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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CURSO DE PSICOLOGIA DISCIPLINA: LINGUAGEM, COGNIÇÃO E SUBJETIVIDADE ALUNA: RACHEL CRETTON RODRIGUES | 20161101997 Entrega da Avaliação - Trabalho da Disciplina [AVA 2] Psicanálise e linguagem A elaboração do trabalho permite que o estudante sintetize a trajetória dos estudos da linguagem considerando essa faculdade humana como uma das fontes essenciais para a noção de sujeito e consequente formação de subjetividade. Atribuir a importância da noção de significado e significante para a abordagem linguística de Lacan tratada pelo autor como a “impossibilidade da metalinguagem” e as consequências para o estudo psicanalítico. Procedimentos para elaboração do TD Você deverá apresentar o material conforme indicado. Introdução/apresentação: nessa seção, é recomendada a apresentação da faculdade da linguagem tomada como ponto de partida para os estudos psicológicos e psicanalíticos, justificando o papel dessa habilidade diante das questões observadas na relação com outros domínios cognitivos. Trajetória dos estudos linguísticos: nessa seção, é importante apresentar os estudos de Saussure, Bakhtin, Benveniste, Chomsky e Pêcheux que formulam as propriedades necessárias à construção do aparato simbólico da linguagem. Lacan – inconsciente e linguagem: nessa seção, é fundamental uma descrição mais apurada sobre a transformação das noções de signo atribuídas a Lacan e como o autor subverte os pressupostos da metalinguagem. Considerações: nessa seção, o estudante deverá apresentar argumentos autorais sobre linguagem/psicanálise/subjetividade à luz dos modelos teóricos, considerando a influência na prática clínica. 1. INTRODUÇÃO A fala é a linguagem específica dos humanos, um ganho evolutivo e uma construção sociocultural, associada a modificações do corpo e do cérebro que conferem uma capacidade adaptativa única diante de qualquer outra espécie. A linguagem tem como função a comunicação interna - responsável pela atividade cognitiva - e pelo comportamento. Existem diferentes abordagens quanto a linguagem, como: o Estruturalismo de Saussure, a Teoria da Enunciação de Benveniste, a Teoria Gerativista de Chomsky, o Dialogismo de Bakhtin e a Análise do Discurso de Michel Pêcheux. Sem mencionar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) que também é uma forma de linguagem já que através dela, deficientes auditivos são incluídos na sociedade. 2. TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS As contribuições dadas por diversos linguistas foram essenciais para a trajetória dos estudos sobre linguagem e o simbolismo, os mais importantes: Saussure, Benveniste, Bakthin, Pêcheux e Chomsky, serão mencionados a seguir: Saussure - considerado o pioneiro da linguística moderna - criou um padrão linguístico, determinando a natureza do seu objeto de estudo e estabelecendo seu método. As bases do Estruturalismo foram primordiais para outras áreas do conhecimento, como para a Psicologia e para a Psicanálise. De acordo com Monteiro (2017) o estudo de Saussure foi utilizado por Lacan como base para a concepção da sua própria linguagem. A linguística estruturalista fundada por Saussure parte do princípio que a fala é mais divulgada que a escrita, afastando-se desta forma da gramática tradicional, visto que a maioria – senão todos – os sistemas de escrita conhecidos tem como base a linguagem verbal. Para Saussure a linguagem é um sistema estável, imutável submetido a normas linguísticas; prioriza a abordagem descritiva e estabelece a dicotomia entre fala, língua e linguagem. A fala é considerada um ato individual e sofre influência de fatores externos. A língua é pertencente a sociedade, variando de acordo com os grupos sociais. Desta forma, Saussure acredita que a criança ao nascer, recebe como legado, a língua da comunidade que está inserida. Já a linguagem para ele, é própria da humanidade e de todos os indivíduos. Em seu Estruturalismo, desconsidera a subjetividade do processo de desenvolvimento da linguagem por acreditar que a língua é exterior ao indivíduo. Segundo Monteiro (2017), Saussure considera que a cada instante a linguagem é uma instituição atual e um produto do passado, já que ao mesmo tempo em que exige um sistema previamente estabelecido, também é uma evolução deste. Benveniste concordava em partes com Saussure. No que tange aos signos linguísticos e sua existência, porém, discordava em outro aspecto já que considerava o sistema de signos independe de quem é o sujeito falante. Ficou conhecido por representar a Teoria da Enunciação que se baseava no ato de colocar a língua em ação por parte de um sujeito. Não havendo um enunciador, não há a interpretação de um signo. Em outras palavras, a enunciação é uma espécie de mediação entre a língua e quem a fala. A fala refere-se ao ato de falar enquanto o enunciado remete ao que já foi ou que é dito. Bakhtin considera a linguagem um fenômeno que se insere num âmbito social, mais abrangente, servindo-se do trio fala, diálogo e interação. Desta forma, a linguagem é dialógica. Para ele o sentido da palavra é totalmente determinado por seu contexto. Todo discurso é ‘atravessado’ pelo discurso de outrem. O enunciado não existe fora das relações dialógicas, já que está carregado de emoções, valores e paixões. Assim sendo, saber o significado de cada unidade da língua que compõe um enunciado não é suficiente para assimilar seu sentido. É imprescindível estudar sua relação dialógica com outros enunciados. Por isso ele sugere a criação da translingüística onde os enunciados seriam o objeto de estudo. Com isso, Bakhtin se contrapõe à linguística estruturalista de Saussure. O francês Michel Pêcheux criou a Escola Francesa de Análise do Discurso com hipóteses diferentes das que já eram praticadas na Grã Bretanha e nos Estados Unidos. Pêcheux acreditava que a construção da Linguística enquanto ciência se deu por conta do esquecimento do sujeito e da situação do discurso. Sua Análise do Discurso conectava Linguística, Filosofia e Ciências Sociais. De acordo com Batista – Soares (2016), Pêcheux faz uma análise crítica dos estudos de Saussure questionando a viabilidade de um estudo que articulasse língua e fala. Sua carreira mistura a linguística e a Psicologia, uma vez que foi atuante em um laboratório de Psicologia Social, acompanhando Jacques Lacan, teórico francês que retomou a obra de Sigmund Freud. Na linguística de Chomsky, denominada gerativo-transformacional - o modelo linguístico mais influente nas ciências cognitivas - a aquisição da linguagem não é um simples processo de repetição e reforço. Chomsky sugeriu que a capacidade de produzir e estruturar frases faz parte do patrimônio genético dos seres humanos, opondo-se a teoria de Saussure, que de acordo com Kenedy (2013) considerava a língua como um objeto fundamentalmente social. As ideias de Chomsky não harmonizavam com as ideias Beharvioristas. As abordagens de cada um ao comportamento linguístico são bem distintas. Enquanto o primeiro procurou causas internas da linguagem, baseadas principalmente no conceito de representação mental e em regras de processamento internas; o segundo buscou explicar o comportamento verbal baseando-se no ambiente do sujeito, ou seja, em sua história de reforçamento e na estimulação presente quando uma resposta é emitida. Chomsky acreditava que o enfoque da ciência behaviorista não poderia dar conta da complexidade humana. Principalmente fazendo uma análise efetiva sobre o comportamento verbal humano, baseando-se em conceitos oriundos da experimentação em laboratório. 3. LACAN: INCONSCIENTE E LINGUAGEM Para Lacan o inconsciente é estruturado como uma linguagem e funciona com as mesmas regras. Lacan considera a linguagem como uma estrutura que antecede a inserção do sujeito e não dependedos homens assim como o conceito de sujeito em relação ao conceito de língua. De acordo com Longo (2006), Lacan fez uso de conceitos de Hjelmslev, Saussure, Benveniste e outros. Lacan resgatou estudos feitos por Saussure na construção da Psicanálise. A estruturação do inconsciente ocorre através da linguagem para Lacan. Podemos ver isso na associação livre na Psicanálise. Lacan prioriza o significante em relação ao significado, o significante que a palavra remete ao sujeito é o mais relevante para o inconsciente. A definição da palavra não provoca interesse no inconsciente. A partir das suas observações do uso a língua, Saussure elucidou seus elementos estruturais, como significante (som) e significado (ideia), que formam o signo linguístico (representante de sentido). Nessa abordagem, cada signo é uma unidade fechada de sentido. Ela não considera a associação entre os diversos significantes para formarem um sentido de uma ideia, como defende Lacan sobre o fenômeno da significação (VICENZI, 2009). Na visão do psicanalista, o sentido conjunto de significantes e dos próprios significantes só podem ser aplicados após a fala. Lacan enfatiza que o “significante” tem posição fundamental, além de estar separado do “significado” por uma “barreira resistente à significação”. Saussure compreende o signo composto por duas contrapartes: significado igual a conceito, e o significante sendo delimitando a imagem acústica, intrínsecas resultando no signo, ou seja, qualquer significante remete a um significado e vice-versa. Diferentemente para Lacan, que postula o significado não necessariamente revela termo a termo, mas no “ponto de basta”, que resultará em toda uma cadeia de significantes convergindo. Segundo Vicenzi (2009) as transformações que foram feitas por Lacan, resultaram no que diz respeito ao signo, uma assimilação da “primazia do significante” frente ao paradigma anterior, “primazia do simbólico”. Ainda de acordo com Vicenzi (2009) o fenômeno da significação é tido com igualdade e diferenças entre Saussure e Lacan. O método estruturalista compreende que os signos se constituem e se diferenciam entre si apenas por oposição, e não por uma pretensa relação com a “realidade” - encontra-se no pensamento de Saussure e também do lacaniano, contudo, a compreensão de que o processo está intimamente ligado a uma cadeia de significantes, estes separados dos significados por uma barra, é exclusivamente lacaniana. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com Lacan, o único e indiscutível meio disponível para o manejo do psicanalista é a fala do paciente. Assim sendo, a linguagem desempenha um papel primordial no tratamento psicanalítico, uma vez que a regra primordial da psicanálise é a livre associação, ou seja, que o paciente fale livremente o que lhe vem à cabeça. Portanto não há psicanálise sem linguagem. O paciente não sabe que sabe, mas o sintoma se constrói a partir desse arranjo de palavras que indica o caminho do tratamento. Ou seja, o psicanalista não interpreta, ele deixa a cadeia de associações se desenrolar livremente e que o paciente encontre, ele próprio, o pensamento recalcado. A expressão simbólica dos sintomas se apresenta através dessa expressão verbal no qual o paciente não tem consciência, palavras que falam mais do que dizem e que podem ser escutadas pelo analista. A fala e a escuta, são ferramentas essenciais para o trabalho do Psicólogo/Psicanalista e também de sua formação que deve ser constante. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA-SOARES, Jaqueline dos Santos. Análise do discurso e psicanálise: diálogos (im)possíveis?. Cadernos CESPUC, n.28. Belo Horizonte, 2016, pp 223-231. GOMES, ANANGÉLICA MORAES. Linguagem e cognição na primeira infância. [S. l.], 7 fev. 2018. Disponível em: https://www.pucsp.br/linguagemesubjetividade/coluna_fonoaudiologia_em_que stao/2018/fevereiro.html. Acesso em: 21 maio 2020. KENEDY, E. Curso básico de linguística gerativa. São Paulo: Contexto, 2013. p. 9-19. LONGO, Leila. Linguagem e psicanálise. Coleção Passo-a-Passo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. MONTEIRO, Sandra Lopes. Fundamento Teóricos da Linguística. Curitiba: Intersaberes, 2017. Biblioteca Virtual. VICENZI, Eduardo. Psicanálise e linguística estrutural: as relações entre as concepções de linguagem e de significação de Saussure e Lacan. Ágora (Rio J.), Rio de Janeiro , v. 12, n. 1, p. 27-40, June 2009 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 14982009000100002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 21 maio 2020. https://doi.org/10.1590/S1516-14982009000100002.
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