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Problemas Microbiológicos e Infecciosos Gabriela Teixeira ATM 2024/2 Hanseníase Epidemiologia: ● Ainda é um problema de saúde pública em 9 países: ○ África: Angola, Moçambique, Madagascar, República da África Central, República Democrática do Congo, República Unida da Tanzânia; ○ Ásia: Índia e Nepal; Distribuição no Brasil: ➢ Maior taxas de detecção entre os países da américa; ➢ 2º lugar mundial, perdendo para a Índia; ➢ Maiores concentrações nas regiões Norte e Centro-oeste; ➢ RS possui a menor taxa de prevalência; ➢ Entre 2003 e 2013: ○ Aumento de 14% na taxa de cura; ○ Queda de 68% na prevalência. 5 Conceitos Básicos: ● Lesões neurológicas; ○ Deformidades → Micobactéria se deposita na pele e nos nervos periféricos. ● Lesões cutâneas; ● Doença infecciosa e infectocontagiosa; ● Fenômenos Imunológicos; ○ Reações hansênicas tardias. ● Social; ○ Preconceito, ignorância. Mycobacterium leprae: ● Bacilo de Hansen; ● Hanseníase; ● Parasita intracelular obrigatório; ● Reprodução lenta → 11 a 16 dias; ● Período de incubação → 2 a 7 anos; ● A princípio não se consegue cultivar em meios de cultura. Hanseníase: ● Doença infecciosa, que atinge pele e nervos periféricos; ● Manifestações que variam de lesão única a doença sistêmica; ● Alta infectividade; ● Baixa patogenicidade (incubação e reprodução lenta); ● Sequelas permanentes em pele, nervos, mãos, pés e olhos; ● Homem é o único reservatório, embora tenham sido identificados animais naturalmente identificados; ○ Porém não se identificou a doença; ○ Sem transmissão por vetores. 1 Problemas Microbiológicos e Infecciosos Gabriela Teixeira ATM 2024/2 Transmissão: ● A transmissão ocorre de indivíduo para indivíduo, por meio das vias respiratórias (secreções nasais, tosse, espirros) de doentes não tratados; ● Doentes de formas contagiantes que não começaram medicação; ● É necessário contato íntimo e prolongado, como a convivência de familiares na mesma residência. Manifestações Clínicas: ● Diagnóstico essencialmente clínico; ● Manchas claras ou avermelhadas; ● Placas, nódulos; ● Infiltração generalizada; ● Xerodermia (pele seca); ● Queda de pelos em determinada área do corpo; ● Diminuição ou ausência de sensibilidade (térmica, dolorosa, tátil); ○ 1º → Perde-se a sensibilidade térmica; ○ 2º → Perde-se a sensibilidade dolorosa; ○ 3º → Perde-se a sensibilidade tátil. ● Formigamentos (parestesias) permanentes; ● Dores articulares; ● Dores neurais; ○ Normalmente nervos ulnar, radial, mediano, tibial posterior e fibular comum. ➔ Manchas não coçam e não doem, o que faz com que a pessoa não procure o serviço de saúde; ➔ Virchoviana → Madarose. Fisiopatogenia: ● Formas clínicas: Indeterminada, Tuberculóide, Diforma (ou Boderline) e Virchoviana; ○ Formas Indeterminadas e Tuberculóide são menos graves, com maiores chances de cura; ✓ Formas paucibacilares → Possuem poucos bacilos. ○ Formas Diforma e Virchoviana são mais graves, com acometimento sistêmico. Etapas: 1. Contato do organismo com o bacilo de hansen; 2. Ocorre infecção; ● 90% dos indivíduos curam espontaneamente; ● 10% fazem Forma Indeterminada: Manifestação imunológica leve. Poucos bacilos, no máximo 5 lesões cutâneas e 1 tronco nervoso acometido. Pode evoluir espontaneamente para a cura em indivíduos imunocompetentes. 2 Problemas Microbiológicos e Infecciosos Gabriela Teixeira ATM 2024/2 ● Outras possíveis respostas imunológicas: ○ Super Boa Resposta Th1: ✓ Hiperesposta celular; ✓ Poucos bacilos; ✓ Evolui para Forma Tuberculóide (ainda será paucibacilar e com poucas lesões, contudo, não irá curar espontaneamente). ○ Resposta Mais ou Menos Th1: ✓ Pode evoluir para Forma Dimorfa. ○ Super Má Resposta Th1: ✓ Pode evoluir para Forma Virchoviana. ★ Formas Indeterminadas e Tuberculóide → Paucibacilar = Até 5 lesões de pele e/ou apenas 1 tronco nervoso acometido; ★ Formas Dimorfa e Virchoviana → Multibacilar = Mais que 5 lesões de pele e/ou mais de 1 tronco nervoso acometido. Maior transmissão. Desafio:Hanseníase Neural Pura ● Sem Lesões cutâneas; ● BAAR negativo; ● Sinais neurais: Perda de sensibilidade na região do tronco nervoso afetado, parestesia, espessamento neural, dor, hipotonia, atrofia dos músculos das mãos e pés; ● Biópsia de área hipo/anestésica, com pele aparentemente normal podem evidenciar achados histológicos de hanseníase. 3 Problemas Microbiológicos e Infecciosos Gabriela Teixeira ATM 2024/2 Manifestações nervosas: Nervo Facial: ➢ Muito comum pacientes com hanseníase fazerem lesão de córnea, perdem a visão, por fazerem lagoftalmo e não conseguirem fechar o olho, além de perderem o reflexo corneano (trigêmeo). Nervo Auricular: ➢ Frequentemente está espessado em pacientes com hanseníase; ➢ Sem grandes acometimentos. Nervo Ulnar: ➢ Mão em meia garra (inerva 4º e 5º dedo); ➢ Se evoluir com lesão de mediano → Mão em garra. Nervo mediano: ➢ Mão em garra (inerva 1º, 2º e 3º dedo). Nervo Radial : ➢ Braço caído. Nervo Fibular: ➢ Pé caído (pé equino); ➢ Não consegue fazer dorsiflexão → Faz lesões na ponta do pé. Tibial Posterior: ➢ Perde sensibilidade da planta do pé → Mal Perfurante Plantar; ➢ Formam úlceras que podem causar osteomielite. Lesões secundárias: ★ Atrofias musculares; ★ Encurtamento dos dedos por desuso; ★ Garras; ★ Úlceras, sinais de queimaduras; ★ Perda de força em mãos, pés e pálpebras; ★ Olho vermelho, cegueira; ★ As feridas cicatrizam se tratadas e o paciente for orientado para prevenção; ✓ Calçados adequados e utensílios adaptados. Diagnóstico Clínico: ● É realizado pelo médico, que examina toda a pele, à procura de manchas dormentes; ● Realiza testes de sensibilidade ao calor, à dor e ao tato; ● Apalpa os nervos dos braços, pernas e pescoço; ● Procura obter mais informações sobre a pessoa e os familiares; 4 Problemas Microbiológicos e Infecciosos Gabriela Teixeira ATM 2024/2 ● Se necessário, solicita exames de laboratório. Baciloscopia: ➔ Se faz na linfa. ● Coleta linfa dos dois lóbulos das orelhas e nos dois cotovelos; ● Faz coloração de ziehl-neelsen; ● Se faz para diagnóstico diferencial entre PB e MB; ● Alta → MB (recomendável); ● Controle → MB por 5 anos ou até negativar; ● Intervalo menor → Suspeita clínica; ● Baciloscopia negativa não exclui diagnóstico; ● Negativa lentamente (segue um logarítmo); ★ Prova de Mitsuda → Não se utiliza mais; ★ Biópsia → Nervo ou pele. Contatos: ● Todas as pessoas que residiram nos últimos 5 anos ou que convivem na mesma residência devem fazer consulta médica para exame dermatoneurológico; ● Antes eram encaminhadas para realizar a vacina BCG, porém agora são mais; ● Agora se oferece uma dose única de rifampicina (profilaxia medicamentosa). Diagnóstico Diferencial: ● Vitiligo, sarcoidose, pitiríase alba, etc; ● Nevo acrômico, granuloma anular, lúpus eritematoso sistêmico, etc; ● Pitiríase rósea, pitiríase versicolor, psoríase, etc; ● Porfiria, neuropatías, etc. Diferença → Não tem alterações de sensibilidade! Tratamento: Poliquimioterapia (PQT) ➢ Conjunto de medicamentos que objetivam prevenir a resistência a medicamentos e reduzir o índice de recidiva; ➢ Normalmente boa aceitação; ➢ Eficaz; 5 Problemas Microbiológicos e Infecciosos Gabriela Teixeira ATM 2024/2 ➢ Falha terapêutica < 1/10.000 tratados/ano ➢ Em 2 semanas 90% dos bacilos estão mortos sem capacidade de contaminar outros indivíduos. Classificação Operacional: Contraindicações da PQT: ➢ Hepatopatia grave; ➢ Alcoolismo crônico com lesão hepática; ➢ Disturbios hematológicos severos; ➢ Nefropatia auto-imune; ➢ Doença mental prévia grave. ○ Atenção com idosos e crianças; ○ Gravidez e aleitamento materno não contraindicam o PQT padrão; ○ Em mulheres em idade reprodutiva, deve-se atentar ao fato de que a rifampicina pode interagir com ACO, diminuindo sua ação. Supervisão: ➢ Doses supervisionadas; ➢ Segurança de que ingeriu a dose; ➢ Monitoramento dos efeitos colaterais; ➢ Exames dos comunicantes. Tratamento em situações especiais: ➢ Gravidez → PQT é segura para a mãe e o feto; ○ Contra-indicado = Talidomida. ➢Tuberculose → RFP na dose da TB já é suficiente; ➢ HIV → O tratamento não sofre modificação. A RFP 600mg/mês não interfere nos antirretrovirais. 6 Problemas Microbiológicos e Infecciosos Gabriela Teixeira ATM 2024/2 Reações Adversas: ● Raras → 1,8% entre a 1ª e a 5ª doses supervisionadas; ○ Síndrome da Dapsona → Hepatopatia grave; ○ Síndrome da Rifampicina; ○ Metahemoglobinemia; ○ Agranulocitose; ○ Hemólise; ○ Farmacodermia; ○ Insuficiência renal; ○ Hepatite. Alterações imunológicas: Reações Hansênicas x Recidiva: ➢ Reações hansênicas: São alterações do sistema imunológico que se exteriorizam como manifestações inflamatórias agudas e subagudas que podem ocorrer mais frequentemente nos casos de MB. Podem ocorrer antes, durante ou depois da PQT; ➢ Recidiva: Ocorrência de sinais de atividade clínica da doença, após alta por cura; ➢ Precisa diferenciar quando ocorre após a cura! Reações Reacionais em Hanseníase: ➢ 25 A 30% dano neural; ➢ Quanto maior o número de lesões cutâneas e/ou maior o índice bacilar, maior será o risco de surtos reacionais; ➢ Ocorrência: ○ Antes do tratamento → Geralmente junto com o diagnóstico; ○ Durante o tratamento (50%) → Diagnóstico durante o tratamento; ✓ 17,1% do tipo I; ✓ 30% do tipo II; ✓ 2,8% com neurite isolada. Reação Tipo 1 ou Reação Reversa: ☆ Aparecimento de novas lesões dermatológicas (manchas ou placas); ☆ Infiltração, alterações de cor e edema nas lesões antigas; ☆ Com ou sem espessamento e dor de nervos periféricos (neurite); ☆ 10% PB; ☆ 35% MB; ☆ “Aquilo que já tinha piora e começam a aparecer coisas novas”; ☆ Recorrente → Novo episódio em período > 3 meses; ☆ Crônica → Reaparecem < 3 meses da terapêutica; ☆ Situações especiais: ○ Lesão reversa sobre nervo importante; ○ Edema importante dos pés. 7 Problemas Microbiológicos e Infecciosos Gabriela Teixeira ATM 2024/2 Reação Tipo 2 ou Eritema Nodoso Hansênico: ☆ Nódulos subcutâneos eritematosos; ☆ Sinais e sintomas sistêmicos → Febre (acompanhados ou não), dores articulares, mal estar geral, piora ou aparecimento de novas lesões; ☆ Com ou sem espessamento e dor de nervos periféricos (neurites); ☆ Antes, durante ou após PQT; ☆ Geralmente prolongadas ou recorrentes; ☆ 5 anos ou mais. Fatores Precipitantes de Reações Hansênicas: ➢ Vacinação; ➢ Infecções intercorrentes; ➢ Tumores; ➢ Distúrbios hormonais; ➢ Tratamentos hormonais; ➢ Fatores psicossociais e estresse; ➢ Iodeto de potássio, brometos, vitamina A. Tratamento das Reações Hansênicas ➢ Ocorrência de reações hansênicas não contraindica o início da PQT, não implica sua interrupção e nem é indicação de reinício da PQT se o paciente já houver concluído seu tratamento; ○ RR → Prednisona na dose de 1 a 1,5 mg/kg/dia; ✓ Prevenção de S. stercoralis e osteoporose; ✓ Manter PQT se ainda estiver em uso; ✓ Imobilizar membro se neurite. ○ ENH → Talidomida 100 a 400 mg/dia; ✓ Alternativa: Prednisona ou pentoxifilina; ✓ Tratamento da dor neuropática. Como diferenciar reação Hansênica de Recidiva? ➢ Baciloscopia → Recidiva geralmente tem baciloscopia positiva; ➢ Reação hansênica é mais comum; ➢ Pensar conforme o caso do paciente. 8
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