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Universidade de Fortaleza - UNIFOR Curso: Psicologia Disciplina: Humanismo Nomes e matrículas: Victoria Diniz dos Santos - 2118201 Maria Clara da Silva Almeida - 2114457 Maryane Ellen Medeiros Silva - 2114535 João Henrique Lima Farias - 2114528 Laís Vidal Pessoa Araujo Fontes – 2114448 Atividadade – Av2 Data de entrega: 07/05/2021 Carl Rogers é tido como um homem elementar na história da psicologia. Ele desenvolveu um grande percurso científico onde suas ideias e teorias foram submetidas a árduas pesquisas que visavam alcançar a mudança na personalidade e no comportamento através da terapia. Nesse viés, uma de suas maiores contribuições foi a proposta de uma psicoterapia que valoriza a autonomia pessoal. Para Rogers, a liberdade e a possibilidade de transcendência de estados desvantajosos de qualquer condição são dadas por vínculos sociais adequados (Vilela,2008). Esse tipo de psicoterapia foi posteriormente denominado de Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Dessa maneira, a ACP consiste numa tentativa de afirmar uma teoria de psicoterapia que seja capaz de acolher e regular os eventos da prática Rogeriana (Wood,1994). Segundo o mesmo autor, nessa perspectiva, podemos destacar as circunstâncias necessárias para que a terapia possa ocorrer e posteriormente, para que possa extrair os devidos resultados estipulados. Essas circunstâncias consistem basicamente em três aspectos: que cliente e terapeuta estejam em diálogo psicológico; que o cliente esteja em um estado de incongruência ou em estado de ansiedade e que o terapeuta esteja em estado congruente ou integrado na relação. Somado a isso, podemos deliberar a postura esperada do terapeuta e do cliente respectivamente (Wood,1944). Ao terapeuta cabe manifestar uma postura que contemple determinadas características, entre elas: genuidade, empatia e consideração incondicional pelo cliente (Wood, 1995). Como já dito pelo mesmo autor, o paciente, encontrado em um estado de incongruência do seu self, inicia o processo terapêutico sentindo-se incapaz de reconhecer seus sentimentos, muitas vezes descritos como experiências passadas incompreendidas sem assumi- los, pois ainda se encontra desajustado com o seu autoconceito. No decorrer da terapia, o cliente retorna para si ao encontrar sentido no modo como ele experiencia, diminuindo o receio do que pode sentir ao se deparar com falhas, sejam situações problemáticas ou felizes, passa a se perceber como autônomo da sua visão de mundo e das suas decisões. Esse processo de descoberta permite ao paciente entender o seu campo fenomenológico e a importância que tem as suas percepções, que antes eram vistas como estranhas ou distorcidas, mas passaram a ser valorizadas na escuta empática e no interesse autêntico desprendido de julgamentos da relação terapêutica (Wood, 1995) Após desenvolver o seu tato organísmico e fenomenológico na terapia, o cliente assume a responsabilidade, de experienciar e estabelecer um sentido no seu referencial e em suas decisões, assumindo a sua autonomia já existente à procura da autodeterminação e atualização (Wood,1995). De acordo com o referido autor, o objetivo é reafirmar a capacidade da pessoa como ser humano, que modifica e é capaz de se modificar em busca de favorecer o seu desenvolvimento em um ângulo unitivo e total, não determinado, mas em um caminho gradual de aperfeiçoamento do ser. Em 1970, Rogers, decide construir grupos que treinem conselheiros pessoais na universidade de Chicago, o objetivo era preparar as pessoas para serem conselheiros eficazes no tratamento de problemas dos regressados da guerra. É formado, então, os grupos de encontro, que buscavam a capacidade das pessoas de se desenvolverem e crescerem em harmonia consigo e com o seu ambiente. Essa fase da abordagem centrada na pessoa, ficou conhecida como “fase coletiva ou inter-humana”. Rogers deleitou-se, então, para os problemas de determinados grupos, pretendendo assim, entender mais do social. Para isso, Carl Rogers vagou por entre áreas diversas da ciência, como a física, química, filosofia, entre outras, esta fase tende a ser um momento quase que holístico e místico em sua trajetória de pesquisa. (MOREIRA, 2010). Os grupos consistiam em um processo de desequilíbrio, equilíbrio e integração, para atingir o contiuum máximo de cada indivíduo, porém em conjunto. Rogers observou um processo de construção dos grupos, que eram formados por alguns passos que os integrantes davam juntos em direção a melhora. O facilitador desses espaços nunca conduzia os grupos, qualquer estrutura que vier a se formar no grupo, será de cunho dos participantes. Dessa forma os sentimentos de dúvida para com a experiência eram formados de imediato, pois os participantes não sabem o que esperar desses encontros, haja vista que estes não eram controlados por uma entidade superior. Com a falta de respostas, controle e com sentimentos de dúvidas e desconfianças, os integrantes tendem a construir fachadas de si e esconder o seu verdadeiro eu, quase que assumindo uma nova identidade no seu modo de existir e sentir. (ROGERS, 1970) O processo caminha e os primeiros sentimentos são demonstrados no “aqui e agora”, estes são negativos, é mais fácil demonstrar expressões negativas em um espaço de estranhamento, para se defender, do que expressões positivas. Como Rogers mesmo aponta em 1970, seu livro Grupos de Encontro: Os sentimentos profundos positivos são muito mais difíceis e perigosos de exprimir do que os negativos. Se digo que te amo fico vulnerável e exposto à mais terrível rejeição. Mas, se digo que te detesto, fico quando muito sujeito a um ataque de que posso defender-me. Sejam quais forem as razões, estes sentimentos negativos tendem a ser o primeiro material “aqui e agora” a aparecer. (p.23) O grupo vai se desenvolvendo com o passar do processo terapêutico, as fachadas caem, por vezes pelo confronto entre participantes, onde um exige ao outro que demonstre o seu verdadeiro eu, pois só assim o processo de melhoria será alcançado. Com o passo da aceitação de si e das questões de cada um, é possível observar em seguida a construção da mudança se iniciar. Os integrantes formam então uma rede de apoio, abrindo um espaço de acolhimento dentro do grupo, e até mesmo em momentos fora dos encontros, as questões são confrontadas e busca-se, com o apoio de todos, chegar ao cerne do problema e resolvê-lo. O objetivo é esse, observar a mudança do comportamento de cada indivíduo que compõe o grupo, o reconhecimento e aceitação do verdadeiro eu por parte de cada um e notar isso sendo colocado em prática em suas vidas, fora do contexto dos encontros. (ROGERS, 1970) No entanto, nem todos os processos são positivos, em sua maioria pode-se observar um final de grande ajuda para os participantes, porém seria desonesto não informar que isso pode também não acontecer. Segundo Rogers, existem alguns fatores que podem levar essa prática ao fracasso. Por vezes o indivíduo não permanece com as mudanças conseguidas ao final do processo, pois seu contexto de experiências agora é diferente, o espaço acolhedor do grupo não existe mais, manter as relações se torna difícil, logo manter o comportamento de melhora também. Em determinados momentos observa-se também que alguns integrantes não estão preparados para encarar as questões do self em comunidade, alguns procuram terapeutas individuais para tratar dessas problemáticas, já outros não suportam o baque e podem revelar sintomas que prejudiquem a qualidade de vida. Relacionar-se é difícil, logo manter um grupo onde as questões mais profundas de cada um são abordadas seria igualmente complicado. Dessa maneira abordar relações dentro do espaço entre os próprios integrantes, muitas vezes amorosas, precisava ser feito com muita cautela, para que a experiência, como um todo,não fosse prejudicada. (ROGERS, 1970) O estudo de Rogers, nesse momento de sua carreira, voltado para o coletivo do humano, foi de grande importância para a abordagem centrada na pessoa. Esta possui grande valor até hoje e compõe a teoria rogeriana, que foi espalhada pelo mundo, em diversos países e universidades, em alguns espaços modificada ou atualizada, mas seguindo sempre as bases que Rogers propôs. Cada vertente pós-rogeriana parte de fases diferentes do pensamento do terapeuta e segue mantendo a teoria existindo em sua essência. (MOREIRA, 2010), Como exemplo de aplicação de tal teoria sobre terapia em grupo, pode-se citar a atuação de Calr Rogers em 1982 na África do Sul, onde o mesmo realizou workshops entre brancos e negros com o intuito de promover o debate, ao invés da violência, entre tais grupos. No artigo denominado No Cração da Agonia Sul Afrinaca, 1986, Rogers relata como ficou impressionado com o desejo encontrado, tanto da parte dos negros quanto dos brancos, de realizar uma comunicação entre as raças. Relata também a sua intenção de envolver negros no desenvolvimento do trabalho, ao invés de somente participarem como beneficiados nas reuniões dosencontros, de modo que houvesse uma ajuda na facilitação da comunicação entre os dois grupos. Tinha-se como objetivo principal certificar-se se um diálogo significativo poderia ser uma alternativa à violência. Rogers leva sua bagagem de experiência com grupos hostis, além de sua atuação na psicoterapia, onde havia "pesquisado as condições que promoviam a mudança pessoal em atitudes e comportamentos" (ROGERS, 1986). O psicólogo sabia que, para obter sucesso, deveria promover um clima de mudanças sendo genuíno, se importando e sendo empático com a situação. Nos seus relatos escritos sobre os encontros realizados, Rogers descreve como trabalhou com a capacitação de um grupo de 40 pessoas, entre eles brancos e negros, para que os mesmos realizassem outros workshops em dupla, cada um de uma raça. Inicialmente, nota-se uma forte reação de surpresa por parte dos negros a partir das afirmações que os brancos realizavam. Vê-se, por parte dos negros, um relato tocante no primeiro encontro, que trouxe à tona a importância da construção da auto-estima e auto- confiança de tal grupo, que é constantemente marginalizado. Após a surpreendente expressão de diversos sentimentos contraditórios surgindo dos brancos, vê-se um consenso entre os negros sob a ideia de que são mais calorosos e têm mais compaixão para com os outros, característica que quase foi sua ruína. Houve também o lamento pelas novas gerações que vêm perdendo essa qualidade graças às adversidades que enfrentam. Rogers conclui que tratou-se de uma sessão tocante, e que estava satisfeito com a coragem apresentada pelo grupo. No segundo encontro do grupo, Rogers relata que os negros sentiram-se livres para criticar os brancos, e o fizeram. Houve uma colocação de uma mulher branca que se disse consciente sobre a injustiça praticapa pelos brancos para com os negros, mas que não achava que isso fosse uma justificativa para haver uma reversão de situação onde os negros sejam tão severos. Após tal relato, houve uma expressiva indignação por parte de uma mulher negra, que afirmou nunca mais iria se abrir para uma pessoa branca, como se tivesse um forte sentimento de traição. A mesma mulher relatou que, entre seus amigos negros, é vista como uma traidora por sequer estar indo ao grupo, e alguns dos acontecimentos do dia a fizeram sentir que eles estavam certos, que não havia sentido em tentar se comunicar. A partir deste acontecimento, Rogers relata que era indubitável o progresso acarretado pelo workshop. Níveis mais profundos de diversos sentimentos estavam sendo tocados. Entretanto, logo notou que sua visão positiva sobre o ocorrido não era compartilhada pela maioria. Após um intervalo, notou-se uma agitação entre os brancos, que estavam preocupados que a amargura expressada fosse destruir a comunicação conquistada. Notou-se uma percepção por parte dos brancos em relação à intensidade dos sentimentos experimentada pelo povo negro, que estavam correndo risco somplesmente por comparecerem ao workshop. Era claro que os membros brancos queriam muito manter um bom contato com os negros. No último dia do workshop de facilitação, Rogers informa ao grupo o que havia aprendido com os encontros. Relata que sente que atingiu o objetivo de melhorar a comunicação, mas o resultado de tal comunicação foi reconhecer o quão profundo era o abismo que os separava, e quão difícil era construir uma ponte. O workshop acabou de uma forma indefinida, sem nenhuma conclusão clara. Em uma análise, Rogers registra que a maior parte dos brancos estava chocada com o grau de amargura sentindo pelos negros. Os negros sentiam que haviam exaurido as possibilidades de conversa, cogitando a violência como única resposta. Tal compreensão foi um choque para os brancos, causando na maioria uma reação de avidez para com a construção de uma ponte de comunicação com os negros presentes e eventualmente com a comunidade. Entretanto, os negros estavam ainda mais chocados com os relatos dos brancos, por tratar-se de um grupo influente e muito educado. As declarações feitas pelos brancos eram qualificadas como sendo preconceitos remanescentes, mas que possuíam algum peso. Os negros viram a elite dos brancos exprimindo preconceitos profundos que tornariam a comunicação quase impossível. Os negros sentiam raiva de seu opressor, mas não dos brancos presentes em particular. Outro fato notado por Rogers foi a consoância dos sentimentos dos negros, que se sentiam oprimidos e tratados de maneira injusta. Havia clareza e homogeneidade em seus sentimentos. Entretanto, os sentimentos dos brancos eram extremamente conflituosos. Eles queriam uma melhor comunicação e melhores sentimentos entre as raças, mas sentiam que eram preconceituosos e estavam envergonhados de suas atitudes. Sentiam-se imaturos com relação aos negros, além de alguma maneira serem inferiores em relação a eles. Rogers afirma que o workshop alcançou uma clareza muito grande entre as raças. Havia previsto que quando as raivas profundas fossem reveladas, se seguiria uma maior comunicação positiva, mas isso não foi o ocorrido. Entretanto, estava claro que os indivíduos do workshop estavam mudados e que iriam lidar com a outra raça de modo diferente graças a essa experiência. Na semana seguinte houve o reencontro dos facilitadores. Após passarem dias trabalhando em pares de negros e brancos em uma tarefa comum, via-se uma expressiva proximidade, com um claro sentimento de orgulho com a unidade alcançada. MOREIRA, Virginia. Revisitando as fases da abordagem centrada na pessoa. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 166X2010000400011. Acesso em: 07 maio 2021. ROGERS, Carl Ransom. No coração da agonia Sul-Africana. La Jolla, Califórnia: Centro de Estudos da Pessoa, 1986. ROGERS, Carl R.. Grupos de encontro. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 23 p. ROGERS, Carl Ransom; WOOD, John Keith (org.). A equação do processo da psicoterapia. In: ROGERS, Carl Ransom; WOOD, John Keith. Abordagem centrada na pessoa. 5. ed. Vitória: Edufes, 2010. p. 93-116. ROGERS, Carl Ransom; WOOD, John Keith (org.). As condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica na personalidade. In: ROGERS, Carl Ransom; WOOD, John Keith. Abordagem centrada na pessoa. 5. ed. Vitória: Edufes, 2010. p. 93-116. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2010000400011 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2010000400011
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