Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Trombofilias O mecanismo hemostático inclui quatro processos: • Formação do trombo plaquetário • Deposição de fibrina • Fibrinólise • Anticoagulantes naturais Esses processos têm em conjunto a finalidade de manter a fluidez do fluxo sanguíneo, sem que haja extravasamento pelos vasos ou obstrução do fluxo pela presença de trombos. Trombofilias: propensão ao desenvolvimento de eventos tromboembólicos devido a anormalidades do sistema de coagulação, que predispõem a formação de coágulos no sistema circulatório. Apresentações clínicas: • Tromboembolismo venoso (TEV): é a manifestação mais comum da trombofilia. Pode apresentar-se como complicações: o Trombose venosa profunda o Tromboembolismo pulmonar Epidemiologia • TEV é uma das principais causas de morbimortalidade materna • As gestantes são 4 a 5 vezes mais propensas a desenvolver TEV do que mulheres não grávidas Trombose É o processo patológico resultante da iniciação e propagação inapropriada da resposta hemostática Tríade de Virchow: principais fatores que provocam tendência a trombose 1. Alterações da função endotelial (acúmulo de placas de ateroma) 2. Alterações reológicas (fluxo sanguíneo turbulento causando cisalhamento) 3. Alterações dos complementos do sangue a. Plaquetas (ativação indevida na plaquetose) b. Sistema de coagulação (hipercoagulabilidade por aumento de fatores) c. Sistema fibrinolítico Tríade de Virchow na gestante: 1. Estase venosa pela diminuição do tônus venosos e obstrução pelo fluxo venoso pelo aumento do útero; 2. O estado de hipercoagulabilidade com o aumento da geração de fibrina, a diminuição da atividade fibrinolítica e aumento dos fatores de coagulação II, VII, VIII e X. Além disso, há uma queda progressiva nos níveis de proteína S e resistência adquirida a proteína C ativada 3. Lesão endotelial, devido a nidação, remodelamento vascular das artérias uteroespiraladas, com o parto e com a dequitação Trombose venosa Tromboembolismo venoso: >90% das tromboses é venosa. Inclui eventos como: • Trombose profunda dos MMII • Embolia pulmonar • Tromboflebite superficial • Trombose venosa mesentérica • Trombose venosa cerebral • Trombose de veia porta Situações de risco de tromboembolismo venoso Causado por hipercoagulação: • Trombofilias hereditárias ou adquiridas • Gravidez • Câncer • Uso de hormônios Causado por dano vascular: • Cirurgias • Catéteres • Parto Causado por estase: • Imobulização > 4 dias • ICC • Gravidez Neoplasias: • Pode ser a primeira manifestação de câncer • Maior chance de acontecer nos primeiros meses após o diagnóstico e quando há metástases à distância • Importante causa de morbidade e mortalidade nesses pacientes Anamnese: O médico deve se atentar para: • História familiar de trombose • Primeiro episódio usualmente em idade jovem (< 45 anos) chama atenção para trombofilia hereditária • Recorrências frequentes • História de púrpura fulminante neonatal (deficiência homozigótica da proteína C ou proteína S) • Em mulheres: antecedentes obstétricos e se utiliza anticontraceptivos orais 2 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Trombose arterial Fatores de risco para trombose arterial: Os maiores fatores de risco para trombose arterial não são diretamente ligados a distúrbios da coagulação, mas sim a outras condições que levam a lesão endotelial. • Ateroscleroses (DM, dislipidemias e HAS) • Hipercoagulabilidade • Síndrome antifosfolípide: anticorpo contra fosfolipídeos (anticorpo anti-anticoagulante múltiplo, anticardiolipinas, anti-beta-2-proteína 1,). Se ligam aos fosfolipídeos da membrana plaquetária, provocando formação de trombos • Plaquetopenia induzida pela heparina • Endoteliopatias • Hiperhomocisteinemia: a homocisteína deveria ser degrada em metionina. Quando isso não acontece (na anemia megaloblástica, por exemplo), ela se acumula e causa lesão vascular • Radioterapia • Quimioterapia (5-FU) • Vasculites • Tromboangeíte obliterante • Arterite de Takayasu • LES • Artrite reumatoide • Esclerodermia • Miscelânea • Fibrilação atrial/prótese • Síndrome da compressão da artéria poplítea Consequências frequentes da trombose arterial: • Infarto agudo do miocárdio • AVC Diagnóstico de Trombose Venosa Profunda: Flebografia: pouco utilizado na prática por ser invasivo e requerer contraste. É considerado padrão ouro. É reservado para situações de dúvida diagnóstica. Ultrassonografia venosa com doppler: • Método de escolha para o diagnóstico de TVP de MMII • Sensibilidade: 97% • Especificidade: 98% D-dímero • Produto de degradação da fibrina • Marcador sensível, mas não específico (valor potencial para exclusão de fenômeno trombótico) • Não deve ser utilizado de forma isoada e NÃO exclui doença tromboembólica em paciente com alta probabilidade clínica de TVP ou TEP. • Pode estar aumentado em idosos, no puerpério, na gestação, após cirurgias e traumas, em neoplasias e processo inflamatórios e/ou infecciosos. Tratamento de trombose: • Avaliar caso por caso • O angiologista faz o tratamento da trombose aguda e encaminha para o hematologista para fazer investigação de trombofilia • Pacientes com trombofilia documentada em exames: anticoagulantes para o resto da vida • Sem trombofilia documentada: profilaxia em situações de risco • Deve-se avaliar se o processo é transitório ou permanente, se o evento foi espontâneo ou em sítio de gravidade Objetivos do tratamento: • Prevenir sua extensão • Prevenir embolização e recorrência • Restauração do fluxo no interior do vaso Anticoagulantes: • Deve ser iniciado assim que for feito o diagnóstico • Evitam extensão do trempo • Dão tempo para o sistema fibrinolítico degradar a rede de fibrina e normalizar o fluxo Fibrinolíticos: • Induzem a lise do trombo, causando rápida desobstrução vascualar e restauração do fluxo • Reservado para algumas situaçãoes Filtro de veia cava inferior: • Impede passagem de trombos que possam migrar para as artérias pulmonares e provocar TEP • Utilizado em casos de contraindicação de anticoagulantes • Associados ao aumento de TVP a longo prazo Trombofilias Interação entre fatores de risco (em comparação com a população geral): Anticontraceptivo oral e obesidade: • Paciente com IMC > 30: 2x mais risco • Paciente em uso de anti contraceptivo oral hormonal: 4x mais risco • Paciente com IMC > 30 e em uso de anti contraceptivo oral: 10x mais risco. Risco em viagens aéreas: • Pacientes com trombofilias: 7x mais risco • Viagem aérea: 2x mais risco • Paciente com trombofilia fazendo viagem aérea: 14x mais risco. 3 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Fator V de Leiden e homocisteína: • Fator de Leiden heterozigótico: 7x mais risco • Anticontraceptivo oral + fator de leiden: 35x mais risco • Anticontraceptivo oral + fator de Leiden + homocisteinemia: >100x mais risco. Trombofilias hereditárias Fator V Leiden (Fator V Q506): diminuição do sistema proteína C/proteína S, que não vai conseguir se ligar a seu sítio no fator 5, diminuindo a anticoagulação do sistema • Diagnóstico - Fator V Leiden o Teste de resistência à proteína C ativada o PCR do gene no fator V Protrombina G20210A: ganho de função do fator 2, aumentando a geração de fibrina • Diagnóstico: PCR do gene do fator II Trombofilias com papel menos definido: aumento dos fatores VIII, IX e XI para níveis acima de 150% do normal Hiperhomociesteinemia moderada: • Deficiência de B12 e ácido fólico é a causa mais comum o 15 a 30 micromol/litro = leve o 30 a 100 micromol/litro = moderada (mais comum) o >100 micromol/litro = leve Síndrome do anticorpo antifosfolipídeos: distúrbio auto- imune do sangue. Mais comum em pessoas que já tem outros distúrbios auto-imunes (LES, vitiligo, artrite reumatóide etc).Pode causar trombose arterial e venosa em qualquer território. Pode causar também complicações na gravidez (abortos repetitivos, prematuridade e síndrome HELLP). • Síndrome HELLP: Hemólise, enzimas hepáticas alteradas e queda de plaquetas. Pode acontecer na mãe antes, durante ou depois do parto. É mediada por anticorpos antifosfolipídeos. • Mecanismo: Autoanticorpos (IgM, IgA ou IgG) que tem afinidade por fosfolipídeos da membrana celular ou complexos proteicos (como fatores de coagulação). A união com os anticorpos causa a ativação desses fatores de coagulação ou das plaquetas, provocando ativação da cascata de coagulação e gerando eventos trombóticos arteriais e venosos. Classificação: • Primária • Secundária (quando o indivíduo já tem outra doença autoimune) • Catastrófica: formação de coágulos múltiplos, causando falência de órgãos e morte. É rara, mas tende a ser fatal. Critérios clínicos de diagnóstico de SAAF: É necessário que haja 1 critério clínico + 1 critério laboratorial em 2 ocasiões e com intervalo de 12 semanas. Critérios clínicos: • Trombose: 1 ou mais episódios de trombose venosa ou arterial de qualquer vaso ou localização, confirmada por diagnóstico de imagem ou histopatologia (sem evidência de inflamação) • Morbidade gestacional: 1. 1 ou mais mortes fetais (morfologia normal) após a décima semana; 2. 1 ou mais partos prematuros antes da 34ª semana por eclâmpsia, pré-eclâmpsia ou insuficiência placentária 3. 3 ou mais perdas fetais antes da décima semana, seguidas, com outras causas excluídas (esse critério é controverso, por requerer que aconteçam 3 perdas antes que o tratamento seja realizado) Critérios laboratoriais: • Anticoagulante lúpico (LAC) positivo • Anticardiolipina (aCL): aumnto de IgG ou IgM (médio ou alto título, >40 GPL, MPL) • Anti-beta2 G1 - IgG ou IgM (médio ou alto título, >percentil 99) • 1 exame positivo duas vezes - Intervalo de 12 semanas Tratamento O tratamento desta doença é feito com inibidores da ativação plaquetária e/ou anticoagulantes orais cumarínicos/varfarínicos e monitoramento com INR entre 2 e 3, porém devem ser considerados fatores de risco. OBS: Anticoagulantes cumarínicos causam embriopatia e devem ser substituídos por heparina de baixo peso na gestação, já que este último não atravessa a placenta. Deve também ser feito o tratamento da doença de base (caso seja SAAF secundária). Tratamento profilático Tromboprofilaxia primária: pacientes que tem apenas anticorpos fosfolipídeos positivos (sem eventos vasculares ou gestacionais) com perfil de alto risco, pacientes com LES com perfil de anticorpos de alto risco 4 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 e mulheres com história prévia de SAAF gestacional (mesmo sem eventos fora da gravidez) devem receber profilaxia com AAS 100mg/dia. AAS precisa ser interrompido na 35ª semana de gestação (ele inibe a cicloxigenase plaquetária por até 8 dias, e pode causar complicações caso a gravidez precise ser interrompida), permanecendo então a heparina até as 24h pré- operatórias. Tromboprofilaxia secundária: nos casos de trombose, tanto arterial quanto venosa, o tratamento deve ser feito com varfarina ou heparina de baixo peso, associada a inibidores de ativação plaquetária. Trombofilias Causas de trombofilia adquirida Mista Hereditária • Repouso no leito • Imobilização/gesso • Trauma • Grande cirurgia • Cirurgia ortopédica • Neoplasias (leva ao aumento de fatores pró-coagulantes) • Contraceptivos orais • Terapia de reposição hormonal • Gestação/puerpério • SAAF (síndrome do anticorpo anti- fosfolipídeo) • D. mieloproliferativas • Cateter venoso • Doença de Behçet • Mista • Aumento de fatores 8, 9, 11 • AUmento de fibrinogênio • Aumento de TAFI e TFPI • RPCA na ausência de FV Leiden • Hiperhomocisteinemia • Deficiência de antitrombina • Deficiência de proteína C • Deficiência de proteína S • Fator V Leiden (mutação que bloqueia a inativação do fator V) • Protrombina 20210A • Disfibrinogenemias • Fator XIII 34val (fator estabilizador da fibrina tem ganho de função por mutação genética, dificultando sua quebra pelos fatores fibrinolíticos) • Homozigose para C677T da MTHFR (metileno-tetra-hidrofolato-redutase ineficaz, que impede a degradação da homocisteína) • Polimorfismo no PAI-1
Compartilhar