Buscar

Aula 09 - As Palavras e a Gramática no Texto

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

�
Comunicação e Expressão I
N
O
N
O
 M
O
M
EN
TO
�
Comunicação e Expressão I
NONO MOMENTO
�
Comunicação e Expressão I
Anotações As Palavras e a Gramática no Texto
POR QUE APRENDER
Lembra aquela ilustração, utilizada no terceiro Momento, a 
respeito da adequação da roupa ao ambiente social? Você também 
deve se recordar do que foi estudado no sexto Momento sobre 
como o contexto de interação é responsável pela determinação e 
modelagem do discurso.
Pois é. Quando nos comunicamos, em geral, fazemos uma 
espécie de “cálculo” da situação na qual interagimos. Isso quer dizer 
que tendemos a levar em consideração que papel desempenhamos (ou 
imagem representada) em relação ao nosso interlocutor e vice-versa; 
em que atividade social estamos envolvidos, que conhecimentos 
partilhamos ou não, quais os interesses em jogo, entre outros.
Esses fatores orientam não somente o conteúdo do discurso 
circulado, mas também o modo como este se constitui, e nisso 
incluem-se as formas lingüísticas utilizadas em sua codificação. 
Significa que os componentes lingüísticos do texto (as palavras e 
suas combinações) são “escolhidos” em função do discurso e de suas 
características contextuais.
Neste Momento, portanto, vamos explicitar melhor essa 
questão, procurando avançar um pouco mais no conhecimento 
acerca da importância do uso adequado dos recursos lingüísticos 
(ou seja, do vocabulário e das estratégias de organização gramatical) 
às condições de produção textual. Não se trata aqui de oferecer uma 
“receita” do que colocar ou não no texto, mas de uma reflexão sobre o 
valor que os elementos lingüísticos desempenham no estabelecimento 
dos efeitos de sentido, a partir da perspectiva adotada pelo locutor 
no contexto de interação em que se encontra.
Esperamos, com isso, que você perceba o poder que as 
condições de produção do discurso exercem sobre a linguagem, 
tornando-se, assim, mais habilidoso(a) em identificar o valor 
histórico-cultural e ideológico que as palavras têm na constituição 
do discurso e em fazer o uso apropriado dos recursos lingüísticos na 
produção textual.
O QUE APRENDER
Leia atentamente os pequenos textos que se seguem.
NONO MOMENTO
�
Comunicação e Expressão I
Anotações
Texto 1
Algumas crianças fazem de tudo para 
chamar a atenção de seus pais. Chegam até a tossir 
compulsivamente. Já uma criança com Fibrose Cística 
(FC) tosse constantemente porque não tem um clearance 
pulmonar adequado. Ela tem traquidispinéia, sibilos 
e muita tosse. Quando ela faz isso, ela está dando 
um alerta a você. Estes sintomas são freqüentemente 
confundidos e diagnosticados como asma, bronquite 
ou infecções pulmonares de outra etiologia. A FC é uma 
doença genética grave, que deve ser diagnosticada e 
tratada o quanto antes, para melhorar o prognóstico de 
seus portadores. Fique atento aos sintomas típicos da 
doença, como diarréia crônica, desnutrição e infecções 
pulmonares de repetição. Ao suspeitar da doença ou 
diagnosticá-la, encaminhe o paciente para o Centro de 
Referência mais próximo. O tratamento é gratuito.
Fibrose Cística. Saber antes para viver melhor depois.
(DIÁLOGO MÉDICO, 2004, p. 65)
Texto II
Salvador da Bahia
Basta um sorriso baiano pra gente entender
O porquê do Brasil ter nascido primeiro aqui
Nesse lugar...
Basta um tempero baiano pra gente
Provar o sabor desse povo que ri
Da tristeza ao invés de chorar...
Capoeira, ganzá, berimbau, vatapá e acarajé...
Jorge Amado, Zumbi, Castro Alves,
Caetano e Caribé...
Do outro lado do mundo vem gente saber
Como é que é esse tal de “sorria
Você está na Bahia, meu Rei!”
Que a Graça de Deus te embale...
Que a Água da vida te regue de amor...
Que o Santo dos santos te dê Sua paz...Bahia!
Que o Mestre Jesus seja o teu Salvador!
Basta um sorriso e um tempero baiano pra gente
Entender...O que é que a Bahia tem!
(ALEXANDRE, 2000)
NONO MOMENTO
�
Comunicação e Expressão I
Anotações
Texto III
Por que o jovem não deve ler
Calma, prezado leitor; nem você leu errado nem eu 
pirei de vez. Este artigo pretende isso mesmo: dar novos 
motivos para que os moços e moças de nosso Brasil 
continuem lendo apenas o suficiente para não bombar 
na escola.
E continuem vendo a leitura como algo 
completamente estapafúrdio, irrelevante, anacrônico, 
e permaneçam habitando o universo ágrafo dos 
hedonistas incensados nos reality shows.
Epa, acho que exagerei. Afinal, quem não lê muito 
dificilmente vai conseguir compreender esta última frase. 
Desculpem aí, manos: eu quis dizer que os carinhas, hoje, 
precisam de dicionário pra entender gibi da Mônica, na 
onda dos sarados e popozudas que vêem na telinha, e 
que vou dar uma força pra essa parada aí, porra.
(TAVARES, p. �6)
Você percebeu como a escolha do vocabulário utilizado, 
respectivamente, em cada texto varia de acordo com as características do 
contexto interativo e com os propósitos para os quais esses discursos foram 
produzidos? Vamos então observar mais detalhadamente como isso se dá.
Veja que o primeiro texto utiliza algumas palavras específicas 
da área médica. Isso não ocorre apenas porque o texto trata de um 
determinado problema de saúde (a “Fibrose Cística”), mas, sobretudo, 
porque se encontra numa revista direcionada aos médicos (apesar de 
parecer estar falando exclusivamente para os pais). Daí, o porquê do uso 
de palavras como “clearance pulmonar”, “traquidispinéia”, “diagnosticados”, 
“etiologia”, entre outras. Além disso, o locutor utilizou o padrão 
gramatical da norma culta, em virtude de estar, em tese, interagindo 
com interlocutores que possuem alto grau de formação escolar. Desse 
modo, o texto manifesta o discurso científico da medicina, com intenção 
persuasiva, contando com a leitura cooperadora do(s) interlocutor(es).
Agora, imaginemos se essas mesmas informações fossem 
circuladas numa interação entre o médico e um paciente leigo. 
Com certeza, esse médico teria que empregar um vocabulário mais 
simples, acessível ao seu cliente, se quisesse ser bem compreendido. 
Observando-se o segundo texto, podemos facilmente identificar 
uma série de palavras relacionadas à cultura baiana e ao ideário cristão. 
Isso tem seu motivo no fato de ser um poema elogioso à cidade de 
Salvador/BA, com a intenção de construir uma “imagem positiva” 
do jeito baiano de ser, e, mais ainda, de o locutor pretender divulgar 
NONO MOMENTO
6
Comunicação e Expressão I
Anotações
sua mensagem evangelística àquele povo. Podemos verificar isso, por 
exemplo, na seguinte passagem:
“Que a Graça de Deus te embale...
Que a Água da vida te regue de amor...
Que o Santo dos santos te dê Sua paz...Bahia!
Que o Mestre Jesus seja o teu Salvador!
Basta um sorriso e um tempero baiano pra gente
Entender...O que é que a Bahia tem!”
Nessa estrofe, particularmente, o poeta “brinca” tanto com a 
forma das palavras, como com suas possibilidades de duplo sentido. 
O que nos lembram a expressão “te embale” e o termo “regue”, por 
exemplo? Isso mesmo! Dois dos ritmos musicais mais populares na Bahia: 
a timbalada e o reggae. Temos, ainda, “Água da vida”, provavelmente 
numa alusão à cerimônia religiosa de lavagem das escadarias da igreja 
do Senhor do Bonfim; “Santo dos santos”, numa referência indireta à 
“Bahia de todos os santos”; o emprego do termo “Mestre”, talvez querendo 
lembrar os guias-mestres espirituais do candomblé e contrastá-los 
com o “Mestre dos mestres”; e a ambigüidade intencional com que se 
empregou o vocábulo “Salvador”, não apenas se referindo a Jesus, mas 
também à capital da Bahia.
É interessante notar que, através dessa mesclagem lingüística, 
expressando, ao mesmo tempo, traços da cultura baiana e da religiosidade 
cristã, o poeta aponta o sincretismo cultural tão característico dos baianos. 
Por outro lado, aproveita para mostrar, sutilmente, a superioridade 
do cristianismo, evidenciado nos apelos feitos nos quatro primeiros 
versos da estrofe citada. Veja, por exemplo, que todas as referências a 
Cristo estão em letras maiúsculas (“Graça”, “Água”, “Santo“,“Mestre”), 
significando que a proposta salvadora de Jesus está acima de todas.
Deve-se também assinalar que, por se tratar de um texto poético, 
cujo discurso é marcado pelo subjetivismo e pela liberdade criadora 
do eu-lírico quanto ao que enuncia, isso exerce influência tanto na 
“escolha” das formas lingüísticas, bem como no modo de dispô-las na 
superfície textual. Há, ainda, o fato de que o discurso literário tem um 
compromisso estético (ou seja, com o belo artístico), atuando, assim, 
no âmbito da emotividade e da sensibilização.
No terceiro texto, observe que o locutor alternou dois estilos 
distintos de linguagem: um coloquial e imitativo do padrão lingüístico 
dos jovens, evidenciado através de “pirei”, “bombar”, “manos”, “onda dos 
sarados” etc. O outro, especificamente no segundo parágrafo, é mais 
rebuscado, fingindo maior erudição – “algo completamente estapafúrdio, 
irrelevante, anacrônico, e permaneçam habitando o universo ágrafo dos 
hedonistas incensados nos reality shows”.
O uso da variante lingüística dos jovens se deve, primeiramente, 
NONO MOMENTO
�
Comunicação e Expressão I
Anotações
por se dirigir a essa faixa etária, através da qual o locutor pretende não 
só parecer identificar-se com esse público, conquistando-lhe a atenção, 
mas também se fazer entender. Ao mesmo tempo, valendo-se dessa 
estratégia, o locutor aproveita para, indiretamente, mostrar as limitações 
expressivas (ou seja, a deficiência de linguagem) de um jovem que tem 
pouco convívio com a leitura. Por outro lado, a escolha da variante culta, 
com um vocabulário mais sofisticado, justifica-se pelo fato de pretender 
demonstrar a dificuldade que pessoas com baixo nível de leitura sentem 
no momento de ler um texto com tais características.
O VALOR DAS PALAVRAS NO TEXTO
Esses exemplos servem para mostrar a importância que as 
palavras desempenham na formação do discurso. Conforme você já 
viu no quinto Momento, os vocábulos e expressões lingüísticas não 
possuem um valor significativo dado previamente e exterior à interação 
verbal. Também não devemos crer que a linguagem pode ser neutra e 
absolutamente objetiva.
Vamos esclarecer isso um pouco mais: muitos acreditam que 
as palavras possuem seus respectivos significados já estabelecidos no 
dicionário e/ou supõem que é possível substituir, indiferentemente, 
um vocábulo ou expressão por outro(a), sem alterar o que se 
pretende dizer. É claro que não queremos negar a utilidade que um 
dicionário tem; tampouco ignoramos o fato de que, dependendo 
do contexto, pode-se, com muito cuidado, utilizar uma palavra/
expressão em lugar de outra.
No entanto, é bom lembrar que as pessoas utilizam a 
linguagem de modo bastante criativo e que, portanto, o dicionário, 
mesmo com todo o seu poder de esclarecimento, é insuficiente 
para dar conta das diversas possibilidades significativas que as 
formas lingüísticas podem assumir na intercomunicação. Aliás, é 
justamente no processo comunicativo que as palavras adquirem seu 
sentido e sua funcionalidade discursiva. É, também, no discurso que 
elas se revestem de valores socioculturais e históricos, revelando, ao 
mesmo tempo, traços da subjetividade, em graus variados, daqueles 
que as utilizam.
Em razão do que foi mostrado até aqui, queremos que você 
atente para o valor que as palavras representam na constituição 
do discurso. Elas são reveladoras não apenas das características 
do contexto de interação (incluindo-se aí traços do ambiente de 
enunciação, o perfil dos interlocutores etc.), como também dos 
interesses que estão em jogo. Vamos agora ver alguns esclarecimentos 
sobre o uso dos itens lexicais (isto é, das palavras) e das construções 
gramaticais no texto com mais detalhes.
NONO MOMENTO
�
Comunicação e Expressão I
Anotações
Em primeiro lugar, conforme você estudou, a seleção lexical 
(das palavras) obedece ao tema sobre o qual se fala; além disso, também 
leva-se em conta características do(s) interlocutor(es) e do ambiente de 
interação. Em virtude desses fatores, opta-se por um vocabulário técnico, 
ou regionalista, ou mais rebuscado, ou mais simples, ou contendo gírias, 
ou com estrangeirismos, ou, ainda, pode-se criar alguma palavra nova 
(neologismo), visando à obtenção de um determinado efeito de sentido 
(FIORIN & SAVIOLI, �99�).
É por isso que, num texto circulado entre parceiros de 
uma mesma área de conhecimento ou profissional, é comum 
serem encontrados muitos termos técnicos (ou jargões) específicos 
dessa área, uma vez que já pertencem ao repertório cultural dos 
interlocutores. Aliás, a não utilização dessa linguagem específica 
seria uma transgressão às normas de conduta nesse contexto e 
poderia ser alvo de censura. Por exemplo: se no texto � (aquele sobre 
“Fibrose Cística”, visto anteriormente), o locutor tivesse empregado 
um vocabulário comum ou ficasse esclarecendo o sentido de cada 
termo técnico utilizado, certamente causaria estranheza ou irritação 
no seu público-alvo.
Em outro caso, o locutor pode fazer uso de formas lingüísticas 
que não são propriamente suas, quer dizer, não fazem parte de sua 
prática comunicativa habitual. Desse modo, ele se apropria do estilo 
de linguagem de um determinado grupo social ao qual não pertence, 
fingindo assumir esse uso lingüístico, numa atitude imitativa, a fim 
de melhor identificar-se com tal grupo e conseguir sua adesão. Uma 
amostra disso está no texto � (“Por que o jovem não deve ler”), no 
qual o locutor incorpora um falante “jovem”, procurando reproduzir o 
estilo de expressão dessa faixa etária, uma vez que está interagindo com 
esse tipo de público.
Em situação semelhante, certamente você já observou que, 
ao recorrer a uma estratégia como essa, o produtor do texto pretende 
ou valorizar um determinado estilo de linguagem e o discurso de seus 
usuários ou depreciá-lo, desqualificando seus falantes através da ironia.
Um outro recurso do qual o locutor pode lançar mão é 
uso da linguagem figurada e/ou do duplo sentido. Você deve se 
lembrar que, no quinto Momento, foi mostrado que a conotação 
(metáfora, metonímia, prosopopéia, hipérbole, eufemismo, 
ironia, entre outras) tem um valor inestimável na constituição do 
discurso. Isto porque, dependendo do contexto, ela representa 
uma forma de expressão muito mais apropriada do que os usos 
literais, exatamente por resultar em determinados efeitos de 
sentido que as construções lingüísticas comuns não produziriam. 
Essa estratégia é possível graças ao caráter polissêmico das palavras, 
isto é, à possibilidade que elas possuem de poder exprimir mais de 
um sentido.
NONO MOMENTO
9
Comunicação e Expressão I
Anotações
Para confirmar esse ponto de vista, observe o seguinte texto:
Na parte não-verbal desse anúncio, havia a ilustração de um 
fogão a gás com as bocas acesas, como se estivessem sorrindo. Nesse 
texto, a palavra “bocas” nos remete a dois significados superpostos: um 
deles refere-se às bocas do fogão (que é uma catacrese, ou seja, designação 
aplicada a alguma parte dos objetos, com base na semelhança entre esta 
e membros do corpo dos seres vivos); o outro aponta para a boca dos(as) 
que lidam com o fogão nas tarefas domésticas do cotidiano, dando a 
entender a satisfação que sentem ao cozinhar com o gás produzido pela 
Brasilgás. Aqui, recorreu à metonímia, pois, em vez do termo “brasileiros” 
utilizou “Brasil”, isto é, o país em lugar de seus habitantes. E ainda há 
o uso da hipérbole, através do pronome “todas”, num evidente exagero. 
Desse modo, o locutor não só se valeu da linguagem figurada, como 
também da ambigüidade intencional.
Outro aspecto bastante significativo é o valor que substantivos, 
adjetivos, verbos e advérbios possuem para a focalização (ou orientação 
discursiva) do conteúdo textual. Também deve-se considerar a 
propriedade que essas classes de palavras possuem de poderem ser 
substituídas por outros termos ou expressões de sentido equivalente 
(isto é, por sinônimos).
É importante lembrar que a possibilidade de haver sinônimosperfeitos é quase inexistente. Pode até ser que uma palavra ou expressão 
substitua outra num dado contexto com praticamente o mesmo peso 
significativo. No entanto, é preciso cuidado quanto a isso, visto que toda 
palavra ou expressão possui um valor cultural e ideológico dependente do 
contexto em que é utilizada, tendendo, portanto, a adquirir significação 
específica. Se é assim, não pode ser facilmente permutada por outra nem 
empregada noutra situação com o mesmo efeito de sentido. Isto porque 
uma palavra pode ser mais técnica, ou mais subjetiva, ou mais coloquial/
vulgar, ou mais enfática, ou mais conotativa etc. do que outra.
Imagine uma reportagem jornalística na qual o redator 
vai noticiar o desempenho da polícia em relação a um grupo de 
manifestantes. Se dissesse, por exemplo, que os manifestantes foram 
“energicamente contidos pela ação policial”, demonstraria uma tendência 
mais favorável aos policiais. Caso informasse que os manifestantes 
foram “violentamente” contidos pela ação policial, estaria indicando 
um posicionamento contrário, isto é, desfavorável para a polícia. O 
mesmo poderia ocorrer quanto à escolha entre os termos “contidos”, 
“Todas as bocas do Brasil estão rindo à toa.”
(Anúncio comercial da Brasilgás em um outdoor Natal/RN, �00�)
NONO MOMENTO
�0
Comunicação e Expressão I
Anotações
 
 Desafio
 
Pesquise em um jornal ou revista uma pequena 
reportagem sobre algum fato e a transcreva os 
trechos que você considerar mais significativos.
Depois analise os recursos lexicais (as palavras) 
utilizados, observando a importância que exer-
cem no conteúdo do texto.
•
•
“reprimidos” ou “enfrentados”: em cada um, passaria uma idéia diferente 
sobre o fato, com variadas conseqüências sobre a opinião pública. 
Também haveria diferença na maneira de “ver” o acontecimento caso 
fosse retirado o substantivo “ação”, relacionado à polícia, ou substituído 
por “força”, por exemplo.
Ainda outra questão a se considerar refere-se à necessidade de, no 
texto, conservarem-se as associações semânticas (de sentido) através dos 
campos lexicais. De acordo com o que já foi visto no �º MOMENTO 
(sobre a coesão referencial), estes são formados por um conjunto de 
palavras e expressões que se inter-relacionam pelo fato de pertencerem 
a um mesmo universo de significados (ou quadro conceitual).
Agora é sua vez de pôr em prática o que estudou.
A IMPORTÂNCIA DA GRAMÁTICA NA CONSTRUÇÃO DO 
DISCURSO
E quanto à gramática no texto? Bem, em primeiro lugar, deve-se 
esclarecer que “gramática” aqui não tem muito a ver com aquela idéia de 
um conjunto de regras para se falar/escrever “corretamente”, quer dizer, 
não se refere à gramática normativa tradicional, que nós tanto estudamos 
durante os ensinos fundamental e médio. Relaciona-se, na verdade, ao 
modo como configuramos as palavras e as encadeamos na estrutura 
frasal, observando suas propriedades específicas, suas combinações umas 
com as outras e os respectivos lugares em que aparecem na seqüência 
dos enunciados, a fim de organizar coerentemente o discurso e se 
conseguir os efeitos de sentido desejados (TERRA & NICOLA, �00�; 
TRAVAGLIA, �00�).
É importante observar as “decisões” tomadas pelo locutor 
para selecionar e articular o vocabulário na superfície textual. Disso 
depende, em parte, o sucesso da construção dos sentidos.
Vejamos o exemplo a seguir:
Todos os jornais noticiaram o evento.
O evento foi noticiado por todos os jornais.
•
•
NONO MOMENTO
��
Comunicação e Expressão I
Anotações
Perceba como as diferentes posições das palavras alteram 
significativamente a noção de cada uma. No enunciado �, a colocação 
de “drogas” após o verbo “usa” aponta para o sentido denotativo e 
mais “concreto” da palavra, dando a idéia de “entorpecentes”. A outra 
referência, na expressão “droga de amigo” essa mesma palavra possui um 
valor mais conotativo, servindo como um atributo qualificativo (um 
adjetivo) a “amigo”.
O mesmo se pode dizer do uso e da localização de adjetivos e 
advérbios na sentença.
Apesar de ambos conterem informações similares, do ponto de 
vista comunicativo, não são a mesma coisa. No primeiro enunciado, 
a informação tem como referência “todos os jornais”, o “agente” da 
ação. Ou seja, é a partir desse termo que o falante/escritor organiza o 
conteúdo. No segundo, o ponto de partida é “o evento”. Desse modo, a 
informação centra-se no objeto-paciente.
Como você pode ver, apesar de possuírem o mesmo conteúdo 
informacional, as duas sentenças não são exatamente idênticas, 
uma vez que se organizam a partir de perspectivas diversas. A 
“opção” por uma ou por outra forma de construção frasal sinaliza 
propósitos discursivos distintos e, portanto, resultam em diferentes 
efeitos pragmáticos.
Refere-se à situação e à prática intercomunica-
tivas, englobando todos os elementos do evento 
de enunciação (o estatuto dos parceiros envolvidos, as negociações 
entre estes, os atos de fala realizados, os conhecimentos partilhados, 
as expectativas em jogo etc.).
ConCeito De PragmátiCo
“Se o seu amigo usa drogas e você não fala nada, 
que droga de amigo é você?”
(RN Econômico, �99�. p. �.)
exemPlo
NONO MOMENTO
��
Comunicação e Expressão I
Anotações
 
 Desafio
 
Veja como isso acontece, hipoteticamente, nos 
seguintes exemplos e tente perceber os diferentes 
efeitos de sentido.
�. Mais vale um cachorro amigo do que um ami-
go cachorro.
�. a) O pobre homem precisa de ajuda.
b) O homem pobre precisa de ajuda.
�. a) Você não sabe realmente o que está dizendo.
b) Realmente, você não sabe o que está dizendo.
�. a) Só eu fui à reunião.
b) Eu só fui à reunião.
c) Eu fui à reunião só.
Observou como não só a escolha das palavras (se substantivo, 
adjetivo, verbo ou advérbio), mas também suas respectivas posições (ou 
lugares) na sentença têm conseqüências - positivas ou negativas - para o 
que se quer dizer? Daí a importância de procurarmos ser mais atentos e 
criteriosos quanto às nossas leituras e produções textuais.
A mesma observação é válida para o uso de prefixos, sufixos e 
construções gramaticais, os quais podem imprimir ao discurso um tom 
mais formal/coloquial, mais/menos subjetivo, ou até mesmo revelar traços 
socioculturais do(s) locutor(es). Veja, por exemplo, as diferenças nos graus 
de formalismo e de intensificação entre “gente de baixo nível” / ”gentinha” 
/ “gentalha” ou entre “extremamente agitado” / ”superagitado” / “agitado 
pra caramba” / “agitadésimo” (este último, mais comum na fala coloquial 
feminina). Observe, ainda, as distinções gramaticais entre “Faça-me um 
favor” / “Me faz um favor” e “O rapaz de quem lhe falei” / “O rapaz que eu 
lhe falei”. Veja que as primeiras construções de cada um desses pares são 
mais comuns e apropriadas em situações comunicativas formais.
Outra distinção gramatical importante na construção do discurso 
tem a ver com o uso ou não do artigo. Por exemplo, há uma enorme 
diferença significativa entre “A carta ao prefeito foi assinada pelos moradores 
do bairro” e “A carta ao prefeito foi assinada por moradores do bairro”. No 
primeiro enunciado, a idéia é que todos os moradores assinaram a carta; 
no segundo, pressupõe-se que nem todos assinaram a carta.
A mesma coisa ocorre com a diferença entre o artigo definido 
e o indefinido. Suponha que alguém lhe diga, por exemplo: “Eu, meu 
amigo e seu filhinho fomos à praia. Assim que chegamos lá, o menino 
lhe pediu dinheiro”. O emprego do artigo definido antes de “menino” 
levaria você a inferir que se trata do “filhinho” mencionado antes. 
NONO MOMENTO
��
Comunicação e Expressão I
Anotações
Porém, caso dissesse “... Assim que chegamos lá, um menino lhe pediu 
dinheiro”, a interpretação é que se trata de outro menino, e não uma 
segunda referência ao “filhinho”.
Ainda com relação a essas questões gramaticais, é importante 
perceber que, assim como na oralidade o sentido pode ser um ou outro, 
dependendo do tom de voz dofalante e de uma série de recursos não-
verbais, no texto escrito, a expressão de sentido está associada, entre 
outras coisas, à pontuação.
Observe os exemplos hipotéticos que se seguem e analise 
como a pontuação é importante para o sentido do que se quer 
comunicar.
a- Mentir não dá problema depois.
b- Mentir, não; dá problema depois.
c- Mentir não dá problema depois?
PratiCanDo
Note que a sentença sem vírgulas (�.a-) refere-se a qualquer 
país com essa característica, isto é, a de não tratar a educação como 
prioridade, tendo como conseqüência o subdesenvolvimento. A 
segunda (�.b-), com virgulas, tem significação bem diferente da 
anterior, uma vez que se refere a um país específico (provavelmente 
já conhecido do interlocutor), o qual, por não priorizar a educação, 
nunca se desenvolverá.
RELEMBRANDO
• À “escolha” do vocabulário (substantivos, adjetivos, 
verbos e advérbios) e à sua importância para a constituição 
e orientação do discurso;
• Ao valor denotativo/conotativo das palavras e às suas 
possibilidades polissêmicas (poder ter mais de um sentido);
2. a - O país que não trata a educação como prioridade jamais será 
uma nação desenvolvida.
b - O país, que não trata a educação como prioridade, jamais será 
uma nação desenvolvida.
exemPlo
NONO MOMENTO
��
Comunicação e Expressão I
Anotações
• Ao uso de “sinônimos”, lembrando que estes são 
contextuais, não valendo para qualquer situação;
• Aos campos lexicais, isto é, às relações associativas entre 
palavras e expressões de uma mesma área de significados;
• Às marcas de sufixo e/ou prefixo nas palavras, pois trazem 
conteúdo significativo para o discurso;
• Às combinações entre as palavras e às suas posições na 
seqüência da frase;
• À pontuação (no texto escrito), pois tem contribuição 
decisiva no estabelecimento das relações de sentido.
Não esquecer que tanto as palavras como sua forma gramatical 
e as articulações entre si contribuem para revelar aspectos da situação 
sociocomunicativa, dos interlocutores e de suas intenções discursivas.
O QUE FAZER
Agora é com você.
Leia o texto a seguir e depois tente responder às questões sobre ele.
A MOÇA QUE “SASTIFAZ”
Luciana Gimenez é
um furacão. Nada
resiste a ela – nem
mesmo o português.
A modelo Luciana Gimenez chegou como um 
furacão à Rede TV!. Em apenas duas semanas à frente 
do Superpop, que vai ao ar todos os dias a partir das 
21h45,... vem sustentando uma guerrilha contra a 
língua portuguesa. “Estou aqui para entertenir vocês”, 
disse ela quinze dias atrás, num dos seus freqüentes 
ataques à inculta e bela. “É que eu morei onze anos 
fora do país e às vezes me confundo”, justifica-se a 
“entertenedora”. Além de assassinar o idioma, Luciana 
faz questão de mostrar o tempo todo sua sintonia com 
o peculiar universo das amebas. (...)
(VALLADARES, 2001. p. 124)
NONO MOMENTO
��
Comunicação e Expressão I
Anotações
Observe que o locutor utilizou o vocábulo “furacão” (no 
resumo e na �ª linha do texto) relacionado a Luciana 
Gimenez. Justifique essa escolha.
O produtor do texto empregou palavras de forte conteúdo 
negativo em relação aos deslizes lingüísticos de Luciana 
Gimenez. Cite-os e depois diga que ponto de vista ele expressa 
com isso.
Note que, em vez de dizer “informou” ou “esclareceu”, o 
locutor preferiu “justifica-se” (na penúltima linha). Esclareça 
por quê.
Por que o locutor referiu-se à apresentadora como 
“entertenedora”, marcando essa palavra com aspas?
A informação “Luciana faz questão de mostrar o tempo todo sua 
sintonia com o peculiar universo das amebas” (nas duas últimas 
linhas) deve ser entendida literalmente (denotativamente)? 
Explique-a, relacionando à provável intenção do locutor.
Leia novamente o título do texto e comente a forma da 
palavra “sastifaz” baseando-se no conteúdo da reportagem.
Essa reportagem representa um discurso social com uma 
perspectiva ideológica sobre o uso da língua. Diga qual.
PARA SABER MAIS
TERRA, E.; NICOLA, J. de. Práticas de linguagem: leitura e 
produção de textos. Ensino Médio. São Paulo: Scipione, �00�.
Embora seja uma obra voltada para o Ensino Médio, esse 
livro traz boas orientações sobre leitura e produção de textos, mesmo 
para alunos que já estão em nível de graduação. Os capítulos ��, �� 
e �� abordam mais especificamente as questões em torno do uso do 
vocabulário e da gramática no texto.
ONDE ENCONTRAR
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e 
redação. 6. ed. São Paulo: Ática, �99�.
TERRA, E.; NICOLA, J. de. Práticas de linguagem: leitura e 
produção de textos. São Paulo: Scipione, �00�.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o 
ensino de �º e �º graus. �. ed. São Paulo: Cortez, �00�. 
�.
�.
�.
�.
�.
6.
�.
NONO MOMENTO
�6
Comunicação e Expressão I
NONO MOMENTO

Outros materiais