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Henri Wallon, durante sua atuação como médico na 1º Guerra Mundial, observou que, determinados comportamentos não eram causados por problemas neurológicos, e ele vai perceber, então, que alguns comportamentos não tinham sequelas neurológicas, mas estavam relacionados as emoções vivenciadas. A partir disso, ele começa a se preocupar, a estudar mais a origem dos processos psicológicos, e a partir desses estudos, desenvolve a Teoria da Pessoa Completa. Para Wallon, o caminho do desenvolvimento se dá da socialização para a individuação, esse caminho do desenvolvimento tem relação com a socialização, com uma imersão na cultura. Então, essa imersão na cultura que vai possibilitar que, o indivíduo se constitua no processo de individuação, uma construção pessoal. Segundo ele, é essa integração entre o organismo e o meio que possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento, e Wallon vai falar que, o sujeito se relaciona com diversos meios e diversos contextos, e não apenas um. Os processos psicológicos têm origem orgânica, mas segundo Wallon, esses processos psicológicos só podem ser bem compreendidos quando consideramos as maneiras pelas quais as influências socioambientais ambientais interagem com esses processos, ou seja, a mente que seria o suporte orgânico no processo psicológico, só vai por operar a partir de estímulos recebidos de fora do organismo. A mente não funciona sem o meio, não há desenvolvimento sem as aprendizagens que o meio vai provocar, então, o desenvolvimento se dá nessa interdependência entre os fatores biológicos e os fatores sociais. Quando Wallon desenvolve a Teoria da Pessoa Completa, isso significa que ele reconhece que o ser humano se desenvolve integralmente, que não tem um outro fator que seja predominante, ou que seja mais importante no processo de desenvolvimento desse ser humano. Então, ele traz três dimensões que, para ele, são igualmente importantes na aquisição do conhecimento: a motricidade, a afetividade e a cognição/inteligência. Para Wallon, a afetividade é um elemento constitutivo do ser humano, e ela vem do afetar, ou seja, é a capacidade que temos de sermos afetados de maneira positiva ou negativa pelo mundo externo e pelo mundo interno. Dentro da afetividade, se manifestam três pontos: a emoção, que é uma expressão que não passa pelo racional, ou pelo pensamento, e é externalizada; o sentimento, ele está relacionado a razão, é aquilo que pode ser nomeado, há uma consciência a respeito dele, e ele não precisa necessariamente ser externalizado; a paixão, ela passa por um potencial muito maior de racionalização, é quando o sujeito tem autocontrole daquilo que o afeta utilizando algum mecanismo de controle. Para Wallon, esse Desenvolvimento do Pensamento é descontínuo, ele não segue uma linearidade, ele não é perfeito, ele vai passar por períodos de crises e conflitos, porém, esses períodos de crises e conflitos são importantes para o desenvolvimento, pois são elas que vão dinamizar o processo mental, vão fazer com que haja um desenvolvimento do pensamento, e, consequente, o desenvolvimento da pessoa. Aqui, também há o Nascimento do Pensamento e da Inteligência, que vai se dar por dois fatores: o Amadurecimento do Sistema Nervoso, que traz novas possibilidades para o pensamento, à medida que o sistema nervoso se desenvolve e amadurece, outras possibilidades de pensamento são possíveis. Mas isso não é determinante, por isso, Wallon vai falar sobre o outro fator, que é muito importante para o desenvolvimento da inteligência, que são as Alterações no Meio Socioambiental, essas alterações que vão possibilitar ao sujeito novas experiências, novos desafios, os estímulos recebidos no ambiente são o que vão favorecer a união desses dois fatores, e possibilitar o Nascimento do Pensamento e da Inteligência. Wallon diz que a inteligência vêm da afetividade, ela surge da capacidade que o sujeito possui de ser afetado pelo outro e pelo seu meio, e sua capacidade de afetar, ou seja, estar mergulhado em relações e interações é o que vai possibilitar o desenvolvimento da inteligência, onde para alimentar a inteligência é necessário mobilizar os afetos. Então, é a interação entre o afetivo e social que promove o desenvolvimento cognitivo. A Motricidade na teoria de Wallon traz um destaque a importância das atividades motoras especialmente no início da vida humana. Aqui, o bebê comunica suas emoções e necessidades por gestos, por expressões corporais, pela agitação motora. Essas expressões motoras do bebê vão afetar o adulto. Com a Função Simbólica, dos Estágios de Desenvolvimento, há uma alteração na intensidade dessa Motricidade, ela acaba diminuindo e os atos motores passam a ser internalizados em detrimento do desenvolvimento de outros recursos de comunicação daquele bebê, como a fala, tendo um controle maior da Motricidade. Os Estágios do Desenvolvimento são classificados por idade, só que essas idades vão variar, não são idades fixas, rígidas e imutáveis, porque Wallon diz que isso vai variar muito de acordo com as características individuais e ambientais. Em cada estágio, a interação com o meio se dá de uma forma específica, o que caracteriza cada estágio é essa diferença nas formas de interação com o meio. E, dentro dessas várias etapas, vai ocorrer, então, a busca do sujeito pela sua construção do eu, pela sua própria identidade, a criança vai se constituindo, se individualizando, construindo sua própria identidade. Outra coisa colocada por Wallon é a preparação para o estágio seguinte, mas ela não se dá de maneira linear, ela ocorre através de conflitos que promovem o desenvolvimento. Uma questão importante que acontece em cada estágio é o Desenvolvimento Descontínuo da introspecção e da extroversão, onde, em momentos de introspecção o sujeito está muito mais concentrado no seu eu, nas suas questões internas, com ênfase nas questões afetivas, e no momento de extroversão, ele vai estar mais concentrado naquilo que seria exterior a ele, e é quando há um maior desenvolvimento da inteligência e do pensamento. Estágio Impulsivo-Emocional (0 a 1 ano): É uma fase de absoluta dependência do bebê, e nessa absoluta dependência a característica desse bebê, que não adquiriu ainda a fala, é usar a emoção como recurso de sobrevivência. Dessa forma, a afetividade que vem da emotividade, ou seja, gestos, vai afetar o adulto, vai mobilizar o adulto a atender às suas necessidades, onde, o adulto faz uma leitura/interpretação cultural de cada expressão emotiva do bebê, ou seja, já insere o bebê em uma linguagem simbólica cultural. São essas expressões que envolvem a emoção, que culminam na motricidade, que vai possibilitar com que ele afete o outro, produzindo uma resposta afetiva, então, é uma ação do bebê que gera uma reação do intermediador da relação dele com o mundo, e a ação do intermediador também afeta o bebê, positiva ou negativamente. Nessa etapa, o bebê começa a perceber que seus movimentos são ressignificadas por um adulto e são interpretados, e assim, ele vai começar a aprender a se comunicar por gestos, e isso é essencial para o início do desenvolvimento da Função Simbólica. Então, até um ano de idade, essa expressão emotiva, que é interpretada por um adulto, e esses gestos que servem para comunicação, já mostram a entrada do bebê na cultura humana, e ele começa a vivenciar um processo de socialização, mas ao mesmo tempo de dependência. A todo momento, nessa fase inicial do nascimento a 1 ano de idade, o bebê vai depender do adulto intermediador para poder interagir, ou seja, apenas o adulto pode direcionar a ele o objeto, o meio ou a pessoa com quem vai estabelecer uma interação. Contudo, até esse bebê chegar a 1 ano de idade, ele vai passar pela dessocialização, que seria o momentoem que passa a ser menos dependente e começa a agir diretamente sobre os objetos, sem necessitar dessa intervenção do outro para interagir com o meio. É um processo de autonomia e individuação do “eu” da criança. Estágio Sensório Motor e Projetivo (1 a 3 anos): Nesse período, a criança avança muito no seu desenvolvimento motor, e para Wallon, isso vai intensificar a interação da criança com meio, e, ao intensificar essa interação da criança com o meio, isso vai promover um grande desenvolvimento cognitivo, e nesse momento ela vai explorar o mundo através dos seus sentidos e das suas habilidades motoras. A maneira com que a criança atua em seu meio é o que define o Projetivo, pois os atos mentais projetam-se através dos atos motores, ou seja, a criança pensa enquanto mexe em algo, enquanto sente, enquanto faz, tudo através do sensório. Nesse momento também, se desenvolve a representação simbólica, e quando ela desenvolve essa linguagem simbólica, quando ela passa a poder se comunicar a partir de representações, como a fala, Wallon vai dizer que ela vai interiorizar as ações, e portanto, vai diminuir os atos motores, ela não precisa mais se expressar motoramente, porque ela tem outras formas de comunicação, então, segundo Wallon, os atos motores vão cedendo lugar para os atos mentais, isso significa que vai haver um desenvolvimento maior do pensamento a partir da aquisição da fala. A aquisição da linguagem vai permitir que o pensamento se manifeste através da fala, e não mais exclusivamente pela ação motora. Então, a diminuição da atividade sensorial vai representar um aumento da atividade mental, e isso, para Wallon, é um salto qualitativo no desenvolvimento infantil. Estágio do Personalismo (3 a 6 anos): Nessa etapa, a criança começa a viver alguns conflitos importantes, e esses conflitos irão impulsionar o desenvolvimento. Esses conflitos ocorrem pois a criança está em uma fase de busca pela autonomia, onde ela quer se opor mais, mas ao mesmo tempo em que ela está desenvolvendo um vínculo muito forte com a família, e cria laços fortes com as pessoas, depositando interesses. E nesse momento, o pensamento da criança vai se voltar a ela mesma, ou seja, vai ser um momento em que a criança vai estar introspectiva, ela sente uma necessidade de adquirir mais consciência sobre si, sobre ela mesma nas relações com o mundo. E esse período coincide com a entrada na educação formal, no caso, a educação infantil, onde é exigido dela mais dessa autonomia dentro das relações escolares, pelo fato de que seus pais não estão mais presentes a todo momento e intermediando todas as suas relações com o meio. E é o momento em que a criança começa a imitar por conta da aquisição da linguagem simbólica, e essa imitação passa a ser um modo de pensar sobre as pessoas que essa criança admira, e isso é uma forma de inserção social, segundo Wallon. Estágio Categorial (7 a 12 anos): Nesse estágio, a criança começa a ter uma maior utilização da inteligência para explorar e conhecer o meio, é uma característica das crianças nessa fase a busca por desafios, então, ela passa a se envolver muito mais em situações em que pode manejar e transformar coisas, usando sua criatividade. E, ao contrário da fase anterior, a criança está em um momento de extroversão, ou seja, o interesse dela já não é mais interno, voltada a si mesma, mas sim voltado ao externo, então, nessa fase, vai haver a diminuição da afetividade, o que leva ao desenvolvimento da inteligência e do pensamento abstrato. Nesse momento, o desenvolvimento das Funções Psicológicas Superiores é mais intenso, por haver o desenvolvimento da memória voluntária, da atenção e da abstração. Estágio da Adolescência (a partir dos 12 anos): Nesse estágio, o adolescente está passando por um momento de grandes conflitos, aonde ela retorna para a introspecção por conta das mudanças que estão ocorrendo, mudanças corporais, hormonais, e aqui, o adolescente vai buscar por uma nova personalidade, pois ele já não é mais criança mas procura se diferenciar do adulto. Segundo Wallon, esse estágio e esses conflitos promovem a ruptura do equilíbrio afetivo, nesse momento, a afetividade ganha destaque e é voltada para o racional, onde essa afetividade passa pelo pensamento do adolescente, e cria teoria sobre as coisas e as pessoas que o afetam, e ele faz isso porque está tentando tornar compreensível o seu universo afetivo através de sua capacidade cognitiva. Então, esse é um estágio de introspecção e de busca pela autoafirmação. Nesse estágio também, a afetividade e a cognição estão sempre em movimento, com alternância de prevalência. Em alguns estágios prevalecem a afetividade, em outros prevalece a cognição, e a cognição é quando o adolescente se volta ao mundo externo para aprender sobre ele. E, para Wallon, o desenvolvimento não vai se encerrar na adolescência, pois o ser humano está constantemente aprendendo, portanto, se desenvolvendo.
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