Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PSICOLOGIA E SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Átyla de Souza Rocha - 1821703/1 Programa “De Volta pra Casa” No Brasil, desde o processo de colonização e povoamento, existiu um movimento de higienização social, onde pessoas não consideradas limpas o suficiente para conviver em sociedade eram perseguidas e torturadas. Com a chegada da família imperial, iniciou-se sequestros e aprisionamentos de pessoas lidas como loucas, prostitutas, negros fugidos, homossexuais, alcoólatras, mulheres gravidas de estupro e qualquer outro grupo que precisasse ser escondido dos olhos de quem lia essas pessoas como descartáveis e indignas de viver em sociedade. Dezenas de manicômios foram criados e servidos como deposito de gente, principalmente nas regiões, hoje, conhecidas como centro-oeste e sudeste. No livro “Holocausto Brasileiro”, Daniela Arbex conta, através de uma reportagem, como foi o processo da chacina velada de pessoas internadas compulsoriamente. O hospital Colônia foi palco do maior massacre brasileiro, onde, por décadas, pessoas que não correspondiam as expectativas sociais eram sequestradas e enviadas para o hospício. Ninguém conseguia sair, crianças nasciam e cresciam dentro desse lugar. Quando se entrava, recebia uma pena de prisão perpetua sob condições desumanas. De estupros à viver como bichos, conviver e dormir em cima de fezes e restos mortais de outros interno, a experiencia contada pela autora mostra os danos severos e irreversíveis causado nos internos. Quando mortos, os corpos eram enviados para universidades com os fins acadêmicos ou queimados no pátio do lugar. Esse foi apenas o maior caso, entretanto, diversos manicômios foram espalhados pelas regiões e serviam como cárcere para essas pessoas. Foi no processo de desmonte do Colônia e dos manicômios que a Lei 10.216/2001, popularmente conhecida como Lei Antimanicomial, além da liberdade para pessoas já internadas, garantia a assistência domiciliar de pessoas nesse espectro. Nesse sentido, cabia as politicas publicas o papel de reintegração das vítimas desses lugares. Nascido em 2003 de acordo com a Lei Federal 10.708/2003, o programa é construído a partir de uma iniciativa do Ministério da Saúde em reintegrar ao convívio social pessoas que sofreram internações prolongadas devidas a queixas de doenças mentais ou acometimentos do mesmo caráter. Com a intenção de reintegrar socialmente os pacientes e vitimas de lugares como o Colônia, o programa ofereceu o auxílio-reabilitação psicossocial que garantia, na prática, a independência financeira de pessoas que tiveram o direito a saúde, educação e liberdade negados pela imposição de estruturas coercitivas ou pela falta de inclusão das acessibilidades. Em 2018, estimasse que 65% dos usuários de hospitais psiquiátricos são considerados pacientes de longa duração, ou seja, com mais de dois anos internada continuadamente no hospital. A ideia, além da independência, é garantir que os hospitais não virem residências e muito menos que sejam vistos assim. É cabido a convivência social como uma das etapas dos tratamentos de pessoas acometidas. Tendo como objetivo a contribuição direta para a inserção social através da facilitação do convívio social garantindo os direitos básicos assegurados na constituição; funciona através de uma rede diversificada que utiliza da assistência e cuidado para garantir esse bem- estar. A proposta de 2003 garantiria que quinze mil pessoas fossem atendidas pelo auxílio de R$ 240,00 (à época) pago pela Caixa Econômica Federal com duração de um ano cabido a renovação e continuidade do valor através das comissões de acompanhamento do CAP. Em 2016, o programa TV Saúde, do Ministério Federal, entrevistou José Alves, beneficiário do programa, onde contou sobre como foi receber o auxílio: “Quando eu recebi ele, o quê que eu fiz... Essa minha casa não tá boa como você viu, ela tá bem simples, mas ela era muito pior. Ela era um barraquinho levantando, um tijolinho aqui e outro acolá... Umas telhinhas fininhas, um pedacinho aqui e outro alí que quando chovia, chovia mais dentro de casa do que fora. Então com o De Volta Pra Casa, o quê que aconteceu... se eu tô voltando pra minha casa eu vou fazer uso bem desse dinheiro. Eu vou guardar ele e aos poucos eu vou fazer minha casinha. Ela vai ser simples, mas eu vou fazer uma casinha de verdade. E ela não entrou nenhum centavo de outro canto, foi só com o auxílio.” (SIC) Depoimentos como o de José Alves mostram a importância da reinclusão de pessoas que tiveram o direito a liberdade negadas pelos acometimentos e as antigas formas de ver as patologias, tão embora o recurso, hoje, no ano de 2020, esteja no valor de R$ 412,00, ou seja, R$ 172,00 a mais do que dezessete anos atrás quando o programa foi criado. A inflação, nesse período, mudou drasticamente e com a alta do salário mínimo que, hoje, está em R$ 1045,0O, o valor do auxilio é considerado ineficaz para as garantias de ressocialização que o programa oferece. Embora as despesas medicas sejam cobertas pelo SUS, os demais gastos de higiene e bem-estar do auxiliado não atingem um valor tão baixo, vide que a ideal do programa é a garantia de vida justa e igualitária. É necessário que haja um aumento considerável no valor recebido. Toda via, José Alves também mostra, através da felicidade de ter a sua residência, a necessidade de politicas de igualde e a urgência em programas com esse mesmo caráter ganharem ainda mais espaço de existência e ampliação nas suas vagas. Foram décadas de reclusão e tortura que embasaram a necessidade de ver a saúde mental de uma outra perspectiva, principalmente com os impactos negativos que a vivencia hospitalar de forma continua causa mesmo que se entenda o hospital como um lugar de vida e não mais de morte e carnificina, não se pode entender esse espaço como lar. É a partir de emancipações e investimentos na independência que sujeitos acometidos ganharão ainda mais espaço na sociedade e os preconceitos serão derrubados para que deem lugar ao afeto, ao carinho e ao respeito. REREFENCIA: CONHEÇA José Alves: beneficiário do programa “De Volta Para Casa". Produção de Tv Saude. Brasil: Ministerio da Saude, 2016. (2 min.), color. Legendado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gN37gwALY3M. Acesso em: 27 out. 2020. FEDERAL, Caixa Economica. De Volta para Casa. 2020. Disponível em: https://www.caixa.gov.br/programas-sociais/programa-de-volta-pra- casa/Paginas/default.aspx. Acesso em: 27 out. 2020. SAUDE, Ministério da. De Volta para Casa: manual do programa. Manual do Programa. 2003. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Manual_PVC.pdf. Acesso em: 27 out. 2020.
Compartilhar