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Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Anamnese e Exame Físico da Criança Descrição do Quadro Dados Pessoais: A.G.A, 4 anos, sexo feminino, negra, natural e procedente de Salvador-BA, acompanhado pela mãe L.G.S. Queixa Principal: Dor abdominal há 5 dias. HDA: Criança cursava com um quadro de dor abdominal em quadrante inferior esquerdo e náuseas na madrugada, cerca de 1h após ingesta de “vitamina com leite”. Relata que há dois dias cursou com flatulências devido ao excesso de gases, fezes volumosas e amolecidas. Antecedentes pessoais: Nascido de parto normal, segunda filha em uma prole de 3 filhos, a termo, APGAR 9/10, nascido com 2,9kg, 44 cm de comprimento e 34 cm de perímetro cefálico. Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, calendário vacinal atualizado, sem patologias e internações durante os primeiros anos de vida. Antecedentes Familiares: Mãe e pai hígidos, avó paterna com Câncer de pulmão e avó materna com DM. Exame Físico Geral: Regular estado, bem nutrido, desidratada +/++++, anictérico, acianótico e normocorado, FR=30 ipm e FC= 80 bpm. Exame físico cardiovascular: BRNF em 2T sem sopros. Exame físico de Cabeça e pescoço: Sem edemas ou outras alterações. Exame físico respiratório: Tórax sem abaulamentos ou retrações,ausência de batimento de asa de nariz; MV presente e sem ruídos adventícios. Exame físico TGI: Abdomen globoso, rígido, ruídos hidroaéreos presente, com borborigmo. Exames complementares: Foi pedido o teste de H2 no ar expirado onde houve um aumento após desafio com a lactose. Objetivos ★ Ser capaz de realizar anamnese e exame físico da criança. ★ Familiarizar-se com os equipamentos específicos para avaliação da criança. ★ Estabelecer comunicação efetiva com a criança/mãe ou cuidador. ★ Estabelecer relações que potencialize a adesão da criança nas consultas de puericultura. ★ Ser capaz de realizar orientações pertinentes à faixa etária durante a consulta. 1 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Anamnese, Exame Físico e Aconselhamento Frequência de consultas por faixa etária Recomenda-se sete consultas no primeiro ano de vida: semana 1, meses 1, 2, 4, 6, 9 e 12; além de duas no segundo ano: mês 19 e 24, e consultas anuais, próximas ao mês de aniversário. Essas faixas etárias representam momentos de ofertas de imunizantes, orientações e prevenção de doenças. Crianças que demandam maiores cuidados devem ser vistas mais vezes. Anamnese É fundamental que o profissional mantenha uma relação de confiança com os pares, mantendo canais de comunicação que permitam a construção de parcerias. Fazer perguntas abertas facilita compreender o motivo da consulta, além de permitir explorar condições que não tenham sido bem explicadas. É importante evitar abordagens intrusivas ou intimidatórias. Além disso, é válido: saber ouvir, ter empatia, demonstrar interesse, resumir o que foi combinado até a próxima consulta. É difícil avaliar o bem-estar da criança sem prestar atenção no bem-estar da mãe. 2 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Exame Físico O exame físico completo deve ser feito na primeira consulta, e a repetição em todas as consultas não se justifica. Contudo, alguns procedimentos são frequentemente recomendados, apresentados a seguir. ➔ Dados Antropométricos Deve-se monitorar o crescimento rotineiramente. Recomenda-se registar o peso, a estatura e comprimento e o perímetro cefálico da criança, aferindo-os nos gráficos de crescimento, para todas as crianças até os dois anos de idade. A altura para a idade é o melhor indicador de crescimento da criança, e representa o déficit antropométrico mais importante no Brasil. O IMC é um bom marcador de adiposidade e sobrepeso, além de poder ser preditivo do IMC da vida adulta. Recomenda-se o acompanhamento desde o nascimento. ➔ Rastreamento para displasia evolutiva de quadril Os protocolos recomendam o rastreamento, pois o diagnóstico precoce (anterior aos 3 a 6 meses de idade) é importante na escolha de tratamentos menos invasivos e com menores riscos de complicações. Fatores de risco para luxação congênita do quadril: gênero feminino, histórico familiar e parto com apresentação pélvica. Para rastreamento deve-se proceder às manobras de Barlow (provocativa do deslocamento) e Ortolani (sua redução) nas primeiras consultas - 15 dias, 30 dias e 2 meses, testando um membro de cada vez. Nas consultas após os 3 meses de idade - nas consultas dos 4, 6, 9 e 12 meses - deve-se observar se a criança apresenta sinais de limitação da abdução dos quadris e o encurtamento de um dos membros inferiores. Quando a criança começa a deambular, a partir da consulta dos 12 e 18 meses, deve-se observar a marcha da criança. Observar os testes de Trendelenburg positivo, marcha anserina e hiperlordose lombar. 3 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI ➔ Ausculta cardíaca Não há evidências a favor ou contra da ausculta cardíaca e da palpação do pulso em crianças. Alguns protocolos sugerem fazê-los 3 vezes no primeiro semestre de vida, repetindo no final do primeiro ano de vida, na idade pré-escolar e na entrada da escola. ➔ Avaliação da Visão As causas mais comuns de diminuição da acuidade visual em crianças são a ambliopia (redução da visão sem lesão orgânica observável no olho), seus fatores de risco (estrabismo, anisometropia, catarata e ptose) e os erros de refração (miopia e hipermetropia). Não há evidências de que os testes ajudem na prevenção de deficiências visuais. O teste do reflexo vermelho deve ser realizado na primeira consulta do recém-nascido na atenção básica e repetido aos 4, 6 e 12 meses de vida e na consulta dos 2 anos de idade. 4 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI O estrabismo pode ser avaliado pelo teste da cobertura (a partir dos 4 meses de idade) e pelo teste de Hirschberg. Sugere-se a realização de ambos os testes nas consultas dos 4, 6 e 12 meses. Ao mesmo tempo, a identificação de problemas visuais deve ser feita mediante preocupação trazida pelos pais e pela atenção do profissional de saúde. Se houver suspeita de alguma alteração, a criança deve ser encaminhada ao especialista. A criança pequena não se queixa de dificuldades visuais. A partir dos 3 anos, está indicada a triagem da acuidade visual, utilizando tabelas de letras ou figuras em consultas de revisão. Encaminha-se para um especialista crianças de 3 a 5 anos com acuidade inferior a 20/40 ou diferença de duas linhas entre os olhos e crianças de 6 anos ou mais com acuidade inferior a 20/30 ou diferença de duas linhas entre os olhos. ➔ Avaliação da Audição Deve ser feita a triagem auditiva neonatal (TAN) - teste da orelhinha, que objetiva detectar o mais precocemente possível a perda auditiva congênita e/ou adquirida no período neonatal. Se for feito até o final do primeiro ano de vida, possibilita um diagnóstico definitivo por volta do mês 4 e 5, e início da reabilitação até o mês 6. No sentido de detectar alterações auditivas, o profissional da atenção básica deve orientar a mãe para acompanhar os marcos de desenvolvimento de seus filhos até os 12 meses de vida. Os indicadores de risco são: ★ Histórico familiar de perda auditiva congênita. ★ Permanência na UTI por mais de 5 dias, em casos que envolvam: circulação extracorpórea, ventilação assistida, uso de medicamentos ototóxicos e diuréticos de alça, hiperbilirrubinemia e infecções intrauterinas como citomegalovirose, herpes, rubéola, sífilis e toxoplasmose. ★ Anomalias craniofaciais. ★ Síndromes com perda auditiva neurossensorial e/ou condutiva. ★ Doenças neurodegenerativas. 5 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI ★ Infecções pós-natais associadas à perda auditiva sensorial. ★ TCE, especialmente fratura do osso temporal. ★ Quimioterapia. ➔ Aferição da pressão arterial A PA deve ser aferida a partir dos 3anos de idade nas consultas de rotina. Sugere-se que se faça uma medida aos 3 anos e outra no início da idade escolar. Deve-se: ★ Utilizar método auscultatório, semelhante ao adulto. ★ Requer manguitos de tamanho apropriado ao tamanho da criança. ★ Medidas que ultrapassem o valor normal devem ser repetidas. ★ A medida de PA elevada deve ser confirmada em vários atendimentos antes de se afirmar que a criança tem hipertensão. ➔ Rastreamento para criptorquidia É a anomalia congênita mais comum ao nascimento. A migração espontânea dos testículos geralmente ocorre nos 3 primeiros meses de vida (75% dos casos) e raramente após os 6 a 9 meses. Se os testículos não forem palpáveis nas primeiras consultas ou forem retráteis, o rastreamento deve ser feito nas visitas rotineiras de puericultura. Se aos 6 meses não forem encontrados no saco escrotal, encaminha-se a criança para a cirurgia pediátrica. Se forem retráteis, o caso deve ser monitorado a cada 6 a 12 meses, entre os 4 e 10 anos de idade. O tratamento precoce diminui o risco de câncer nos testículos e os problemas com a fertilidade em adultos. Aconselhamento Antecipado A orientação preventiva é muito importante para a promoção da saúde e é valorizada pelos pais. Em consultas de atenção básica, deve-se abordar quatro itens fundamentais: dar atenção à queixa principal, revisar os problemas já apresentados, enfatizar a prevenção e a promoção oportunas, e estimular a mudança de hábito na busca do cuidado. 6 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI ➔ Posição para dormir Os pais e cuidadores devem ser alertados sobre o risco de morte súbita de crianças no primeiro ano de vida, sobretudo nos 6 primeiros meses. Deve-se orientar que a melhor posição para colocar a criança para dormir é de “barriga para cima” (posição supina), e não de lado ou de bruços. A cama ou o berço deve ser firme, sem lençóis ou cobertores frouxos ou objetos macios em volta da criança. ➔ Prevenção de infecção viral respiratória Orientar a lavagem de mãos de todas as pessoas que têm contato com a criança em todas as visitas de puericultura. ➔ Aconselhamento para atividades físicas É recomendado para crianças a partir dos 2 anos realizar de 30 a 60 minutos por dia de atividade física moderada ou vigorosa, apropriada para a idade, 3 a 5 vezes na semana. Essa atividade pode ser cumulativa ao longo do dia, somando as horas de atividade física na escola com as extraclasse. Crianças aparentemente saudáveis podem participar de atividades de baixa e moderada intensidade, lúdicas e de lazer, sem a obrigatoriedade de uma avaliação prévia. É importante que algumas condições de saúde sejam atendidas, como uma nutrição adequada, para que a atividade física seja implementada. O risco de complicações cardiovasculares na criança é baixíssimo, exceto quando existem cardiopatias congênitas ou doenças agudas. A presença de algumas condições clínicas, como asma, obesidade e diabetes mellitus, exige a adoção de recomendações especiais. ➔ Aconselhamento para não ingestão de bebidas alcoólicas É sempre fundamental reforçar a prevenção e a educação para evitar o uso de bebidas alcoólicas para crianças acima de 7 anos, tanto no núcleo familiar, quanto na escola. ➔ Prevenção de acidentes Os acidentes são resultado de casualidades que podem ser antecipadas e evitadas. Em 2007, as principais causas de atendimento nos serviços de saúde foram as quedas (67%), acidentes de transporte (15%), choque por objetos/pessoas (8%) e ferimentos por objetos cortantes (7%). 7 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI ● Diferentes momento de fazer prevenção ● Fatores de Risco e de Vulnerabilidade ★ Menores de 2 anos estão sujeitos a riscos impostos por terceiros, como queimaduras, intoxicações, colisão de automóveis e quedas. ★ Meninos estão mais sujeitos a acidentes que meninas. ★ Pré-escolares (2 a 6 anos) sofrem mais atropelamentos, acidentes por submersão, quedas de lugares altos, ferimentos, lacerações e queimaduras. ★ Crianças em idade escolar (6 a 10 anos) podem ser vítimas de atropelamentos, quedas de bicicletas, quedas de lugares altos, traumatismos dentários, ferimentos com armas de fogo e lacerações. 8 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI ● Orientações para evitar e prevenir acidentes 9 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI 10 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI 11 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Roteiro para Exame Físico 12 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI 13 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI 14 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI 15 Universidade Federal de Rondonópolis - Avelino Nunes Natis - Medicina - Turma VI Roteiro para consultas de acompanhamento Finalização da consulta 16
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