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Terapia Nutricional Introdução A prevalência da desnutrição energético-proteica (DEP) em pacientes hospitalizados tem sido amplamente documentada nas últimas três décadas e pode ocorrer em 19 a 80% dos doentes. Paciente hospitalizados em estado nutricional comprometido apresenta as seguintes complicações: - maior risco de desenvolver complicações; - maior risco de mortalidade; - maior custo para o serviço de saúde. Terapia Nutricional Entende-se por terapia nutricional um conjunto de procedimentos terapêuticos empregados para manutenção ou recuperação do estado nutricional por meio da nutrição. Definição de Nutrição Enteral Resolução RDC n. 63 ANVISA do Ministério da Saúde Alimento para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sonda ou via oral, industrializada ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou completar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. A alimentação enteral é um método de prover nutrientes no TGI através de um tubo ou de forma oral. A popularidade da alimentação enteral pode ser atribuída a dois fatores: I. O desenvolvimento de procedimentos simples de baixo risco para passagem das sondas no TGI, principalmente gastrostomia e jejunostomia. II. A disponibilidade comercial de uma variedade muito grande de produtos, com diversos nutrientes, que permite a melhor escolha da formulação para pacientes com limitações no TGI ou para aqueles que requerem nutrição enteral. O uso da TNE garante igual ou melhor desfecho em relação a nutrição parenteral (TNP), como: - melhorar a resposta imune; - prevenir a atrofia intestinal; - evitando a translocação bacteriana; - diminuir a resposta inflamatória; - menor incidência de complicações. Dessa forma, a TNE é preferível à TNP. Basicamente, uma dieta enteral deve ser um composto balanceado de proteínas, carboidratos, lipídios, fibras, eletrólitos, vitaminas e minerais. Indicações Existem duas situações em que se indica TNE: - quando houver risco de desnutrição, ou seja, quando a ingestão oral for inadequada para prover de 2/3 a ¾ das necessidades diárias nutricionais; - quando o TGI estiver parcialmente ou totalmente funcionante. É preferível a nutrição enteral nos pacientes cujo TGI está funcionante: “quando o intestino funciona, use-o”, ou melhor, “quando o intestino funciona, use-o ou perca-o”. Embora sejam múltiplas, as indicações podem ser agrupadas, genericamente, em quatro grupos a seguir: Indicações da Terapia Nutricional Enteral em Adultos Pacientes que não podem se alimentar Inconsciência Anorexia nervosa Lesões orais Acidentes vasculares encefálicos Neoplasias Doenças desmielinizantes Pacientes com ingestão oral insuficiente Trauma Septicemia Alcoolismo crônico Depressão grave Queimaduras Pacientes nos quais a alimentação comum provoca dor e/ou desconforto Doença de crohn Colite ulcerativa Carcinoma do TGI Pancreatite Quimioterapia Radioterapia Paciente com disfunção do TGI Síndrome de má absorção Fístula SIC Ao contrário de casos em adultos com diarreia, em que a nutrição por sonda nasoenteral pode estar contraindicada, em crianças com desnutrição e diarreia crônica a TNE pode trazer melhoras quando a concentração e o volume são aumentados de forma progressiva. Indicação de Terapia Nutricional Enteral em Crianças Anorexia/perda de peso Crescimento deficiente Ingestão via oral inadequada Desnutrição: aguda, crônica e hipoproteinemia Estados hipercatabólicos: queimaduras, sepse, trauma, doenças cardiológicas e respiratórias Doenças neurológicas Coma por tempo prolongado Anomalias congênitas: fissura do palato, atresia do esôfago, fístula traqueoesdofágica, outras anomalias do TGI. Doença ou obstrução esofágica Cirurgia do TGI Diarreia crônica não específica SII Fibrose cística Câncer associado a quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia Contraindicação As contraindicações em TNE em geral são relativas ou temporárias em vez de serem definitivamente absolutas. Contraindicações de Terapia Nutricional Enteral Disfunção do TGI ou condições que requerem repouso intestinal Obstrução mecânica do TGI Refluxo gastroesofágico intenso Íleo paralítico Hemorragia no TGI severa Vômitos e diarreia severa Fístula no TGI de alto débito (>500 mL/dia) Enterocolite severa Pancreatite aguda severa Doença terminal Expectativa de utilizar a TNE em período inferior a 5 a 7 dias para pacientes desnutridos ou 7 a 9 dias para pacientes bem nutridos Vias de Acesso As vias de acesso em nutrição pode ser: - no estômago; - no duodeno; - no jejuno. Levando em consideração as facilidades técnicas, as rotinas de administração, bem como alterações orgânicas e/ou funcionais a serem corrigidas. Nutrição enteral por curto período - inferior a 6 semanas; - sonda nasoenteral é a mais utilizada; - baixo custo e fácil colocação. Nutrição enteral por longo período - superior a 6 semanas; - gastrostomia e jejunostomia são as mais indicadas; O local de administração da dieta enteral, se intragástrica ou pós-pilórica, é um dos fatores a ser considerado na seleção da via de acesso para a nutrição enteral. O risco de aspiração é um dos critérios para essa decisão. Vantagens e desvantagens da localização da sonda Localização gástrica Localização duodenal e jejunal Vantagens Vantagens Maior tolerância a fórmulas variadas Menor risco de aspiração Boa aceitação de fórmulas hiperosmóticas Maior dificuldade de saída acidental da sonda Permite a progressão mais rápida para alcançar o valor calórico total ideal Permite a nutrição enteral quando a alimentação gástrica é inconveniente e inoportuna Em razão da dilatação receptiva gástrica, possibilita a introdução de grandes volumes em curto tempo Desvantagens Desvantagens Alto risco de aspiração em pacientes com dificuldades neuromotoras de deglutição Risco de aspiração em pacientes que têm mobilidade gástrica alterada ou são alimentados à noite A ocorrência de tosse, náuseas ou vômitos favorece a saída acidental da sonda nasoenteral Desalojamento acidental, podendo causar refluxo gástrico Requer dietas normo ou hipomolares. Métodos de Administração As técnicas de administração podem ser: - contínua; - intermitente; - bolo; - gravitacional. Administração Contínua - usa a bomba de infusão, 25 a 150 mL/hora, por 24 horas, administrada no estômago, no jejuno e no duodeno, interrompida de 6 a 8 horas para irrigação da sonda enteral com 20 a 30 ml de água potável. Administração Intermitente – descontínua - - utiliza a força gravitacional, volume de 50 a 500 ml de dieta administrada por gotejamento, de 3 a 6 horas, precedida e seguida por irrigação da sonda enteral com 20 a 30 ml de água potável; - deve ser feita com o paciente sentado ou reclinado em 45º para prevenir a aspiração. Administração em Bolo - injeção com seringa, 100 a 350 ml de dieta no estômago, de 2 a 6 horas, precedida e seguida por irrigação da sonda enteral com 20 a 30 ml de água potável; - deve ser feita com o paciente sentado ou reclinado em 45º para prevenir a aspiração. Posição da sonda gástrica - administração de dietas iso e hipeosmolares, pelo fato do piloro prevenir a passagem de grande quantidade de solução para o duodeno - o estômago tolera mais facilmente que ointestino delgado uma variedade de fórmulas; - aceita normalmente grandes sobrecargas osmóticas sem cólicas, distensão, vômitos, diarreia ou desvios hidroeletrolíticos; - exibe capacidade de armazenamento; - aceita mais facilmente refeições intermitentes; - sondas nasogástricas são mais fáceis de posicionar; - as sondas nasogástricas aumentam o risco de aspiração. Dose e Velocidade da Administração Posição da sonda gástrica - dose, velocidade e tonicidade da infusão passam a ser preocupações secundárias graças a capacidade de adaptação do estômago; Posição da sonda no duodeno ou jejuno - o gotejamento da dieta deve ser observado com grande atenção; - o escoamento rápido pode ocasionar cólica e diarreia, com consequente queda no aproveitamento nutricional e prejuízo ao paciente; - via preferida aos pacientes com gatroparesia, retardo do esvaziamento gástrico e alto risco de aspiração e período pós-operatório imediato. Sistema Aberto ou Fechado Sistema Enteral Aberto - a pessoa que administra o alimento precisa abrir o frasco ou a bolsa e despejar o alimento em seu interior. Sistema Enteral Fechado - o frasco ou a bolsa são preenchidas pelo fabricante em uma fórmula líquida estéreo pronto para uso. Seleção de Fórmulas Para a seleção de uma dieta enteral são necessárias as seguintes observações: - conhecer as exigências específicas do paciente; - as condições individuais do paciente devem ser consideradas; - composição exata da fórmula; - a dieta escolhida precisa ser nutricionalmente completa e adequada para o uso em períodos curtos e longos; - precisa satisfazer as exigências nutricionais do paciente; - ser bem tolerada; - de fácil preparo e econômica; Fórmulas Enterais Composição A seleção de uma fórmula enteral apropriada requer: - avaliação da capacidade digestiva; - avaliação da capacidade absortiva; - o conhecimento das fontes de substrato e sua forma. Proteínas - a qualidade proteica é atribuída ao perfil de aminoácidos: um perfil de aminoácidos de pelo menos 40% de aminoácidos essenciais é sugerido para os casos de anabolismo; - fonte predominante de proteínas inclui a soja e a caseína. Proteínas das Fórmulas Enterais Carboidratos - a diferença primária nos componentes dos carboidratos está relacionada com sua forma e concentração; - a forma predominante é o hidrolisado de amido de milho ou a maltodextrina; Carboidratos das Fórmulas Enterais Lipídios - a gordura aumenta a palatabilidade e o sabor da dieta; - os óleos vegetais contêm variedade de ácidos graxos essências; - a ingestão de ácidos graxos essenciais (sobretudo o ácido linoleico) deve ser de 3% a 4% do total da necessidade energética: - as fontes lipídicas comumente encontradas nas fórmulas incluem vários óleos vegetais. Fibras - consideram-se fibras alimentares todos os polissacarídeos vegetais da dieta, mais a lignina, que não são hidrolisadas pelas enzimas do TGI humano; - o conteúdo de fibras das fórmulas é, em média, de 5 a 14 g/L; - a recomendação da ingestão de fibra é de cerca de 20 a 25 g/dia; - a forma predominantemente utilizada nas fórmulas é o polissacarídeo da soja. Água - a quantidade de água é frequentemente relacionada em mL de água por 1.000 mL de fórmula ou mL de água/L de fórmula; - a maioria das fórmulas enterais contém de 690 a 860 mL de água por 1.000mL da fórmula enteral. Vitaminas e Minerais - as fórmulas comercialmente completas são adequadas em vitaminas e minerais, quando o volume suficiente da fórmula é utilizada para satisfazer as necessidades energéticas e dos macronutrientes; - algumas fórmulas especializadas para doenças específicas são nutricionalmente incompletas em relação ao conteúdo das vitaminas e minerais; - suplementos vitamínicos e minerais podem ser necessários para pacientes que recebem formulações nutricionalmente incompletas ou fórmulas diluídas por períodos prolongados. Características Físicas das Fórmulas Osmolalidade Ph - a motilidade gástrica é menor com soluções de Ph menor que 3,5; - o ph da maioria das fórmulas enterais é maior que 3,5. Densidade calórica - a taxa do esvaziamento gástrico pode ser menor para fórmulas com alta densidade calórica. Classificação das Fórmulas Fórmulas poliméricas - a maioria dos pacientes pode se beneficiar com esse tipo de fórmula; Fórmulas parcialmente hidrolisadas - indicadas a pacientes com capacidade digestiva e absortiva parcial; Fórmulas especializadas - desenvolvidas para específicas disfunções orgânicas e para estresse metabólico; Módulos - indicados para suplementar fórmulas e individualizar a formulação. Dietas Industriais Preparadas industrialmente, essas dietas apresentam-se sob três formas: Dietas industriais em pó para constituição - em geral, acondicionadas em pacotes hermeticamente fechados, em porções individuais com 60 a 96g ou em latas com cerca de 400g; - necessitam ser reconstituídas em água ou em outro líquido. Dietas industrializadas líquidas semiprontas - são dietas prontas, apresentam-se em latas ou frascos de vidro com 230 a 260 ml, em quantidades suficientes para um horário de dieta. Dietas industrializadas prontas - são as que já se apresentam envasadas, acondicionadas em frascos de vidro ou bolsas próprias com 500 e 1000 mL, diretamente acopladas no equipo. Dietas não industrializadas, caseiras ou artesanais São aquelas à base de alimentos in natura ou de mesclas de produtos naturais com industrializados (módulos), liquidificadas e preparadas artesanalmente em cozinha doméstica ou hospitalar. Vantagens - individualização da fórmula quanto à composição nutricional e o volume; - menor custo quando comparada a dieta similar industrial. Desvantagens - instabilidade bromatológica, microbiológica e organoléptica do produto final; - não é composição nutricional definida; - há dificuldade para ser formulada uma dieta com algum grau de especialização; - fornecimento adequado dos micronutrientes mostra-se prejudicado. Complicações As cmplicações da TNE podem ser classificadas em: - gastrintestinais; - metabólicas; - mecânicas; - infeciosas; - respiratórias; - psicológicas. Complicação mecânicas associadas à própria sonda variam de acordo com seu tipo e localização. - obstrução pode ocorrer, sendo causada por resíduos alimentares ou acúmulo de medicamentos administrados pela sonda; - por causa do pequeno calibre de muitas sondas, é difícil a desobstrução por irrigação; - Coca-Cola e papaína possibilita a desobstrução; - as sondas devem ser lavadas com água após a administração da dieta em intervalos regulares para evitar a obstrução; - as complicações mais frequentes da alimentação enteral são as gastrintestinais; - a diarreia é complicação mais comum da dieta; - osmolalidade e presença de lactose são as causas mais citadas; - antibioticoterapia + terapia enteral é principal causa responsável pela diarreia; - a diminuição da velocidade de infusão ou a diluição da fórmula é necessária para pacientes que recebem dietas hiperosmolares e apresentam efeitos colaterais gastrintestinais; - a regurgitação e aspiração são as complicações mais temidas; - o principal efeito a complicação infecciosa é a gastroenterocolite por contaminação microbiana no preparo, utensílios e na administração da fórmula; - a pneumonia aspirativa é considerada a complicação de maior gravidade na TNE,podendo ocorrer a partir de oferta exagerada de dieta, retardo do esvaziamento gástrico e íleo paralítico, sobretudo, em pacientes com afecção neurológica; - desconforto pela presença de sonda enteral, sede e boca seca levam à falta de estímulo ao paladar; - - horários fixos das refeições favorecem a monotonia alimentar; - a autoimagem prejudicada interfere na sociabilidade e inatividade do paciente, deixando-o deprimido e ansioso. Anotações Extras
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