profissionais na sua prática, bem como preservar as 
competências exclusivas do assistente social, as quais estão normatizadas 
pela Lei de Regulamentação da Profissão. (IAMAMOTO, 2013)
Mais uma vez, importa evidenciar que esses núcleos não possuem 
entre si hierarquia ou ordem classificatória, pelo contrário, eles são com-
plementares e estão relacionados à totalidade de conhecimentos impres-
cindíveis que o assistente social deve apreender para compreender a ori-
gem, as manifestações e o enfrentamento da questão social. Eles subsidiam 
a prática profissional para que esta última não incorra em uma ação que 
retome o conservadorismo da profissão, no qual se tratava os problemas 
sociais como anomalia e culpabilização dos sujeitos.
– 33 –
Articulando as dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas 
e técnico-operativas do serviço social 
De acordo com a ABEPSS (1996), os núcleos temáticos se tradu-
zem como norteadores da formação que se almeja para o profissional de 
Serviço Social ao contemplar os conhecimentos que são imprescindíveis 
para a compreensão do processo de trabalho do assistente social. Desse 
modo, tais núcleos também se estendem à construção dos componen-
tes curriculares da formação profissional por meio de áreas do conheci-
mento, e não apenas como disciplinas a serem cursadas, corroborando 
para que sejam realizadas as mediações da relação teoria e prática – tão 
necessária para a desconstrução da ideia que alguns profissionais susten-
tam de que, na atuação prática, não é possível fazer uso da teoria, como 
se elas fossem indissociáveis.
De modo resumido e didático, compreende-se que a base para o 
entendimento das particularidades das dimensões teórico-metodológicas, 
ético-políticas e técnico-operativas são as Diretrizes Curriculares do Ser-
viço Social, de 1996, as quais:
 2 representam o amadurecimento do significado social da pro-
fissão; o uso da tradição teórica que possibilita a apreensão da 
realidade a partir do contexto sócio-histórico; e a construção do 
projeto profissional baseado no compromisso com as demandas 
da classe trabalhadora.
 2 correspondem aos conhecimentos constitutivos da formação 
profissional divididos em três núcleos de fundamentos: 1. núcleo 
de fundamentos teórico-metodológicos da vida social; 2. núcleo 
de fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica 
da sociedade brasileira; 3. núcleo de fundamentos do trabalho 
profissional.
 2 orientam a construção de um perfil profissional composto de 
capacidades teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético-
-políticas, para uma atuação profissional capaz de realizar, con-
forme a ABEPSS (1996),
 2 a compreensão da realidade sócio-histórica como totalidade;
 2 o entendimento acerca da formação da sociedade brasileira e 
seus desdobramentos sociais na atualidade, a fim de que se 
Instrumentalidade do Serviço Social
– 34 –
possa apreender as peculiaridades do surgimento e do desen-
volvimento do capitalismo e do Serviço Social no Brasil;
 2 a compreensão das demandas que se apresentam ao assis-
tente social e o reconhecimento do significado social da 
profissão, permitindo perceber a gama de ações existentes 
na realidade, bem como as possibilidades de formular res-
postas profissionais que objetivem enfrentar as expressões 
da questão social;
 2 a atuação profissional em conformidade com as competên-
cias e atribuições estabelecidas na Lei de Regulamentação 
da Profissão.
 Saiba mais
Para que fique mais fácil compreender como os núcleos temáticos se 
complementam e subsidiam a prática profissional capacitada, tome-
mos por análise o desemprego no Nordeste. Para que o assistente social 
possa intervir nas expressões da questão social que se manifestam por 
meio do desemprego nessa região, é necessário fazer uma apreensão 
sobre a relação de produção e reprodução da força de trabalho na socie-
dade capitalista; sua característica de criar um exército de reserva a par-
tir da força de trabalho excedente às necessidades de produção (desem-
prego estrutural); a formação da sociedade brasileira e sua relação de 
produção e exportação de produtos, exigindo maior demanda de mão 
de obra em outras regiões do país; a compreensão do surgimento do 
Serviço Social; as demandas que se apresentam a essa profissão; o com-
promisso de classe estabelecido no Projeto Ético-Político Profissional. A 
ideia é que – articulando os fundamentos da vida social, as peculiarida-
des históricasna formação da sociedade brasileira, e a constituição da 
profissão enquanto trabalho, os assistentes sociais possam qualificar a 
sua atuação de maneira crítica, reflexiva, interventiva e comprometida 
com os processos de transformações societárias.
A redefinição do projeto profissional torna-se possível na medida em 
que se compreende o Serviço Social enquanto especialização do trabalho 
– 35 –
Articulando as dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas 
e técnico-operativas do serviço social 
coletivo, ou seja, a partir da sua regulamentação enquanto profissão. De 
acordo com Yazbek (2009), é o movimento sócio-histórico da sociedade 
que justifica a profissão por meio da reprodução social da vida. “Implica, 
pois, compreender a profissão como um processo, vale dizer, ela se trans-
forma ao transformarem-se as condições e as relações sociais nas quais ela 
se inscreve.” (ABEPSS, 1996, p. 5)
Assim, torna-se necessário retomar a apreensão da categoria traba-
lho enquanto fundadora do ser social, pois é essa compreensão que nos 
permite pensar o Serviço Social como trabalho e a prática profissional 
dotada de intencionalidade, conforme discutido no capítulo 1. Portanto, 
para que a ação profissional sobre o seu objeto de trabalho – aqui enten-
dida a questão social – tenha a finalidade preestabelecida alcançada, é 
necessário compreender as condições das relações sociais na sociedade 
capitalista, que demanda a atuação desse profissional, os núcleos de fun-
damentação da profissão e a instrumentalidade do Serviço Social, enten-
dida para além dos instrumentos e técnicas que o assistente social utiliza 
em seu agir profissional.
Afirmou-se que a instrumentalidade do Serviço Social diz respeito 
à capacidade que a profissão adquire em face dos objetivos alcançados. 
Refere-se ao modo de ser da profissão na articulação das condições objeti-
vas e subjetivas e traduz-se na capacidade do assistente social de mobilizar 
as dimensões teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético-políticas 
para um agir profissional como práxis, ou seja, uma atuação que relaciona 
a teoria e a prática. De acordo com a ABEPSS (1996), essas dimensões 
configuram-se como condição necessária para que o profissional possa 
atuar frente às demandas e situações do cotidiano, percebendo os limi-
tes dos processos de trabalho e delineando com clareza a sua atuação fir-
mada no compromisso com a classe trabalhadora e no atendimento às suas 
necessidades e construções sociais.
A fim de compreender as especificidades de cada uma dessas com-
petências, serão apontadas, a seguir, as suas particularidades, mas sem 
pretender separá-las, uma vez que elas devem estar articuladas na atuação 
do assistente social, pois, apesar de articularem conhecimentos diversos, 
são, também, indissociáveis para uma prática coesa e comprometida com 
o projeto profissional.
Instrumentalidade do Serviço Social
– 36 –
A primeira dimensão a ser elucidada é a competência teórico-
metodológica, que, conforme mostra Sousa (2008), refere-se à capacidade 
profissional em compreender a dinâmica da vida social, seu movimento e 
construções históricas para além dos fenômenos aparentes, enxergando-os 
na essência. Para isso, o assistente social precisa qualificar-se constante-
mente, conforme preconiza o Código de Ética Profissional, no Artigo 2, 
alínea f, dos Direitos e Responsabilidades Gerais do/a Assistente Social, 
com bases teóricas e metodológicas rigorosas, a fim de apreender conheci-
mentos e conceitos que possibilitem conhecer a realidade social, política, 
econômica e cultural na qual atuam para orientar a atuação firmada em 
transformações sociais.
Por bases teóricas e metodológicas competentes para a formação de 
um profissional crítico e propositivo, compreende-se o estudo aprofun-
dado das teorias de base marxista, que possibilitam a apreensão “de um 
conhecimento que não é manipulador e que apreende dialeticamente a 
realidade em seu movimento contraditório” (YASBEK, 2009, p. 10), atre-
lada a outras vertentes e áreas do conhecimento, como as ciências sociais, 
políticas, filosóficas, econômicas, antropológicas e psicológicas, ofertadas 
como disciplinas nas Diretrizes Curriculares do Serviço Social.
A dimensão técnico-operativa, assim como a instrumentalidade do 
Serviço Social, não deve ser reduzida aos instrumentos e técnicas, apesar 
de eles estarem presentes nessa competência. Contudo, essa dimensão vai 
além das técnicas e instrumentos, sejam eles diretos (face a face) – como 
a visita domiciliar, a visita institucional, a mobilização de comunidades, 
entre outros – ou indiretos (por escrito) – como o parecer e o relatório 
social, por exemplo, pois exige que o profissional articule de modo cons-
ciente os procedimentos que utilizará, objetivando alcançar uma finali-
dade com seu agir profissional. Assim, torna-se necessário ao assistente 
social estar atento ao fato de que “reduzir a dimensão técnico-operativa 
ao instrumental técnico-operativo significa, portanto, reduzi-la a um esta-
tuto meramente formal, compatível com os ditames da racionalidade bur-
guesa”. (BACKX, FILHO E SANTOS 2013, p. 20)
Quanto à dimensão ético-política, afirmamos que compreende o dire-
cionamento social adotado pela categoria na trajetória sócio-histórica da 
profissão, por meio do processo de questionamento da atuação profissional 
– 37 –
Articulando as dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas 
e técnico-operativas do serviço social 
e da formulação de instrumentos legais orientadores dessa prática. Nesse 
sentido, em uma análise e reconhecimento histórico, cabe pontuar aqui os 
avanços do Código de Ética de 1986, o qual surge da necessidade de uma 
nova formulação ética que assegure maior competência na operacionali-
zação dos princípios defendidos pela categoria profissional, capazes de 
expressar os avanços históricos da profissão. O Código de 1986 critica a 
forma superficial e abstrata com que eram tratados os valores universais 
nos códigos anteriores, reafirma opinião contrária ao conservadorismo 
ético-profissional, rompe com a base filosófica tradicional de cunho con-
servador que estava pautada na neutralidade da ação profissional.
Já o Código de Ética de 1993 traz, no rol de seus compromissos 
ético-políticos, a aliança com a classe trabalhadora. Defende os valores 
universais, tendo em vista a superação da ordem burguesa, com a socia-
lização da política e da riqueza socialmente produzida, consolidando a 
democracia. Visa à ampliação da liberdade, da emancipação e do desen-
volvimento dos indivíduos sociais. Nesse Código, a democracia torna-se 
valor ético-político central, na medida em que constitui o único padrão 
de organização político-social capaz de assegurar a explicitação dos 
valores universais.
Esses instrumentos são de suma importância para pensar a conso-
lidação do Projeto Ético-Político da profissão, visto que, com o direcio-
namento social estabelecido pelo Serviço Social, a categoria avança no 
campo da pesquisa e da produção de conhecimento por meio da pós-gra-
duação, com a criação e expansão dos cursos de mestrado e doutorado e 
com a elaboração de bibliografia própria, o que, além de reafirmar que não 
há neutralidade na atuação profissional, reforça as bases teóricas e meto-
dológicas que contribuem para a formação de um profissional competente. 
(YASBEK, 2009)
Portanto, a prática profissional deve estar pautada em escolhas sus-
tentadas por valores éticos e por um posicionamento político diante das 
demandas que se apresentam ao profissional. Esse posicionamento deve 
ser estabelecido a partir da apreensão da realidade social e da finalidade 
que se pretende alcançar com a ação profissional, em vistas do compro-
misso assumido com a classe trabalhadora, por meio do Projeto Ético-
-Político Profissional. (SOUSA, 2008)
Instrumentalidade do Serviço Social
– 38 –
Desse modo, para que se garanta a formação de profissionais quali-
ficados, éticos e competentes, faz-se necessário compreenderque a teoria 
e a prática presentes no Serviço Social devem caminhar juntas, com o 
objetivo de atender às demandas que são postas ao profissional em conso-
nância com o projeto da profissão. A articulação da teoria com a prática, 
no exercício profissional, ocorre, impreterivelmente, por meio do entendi-
mento quanto à indissociabilidade das dimensões ético-políticas, teórico-
-metodológicas e técnico-opertativas e da compreensão do compromisso 
de classe e da construção de projetos societários que vislumbrem suplan-
tar as desigualdades sociais.
2.2 Relação e indissociabilidade entre 
as três dimensões do Serviço Social
Desde o primeiro capítulo de discussão dessa obra temos apontado 
a necessidade de mobilizar as dimensões teórico-metodológicas, técnico-
-operativas e ético-políticas do Serviço Social para que se alcance a ins-
trumentalidade da profissão. No decorrer do capítulo 2, verificamos que 
essas dimensões devem compor a construção de um perfil profissional 
competente e capaz de apreender a realidade sócio-histórica para uma atu-
ação eficaz e comprometida com as demandas da classe trabalhadora.
A fim de compreender essas dimensões, elucidamos de maneira breve 
a particularidade de cada uma delas, para então, entendermos como se 
articulam no agir profissional. Portanto, inicialmente, precisamos tratar 
da desmistificação do “falso dilema” de que “na prática a teoria é outra”, 
conforme verificam Forti e Guerra (2009), uma vez que muitos profissio-
nais utilizam esse jargão ao se defrontarem com as condições objetivas 
do cotidiano profissional, com os processos de trabalho definidos pelas 
instituições requisitantes do seu trabalho, bem como pelo fato de que são 
esses empregadores que detêm a maior parte dos instrumentos necessários 
à prática do assistente social.
De acordo com Guerra (2012), o dia a dia da atuação profissional é 
permeado por cobranças e exigências de que o assistente social cumpra 
regras orientadas por seus superiores hierárquicos e dê respostas às suas 
solicitações. Assim, tendo em vista a condição de trabalhador desse pro-
– 39 –
Articulando as dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas 
e técnico-operativas do serviço social 
fissional, que, como qualquer outro, tem necessidades de manutenção do 
emprego para garantir a sua sobrevivência humana, um dos seus objetivos 
acaba por ser o de atender às demandas institucionais, incorrendo em res-
postas imediatas, baseadas na aparência e não na essência, além de, muitas 
vezes, estabelecer semelhanças entre uma situação e outra ou utilizando 
experiências passadas, como se todas as situações fossem iguais.
No contexto explicitado acima, ao agir de maneira imediata e irre-
fletida, o assistente social atua como quem desconhece a dinâmica das 
relações sociais na sociedade capitalista e não faz uso da mediação em seu 
agir profissional, a qual lhe permite ultrapassar a aparência dos fenômenos 
sociais, além de analisar a singularidade, a universalidade e a particulari-
dade das relações sociais (tema que será aprofundado no capítulo 3), que 
possibilita construir respostas concretas e competentes, conforme eviden-
cia o Projeto Ético-Político da profissão.
Além disso, uma atuação que prioriza apenas responder às necessi-
dades do empregador demonstra um agir profissional descomprometido 
com tal projeto, ao passo que não reflete prioritariamente as demandas da 
classe trabalhadora, muito menos compreende o compromisso e a capaci-
dade do assistente social em colaborar com a construção de processos que 
apontem para a construção de uma nova ordem social.
Dessa maneira, em uma prática dissociada dos fundamentos da pro-
fissão, a dimensão técnico-operativa aparece como a mais adequada a ser 
utilizada pelo assistente social ou, ainda, a única possível, disponível e 
necessária. Contudo, como nos aponta Guerra (2012, p. 7), “reduzir o 
fazer profissional à sua dimensão técnico-instrumental significa tornar o 
Serviço Social meio para o alcance de quaisquer finalidades”.
Isso significa dizer que essa é uma atuação que age apenas na ime-
diaticidade da prática para atender às requisições exigidas pelo empre-
gador. Assim sendo, conclui-se que, nesse contexto, o assistente social 
é tomado pela alienação do trabalho, ao passo que não reflete a sua con-
dição de trabalhador assalariado, e seu agir será exclusivamente direcio-
nado para fortalecer as relações de produção e reprodução na sociedade 
capitalista, deixando de lado o seu potencial de pensamento crítico e de 
atuação dialética.
Instrumentalidade do Serviço Social
– 40 –
Essa análise reduz a capacidade de atuação profissional, ignora a sua 
relativa autonomia, a existência de condições subjetivas ao trabalho do 
assistente social, além de não se fazer perceber a importância do acervo 
teórico e ético constitutivos do significado social da profissão.
Durante o processo formativo, um dos maiores anseios dos estudan-
tes de Serviço Social é conhecer e ter acesso aos instrumentos e técni-
cas utilizados na prática profissional, como se estes, sozinhos, fossem 
garantir e efetivar a atuação do assistente social. Contudo, como já elu-
cidado, a dimensão técnico-operativa expande as técnicas e instrumentos, 
incluindo, conforme Backx, Filho e Santos (2013), as ações, as estratégias 
e os mecanismos utilizados pelo profissional. Dessa maneira, a catego-
ria trabalho demonstra-se, mais uma vez, discussão imprescindível para a 
compreensão da atuação do assistente social comprometida com o projeto 
da profissão, pois é o entendimento da capacidade teleológica exclusiva 
aos seres humanos que nos permite apreender a finalidade articulada na 
ação profissional.
Além disso, torna-se necessário que os profissionais tenham cada vez 
mais clareza da importância de se articular a teoria e a prática, pois o pro-
cesso formativo (sala de aula e campo de estágio) é o primeiro momento 
em que se pode apreender a conexão dessas categorias, abandonando o 
tratamento individualizado e hierarquizado que algumas vezes é dado às 
dimensões da profissão, demonstrando a inseparabilidade dessas compe-
tências, e inserindo esse debate no interior das discussões profissionais. 
Esse é um dos caminhos que possibilita a formação de um profissional 
qualificado e competente a atuar nas refrações da questão social.
Para que o exercício profissional esteja dotado de racionalidade e 
finalidades objetivas, o aperfeiçoamento profissional é imprescindível, a 
fim de aprimorar:
a) a investigação – ao analisar a totalidade das relações sociais;
b) a qualificação da intervenção profissional – tendo em vista que 
os instrumentos e técnicas não devem ser utilizados indiscrimi-
nadamente e, sim, a partir de escolhas conscientes;
c) o entendimento social da profissão – visando ao cumprimento 
das diretrizes do Projeto Ético-Político, focando na emanci-
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Articulando as dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas 
e técnico-operativas do serviço social 
pação dos sujeitos e na superação das desigualdades da socie-
dade capitalista.
Nesse sentido, Sousa (2008, p. 122) elucida que “investigação e inter-
venção, pesquisa e ação, ciência e técnica não devem ser encaradas como 
dimensões separadas – pois isso pode gerar uma inserção desqualificada 
do assistente social no mercado de trabalho [...]”. Ainda segundo o autor, 
o aprimoramento intelectual do assistente social deve ser contínuo e não 
apenas no processo formativo e acadêmico, pois é esta qualificação que irá 
garantir a manutenção do profissional no mercado de trabalho, bem como 
possibilitar mudanças no cotidiano dos usuários do serviço e na prática do 
Serviço Social.
A premissa abordada no parágrafo anterior está posta como um dos 
princípios fundamentais do Código de Ética do Assistente Social, o qual 
prevê, também, a existência da qualificação a fim de estabelecer e garantir 
o compromisso com a qualidade das respostas profissionais às demandas 
da população e a eficácia dos serviços prestados aos trabalhadores.

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